BRASIL E CORÉIA DO SUL: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DA DINÂMICA DAS EXPORTAÇÕES NO COMÉRCIO INTERNACIONAL, 1985-2002.

Heriberto Wagner Amanajás Pena

5.6 ANÁLISE COMPARATIVA: BRASIL VERSUS CORÉIA DO SUL


            As diferenças de desempenho quanto ao processo de inserção externa são reverenciados nesta seção a partir de comparações com o dinamismo internacional. Nesse sentido, quanto maior a participação do país em setores com demanda internacional crescente, mas competitivo se tornam suas exportações.
            A concentração da estrutura exportadora nacional é característica fundamental para definir a qualidade da inserção externa através do posicionamento competitivo da matriz de exportação e da contribuição setorial. O dinamismo das exportações nesse sentido, também são resultados de políticas industriais ativas que condicionaram mudanças significativas na estrutura industrias e na promoção da competição externa. 
            Os produtos com maior importância em valor no total das exportações brasileiras estão identificados de acordo com o market-share (tabela-14). Nesse sentido, as participações no final do período somaram 42,51%, o que significa que quase a metade do valor exportado pelo Brasil foram gerados em 2000 nesses setores: (0711) - Coffee, whether or not roasted or freed of caffeine; coffee husks; (7923) - Aircraft, mechanically propelled (other than helicopters), of na; (2815) - Iron ore and concentrates, not agglomerated; (0585) - Fruit juices (including grape must) and vegetable juices, whether; (2222) - Soya beans; (2517) - Chemical wood pulp, soda or sulphate; (8510) – Footwear; (0813) - Oil-cake and other residues (except dregs) resulting from the ext; (6841) - Aluminium and aluminium alloys, unwrought; (6725) - Blooms, billets, slabs and sheet bars (including tinplate bars).
            A importância desses produtos em valor para estrutura exportadora brasileira é relevante, porém quando se comparam com a demanda mundial, estes produtos tão concentrados na pauta brasileira não figuram entre os vinte mais importantes do comércio internacional, o que significa que o Brasil esta concentrando suas vendas externas em produtos que apresentam reduzida parcela de valor na contribuição das exportações mundias.
            Alguns setores da economia brasileira como: (0711) - Coffee, whether or not roasted or freed of caffeine; coffee husks; (2815) - Iron ore and concentrates, not agglomerated; (0585) - Fruit juices (including grape must) and vegetable juices, whether; (8510) - Footwear; (0813) - Oil-cake and other residues (except dregs) resulting from the ext, diminuíram sua importância no valor exportado pela pauta brasileira de 37,36% para 23,09% entre o período de 1985 e 2000.
            Esta mudança foi acompanhada pelo crescimento de outros produtos, dentre os quais estão: (7923) Aircraft, mechanically propelled (other than helicopters); (2222) Soya beans; (2517) Chemical wood pulp, soda or sulphate; (6841) Aluminium and aluminium alloys, unwrought; (6725) Blooms, billets, slabs and sheet bars (including tinplate bars), que aumentou a sua composição no valor exportado de 5,48% para 19, 42%. Isto significa que algumas commodities diminuíram em importância e outras aumentaram, mas contudo não houve mudança estrutural, de maior qualidade na pauta, que possibilitasse um maior ajustamento com a demanda internacional.
            O reflexo da composição das exportações brasileiras seguiu influenciado pelo menos até 1990 pela centralização institucional, subsídios e minidesvalorizações cambiais. A política de apoio às exportações procurou aumentar e diversificar a pauta sem, todavia alterar a estrutura de barreiras às importações que constituíam um elemento central de estratégia de desenvolvimento industrial por substituição de importações.
            A política de promoção às exportações até 1990 se baseou na estabilidade de um modelo institucional fortemente centralizado em torno de uma agencia federal (a CACEX- Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil) – que acumulava funções de promoção, financiamento, concessão de incentivos, entre outras e se valeu de diversos instrumentos fiscais e creditícios, sobretudo nos anos 70 e inicio dos 80, e de uma política cambial favorável às vendas externas, a partir de 1968. a intensidade do uso de diferentes instrumentos variou no tempo, mas os incentivos cambiais, creditícios e fiscais estiveram sempre presente, até que a pressão de parcerias comerciais e a crise fiscal regulatória do Estado levassem o “modelo CACEX” ao seu esgotamento, no final dos anos 80. (IGLESIAS; VEIGA, 2002).
