 
      Em termos gerais, o objetivo desta dissertação é analisar comparativamente a inserção dos setores exportadores do Brasil e da Coréia do Sul na dinâmica do comércio internacional, no período de 1985 a 2002.
De  forma especifica, pretende-se:
              1.  Avaliar a composição e mudança na estrutura de exportação do Brasil e Coréia do  Sul no agregado (um dígito);
              2.  Analisar a matriz de competitividade desagregada (4 dígitos) de cada país  através da porcentagem das exportações ;
              3.  Identificar a concentração setorial e os produtos mais importantes da pauta  desses países.
              Este  trabalho se divide em 5 capítulos além desta introdução. No capítulo II  tratar-se-á o referencial teórico com uma discussão moderna sobre  desenvolvimento econômico e as estratégias de orientações de mercado que estão  por trás do sucesso macroeconômico dos novos países industrializados (NPIs)  responsáveis pela inserção externa. No capítulo seguinte, se apresentará o  aspecto metodológico deste destacando-se os pormenores da matriz de  competitividade como ferramenta crucial da análise. No capítulo IV, discutem-se  as mudanças estruturais no comércio internacional a partir da demanda e de suas  condicionantes. No penúltimo capítulo se analisa comparativamente o resultado  da pesquisa, bem como se avaliam com análises técnicas os objetivos alcançados  com a pesquisa através da análise das exportações do Brasil e Coréia do Sul. No  VI e ultimo capítulo, baseado nos resultados dos capítulos 4 e 5 concluem-se as  análises da inserção externa dos dois países.
 Nesta seção se introduz um breve panorama do  que se pode intitular de modos alternativos de interpretação do desenvolvimento  econômico. Esse tema “desenvolvimento econômico” foi criado originalmente não  divorciado do comércio exterior e com sinônimo de crescimento econômico, mas a  partir da segunda grande guerra vão adquirindo um novo sentido com os chamados  teóricos desenvolvimentistas (GONÇALVES, 1998).
   No entanto, o principal objetivo não é fazer  um percurso histórico do seu engenho, mas discutir numa perspectiva moderna  pós-segunda guerra mundial quais foram às interpretações das diversas escolas  econômicas e principalmente as sugestões e implicações de política econômica  que motivaram as estratégias de desenvolvimento. 
  O comércio  internacional sempre foi a motriz das economias, de um lado porque dele se  obtém os ganhos necessários para produção e reprodução material da sociedade,  uma maior densidade de capital, por sua vez, vai sendo obtida à medida que se  leva a efeito a acumulação, que é impulsionada pelos progressos técnicos,  necessários para garantir sua continuidade (RODRIGUEZ, 1981).
  Todavia, a teoria  do desenvolvimento no pós-guerra argumentava que os países  subdesenvolvidos possuíam características  intrínsecas e por isso mesmo o arcabouço teórico tradicional (ortodoxo) era  inadequado para discutir o fenômeno. Segundo  Kitamura (1968) são estáticas as teorias ortodoxas do comércio internacional na  condução do desenvolvimento econômico, num mundo em constante mudança o livre  jogo das forças de mercado só tendem a reforçar os desníveis de status entre  países desenvolvidos e subdesenvolvidos. 
O desenvolvimento começa quase sempre quando, um determinado setor de um  pequeno país produz excedentes exportáveis ao lado de uma economia de  subsistência, determinando dessa forma sua inserção externa baseada em recursos  produtivos disponíveis. Nesse sentido, a monetarização desses segmentos  setoriais da economia ao vender para o mercado externo seus excedentes, passa a  adquirir moeda e demandar outros bens necessários ao processo de produção  vigente (WILLIAMSON,1988).
  Dado este passo inicial, um país que tenha atingido este estágio começa a  gerar ofertas cada vez maiores dos fatores de produção necessários para a  expansão do setor moderno. Todavia, a questão principal agora passa a ser, qual  a orientação de mercado que deverá ser dado ao patamar da oferta estabelecida,  para que o processo de produção seja efetivado e o ciclo de produção não seja  interrompido.
