BRASIL E CORÉIA DO SUL: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DA DINÂMICA DAS EXPORTAÇÕES NO COMÉRCIO INTERNACIONAL, 1985-2002.

Heriberto Wagner Amanajás Pena

3.5 ÍNDICE DE HERFINDAHL-HIRSHMAN (IHH)

            A proposta de se estimar quantitativamente o poder de mercado exercido pelos setores agregados a um dígito do SITC no comércio internacional esta em identificar aqueles que apresentam as maiores parcelas de mercado em valores (dólares) na participação da demanda mundial. Nesse sentido, o dinamismo internacional dos setores que caracterizarem uma estrutura de comércio concentrada serão parâmetros de comparação e avaliação da estrutura exportadora de Brasil e Coréia do Sul.
            Para estimar o grau de concentração de mercado dos setores agregados do SITC a um dígito, adota-se o princípio de que a diferenciação na geração de valor incorporado nas exportações dos setores de (0 a 9) é o principal atributo na distinção de uma estrutura de demanda concentrada ou não. Para estimar este grau de concentração serão aplicados: a Taxa de Concentração de Mercado (TCM) e o Índice de Herfindahl-Hirshman (IHH).
            A concentração setorial das exportações mundiais é resultado das mudanças no âmbito da demanda internacional e de suas condicionantes, e também da ação das chamadas redes internacionais de produção que transferem por todo o mundo processos e linhas de montagem buscando aproveitar vantagens comparativas de custos. O fluxo das inversões externas, principalmente dos investimentos diretos estrangeiros também qualifica a estrutura exportadora e contribuem em muito para o aumento das exportações mundiais em valor.
             O cálculo de concentração de mercado é feito com base na participação relativa dos setores exportadores mundiais agregados a um dígito do SITC. A taxa de concentração de mercado (TCM) é dada pela porcentagem de contribuição de cada setor no total exportado pelo comércio internacional em valor, se adotará os três maiores setores do comércio, ou seja, as três maiores market share.
3.5.1 Ajustamento do índice
            A taxa de concentração de mercado é uma ferramenta que quantifica o poder de mercado concentrado nas mãos de poucas empresas, porém o calculo do índice permite a diferenciação entre os modelos teóricos de concorrência perfeita, oligopólio, monopólio, e concorrência monopolista (SANTANA, 2002).
            Nesse sentido, busca-se através desse índice estimar em termos agregados a participação setorial das exportações mundiais e identificar quais são os setores que apresentam a maior taxa de participação em valor no total exportado entre o período de 1985 á 2000.
            A concentração de mercado inclui os setores agregados a um dígito das seções (0 a 9) e a participação em valor destes setores no total exportado pelo comércio internacional. A taxa leva em consideração o número de empresas participantes, adaptadas aqui para as dez seções ao nível de um dígito do SITC e a contribuição de valor exportado no comercio internacional.
            Adotando-se “N” como o número de setores (0 a 9) e “Q” o valor das exportações mundiais e ainda que “qi” é o valor exportado no setor i (i= 1,2,.....N), têm-se que Q=Sqi . Por seguinte, como os dados serão tratados no agregado, têm-se que o market –share do setor i é dado por:
            MSI ºº (100 x qi) / Q
            onde se mede a parcela de mercado sobre o valor das exportações mundiais que são atribuídos ao setor i. A parcela de mercado é um indicador que se situa entre 0 £ MSi  £ e que a SMSi = 100. Nesse sentido, a taxa de concentração de mercado (TCM) é dada por:
            TCM =  MSi
                onde MSi se define como a participação em valor da i-ésima seção nas exportações mundiais, se utilizará como critério a soma de market-share das três maiores seções como julgamento de concentração. As mudanças na estrutura exportadora mundial podem ser avaliadas através de alterações na concentração setorial, como o número de setores é fixado em apenas dez (0 a 9) de acordo com o SITC a um dígito, as mudanças na concentração ocorrem principalmente via valor exportado, o que alimenta a premissa de que quanto maior o nível tecnológico disponível em cada seção maior também será a incorporação de valor exportado e por conseguinte, a concentração estrutural
                 Quanto maior a participação de mercado de um setor em nível agregado nas exportações mundiais, maior também será o seu valor exportado em relação aos outros setores. Nesse sentido, setores que apresentam elevada concentração de mercado, são aqueles que sustentam maiores receitas de exportação e que fazem uso intensivo no processo produtivo de tecnologia de ponta. De acordo com a teoria tradicional, existe uma forte associação entre a participação de mercado de uma empresa e a previsão de seus lucros (Byrns; Stone, 1996).
            Por seguinte, dada à importância entre a participação de mercado e a previsão de lucro das empresas, criou-se o índice de Herfindahl-Hirshman (IHH) elevando-se ao quadrado a participação de mercado das empresas, onde aquelas que apresentassem maior parcela seriam as mais destacadas. Contudo, coloca-se maior peso nas empresas que apresentarem maior participação, captando as diferenças ocultadas pela TCM quando estas são empregadas isoladamente (SANTANA, 2000). Com o IHH aqueles setores a um dígito que apresentarem uma TCM elevada terão sua importância destacada, e para que o IHH não discrimine alta concentração será necessário que os demais setores aumentem o valor exportado no comércio internacional, uma vez que a inclusão de outros a um dígito não é permitida pelo SITC. O maior destaque aqueles setores de maior participação é dado pela seguinte fórmula:
            IHH =  MS2i
                em que MSi é a participação setorial em valor da i-ésima seção nas exportações mundiais. A interpretação deste índice leva em conta três situações: o mercado não será considerado concentrado na hipótese do valor do IHH se encontrar abaixo de 1.000; um valor superior a 1.800 mercado altamente concentrado e quando o IHH se situa entre 1.000 e 1.800  a concentração será considerada baixa.
            Para a análise do grau de concentração de mercado das exportações mundiais se fará uso desses dois índices buscando uma analise mais precisa do comercio exportador mundial, os dados estão ajustados para permitir uma interpretação em termos agregados dos setores exportadores. 