            De fato, as contravenções geradas pelos mecanismos de concorrência e estrutura de  mercado do comércio internacional, dada as claras limitações do desempenho interno da economia brasileira não foram reduzidas pela não atuação do Estado no segmento econômico, mas exatamente o contrário, esses instrumentos de políticas públicas é que foram postos em favor de uma estratégia de desenvolvimento industrial buscando uma inserção no mercado externo.
            Na comparação com a estrutura exportadora brasileira, a Coréia do Sul além da concentração dos dez produtos mais importantes equivalerem a 48,25% da pauta, desse percentual 7 produtos estão entre os vintes de maior participação nas exportações mundiais. Esses são setores que apresentam a maior parcela de mercado em valor negociado no comércio internacional, o que indica que a Coréia do Sul está se especializando em setores de elevado valor adicionado e com demanda mundial crescente.
            Esses setores de maior participação nas exportações da Coréia do Sul e identificados pelo SITC na tabela-6 são descritos a seguir em ordem de importância: (7764) – Electronic microcircuits; (7810) - Passenger motor cars ( other tam public-service type vehicles); (7599) - Parts, n.e.s. of and accessories for the machines of headings 751; (7525) - Peripheral units, including control adapting unit; (7643) – Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho; (7523) - Complete digital central processing units; digital processors; (7524) - Digital central (main) storage units, separately consigned. Estes sete setores respondem por 43,74% das exportações da Coréia do Sul e 15% do total das importações mundias, revelando-se setores altamente competitivos.
            A estratégia de orientação para fora no caso da Coréia do Sul, iniciada a partir da década de 60 contribuiu para atual estrutura exportadora na medida em que identificou as industrias promissoras para exportação de produtos intensivos em mão-de-obra, e a partir disso implementar, mediante o critério de desempenho, um conjunto de incentivos financeiros e técnico-administrativos, a fim de dar as empresas beneficiadas as condições de operar em escalas eficientes e aproveitar as vantagens dos baixos salários. Deste modo à política industrial sul-coreana pretendia estimular as industria, antes substituidoras de importação, a iniciar a competição no mercado internacional.
            O desempenho exportador atual da Coréia do sul foi obtido através de duras políticas industriais seletivas, em função da estratégia do governo em combinar preços com concessão de subsídios e incentivos a reais setores promissores. Deste modo o regime de comércio foi não neutro, dada o estabelecimento de mecanismos de proteção criados pelo uso de instrumentos de regulação com a finalidade de estimular a produção em larga escala e a preços competitivos no comércio internacional.
            Em 1985 os vinte produtos mais importantes do comércio internacional participavam com 18,12% das exportações mundias, esse percentual atingiu o índice de 30,49% em 2000, demonstrando um crescimento real em valor exportado de 68,26% entre períodos. Este crescimento em valor exportado por estes produtos concentra uma considerável parcela do comercio mundial e países em desenvolvimento como a Coréia do Sul que exportam uma boa parte desses produtos seguem impulsionando suas vendas externas através da demanda mundial.
            A vantagem econômica de concentrar a pauta de exportação nos produtos mais importantes do comércio internacional estar na melhoria nos ganhos do comércio; diminuição da vulnerabilidade externa; melhor estabilidade da receita com exportação; maior integração ao comercio mundial; melhor participação da divisão internacional do trabalho e ganhos de bens estar social, entre outros.
Tabela-15 Classificação dos produtos mais importantes a 4 dígitos do SITC no comércio mundial, na economia brasileira  e coreana, medidos pela porcentagem das exportações entre o período de 1985 a 2000.         