  A literatura econômica reserva quatro alternativas de estratégias  possíveis, a saber, o crescimento equilibrado, exportações tradicionais,  exportações não-tradicionais e substituição de importações. Cada estratégia  criou em si uma dinâmica, que aliada a uma lógica de políticas públicas  implementadas resultou numa inserção junto ao comércio internacional.
  O crescimento equilibrado, que tem como seus principais expoentes o  economista austríaco Paul Rosenstain-Rodan e o economista Ranger Nurse,  argumentava que uma expansão isolada da produção de uma ou duas indústrias  estava fadada ao insucesso, devido ao não aumento do poder aquisitivo de outros  setores da economia, que eram potencialmente consumidores do excedente da  produção (WILLIAMSON,1988). Assim, a única forma de consumir os excedentes da  produção era através da flexibilização dos preços, mas por outro lado à  rentabilidade para a manutenção da produção ficaria comprometida,  inviabilizando o consumo de outros bens. A solução para o dilema seria segundo  a corrente a expansão equilibrada em muitos setores, de forma a manter uma  demanda intermediária e final entre eles.
  Alternativa são as exportações tradicionais, destinando as ofertas  adicionais de fatores de produção aos setores que já se encontram produzindo  para o mercado externo, pois, entende-se que os mesmos já dispõem de vantagens  comparativas e nesse caso o mercado internacional passa a ser o principal  componente da demanda adicional e os proventos dessa exportação serão usados  para aquisição de produtos no mercado externo (WILLIAMSON,1988).
  Outra possibilidade é desenvolver outros setores para exportação,  incorporando na pauta do país, produtos com demanda mais elástica que  possibilitem melhores termos de troca, e à medida que as exportações avancem  gerando receitas (divisas) o processo de aquisição de insumos para a manutenção  do processo continue, caracterizando uma inserção externa na exportação de  produtos não-tradicionais (WILLIAMSON,1988).
  A quarta e última possibilidade são estabelecer novas industrias para  substituírem as importações, e nesse caso o componente de aumento da demanda  agregada passa a ser o mercado interno, e não o externo. Diferente do primeiro  caso (crescimento equilibrado) a substituição de importações tem uma dinâmica  que pode gerar o crescimento de setor em setor. A eliminação de algumas  importações libera divisas para a compra de insumos necessários no mercado  externo ou alguns bens intermediários podem começar a ser produzido no próprio  país (WILLIAMSON,1988).
  A proposta que se encarregou de disseminar em todo o mundo a estratégia  por substituição de importações foi à escola estruturalista, a partir da  ruptura com o pensamento econômico ortodoxo, especificamente no período  pós-segunda guerra. A Cepal motivou o processo e introduziu conceitos e teorias  novas como a concepção centro-periferia, os mecanismos de deterioração das  relações de troca e até algumas concepções de dependência.
  Em princípio,  embora haja uma diversidade de estratégias a ser empregado pelos países em  desenvolvimento, o que há basicamente é a opção entre produzir com uma  orientação ao mercado interno (industrialização por substituição de importações),  e pelo desenvolvimento industrial voltado para o mercado externo (promoção das  exportações), ainda que a escolha por uma das estratégias não exclua a outra.
  Segundo Balassa  (1982), a opção entre produzir para o mercado interno ou externo, são definidas  como estratégias de desenvolvimento introvertidas e extrovertidas, casos os  incentivos sejam claramente em favor do mercado doméstico, cria-se um viés  contra exportação em apologia a substituição de importações e seu  reconhecimento se expressa pela pelas estimativas de incentivos médios.
  Para Canuto  (1994) existem duas estratégias de desenvolvimento: a orientação para dentro  (introversão ou substituição de importações), que corresponde ao “voluntarismo”  no que diz respeito ao padrão normal, e se diferencia desta exatamente porque  realoca os recursos da exportação para importação; e a orientação para fora  (extroversão ou promoção de exportação) de acordo com os princípios da vantagem  comparativa que permitem os setores desenvolverem economias de escala, a partir  do crescimento da renda, poupança e capital físico-humano.
  A grande maioria  dos países menos desenvolvidos, independente da dotação de recursos naturais  herdados adotou como estratégia de desenvolvimento industrial a substituição de  importações, onde a dinâmica ocorria no sentido de importar bens de  investimento para produzir bens de consumo anteriormente importados, para  atender ao mercado doméstico. 
