BRASIL E CORÉIA DO SUL: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DA DINÂMICA DAS EXPORTAÇÕES NO COMÉRCIO INTERNACIONAL, 1985-2002.

Heriberto Wagner Amanajás Pena

5.2 COMPOSIÇÃO DA PAUTA DO BRASIL


A composição da estrutura exportadora brasileira no período de 1985 a 2000 identifica as modificações  na participação em valor em relação ao total exportado dos setores em termos agregados do SITC (um dígito). O período de longo prazo (16 anos) ajuda a esclarecer as correlações das políticas industriais passadas e suas influências na dinâmica atual das exportações brasileiras.
            Por conseguinte, o grau de concentração na estrutura exportadora ao longo do período revela uma associação da política industrial em torno de uma tendência de longo prazo na pauta de assumir uma posição competitiva liderada por produtos dinâmicos no comércio internacional. A tabela-7 identifica as mudanças na composição da estrutura exportadora do Brasil no curto prazo para captar variações na tendência exportadora, a análise se estabelece a um dígito da classificação padrão do comércio.
            Na economia brasileira observa-se que as seções de maior importância nas exportações em termos agregados do SITC são: (0)- materiais crus, não comestível, menos combustíveis; (2)- materiais crus, não comestível, menos combustíveis; (6)- bens fabricados classificados principalmente por material  e (7)- maquinarias e equipamentos de transportes  , estes setores mantiveram a maior participação em valor sobre as exportações brasileiras em todo o período estudado, o que garantiu que 81,21% das exportações em média no período originou-se desses setores. Porém, a concentração em setores pouco importantes no comércio internacional identificados nas seções (0 e 2), revelam que a maior parcela de valor exportado na média do período diz respeito a esses  dois setores que somaram o equivalente a  46,23%.
            De acordo com a tabela-7 o desempenho dos setores (0 e 2) ao longo do período apresentam comportamentos assimétricos, com tendências opostas. Isto significa, que a diminuição de participação dos setores de comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato, foram compensados pelo aumento do valor exportado dos materiais crus, não comestível, menos combustível, o que na média acabou compensando a perda de receita gerada pela seção 0.
            Em termos agregados a concentração das exportações nos setores (0 e 2), sempre esteve bem acima da composição da demanda mundial para essas duas seções, que na estrutura importadora mundial representou no seu maior índice o equivalente 8,52% e 6,15%  registrado em 1985. Na seção (0) a tendência da demanda mundial é decrescente no período estudado, assim como também diminui a participação desse setor no total exportado pelo Brasil, enquanto na seção (2) a diminuição do consumo mundial no período é acompanhada por um aumento do valor exportado pela economia brasileira a partir de 1990, o ganho de mercado em setores com demanda internacional decrescente, caracteriza uma situação externa de declínio das exportações brasileiras.
            A fragilidade das exportações no setor (2) é que a tendência da demanda mundial é declinante, mas ao longo do período analisado a presença desse setor esta aumentando nas vendas externas brasileiras, chegando a representar em 2000 o equivalente a 21,15% do total exportado, ou seja, o aumento do valor exportado seguido da constatação de queda do consumo mundial do setor, revela um certo grau de vulnerabilidade externa.
            De açodo com Lacerda (2004) a diminuição de resposta da economia a eventuais crises externas do ponto de vista econômico (financeiro, comercial, tecnológico e produtivo-real), manifestada na fragilidade de condução da política econômica caracteriza o grau da vulnerabilidade externa do país. Nesse sentido, a expansão das exportações em valor naqueles setores em declínio (seção 2) do comércio internacional, aumenta a dependência da economia brasileira em relação a setores pouco dinâmicos assim como os riscos de financiamentos das transações correntes, na presença de eventuais crises externas, ou seja, a dependência de setores pouco importantes e dinâmicos do comércio exterior também eleva a dependência em relação ao cenário internacional.
            O grau de instabilidades quanto aos preços futuros das seções (0,1,2,3 e 4) intensivas em recursos naturais, onde se encontram as commodities agrícolas sofrem grande influência das mudanças estruturais do comércio internacional de oferta e demanda, do que de fatores específicos aos próprios mercados das commodities. Isto significa que as instabilidades nos preços das commodities decorrem do consumo e de movimentos especulativos diários nas Bolsas de Nova Yorque, conforme verifica Amin (1995) quando analisa a influencia das ações de especuladores na formação de preços futuros do cacau.
            De acordo com Amim (1995) os mecanismos de criação das expectativas se baseia nas informações de previsão de demanda do mercado, de características produtivas, comerciais e industriais que no caso particular do cacau exercem um papel importante na ação especulativa de mercado.
            Como se identifica na tabela-7 em todo o período analisado as seções (0; 2; 6 e 7) sempre contribuíram com a maior parcela nas exportações brasileiras. O aumento da participação dos setores (6 e 7) são positivos do ponto de vista internacional, pois responderam em 2000 por 54,25% da demanda agregada mundial, na comparação para o mesmo ano os setores (0 e 2) somaram um market-share de 9, 29%.
            A demanda agregada do comércio internacional para os setores de (0 a 4) somaram uma participação percentual conjunta em 1985 de 33,93% que diminuiu para 19% ao nível de um dígito do SITC em 2000, isto significa que houve uma significativa redução da demanda internacional por produtos intensivos em recursos naturais. Na comparação com a estrutura exportadora do Brasil, também se identifica uma redução em 1985 de 59,43% para 46,64% em 2000 na contribuição dos quatro setores.
            Essa desespecialização da estrutura importadora mundial reflete uma tendência que se observa com maior precisão a partir de meados dos anos oitenta do século passado quando se torna mais intensa as mudanças decorrentes do processo de reestruturação econômica mundial, os novos produtos (sintéticos) criados a partir de mudanças nos processos de produção e produtivos substituem a maioria das matérias-primas iniciando um novo ciclo de demanda externa.
            Os setores intensivos em recursos naturais e mão-de-obra também enfrentam dificuldades de demanda por conta das medidas protecionistas dos países industrializados e da volatilidade das cotações internacionais. Como são setores com baixa resposta ao crescimento da renda mundial e inelástico a preços, a volatilidade das cotações cria um ambiente desfavorável e incerto quanto às receitas de exportação desses produtos.
            Na verdade a única certeza dos países que concentram grande parte de suas exportações nesses produtos é a elevada vulnerabilidade externa a que estão sujeitos, num ambiente altamente especulativo, onde o futuro quanto a possíveis investimentos diretos estrangeiros nesses setores não se concretize como estratégia de inserção externa.
            Contudo, a redução da participação dos setores (0, 1, 2, 3 e 4) ao longo de todo o período não é significativa, porque diminuiu em apenas 12,79% em dezesseis anos de comércio internacional, o que demonstra uma forte associação com as políticas de exportação de décadas passadas.


