O SEGUNDO CICLO DE KONDRATIEV (1843-1896) E O SEU LIAME COM A PARTICIPAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS NA GUERRA DO PARAGUAI

Roberto Mauro da Silva Fernandes

Capítulo 3 - AS ANÁLISES DE CHIAVENATTO

3.1 EM BUSCA DA VERDADE

A Guerra do Paraguai foi um evento que marcou a história do continente sul-americano, ensejando inúmeras teorias sobre as possíveis causas desse conflito, e proporcionando inúmeros debates sobre o tema, que ainda possui diversas lacunas. Nos últimos cinqüenta anos foram perenizadas visões não muito coerentes sobre o conflito, heróis e vilões foram criados, gerações inteiras do ensino fundamental, médio e superior foram contempladas com análises de cunho conspiratório, não-idôneas em vários momentos, que contribuíram para a formação de conceitos que no decorrer desses anos foram pautadas pelo sincretismo entre fatos históricos e ideologias que buscavam pseudo-justificativas para o desencadeamento de um dos processos bélicos mais sangrentos da história da América do Sul.

Pretendemos agora, analisar alguns pontos sobre o conflito platino a partir do livro “Genocídio americano: a Guerra do Paraguai” do jornalista Júlio José Chiavenatto, obra que marcou e marca (no Brasil muitos livros didáticos, por exemplo, ainda se encontram como a versão de Chiavenatto) toda uma geração. Esta obra é produto do revisionismo histórico que surge a partir da década de 1950, no contexto de fenômenos mundiais essenciais como o fortalecimento do movimento de libertação nacional na Ásia e na África; das revoluções argelina, vietnamita e cubana; do fim da hegemonia stalinista nas ciências sociais marxistas; das jornadas mundiais de 1968, etc. Corrente que procurou superar as narrativas patrióticas das classes dominantes nacionais sobre o conflito sul-americano, e que possuía a visão das classes subalternizadas, a fim de construir uma ótica mais unitária sobre a Guerra do Paraguai (MAESTRI, 2008, p.06).
A escolha da obra é em virtude da repercussão que tivera no Brasil e em toda América do Sul, e porque a partir da mesma, inúmeros trabalhos surgiram convergindo ou desmistificando o que fora defendido por Chiavenatto. Segundo Maestri (2008), ao mesmo tempo havia uma linguagem jornalística erudita, sem notas de roda pé, que facilitava o enorme acolhimento ao público (determinado, sobretudo, pelo momento da publicação) e uma condição de feiúra ao trabalho, quanto à forma, linguagem e conteúdo.

Chiavenatto (1979), já nas páginas iniciais do prefácio da edição de 1979 diz “este livro não é um livro de história. O autor não é um historiador”, e no final, nas duas últimas linhas, enfatiza que se tratava de “um livro para ser lido como se ele fosse uma reportagem, escrita com paixão” (CHIAVENATTO, 1979, p.13/14).

A nossa intenção é contrapor algumas das “apaixonantes assertivas” desse autor, estas que criaram contradições grosseiras a cerca do que realmente aconteceu, condicionando concepções teleológicas para as causas do conflito, destituindo de caráter científico e de racionalidade as suas teses à respeito da Guerra  do Paraguai.

3.2 UMA BREVE ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA

 Segundo Chiavenatto (1979) as pretensões econômicas da Inglaterra, na intenção de manter seu status quo de nação imperialista que comandava as ações na Bacia Platina, levaram Brasil e Argentina a fazer uma guerra contra o Paraguai ( para inseri-lo no sistema global inglês de comércio) já que esses países eram sustentados pela “metrópole-mãe” britânica, sendo assim, era necessário defender os interesses da mesma  (CHIAVENATTO, 1979, p.67).

Chiavenatto (1979, p.37) afirmava que o Estado paraguaio a partir de 1850 começou a desenvolver uma forte economia autônoma, fato que incomodava não somente a Inglaterra, mas as principais potências regionais (Brasil e Argentina), que para manter o equilíbrio de forças no Cone Sul possuíam um plano para destruí-lo. Este autor na sua famosa obra ressalta que somente ao Brasil, por exemplo, foram feitos vultosos empréstimos com o objetivo de armar o país para destruir o Paraguai, que ao final da guerra em 1870, devia mais de 30 milhões de libras aos banqueiros ingleses (CHIAVENATTO, 1979, p.82/83).