  As exceções a  esta generalização foram Hong-Kong, Singapura, Coréia do Sul e Taiwan  caracterizados por adotarem estratégias de industrialização “voltadas para  fora”. Em termos gerais, a industrialização por substituição de importações foi  pensada como estratégia mais ampla de desenvolvimento, e não restritamente uma  política de industrialização (COLMAN; NIXSON, 1981)
           
Quando o argumento inicial em favor do crescimento equilibrado deixou de  ser atrativo, o espaço para o debate teórico do desenvolvimento enveredou-se  para uma opção relativamente autárquica da substituição de importações  sustentadas por uma política protecionista e a opção voltada para o mercado interno  como principal componente da demanda agregada.
  Partindo de um  contexto histórico específico, a saída seria adotar uma política deliberada de  intervenção governamental em busca do desenvolvimento industrial utilizando-se  de instrumentos de política comercial protecionistas com vistas a proteger a  industria nascente da concorrência externa, sob a alegação que caracteriza as  concorrentes externas como industrias já consolidadas nos países desenvolvidos.  Por outro lado, também já estava iniciando o problema do protecionismo,  presentes nos países industrializados, o que dificultava a inserção externa dos  países em desenvolvimento.
  No entanto,  estava mais do que claro entre as economias em desenvolvimento que a inserção  externa dependeria de uma opção mais vantajosa, que ficaria a critério dessas  economias, tratava-se de optar dada as circunstãncias se era mais vantajoso  expandir a fatia do mercado interno atendida por fontes internas ou conseguir  expandir as exportações dos produtos com demanda internacional crescente, as  chamadas manufaturas.
   2.2.1 A escola neoclássica
  A partir de 1870, o pensamento econômico passava por um período de  incertezas diante de teorias contrastantes (marxista, clássica e fisiocrata).  Esse período conturbado só teve fim com o advento da teoria neoclássica, em que  se modificaram os métodos de estudo econômicos. Através destes buscou-se a  racionalização e otimização dos recursos escassos. 
  Conforme a teoria neoclássica, o homem saberia racionalizar e,  portanto, equilibraria seus ganhos e seus gastos, é nela que se dá a  consolidação do pensamento liberal. Doutrinava um sistema econômico competitivo  tendendo automaticamente para o equilíbrio, a um nível de pleno emprego dos  fatores de produção. A principal preocupação dos neoclássicos é o funcionamento  de mercado e como se chegar ao pleno emprego dos fatores de produção, baseada  no pensamento liberal.
  A construção do conceito de produto de equilíbrio, como resultado do  livre jogo das forças econômicas (oferta e demanda), é uma hipótese do sistema  econômico que se funda na lógica do mercado, exatamente por isso é apropriado  para o emprego na interpretação do sistema capitalista. O escólio da inserção  no mercado internacional dos países em desenvolvimento na perspectiva  neoclássica se fundamenta nesse arcabouço teórico.
  Para Canuto (1994), a constância de alguns parâmetros, tais como:  (tecnologia, preferências, distribuição familiar das dotações de fatores), bem  como a possibilidade de que as transações fora do equilíbrio sejam evitadas ou  revertidas sem seqüelas, devido à flexibilização de preços e salários,  a posição nocional de equilíbrio geral se  torna um centro de gravidade mediante modificações nos preços que vão  promovendo reposicionamento dos agentes na forma individual da aquisição,  produção e vendas. 
  Os agentes econômicos adotam um comportamento de maximização das  necessidades, por isso a produção esta sempre no seu nível máximo, as decisões  se realizam com base em expectativas formuladas em condições de certeza ou de  risco calculado. Existe suficiente flexibilidade de processos produtivos, que  envolve diversas opções entre a melhor alocação de recursos.
  O paradigma neoclássico não admite a presença de assimetrias  concorrências sustentáveis, em longo prazo, entre os agentes operantes e os  possíveis entrantes, pois, admite-se que: a tecnologia é um bem livre; a  flexibilidade perfeita dos processos produtivos impede qualquer ganho extra  pela diferença de custos; os mercados de capitais são perfeitamente  competitivos o que facilita qualquer volume de financiamento (CANUTO, 1994).