Classificação

  Setores exportadores mais importantes do Mundo     

Brasil

Coréia do Sul

Período

Ranking

SITC

(1)-PeWrFy%

Ranking

SITC

(2)-PeWrFy%

SITC

(3)-PeBrFy%

SITC

(4)-PeKsFy%

1985/2000

1

7810

6,42

11

7721

0,91

0711

5,46

7764

14,18

1985/2000

2

9310

3,12

12

7924

0,88

7923

5,37

7810

9,99

1985/2000

3

7849

2,58

13

7641

0,85

2815

5,04

7599

5,40

1985/2000

4

7764

2,52

14

7643

0,84

0585

4,77

7525

5,23

1985/2000

5

7599

2,21

15

7523

0,83

2222

4,55

7643

4,66

1985/2000

6

5417

1,40

16

8942

0,83

2517

4,05

7523

2,48

1985/2000

7

7525

1,14

17

7788

0,73

8510

3,95

7524

1,78

1985/2000

8

7524

1,10

18

8939

0,71

0813

3,86

7788

1,68

1985/2000

9

7649

1,02

19

7132

0,67

6841

3,03

6251

1,55

1985/2000

10

6672

0,96

20

8219

0,66

6725

2,42

7849

1,26

Fonte: Elaborado pelo autor a partir do TradeCan, 2002.
(*) Legenda: (1) e (2) porcentagem das exportações dos países industrializados no final do período; (3)- porcentagem das exportações do Brasil no final do período; (4) porcentagem das exportações da Coréia do Sul no final do período.