Tabela-6 Composição da estrutura exportadora brasileira medida pela porcentagem das exportações ao nível de um dígito do SITC.

Seção

Setores

Porcentagem das exportações da economia brasileira

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

0

comidas e animais  vivos destinados ao consumo imediato

36,32

34,27

31,68

28,57

27,16

25,92

25,87

25,91

26,28

25,72

25,4

24,62

23,99

23,35

21,8

21,46

1

bebidas e tabaco

2,25

2,29

2,16

1,99

2

2,35

2,81

3,08

2,85

2,53

2,61

2,84

2,86

2,49

2,04

1,84

2

materiais crus, não comestível, menos combustíveis

16,13

16,45

15,67

16,84

17,82

19,17

19,58

19,49

20,06

20,57

21,09

21,75

22,04

22,05

21,57

21,15

3

combustíveis de minerais, lubrificantes e materiais relacionados

3,93

3,52

3,12

3,2

2,87

2,41

1,83

1,68

1,69

1,4

1,03

0,75

0,9

1,04

1,74

1,98

4

animais, óleos vegetais e gorduras

4,93

4,52

4,12

4,2

3,87

3,41

2,83

2,68

2,69

2,4

2,03

1,75

1,9

2,04

2,74

2,98

5

substâncias químicas e produtos relacionados

4,51

4,06

3,78

3,71

3,96

4

4,05

4,25

4,15

4,25

4,37

4,49

4,55

4,35

4,25

4,18

6

bens fabricados classificados principalmente por material

16,11

16,47

19,18

20,45

21,34

21,63

21,02

20,59

20,41

21,87

22,33

21,78

20,28

19,62

19,09

18,96

7

maquinarias e equipamentos de transportes

11,43

13,51

15,04

16,05

15,65

14,79

13,96

12,94

12,35

12,48

12,79

13,75

15,7

17,72

19,88

20,44

8

artigos fabricados múltiplos

7,6

7,87

7,92

7,95

7,92

8,29

8,61

9,82

9,99

9,45

8,35

7,79

7,42

6,93

6,68

6,65

9

artigos e transações não classificadas em outro lugar

0,93

0,85

0,75

0,64

0,69

0,97

1,86

1,9

1,93

1,37

1,67

1,82

1,92

2,18

2,73

3,12

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir do TradeCan, 2002.