  A literatura neoclássica tem procurado explicar que a persistência  do subdesenvolvimento e as diferenças na inserção externa dos países de  industrialização tardia são resultados dos mercados de fatores e produtos, que  notadamente nos NICs são distorcidas e ineficientes. A principal fonte das  imperfeições alegadas é a intervenção do governo na economia, intervenção que  busca, sobretudo a rápida promoção da alocação eficiente de recursos através da  eliminação das divergências entre os preços de mercado e os preços sociais.
  Segundo esta escola, o não cumprimento deste pressuposto pode criar  uma intervenção excessiva que permita ou estimule o desenvolvimento exagerado  de práticas e políticas protecionistas, que violem o principio da vantagem  comparativa e de lugar a distorções nos mercados internos, tanto de fatores  como de produtos, gerando em muitos casos superavaliação do trabalho e da moeda  nacional e subavaliação do capital (COLMAN; NIXSON, 1981).
  A escola neoclássica entende que esta diferença de desempenho, tanto  macroeconômico quanto industrial, entre Leste Asiático e América Latina possui  uma profunda relação com a adoção de postura do governo junto ao mercado.  Dentro deste panorama, a análise neoclássica procura explicar que o sucesso de  tais experiências está longe de ser entendido como um milagre, ou então como  simples obra do acaso e da sorte, mas sim como resultado de uma bem-sucedida  exploração de oportunidades reveladas pelo mercado; sobretudo aquelas  orientadas para o mercado externo. 
  O fraco desempenho econômico dos países latino-americanos teria sido conseqüência do bloqueio imposto às  oportunidades apresentadas pelo mercado. A implantação de uma  industrialização substitutiva de importações (ISI) teria representado uma  tentativa desesperada de promoção de desenvolvimento que teria sufocado o  funcionamento natural do mercado, impedindo-o de sinalizar as melhores  oportunidades a serem seguidas (RODRIGUEZ, 1981).
  Em suma a escola neoclássica justifica que, a proteção deveria ser  diminuída e racionalizada, os controles de importações removidos, a taxa de  cambio mantida próxima do equilíbrio e o livre jogo das forças de mercado  estimulado. O resultado destas políticas de caráter liberal seria, um aumento  da competição entre as firmas nacionais e estrangeiras em favor de uma melhor  eficiência produtiva. 
  A inserção internacional dependeria assim não de políticas  compensatórias encorajadas as expensas de outros setores, mas fruto da alocação  eficiente dos recursos produtivos, dado o patamar estabelecido da concorrência  externa. Os benéficos seriam proporcionados pelo intercambio internacional,  quando fundamentado em especializações que conduzem a ganhos de escala e custos  de produção menos onerosos.
  Segundo Rossetti (2000) as  preposições teóricas da corrente neoclássica revelam que em trajetória de longo  prazo, a mesma é estável por natureza. São as más intervenções dos formuladores  de política econômica que interferem no curso normal da economia, produzindo  flutuações de altos custos sociais. Para os novos clássicos a política publica  deveria ser passiva em relação ao equilíbrio macroeconômico
            A revisão contundente dos pressupostos neoclássicos partiu da escola estruturalista que  percebem nos modelos teóricos neoclássicos como nos trabalhos de Hecksher-Ohlin  e Samuelson representavam uma abstração que violentava a realidade econômica, e  que na verdade as relações internacionais entre países centrais e periféricos  se caracterizavam pela desigualdade entre os ganhos do comércio. Estava  presente uma dificuldade de inserção externa decorrente das condicionantes  internas estruturais que impossibilitavam um crescimento sustentado das  exportações.
               Ao contrário dos  neoclássicos a escola estruturalista, dada a relação centro-periferia, enxerga  o estado como um verdadeiro agente econômico, principal indutor do  desenvolvimento, uma vez que a periferia devido a suas características  estruturais não respondia ao livre jogo das forças de mercado. Nesse sentido,  essas imperfeições que traziam ganhos assimétricos no mercado internacional  deveriam ser corrigidas através de políticas estatais e não exclusivamente  pelas leis de mercado.
              A assimetria nas relações internacionais corresponde a  ponto de ruptura com a escola neoclássica. As diferenças nas estruturas  produtivas entre periferia e centro colocariam de imediato a tendência ao  afastamento dos níveis de produtividade e renda entre um pólo e outro na  economia mundial (PREBISCH, 1967).