Com a questão de desenvolvimento autônomo, Chiavenatto defende o fato de o Paraguai desenvolver uma economia com recursos próprios, sem o auxílio de importações de tecnologia. Tese que Doratioto (2002) refuta, visto que a rápida modernização do país se dá com capitais estrangeiros, através da compra de produtos importados, principalmente porque efetuava seus pagamentos à vista (com ouro). Já em 1854, no governo de Carlos López, seu filho Francisco Solano Lopez foi enviado a Europa para manter vínculos comerciais com empresas britânicas, um dos acordos com a empresa Blyth & Co, por exemplo, permitiu ao Paraguai a compra de armamentos e o treinamento de jovens soldados (DORATIOTO, 2002 apud VIDIGAL, 2002, p.198/199).

Bandeira (1985, p.80) ainda ressalta que após a morte de Francia, Carlos López com a intenção de abrir a economia paraguaia ao mundo, procura contato direto com países da Europa e com Estados Unidos, trazendo técnicos de diversas áreas, médicos, engenheiros para ajudarem no desenvolvimento interno do país. Sendo assim, é quase impossível o país desenvolver-se por si próprio, sendo basicamente produtor e exportador de produtos primários, sobretudo, porque já em 1830 sua economia começava a apresentar sinais de estagnação (BANDEIRA, 1985, p.80/81).

Esses dois autores, levando em consideração o viés econômico, colocam abaixo a tese de que o Paraguai da primeira para a segunda metade do século XIX estava se tornando uma potência industrial autônoma que ameaçava o sistema comercial Inglês na América do Sul. Mas, para Chiavenatto:

O Paraguai, porém, não seria um simples exportador de matéria-prima e mero consumidor de produtos industrializados. O Paraguai tinha um parque industrial em desenvolvimento; já demonstrava ao tempo da crise de algodão, a sua capacidade de produção industrial. A longo prazo, sua ameaça era mais temida dentro dos princípios alimentados pelas contradições do imperialismo  inglês, do que poderia acontecer a curto prazo com seu fortalecimento (CHIAVENATTO, 1979, p.81).

Essa afirmação encontra-se um pouco infundada, ao se analisar Bandeira (1985) verifica-se que em 1858 as exportações paraguaias chegaram a 1.226.324 milhões de dólares, ou seja, 245.264 libras, sendo que quase 50% desse valor resumia-se a exportação de erva-mate, em 1860 (quatro anos antes da guerra) o país exportaria 4,5 milhões de libras do mesmo produto, assim como o tabaco, que no mesmo período anterior ao conflito multiplicaria a receita do país, fase em que o Paraguai exportou mais de três milhões de libras de tabaco em folha e seis milhões de charutos (BANDEIRA, 1985, p.82).

 Nota-se que o Estado paraguaio tinha forte propensão para a venda de produtos primários. Ainda de acordo com Bandeira (1985), o tabaco e a erva-mate, principais fontes de receita do país, em 1864 já não sustentavam mais a possibilidade do Paraguai engendrar seu desenvolvimento industrial mediante a compra de tecnologia estrangeira com a venda desses produtos primários, devido, principalmente, a saturação do mercado para os mesmos produtos, mercado que se resumia a Bacia Platina. 

Seguindo o viés econômico e as possibilidades do Paraguai (com uma economia agrária) desestabilizar o comércio inglês, ameaçando os britânicos com uma potencialidade autônoma para bens manufaturados, levando-os assim a patrocinar Brasil, Argentina e Uruguai para destruir o país guarani. Segundo Leslie Bethell antes de 1850 o Paraguai era visto pelo governo da Grã-Bretanha e pela grande maioria dos cidadãos britânicos como um país retrógrado, isolado e longínquo, do qual se sabia muito pouco e pelo qual se tinha apenas interesse secundário, o que manteve o comércio entre o Paraguai e a Grã-Bretanha insignificante durante todo o período (BETHELL, 1995, p.276).
Foi somente em meados da década de 50, depois que a Confederação da Argentina finalmente reconheceu o Paraguai e concedeu-lhe o direito de livre navegação pelo Paraná, e depois da assinatura de um tratado anglo-paraguaio de comércio e navegação, em março de 1853, é que os ingleses:
[...] começaram a participar da economia paraguaia, muito embora nenhum dos principais produtos de exportação do Paraguai (erva-mate e tabaco) tenha sido enviado para a Grã-Bretanha em quantidade que se pudesse considerar significativa (BETHELL, 1995, p.276/277).