               
            De um modo geral, os produtos mais importantes da pauta brasileira se encontram concentrados em setores com menor participação das exportações mundias, nesse sentido, isto é um aspecto importante que caracteriza certo grau de vulnerabilidade do setor externo. De outro modo, o Brasil segue se especializando em setores que não estão inclusos entre os mais importantes do comercio mundial.
            De acordo com a classificação da tabela-6 os produtos mais importantes das exportações brasileiras somaram o equivalente a 42,51% da pauta em 2000, porém quando se compara com os vinte produtos mais exportados no comércio mundial, a situação não é confortável, o Brasil não exporta nenhum desses produtos. Como a concentração da pauta se manifesta em setores de baixa tecnologia, a tendência é que aumente a vulnerabilidade externa brasileira, ou seja, a possibilidade de gerar receitas na presença de instabilidades internacionais fica comprometida.
            A vulnerabilidade externa também aumenta quando existe uma concentração na pauta de produtos de baixo dinamismo internacional, produtos que a demanda tem manifestado uma tendência declinante ao longo do período estudado. Nesse sentido, o ideal para financiar os déficits em transações correntes e participar de maneira mais eficiente da divisão internacional do trabalho ampliando as cotas de mercado em produtos de elevada variação de demanda externa.
            As estratégias adotadas pelo Estado sul-coreano de uma inserção mais competitiva ao mercado internacional são justificadas principalmente pelas transformações observadas na estrutura econômica mundial ao longo de duas décadas, e pela soberania coreana em manter ativa sua estratégia de menor submissão aos ditames da globalização, preservando sua especificidades e com isso o Estado passou a ser o principal condutor de políticas publicas que priorizou grandes projetos de desenvolvimento nacional (LACERDA, 2004).
            A permanência de uma estrutura exportadora da Coréia do Sul concentrada nos setores mais importantes do comércio internacional ao longo de mais de quinze anos, assegura uma política industrial de fomento na ciência e tecnologia e instrumentos de ação governamental que se afastava das interpretações de livre mercado incorporadas no Consenso de Washington, porém essas medidas eram consideradas legítimas pela Organização Mundial do Comércio (OMC), mas as intervenções estatais tinham especificidades de redefinir a substituição de importações através de fomentos  a peças e componentes para utilização em alta tecnologia (AMSDEN, 2004).
            A inserção competitiva da Coréia do Sul pode ser visualizada na comparação com o market-share do Brasil e da composição da demanda mundial representado pelos setores 6, 7 e 8 em nível de um digito do SITC. O comportamento gráfico no agregado do setor 6, discrimina  uma associação negativa ao longo do período em relação à demanda mundial para este setor, em determinados triênios observa-se uma queda da demanda mundial concomitante com um aumento da parcela exportada pela Coréia do Sul caracterizada por pequenos desvios mas tendência de longo prazo declinante. No entanto, a parcela nas exportações brasileiras desse setor vem aumentando a partir de 1985, oscilando muito pouco em torno de uma tendência ascendente, porém o aumento do valor exportado na pauta brasileira não coincide com o posicionamento da demanda mundial, que em 1985 representava 20% da estrutura de consumo e em 2000 diminuiu para 14, 56%.
            O pequeno desvio que se nota no comportamento das exportações da Coréia do Sul em relação à demanda agregada do setor 6, acusa que a economia sul-coreana esta mais sintonizadas as mudanças de demanda internacional nesse setor. Isto significa, que a queda de importância desse setor na demanda mundial, também diminuiu a sua participação nas exportações da Coréia no longo prazo, ou seja, as pequenas variações de curto prazo apontam essa tendência, porém apesar da diminuição de participação na demanda mundial, o setor 6 em termos de um dígito ainda se classifica entre os três mais importantes do comércio, logo a geração de valor nesse setor não representa de forma alguma um desperdício.
            Os setores 7 e 8 somados ao 6 completam os três mais importantes do comércio internacional, àqueles que apresentam a maior demanda em valor. O que se nota é uma elevada participação desses setores na estrutura exportadora da Coréia do Sul condizente com sua política industrial de promoção de setores de alta tecnologia, entre eles estão os mais importantes da pauta sul-coreana a quatro dígitos: (7764) - microcircuitos eletrônicos; (7810)– automóveis para passageiro; (7599) – partes e componentes para máquinas; (7525) – unidades periféricas em geral; (7643) – aparelhos de rádio, televisão; (7523) – unidade de processamento (microprocessadores) de centrais digitais e processadores digitais; (7524) – Central digital e unidades de armazenamento, entre outros.
            A demanda internacional apresenta tendência crescente para os setores 7 e 8, exatamente os setores de maior participação na Coréia do Sul acrescido do setor 6, no entanto a presença nas exportações brasileiras nos dois primeiros em 2000 foi de 10,44% e 6,65%  na pauta com tendência ascendente para o primeiro  e descendente para o segundo. Para o setor 8 nota-se um crescimento das exportações de 1985 até 1994, quando a participação nas exportações mundiais começa a diminuir, e o Brasil começa a perder mercado em setores com demanda internacional crescente, quanto ao setor 7 apesar da baixa participação nas exportações existe uma associação positiva quanto ao crescimento da participação deste setor com a demanda internacional.
            A característica crucial do setor 7 no período estudado é exatamente a elevada participação na composição da demanda mundial em termos agregados e a retomada de ganhos de mercado a partir de 1996. Neste setor o destaque é a elevada participação que ele detém na pauta sul-coreana, e sua participação vêm crescendo desde 1985, isto revela um certo direcionamento da política industrial seletiva neste setor e condizente com o dinamismo internacional do setor em termos agregados.
            Em 2000 a participação do setor 7 na pauta da Coréia do Sul foi equivalente 63,96%, este resultado esta associada à correção de mecanismos de mercado presente pela própria dinâmica do comércio internacional e pelas relações sociais de produção. A especialização em setores de alta tecnologia foi variável dependente da maciça interferência do Estado em setores selecionados, que oferecessem maiores ganhos de escala dados à concorrência internacional. Outra confirmação da política industrial da Coréia em setores intensivos em capital foi a baixa participação na sua pauta em produtos básicos, intensivos em recursos naturais, os setores (0 e 2) exportavam juntos o equivalente a 6,57% do valor das exportações totais e em 2000 esse percentual foi de 3,36%, e esta tendência foi progressiva em diminuir a participação desses setores no valor exportado.
            Na verdade a política industrial sul-coreana manteve como alta proporção de suas exportações produtos provenientes apenas dos setores (6, 7 e 8) induzindo sua inserção a setores de alta tecnologia, pois a geração de valor nos setores (1, 3,4 e 5) no período analisado não foi elevada. a mudança na composição da pauta da coréia do sul em termos tecnológicos ocorreu mais precisamente entre 1965 a 1984, de tal forma que no período analisado o desempenho exportador se explica mais pelos resultados da própria política industrial.