              Segundo a corrente estruturalista se a premissas da  teoria neoclássica estivessem correta, as relações comercias entre centro e  periferia por meio da melhoria dos termos de troca para o último grupo de  países, os frutos do progresso técnico no mundo, o que levaria a renda dos  diversos países a igualação relativa. Isto porque com os preços dos diversos  bens caindo proporcionalmente ao avanço do progresso técnico e da  produtividade, e levando em conta a hipótese de progresso técnico mais forte na  industria do que na produção primária, poder-se-ia esperar que os preços do  alimento e matéria-prima em termo do produto industrial subissem. Desse modo, a  renda periférica, em termos de produtos industrias, cresceria em proporção  maior do que o aumento da produtividade do trabalho nesse grupo de países  (RODRIGUZEZ, 1981).
              Segundo Prebisch (1951) inexistia a preocupação da teoria  neoclássica do comercio internacional, sintetizada no modelo Heckscher-Ohlin,  com os termos de intercâmbio entre pólos defendidos da economia mundial. Os  estudos empíricos contidos em documentos da CEPAL revelam que estes termos  evoluíram desfavoravelmente à periferia.
              Os pontos de sustentação da critica estruturalista foram:  baixa elasticidade – preço dos produtos primários como resultado de um efeito  da concorrência intensa entre os países fornecedores, bastante próxima de  estrutura perfeitamente competitiva; baixa elasticidade renda da maior parte  dos produtos primários sujeitas à influência da lei de Engels sobre  comportamento da procura de bens inferiores; retração da procura de inúmeras  matérias-primas de exportação como resultado da fabricação de sintéticos e a  redução de insumo por quantidade produzida de produto final; baixo valor  adicionado dos produtos primários quando comparado com os produtos  industrializados; estruturas de mercados atomizadas das commodities primárias  (RODRIGUZEZ, 1981).
              O modelo e praticas liberais a que se referia a escola  neoclássica, com o propósito de se atingir o ótimo social, não seria possível  na periferia. A atividade periférica de maior eficiência relativa, era a  produção primaria para exportação e esta era completamente incondizente com as  informações fornecidas pelos sistemas de preços, pois não induziam a  maximização da renda e do bem estar. 
              A idéia desenvolvida pelos pressupostos neoclássicos de  máxima eficiência e pleno emprego dos fatores produtivos parecia esbarrar em  condições estruturais de funcionamento do sistema (centro-periferia). A  inserção no mercado internacional caracterizada pelas exportações de produtos  primários deveria ser contida pelo Estado, e nela incluir uma estratégia de  industrialização.
              Como o livre jogo das forças de mercado não se traduzia  em benefícios para a periferia e tampouco o livre comércio estimularia o  crescimento de setores dinâmicos, a saída era a intervenção estatal promovendo  o processo de industrialização tardia calçada na proteção das industrias  infantes, contrariando os princípios fundamentais da escola neoclássica. Esses  instrumentos de políticas comerciais caracterizaram uma estratégia de  desenvolvimento voltada para o mercado interno.
              A contundência da corrente estruturalista dos anos 50 e  60 não se limitaram à revisão critica dos pressupostos neoclássicos e foi mais  além propondo não apenas um debate novo, mas também reações que deveriam fazer  parte das políticas  estatais dos países  atingidos pela deterioração das relações de trocas, tratavam-se de compor  propostas e estratégias de indução ao progresso técnico e de industrialização  dos países periféricos visando uma melhor inserção no mercado internacional. Na  verdade, a escola estruturalista procurou estabelecer uma política de  substituição de importações, caracterizado como um modelo fechado, de  orientação nacional, ancorado em medidas de forte conteúdo protecionista  completamente contraditória às idéias liberais da escola neoclássica. 
   2.2.2 A escola estruturalista
                O estruturalismo como teoria, tem  na CEPAL seu principal órgão de formulações e estratégias de desenvolvimento  econômico e o destaque no cenário intelectual data das décadas de 50 e 60, por  meio da apologia sistemática da industrialização dos países periféricos. O  argumento estruturalista consolidou-se na chamada “economia política cepalina”.