A erva-mate e o tabaco paraguaio, ressalta Bethell, não eram de muito interesse aos ingleses. O que interessava para os ingleses era a livre navegação nos rios da Bacia do Prata, e que resultou em ações diretas por parte dos Britânicos, e também de franceses, tais como a manobra naval conjunta franco-britânica de 1845/47, ação que objetivou anular as pretensões de Rosas em transformar os rios do Prata em rios exclusivos da Confederação Argentina (ZUGAIB, 2006, p.83). Esse exemplo demonstra que as intervenções inglesas no Prata eram realizadas diretamente, sem o intermédio de ninguém.

Outra questão interessante, gira em torno do comércio do algodão, segundo Chiavenatto (1979, p.80-81) para alguns técnicos paraguaios o algodão do país seria superior ao norte-americano e o Paraguai poderia produzi-lo em grande escala, e como a Inglaterra a partir da criação da máquina a vapor aumentara sua produção, cada vez mais necessitava de novos mercados. Assim, afirmou ele, que o Paraguai seria conquistado como novo mercado tradicional para se obter a matéria-prima, pensamento até plausível em virtude da guerra de Secessão norte-americana que desestabilizou o sistema produtivo do sul dos EUA exportador de algodão.

Mas, a Inglaterra na realidade já havia encontrado alternativas para importar o algodão às suas indústrias têxteis antes mesmo da Guerra do Paraguai, as Índias Ocidentais, o Egito e o Brasil seriam os mercados que solucionariam o problema inglês (BETHELL, 1995, p.280). Assim, se havia alguma nação interessada em destruir um concorrente, não era a Grã-Bretanha, mas sim o Brasil, pois com a Guerra da Secessão, o mercado brasileiro de exportação de algodão se expandiu, passando a ocupar o terceiro lugar entre os países exportadores com suas vendas para a Inglaterra (BANDEIRA, 1985, p.133).

Devemos também ressaltar que no ano de 1863 estavam em andamento negociações entre os governos do Paraguai e da Grã-Bretanha para que esta adquirisse o algodão do primeiro. Em nota de 6 de maio de 1863, o governo paraguaio entra em contato com seus agentes em Londres, informando-os que estaria mandando o produto como amostra das primeiras colheitas de alguns departamentos para os ingleses conhecerem o algodão do país, fazendo recomendações especificas aos Rotschilds:

Em nota de 6 de mayo del gobierno paraguayo (departamento de guerra) a sus agentes em Londres,los senõres Juan y Alfredo Blyth, que tantos y tan buenos servicios prestaron al Paraguay, se les decía lo seguiente:- El senõr Egusquiza (agente em Buenos Aires) tiene orden de enviales 1.500 libras de algodón limpio para ese mercado, como muestra de La primera cosecha de algunos departamentos. Si El Baron (aludía a Rotschild) quisiera tomar algún interés em este artículo, no dudo que lo hará conocer ventajosamente (ACOSTA, 1948, p.23).

Dessa forma, que motivos a Inglaterra teria para tentar destruir o Paraguai, capitaneando um conflito contra esta nação em conseqüência de suas terras cultiváveis de algodão, se o governo paraguaio já estava entrando em contato com esse país sete meses antes da guerra da Tríplice Aliança ser iniciada? E ainda por cima, no mesmo período em que a Guerra de Secessão norte-americana estava acontecendo? É um pouco arriscado considerar a afirmação de Chiavenatto de que havia interesse dos britânicos em se apossar das terras férteis paraguaias pelo viés militar.

Outra questão que corrobora com a descrença de um plano contra o Paraguai está no fato dos processos econômicos encontrarem-se extremamente ligados aos projetos militares. Para cada fase de ascensão da economia mundial existe uma grande guerra correspondente, como também, há um aumento de preços no início da fase de ascensão precedendo-a. Esta última acaba potencializando este processo, gerando por fim, uma onda inflacionária ainda maior.