4. MUDANÇAS ESTRUTURAIS NO COMÉRCIO INTERNACIONAL

            As transformações estruturais do comercio internacional abriram claras oportunidades para os países em desenvolvimento como Brasil e Coréia do Sul de melhorar suas integrações dentro da economia mundial por meio de ganhos na participação de mercado em setores mais dinâmicos, ou seja, aqueles que oferecem fortes variações positivas ao longo do tempo.
            A partir da década de oitenta ocorre o auge da liberalização dos mercados, as políticas institucionais que haviam apoiado fortes medidas protecionistas foram mostrando suas fragilidades frente às mudanças estruturais e a nova ótica dos mercados nacionais estava em aumentar as inversões de empresas transnacionais, criando um ambiente favorável que motivassem novas alocações de recursos.
            As estratégias dos paises em desenvolvimento como resposta a estas mudanças se afastava dos pressupostos neoclássicos na medida em que tinha o estado como agente indutor e interventor na alocação de recursos e formulação de políticas públicas para o desenvolvimento industrial. As intervenções estatais foram crucias para determinar a posição competitiva de Brasil e Coréia do Sul, na medida em que o livre jogo das forças de mercado caracterizava um ambiente internacional assimétrico com presença de falhas de mercado.
            A incorporação da automação, cibernética, robótica e informática nos processos de produção diminuíram consideravelmente os custos unitários do produto e representaram um passo importante na competição internacional, pois, a permanência numa posição altamente competitiva exigiria um grau elevado de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e ciência e tecnologia. A elevação do molde tecnológico foi compartilhada por uma demanda mundial mais específica e exigente aos padrões de qualidade, permitindo uma sensibilidade maior para o consumo destes produtos quando varia a renda externa.
            O avanço do pacote tecnológico representa assim uma mudança na composição dos produtos ofertados no mercado internacional assim como a formação de novos arranjos produtivos com o objetivo de manter-se no mercado. As exportações mundiais ganharam em valor e os países que seguem dependendo de produtos concentrados em recursos naturais estão na contramão do comercio e assim permanecerão caso os princípios de alocação seletiva do estado interventor não entre em ação.
            As tecnologias adotadas pelos novos processos produtivos caracterizam uma oferta diferenciada pelas diferenças na elasticidade-renda, a inovação dos produtos e a evolução das pautas de consumo, assim como determinam e condicionam a variações na posição competitiva dos países. Estas variações também explicam porque alguns produtos são mais dinâmicos que outros nos mercados mundiais.
            A demanda mundial evoluiu no sentido de exercer alto coeficiente de resposta a variações unitárias na renda. Assim, o aumento da renda domestica nacional motiva às importações de produtos com elevado conteúdo tecnológico. Esta demanda altamente elástica determina uma expansão mais forte de alguns produtos em detrimento de outros no comércio internacional.
            De um lado, produtos que incorporam em suas composições elevado grau de sofisticação tecnológica estão menos sujeitos a flutuações de preços e repercussões adversas de medida antidumping com normas aplicadas aos produtos. De outro, isto significa que o numero crescente de barreiras não alfandegárias que incidem contra as manufaturas pouco complexas tem permitido um melhor acesso de produtos de alta tecnologia assim como determinado seu dinamismo internacional.
            Outra influência decisiva na expansão dos produtos no comércio internacional tem sido, a globalização dos processos produtivos, que através das empresas transacionais e acordos internacionais de participação na produção tem promovido uma nova pauta de comércio em que os bens são elaborados em diferentes partes do mundo antes de chegar ao consumidor final.
            Nesse sentido, os acordos internacionais de produção revelam uma predisposição de medidas de políticas publicas nacionais para atrair e mobilizar as intenções com grandes grupos internacionais. O papel do estado de acordo com a visão alternativa seria selecionar os setores chaves da economia domestica e promover uma inserção nas chamadas redes internacionais de produção.
            Países que através de políticas industriais seletivas conseguiram se especializar dentro das redes de produção globalizadas aumentando a margem de valor adicionado de suas exportações assim como se enquadraram num mercado que representa 30% das exportações mundiais.
            A entrada em linhas de produção com alto potencial de crescimento da demanda mundial, alto valor adicionado e rápido aumento da produtividade acrescem a possibilidade de conseguir os retornos crescentes que advém da maior participação em grandes mercados, o que faz com que o comércio tenha um papel mais relevante no crescimento econômico.
              Por outro lado, a concentração das exportações em bens com lento aumento da demanda ou continuo excesso da oferta, colocam em risco o processo de crescimento pela perda de termos de troca e desperdícios de recursos disponíveis, a corrente estruturalista argumenta que a forma peculiar com que os países em desenvolvimento se relacionam com países desenvolvidos na troca de bens primários por produtos industrializados cria uma deterioração das relações de troca no longo prazo em favor dos países que exportam produtos não-industializados.