  A economia  política cepalina era o principal conjunto de formulações e arcabouço teórico,  nela estavam contidas as principais recomendações de política econômica feitas  pela CEPAL aos países da periferia dada à existência dos pertinentes problemas  estruturais que motivaram o avanço de contribuições teóricas da instituição,  com destaque para uma planificação dos investimentos e a prática de políticas  protecionistas.
  Dentro da sua  estrutura analítica, os escritores concentram-se na questão da posse e controle  dos meios de produção, e do nível de desenvolvimento das forças produtivas materiais  assim como as relações sociais de produção da sociedade em diferentes formas de  propriedade. As estruturas de produção distorcidas, decorrentes da própria  lógica do capital é a preocupação central desta corrente, entre elas, a atual  penetração estrangeira na economia; a importação de uma tecnologia “estranha”;  as operações das transnacionais (ETNs) em particular as remessas de lucros,  entre outras. Em suma, esta corrente defende mudanças radicais na estrutura  econômica (COLMAN; NIXSON, 1981).
  Nos primeiros  anos da CEPAL, o norte da escola estruturalista foi perseguir uma defesa de que  os países da periferia deveriam acelerar sua trajetória na direção da  industrialização, esta permitiria assim como nos países centrais uma inserção  mais dinâmica propiciando a população se apropriar em grande quantidade, dos  frutos do progresso técnico, traduzidos em melhores qualidades de vida. Nesse  sentido, a escola estruturalista entende que a distancia entre as condições de  desenvolvimento está presente quando os países industrializados do centro se  apropriam da parcela do progresso técnico da periferia (RODRIGUZEZ,  1981).
  Assim uma melhor  inserção no comércio internacional só seria possível quando na pauta de  exportação dos paises periféricos não mais fosse observada a deterioração dos  termos de troca. Esta entendida segundo a corrente como o valor (preço) de uma  cesta de mercadorias em termos de outra, assim um declínio nas relações de  troca indica que uma dada quantidade dessa mercadoria pode comprar apenas  quantidades menores de alguma outra cesta, que comprava anteriormente.  O fracasso das exportações em estimular o  crescimento por causa do declínio nessas relações assimétricas entre os bens  primários e manufaturados comprometia os ganhos de comércio em favor da  periferia (RODRIGUZEZ, 1981).
  Segundo Prebisch  (1949) os imensos benefícios do desenvolvimento da produtividade não chegaram à  periferia numa medida comparável àquela de que logrou desfrutar a população dos  países centrais, como resultado disso, a presença de acentuadas diferenças nos  padrões de vida entre as regiões centrais e a periferia, daí também se divergem  as forças de capitalização e ganhos de produtividade.
  A persistência  das relações assimétricas dentro da concepção centro-periferia, só tenderia a  reforçar os problemas estruturais da periferia, e na interpretação dos  estruturalistas a saída seria a industrialização da periferia, nesse sentido  estava justificada uma intervenção estatal capaz de liderar o processo, calçada  em políticas protecionistas as industrias nascentes.
  As estratégias  perseguidas pelos estruturalistas visavam poupar da concorrência externa as  industrias infantes, como forma de incentivar uma maturação de seus estágios  para aumento de produtividade. Segundo a escola isso seria possível através de  políticas comerciais de sobretaxas as importações correspondentes a cada  estágio do processo de industrialização de importações.
  Todavia, ganhava  força um mercado interno que passou a ser visto como o principal componente de  aumento da demanda agregada da economia, esta estratégia de desenvolvimento  voltada para dentro teve suas bases alicerçadas num processo que progride à  medida que ocorrem mudanças na composição das importações. Num primeiro momento  os setores de bens de consumo são incentivados e taxam-se os bens de consumo  importados, incentivando-se os bens supérfluos importados e não os produzidos  internamente. No que aumenta a produção de bens de consumo, muda-se a  composição das importações e o processo da substituição de importações avança.
  Os problemas  estruturas como os déficits em conta corrente, foram tratados de maneira  especial pelos estruturalistas durante a substituição de importações. Em geral  o coeficiente de importação (a relação entre o total de importações e o PIB)  cai à medida que a substituição de importações procede, embora isso não  implique nem numa redução em seu valor absoluto e nem na quantidade de  importações. Tende também a acontecer que exista algum limite máximo de  importações, determinado pelos dotes naturais de recursos do país, seu tamanho,  nível de atividade e taxa de crescimento.