Abrindo espaço assim para a disputa da Hegemonia mundial, que envolvem a periodicidade das flutuações do capital industrial (os “ciclos longos” de 50-60 anos) e que também pode ser aplicada na economia latino-americana, ligada e dependente do capitalismo internacional (PASTORE, 2007, p.154).
Para Pastore (2007) os conceitos de guerra são divididos em dois grupos típicos: um de guerras na fase de ascensão econômica mundial (fase A), denominadas de guerras de pico (ou cume) e associadas às lutas de grandes países e potências, outro grupo refere-se às guerras de baixas na economia mundial (fase B), caracterizadas como conflitos de baixa intensidade ou de curta duração, que são menos custosas e que contribuem para a saída da depressão (PASTORE, 2007, p. 118).
Ao analisar os conflitos na América Latina e relacioná-los aos ciclos econômicos Pastore (2007) chega à seguinte conclusão:

Depois da comparação dos períodos com as fases Kondratieff apenas um conflito pode ser enquadrado como de fase A (Independência do Haiti), sendo que dois, estão parcialmente, uma vez que, embora eles tenham início na fase A, passam a maior parte na fase B (Independência do México e da Venezuela), e os outros quatro são tipicamente de fase B (PASTORE, 2007, p.126).

Dessa forma, podemos observar que a Guerra do Paraguai não está inclusa na relação dos grandes conflitos das Américas, não influenciando no andamento dos processos sistêmicos da economia mundial, observação que a priori nos leva a pensar que a Inglaterra (detentora da hegemonia mundial em meados do século XIX) não tinha porque destruir uma nação e sua economia, se a mesma não possuía tanta importância no cenário regional e, muito mesmo, no contexto mundial.

A Guerra do Paraguai, foi iniciada no final de um período de alta da economia mundial, desenrolou-se num período de baixa (1864 a 1870), assim podemos pensar que os ingleses poderiam utilizar esse conflito para desafogar seus problemas econômicos, já que os conflitos de baixa intensidade possuem essa função. Mas, como Bethell (1995, p.273) evidenciou: “Durante a metade do século XIX que vai das independências a Guerra do Paraguai, o interesse britânico na América Latina era quase que exclusivamente comercial.”
Assim, deduz-se que numa fase de declínio da economia do mundo, os ingleses intensificariam as suas ações de nível comercial, já que esse sempre foi o seu objetivo. Logicamente que intervenções militares por parte da Grã-Bretanha também foram comuns, mas não ao ponto de oportunizar a destruição de seus próprios mercados consumidores e dar chance aos seus concorrentes que poderiam se aproveitar do contexto de guerra para tentar desbancar a sua hegemonia na região, que era o caso do próprio império do Brasil, que na deflagração do conflito estava com relações diplomáticas cortadas, e o caso dos Estados Unidos, que como já vimos teve intensa participação na Guerra do Paraguai, ora incitando-a ora realizando a venda de produtos bélicos para os participantes

Porque correlacionar a tese de Fortunato Pastore ao conflito que envolveu o Paraguai? Porque Chiavenatto defende o fato do Paraguai despontar como economia “ameaçadora” as pretensões inglesas no continente sul-americano, o que parece não ser verdade. Assim, o Estado paraguaio não foi alvo de plano britânico.

Devemos também fazer uma observação ao discurso engendrado por Chiavenatto (1979) de que:
Francisco Solano López vai fazer a guerra sem entender a verdadeira natureza das suas origens: para ele, ela se prende a tratados não cumpridos, questões de limites e reivindicações territoriais, etc. [...] As afirmações de que Francisco Solano López pretendia agredir seus vizinhos, mostram-se descabidas na simples análises do exército paraguaio: o presidente do Paraguai estava formando, rapidamente a partir de 1864 como exigiam as circunstâncias, uma força militar nitidamente defensiva (CHIAVENATTO, 1979, p.110). bsp;

Essa retórica defende a existência de certa “inocência” do presidente paraguaio acerca dos acontecimentos geopolíticos que se desenvolviam na Bacia Platina. Segundo Bandeira (1985):

Solano López acreditou-se, assim, habilíssimo diplomata, além de notável general, e, em face das exigências reais de expansão do Paraguai, ele passou a reivindicar a posição de árbitro entre os países da Bacia do Prata (BANDEIRA, 1985, p.122).

López em 1864, numa carta ao seu agente comercial em Buenos Aires, Felix Egusquiza, manifestou-se da seguinte forma:

Todo o país se vai militarizando e creia você que nos colocaremos em estado de fazer ouvir a voz do governo paraguaio nos sucessos que se desenvolvem no Rio da Prata e talvez cheguemos a tirar o véu da política sombria e encapotada do Brasil (LÓPEZ, 1864 apud BANDEIRA, 1985, p.122).