4.1 A DEMANDA DO MERCADO MUNDIAL

            Uma importante característica do comércio internacional têm sido os fortes crescimentos em dólares correntes do valor das importações do mercado mundial, aqui compreendidos como os países industrializados. Entre 1985 e 2000 as importações de bens finais provenientes dos países industrializados cresceram a uma taxa média anual de 18,4%. Uma importante característica dessa tendência é que esteve acompanhada por uma rápida transformação da composição das exportações de produtos básicos a manufaturas, especialmente a partir de princípios dos anos oitenta, quando fica mais caracterizada uma maior integração ao sistema de comércio mundial.
            O crescimento das exportações mundiais para países industrializados cresceu o equivalente a 294,40 % na comparação entre o valor no inicio do período 1985 e no final do período 2000, ou o equivalente a (2,94) quase três vezes o valor de 1985 (tabela 2). A política comercial da maioria dos países em desenvolvimento a partir dos anos oitenta tem estado dominada pela crença de que uma maior integração no sistema internacional de comércio cria condição mais favorável para seu crescimento e aliados a políticas industriais a setores com forte expansão da demanda permitiria por um fim nas diferenças de inserção em relação aos países industrializados.
            A dinâmica de crescimento da demanda mundial se identifica com a variação de crescimento do valor importado em três períodos de tempo, se observa que o crescimento percentual nos três períodos foi acima de 100% de acordo com os resultados da (tabela 2). O crescimento considerado nos três períodos se deve a um aumento da demanda por produtos de alta tecnologia correspondentes as seções (9; 8 e 7).
            Estes setores de forte conteúdo tecnológico são bastante elásticos à renda e são negociados a preços elevados, o que contribuiu para o aumento da receita de exportação. As principais mudanças estruturais das importações mundiais acusam para uma diminuição da demanda por recursos naturais com a introdução dos sintéticos na produção e aumento da volatilidade de preços externos das commodities.
             Os setores em termos agregados que mais contribuíram para o crescimento da demanda mundial foram às seções 6; 7 e 8 que em 1985 respondiam por 56% da demanda externa e em 2000 cresceram para 68,47%. Os setores que apresentam uso intensivo em recursos naturais correspondente as seções (0; 1; 2;3 e 4) somavam em 1985 uma participação de 26, 14% da demanda mundial, contribuição que reduziu para 9,42% em 2000 indicando que a introdução na produção dos sintéticos contribuiu para uma redução na sua demanda.
Tabela-2 Crescimento da demanda Mundial dos países industrializados em milhões de dólares (US$ 1.000) e taxa percentual de crescimento.