  A mudança na  composição das importações é crucial para que a substituição de importações  progrida. O processo emerge com a produção interna de bens de consumo, que  caracteriza a primeira fase da industrialização por substituição de  importações, sendo comum tanto aos países da América Latina e leste asiático.  Assinala-se nesta fase as maiores tarifas aos  bens de consumo importados, (conduzido ao resultado perverso de que as  importações menos essenciais são dadas maior incentivo do que a produção  interna). 
   Hirschman (1961) descreveu o processo de substituição  de importações como “industrializações por estágios separados”, mas com  justaposição quase continua e como acontecimento “altamente seqüencial”. Ainda  segundo o autor, é característico do modelo de substituição de importações  começar pela implantação de industrias de bens de consumo (a tecnologia  necessária pode ser menos complicada e o custo diferencial mais baixo do que  para os bens de capital) e então, em princípio passa para bens intermediários e  finalmente para bens de capital.
  Desse modo, no  que a produção de consumo aumenta, muda a composição das importações de  mercadorias: as importações de bens de consumo se tornam menos importantes,  enquanto as de maquinaria, equipamentos, matérias-primas e outros insumos e  combustível vão se tornando mais significativas. Em outras palavras,  convertem-se as importações de bens de consumo “não essenciais” em importações  essenciais necessárias a manutenção da produção e do emprego interno (COLMAN;  NIXSON, 1981).
  A Substituição de  importações aumenta a proporções de valor agregado mantida por importações  nesta circunstancias qualquer declínio no produto das exportações não  contrabalançado por uma entrada líquida de capital estrangeiro conduz a uma  redução forçada das importações e à recessão industrial. De modo geral,  portanto, a economia se torna mais dependente do comércio exterior e mais  vulnerável a flutuações na receita de moeda estrangeira. E, em lugar de  diminuir a dependência externa como fora originalmente concebido a ISI tende a  gerar o efeito oposto. Para Baer (1972) o resultado líquido da substituição de  importações foi exatamente o de reforçar sob uma ótica diferente e mais nociva  a dependência dos países periféricos aos mais desenvolvidos.
  É possível que o  problema maior enfrentado pela substituição de importações tenha sido sua  incapacidade evidente de, em longo prazo, sustentar uma taxa de crescimento do  PIB em excesso ao crescimento na capacidade de importar. Dito de outra forma: a  substituição de importações gera uma alta taxa de crescimento em seus estágios  inicias, mas tal crescimento tem vida curta (10 a 15 anos) e a economia, já a  um baixo nível de desenvolvimento, experimenta a estagnação uma vez que as  oportunidades para a industrialização por substituição de importações parecem  esgotadas e as condições  da taxa de  câmbio voltem novamente a preponderar (COLMAN; NIXSON, 1981).
   De uma forma geral, podemos distinguir entre  os autores que acreditam que tendências estagnantes sejam intrínsecas ao  próprio processo de ISI e aqueles que acreditam que o mau planejamento e  implementação de estratégias em si estejam na raiz do problema. O fato é que os  teóricos desenvolvimentistas pareciam incapazes de explicar o êxito dos tigres  asiáticos e o fracasso dos países da América Latina, e as idéias estruturalistas  de uma industrialização calçada na substituição de importações começavam a  enfrentar duras críticas e perder força, abrindo espaço para outra proposta:  ganhava impulso uma nova ortodoxia neoclássica.
| En eumed.net: | 
|  1647 - Investigaciones socioambientales, educativas y humanísticas para el medio rural Por: Miguel Ángel Sámano Rentería y Ramón Rivera Espinosa. (Coordinadores)  Este  libro  es  producto del  trabajo desarrollado por un grupo interdisciplinario de investigadores integrantes del Instituto de Investigaciones Socioambientales, Educativas y Humanísticas para el Medio Rural (IISEHMER).  Libro gratis | 
| 15 al 28 de febrero  | |
| Desafíos de las empresas del siglo XXI | |
| 15 al 29 de marzo  | |
| La Educación en el siglo XXI | |