Dessa forma, o presidente paraguaio estava com nítidas intenções de intervir em assuntos que envolviam o ambiente platino, e isso significava tentar quebrar a estrutura de poder que o Brasil criara e exercia em relação a Bacia do Prata, esse enfrentamento não ficaria somente no campo diplomático. Podemos também observar que Solano López não possuía, como Chiavenatto afirmara, um poder militar para fins defensivos. Bandeira (1985) ainda enfatiza que:
López estava turvado pela idéia de se fazer ouvir e cria que somente pelo feito das armas, segundo revelou ao ministro norte-americano Charles Washburn, o Paraguai poderia obter respeito e atenção (BANDEIRA, 1985, p. 123).

Como as nações preparam-se belicamente em períodos de ascensão econômica, e os anos que antecederam a Guerra do Paraguai foram caracterizados pela alta na economia mundial, o Estado Paraguai não fugia a essa regra. Desde os tempos de Carlos Lopez a compra de armas no exterior e a especialização dos militares paraguaios comumente vinham sendo realizadas, como também, no governo de Solano López houvera a intensificação dessas atividades a partir de suas relações com os Estados Unidos antes e durante o conflito.
A preparação militar paraguaia e as pretensões de López, diga-se de passagem, também contribuíram para a destruição do plano econômico que agravou o quadro social do Estado Paraguaio. Apesar de sua relativa força militar, “o Paraguai não dispunha dos elementos que poderiam certificar-lhe, nos limites do previsível, o triunfo contra o Brasil” (BANDEIRA, 1985, p.123).
Assim não podemos culpar somente os sujeitos externos que atuavam na Bacia Platina. Paraguai, Brasil, Argentina, Uruguai, Grã-Bretanha, Estados Unidos, todos almejavam algo nesse cenário. Alguns discursos sobre a opressão ao Paraguai tentam esconder as particularidades históricas e as rivalidades existentes entre os países platinos e os sujeitos externos que também contribuíram para o desencadeamento da Guerra do Paraguai e, sobretudo, tentam omitir as pretensões do próprio presidente paraguaio.

Tais discursos como, por exemplo, os de Chiavenatto, de que o conflito foi resultado de interesses perversos e sem escrúpulo de “malvados” contra o Paraguai. Discursos que tentam, de alguma forma, arranjar explicações para determinados problemas que esse país atualmente passa e que, supostamente, tiveram início depois da derrota paraguaia no conflito Platino. Retóricas demasiadamente ideológicas, que não levam em consideração os eventos anteriores e posteriores circunscritos a história da Bacia Platina e de toda América do Sul.           

Mas, mediante ao que foi apresentado, podemos afirmar que o Paraguai não representava uma ameaça econômica à Inglaterra, como também, não se apresentava como uma grande potência econômica que, num plano futuro, ameaçaria o domínio britânico na América do Sul, ao ponto dos mesmos capitanearem um conflito para destruir o Estado paraguaio.

Assim, um conflito “patrocinado” pela Inglaterra num período de baixa na economia mundial (1864 a 1896) é quase improvável, não há evidências na história do mundo, a partir do início do século XIX, de atividades bélicas de grandes proporções nesses períodos. O conflito de grandes proporções ocorre somente quando uma nação de acentuado poderio econômico, político e militar quer atuar hegemonicamente em um determinado contexto, e para isso precisa desbancar outras do mesmo porte, o que não era o caso do Paraguai de Solano López.   

Vamos novamente enfatizar, se a Inglaterra quisesse promover uma ação armada contra o Paraguai, faria de uma forma direta, como fizera na chamada Questão Oriental de 1845/47 reivindicando a livre navegação do rio do Prata e como acontecera em relação ao Brasil, com ações militares em águas brasileiras. Aparentemente não havia porque agir “às escondidas” em relação ao Paraguai, como supostamente alguns autores sugerem.

Assim, foram analisadas algumas questões que surgem como contestatórias as idéias de Júlio José Chiavenatto, análises que são oriundas de estudos científicos elaborados nos últimos trinta anos, e que contribuem para se questionar algumas “verdades supremas” lançadas por esse autor. Sabemos que não existe uma verdade absoluta, mas é de extrema importância que não nos rendamos a análises que distorcem a história.   

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