            Nesse sentido, de acordo com Veiga (2000) a mudança na estrutura exportadora não é tarefa principal da política de exportação, e esta ultima normalmente não é a maneira mais rápida de expandir as exportações. Porém, a remoção dos empecilhos de infra-estrutura e dos procedimentos tarifários e acesso a mercados constituem-se em política de exportação. Durante o período estudado, nota-se que a redução de alguns empecilhos e do viés antiexportador para o conjunto da economia que resultou em um novo impulso as exportações ligados a setores que já dispõem de vantagens comparativas.
            O principal instrumento utilizado foi à taxa de câmbio que gerou um ganho de competitividade via preço no mercado externo e garantiu uma maior rentabilidade setorial a partir de 1997. Porém, como a diversificação da pauta não depende somente, nem principalmente, da política de exportação, os setores (6 e 7) obtiveram um bom ganho de market-share na economia mundial, no entanto os estímulos responderam mais facilmente as seções (0,1,2,3 e 4) compatíveis com as vantagens comparativas da economia.
            Entre 1985 e 2000, a participação em termos agregados dos setores (5, 6, 7, 8 e 9) aumentou de 40,58% para 53,35% no final do período, enquanto a estrutura de demanda mundial apresentou uma mudança para igual período de 66,06% para 81%. O aumento da demanda mundial nesses setores aponta qual deveria ser a política industrial do país que pretende inserir-se na dinâmica internacional.
            A participação na pauta brasileira diminuiu na soma de market-share dos setores (0,1,2,3 e 4) na comparação com o inicio e final de período, ao mesmo tempo em que o movimento de participação conjunta desses setores no comércio internacional também diminuiu de 25,06% em 1985 para 10,30% em 2000, sendo que quatro das cinco seções perderam market-share no comércio internacional e apenas a seção (2) ganhou mercado confirmando sua maior presença tanto na pauta quanto no mercado internacional.
             A seguir identifica-se a magnitude de ganhos e perdas dos setores (0 a 4) na participação do comércio internacional e traça uma tendência em termos agregados desses setores para a estrutura exportadora do Brasil. Nota-se que apesar de diminuir a participação das seções (0,1, 3 e 4) na demanda mundial desses setores a partir de 1990, o valor exportado ainda é muito concentrado na estrutura brasileira e também elevado para padrões de uma matriz dinâmica (figura-11). 
Figura-9 Participação dos setores agregados (um dígito) nas exportações brasileiras ao longo do período de 1985 a 2000.
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados do TradeCAN, 2002.