Países Industrializados

Ano Inicial

Ano Final

Importações do ano inicial

Importações do ano final

Crescimento % das importações

Todos os países

1985

2000

1403953856

4133314413

294,4052895

Todos os países

1985

1990

1403953856

2459969256

175,2172442

Todos os países

1990

1995

2459969256

3271815838

133,002306

Todos os países

1995

2000

3271815838

4133314413

126,3309006

Fonte: Elaborado pelo autor a partir do TradeCAN, 2002.

O crescimento da demanda mundial tem levado a grandes mudanças estruturais no comercio internacional, mudanças que tem se pronunciado não de uma forma uniforme. As variações na taxa de crescimento da demanda por determinados produtos é conseqüência desta tendência de longo prazo, que tem permitido variações sensivelmente distintas segundo os diferentes produtos, revelando que alguns tem maior estabilidade e previsibilidade no tempo que outros através da variável demanda.
            Nesse sentido, tanto as tendências de longo prazo como as variações em curto prazo nas taxas de crescimento das exportações mundiais são conseqüência de modificações dos preços e do volume de exportações. Existe entre elas uma determinada relação, que leva em conta fatores determinantes da demanda mundial de um produto ou grupo setorial, sendo que o excesso da oferta nos mercados mundiais tende a produzir uma diminuição dos preços externos e a provável diminuição dos ingressos das exportações. Sabe-se que este fenômeno é característico para os produtos básicos, porque no caso da maioria das manufaturas a escassez da demanda quase sempre sofre um ajustamento relativamente rápido da oferta  impedindo as quedas bruscas dos preços, bloqueando inclusive ações de especuladores.
            Um importante resultado na figura-4 acima é que identifica um crescimento continuo da demanda mundial dos países industrializados, e como os dados são em valores (dólares correntes), é possível que este significativo crescimento tenha sido devido à incorporação das vendas externas de produtos mais dinâmicos nas ultimas décadas (com alto valor adicionado), porém nas seções seguintes os dados apontarão  uma maior precisão desta hipótese, quando se analisa o produto mais importante e mais dinâmico do comércio internacional.
            As conclusões do world investiment report (WIR, 2002), revelam segundo estatísticas da Conferencia das Nações Unidas para o comércio e desenvolvimento que houve uma diminuição da participação das manufaturas na exportação dos países desenvolvidos, porém à parte do valor adicionado manufatureiro mundial que a eles corresponde tem aumentado consideravelmente a partir da década de oitenta. Em conseqüência o aumento da cota das exportações de manufaturas mundiais correspondentes aos paises em desenvolvimento não tem sido acompanhado concomitantemente da parte de valor adicionado das manufaturas mundiais que a eles corresponde.
            Uma participação mais dinâmica do comércio internacional por parte dos paises em desenvolvimento reflete não apenas uma mudança na estrutura exportadora, ou seja, deixar de produzir produtos primários, mas considerar o mercado e suas variáveis que repercutem nas variações de preços, de produtividade, nas elasticidades, nas mudanças quanto ao pacote tecnológico e outras tendências mundiais da produção.
            A expansão da demanda mundial esta sensivelmente relacionado com o crescimento do produto e da renda mundial, porém esta relação não é linear nem uniforme para todos os produtos. Assim o crescimento do PIB mundial provoca uma demanda para todos os produtos, porém, as motivações de gostos, preferenciais, qualidade entre outros atributos agem no sentido de se adquirir uma parcela menor de produtos agrícolas e alimentos em detrimento de uma parcela maior do consumo direcionada a produtos industrializados.
            Não é nova a observação de que o crescimento da demanda mundial esta diretamente associada ao crescimento do PIB dos países industrializados, porém as mudanças estruturais nos processos de produção e produtivo têm movido e direcionado as políticas industrias dos países em desenvolvimento para aderirem a tal tecnologia porque a dinâmica do comércio internacional e a busca de uma melhor inserção dependem de uma mudança na estrutura exportadora nacional. Dessa forma, muitos países de industrialização tardia perseguiram esse objetivo e tem conseguido participar de uma parcela maior da demanda mundial.

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