                A partir de 1990 as exportações do Brasil perdem participação no comércio internacional para os setores (0,1,3 e 4) quando se compara com o período de 1985 a 1989, quando o país participava de forma mais significativa desse comércio. As perdas de market-share no agregado refletiram numa diminuição de participação na pauta desses mesmos setores, o que indica uma desespecialização em setores intensivos em recursos naturais, ainda que o valor exportado seja elevado e a participação da seção 2 tenha manifestado tendência positiva ao longo do período. 
            O aumento de ganho de mercado da seção 2 contraria a tendência do conjunto dos demais setores, quando eleva sua participação no comércio internacional a partir de 1990 e contribui majorando o valor exportado na estrutura do Brasil. Os subgrupos de produtos que têm contribuído para esse crescimento são: (2815) Iron ore and concentrates, not agglomerated; (2222) Soya beans; (2517) Chemical wood pulp, soda or sulphate; (2816) Iron ore agglomerates (sinters, pellets, briquettes, para citar os que figuram entre os vinte mais importantes entre 1990 e 2000).
            Em termos agregados, as exportações brasileiras estão perdendo market-share em setores com demanda agregada internacional estável ou decrescente ao longo do período para as seções de (0 a 4) o que qualifica que em 2000, 25,49% da estrutura exportadora foram gerados em setores em retrocesso representando perdas de mercado cujas seções apresentaram demanda negativa no período estudado. Quanto aos ganhos de mercado somente na seção 2 foi que o Brasil apresentou aumento da parcela de mercado, contribuído para que 21,15% das exportações fossem classificadas como setores em declínio. 
            As seções correspondentes (5,6,7,8 e 9) apresentaram juntas uma peculiaridade, o aumento em valor exportado na pauta brasileira entre 1985 e 2000, não manifestou aumento da participação conjunta no comércio internacional desses setores. No período inicial a soma conjunta respondia por 4,16% da demanda externa e em 2000 esse valor diminui para 2,99%, a mudança é significativa porque representa perda de mercado para a economia brasileira em setores com demanda internacional crescentes, classificados como oportunidades perdidas.
            Dos cinco setores considerados individualmente, quatro contribuíram para a diminuição de market-share e apenas a seção (9) manteve ganho de mercado entre o inicio e o final do período. A gravidade se estende em todo o período analisado, pois as variações entre perdas e ganhos de participação no mercado, traçam uma tendência declinante para as seções (5,6,7 e 8).
            A figura-12 identifica a participação setorial das exportações brasileiras nas seções (5,6,7 8 e 9) em termos agregados do SITC no comercio internacional identificando no curto prazo as alterações na inserção externa das exportações nacionais, estes setores se caracterizam por uso intensivo em tecnologia e as seções 6,7 e 8 são as mais importantes do comércio internacional de acordo com o capitulo 4.
            Em termos agregados, a figura identifica um comportamento similar com a análise da figura-11, na medida em que descreve uma tendência declinante ao longo do período para quatro das cinco seções analisadas em conjunto. Nas seções (5,6,7 e 8) as exportações brasileiras perderam mercado em 2000 na comparação com 1985, com pontos inicias de queda diferente devido oscilação em torno da tendência;
            De acordo com a estrutura exportadora a porcentagem em valor exportado em 2000 foi superior em 12,77% para o conjunto das seções (5,6,7,8 e 9) quando se compara a 1985, o que indica uma melhora na qualidade das exportações brasileiras. No entanto, o aumento da contribuição destes setores no valor exportado não coincide com a queda de participação desses setores no comércio internacional.
            O conjunto dos setores, com exceção do (9) apresentaram uma tendência de queda de market-share das exportações brasileiras na demanda internacional, mesmo aumentando a contribuição na estrutura exportadora, isto demonstra perda de competitividade em mercados com demanda internacional crescente, com restrição da seção (6) que se caracteriza em termos agregados por apresentar tendência de desaquecimento de demanda externa, apesar de apresentar elevada taxa de concentração de mercado, e figurar entre os três setores mais importantes do comercio internacional de acordo com o capítulo anterior.
            Em termos agregados a estrutura exportadora do Brasil concentrou 46,05% da sua pauta nas seções mais importantes do comércio internacional em 2000, ou seja, gerou uma receita equivalente a US$ 15,243 (milhões de dólares) nos setores (6,7 e 8), dos quais US$ 8,954 foram gerados em setores com demanda externa crescente (7 e 8), mas que o Brasil perdeu participação (oportunidades perdidas).
            Na análise do conjunto das seções (5,6,7,8 e 9), as exportações brasileiras apresentaram uma receita de US$ 13,432 (milhões de dólares) em 1985 que aumentou para US$ 17,659 em 2000. De acordo com a figura-12 o crescimento foi puxado pelo aumento da participação do setor (9) no comercio internacional e do aumento do valor exportado das seções (6 e 7) em termos agregados, estes notados através da elevação da concentração da pauta.

 Figura-10 Participação dos setores agregados (um dígito) nas exportações brasileiras ao longo do período de 1985 a 2000.
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados do TradeCAN, 2002.
           
            O aumento da participação de mercado da seção (9) no comércio internacional é crucial para economia brasileira porque sinaliza uma inserção competitiva num setor que apresenta uma demanda externa crescente, e que contribuiu em 2000 para um aumento no valor exportado através da elevação da taxa de concentração de mercado, de 0,93% em 1985 para 3,12% da pauta em 2000.
            O acréscimo da concentração nos setores (6 e 7) para o mesmo período também é relevante em função da importância que estes setores tem para o comércio internacional, representando 53% da demanda externa ou o equivalente US$ 2,195 (bilhões de dólares). Esses dois setores originaram uma receita em 2000 equivalente 39,40 % da pauta brasileira, parcela correspondente a US$ 13,042 (milhões de dólares)

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