           

6. CONCLUSÃO


Os resultados da inserção externa de Brasil e Coréia do Sul permitem sustentar que existem diferenças quanto ao dinamismo dos setores exportadores desses países e que as causas do sucesso sul-coreano encontram-se numa mudança de orientação de mercado, que reuniu políticas industriais seletivas a setores competitivos e uma intervenção estatal que assegurasse o mínimo de proteção a estes setores.
            A consolidação de uma estrutura exportadora altamente concentrada em termos agregados nos setores: (6)-bens fabricados e classificados principalmente por material; (7)- maquinarias e equipamentos de transporte e (8)- artigos fabricados múltiplos, identificam na estrutura exportadora sul-coreana uma alta integração com a demanda internacional que para estes setores equivalem 68,47% das importações mundias no ultimo período (1995-2000).
            Enquanto os resultados atestam uma forte correlação entre a demanda mundial e as exportações da Coréia do Sul no agregado, no ultimo período a especialização setorial das exportações brasileiras a um dígito foram provenientes dos setores: (0)- comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato; (2)- materiais crus, não comestíveis, menos combustíveis e (7)- maquinarias e equipamentos de transportes, somando juntos uma participação de 63,12% do valor exportado sendo que 42,62% foram originados em setores intensivos em recursos naturais e que apresentam demanda internacional decrescente.
            Nesse sentido, em termos agregados a inserção externa das exportações brasileiras revelaram-se desfavoráveis e vulneráveis concomitantemente. Desfavoráveis porque aumentou a concentração da pauta em setores com demanda declinante no comércio internacional e elevou-se a vulnerabilidade pela especialização nos setores intensivos em recursos naturais, que oferece reduzida demanda externa e elevada volatilidade de preços internacionais.
            Nos últimos quinze anos de comércio exterior brasileiro se observou que os setores competitivos da matriz de exportação, ou aqueles que apresentaram ganhos de market-share nos três períodos foram oriundos de setores que qualificam as vantagens comparativas da economia brasileira, o que significa que em termos agregados as maiores contribuições em todo o período estudado foram das seções (0)- comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato e (2)- materiais crus, não comestíveis, menos combustíveis e atestam que as políticas industriais das décadas passadas também tiveram seus efeitos reproduzidos adiante ou foram novamente postas em práticas.
            Outro ponto desfavorável da inserção das exportações brasileiras e que reforça a vulnerabilidade do setor externo diz respeito a um aumento de participação na pauta de produtos caracterizados com demanda externa declinante. A especialização nesses setores contribuiu para um aumento da receita de exportação, porém, a pauta ganhou competitividade em setores não dinâmicos no comércio internacional e as políticas protecionistas decorrentes do modelo de substituição de importações motivaram o crescimento industrial em setores não competitivos internacionalmente.
            A não integração ao comércio internacional fragiliza a pauta de exportação a futuros choques internacionais podendo provocar uma queda mais expressiva da demanda dos produtos estagnados e uma rebaixa de seus preços externos. Em nível macro, essas condicionantes dificultam a manutenção da receita de exportação e elevam os custos sociais de honrar compromissos externos.
            Em termos desagregados a pauta de exportação do Brasil confirma a não integração ao comércio internacional, apesar de terem ocorrido melhorias significativas na estrutura exportadora entre 1985 e 2000, quando se nota um aumento da participação nos setores de demanda ascendente de 2,58% para 14,99% em 2000. Os ganhos de mercados nos setores ótimos identificam avanço qualitativo na pauta em setores pertencentes às seções (6;7 e 8).
            No entanto, em termos desagregados os dez produtos mais importantes da pauta brasileira em 2000, que contribuíram com 42,5% do valor exportado não aparecem entre os vinte mais importantes do mundo, desse percentual mais de 27% são oriundos de setores intensivos em recursos naturais, que segundo as condições de demanda externa tendem a permanecer e a evoluir com declínio.
            Portanto, as condicionantes do setor externo brasileiro são: elevada concentração em setores com demanda externa declinante, baixa integração as demandas mundiais, ganhos de competitividade em setores estagnados causando aumento da vulnerabilidade. O mais grave é que dos 70,68% da pauta em 2000, equivalente aos quarenta produtos dos setores da matriz de competitividade, 36,04% corresponde aos setores intensivos em recursos naturais e que estão sujeitos a maiores variações nos preços e instabilidades na receita.
            A maior fragilidade do setor externo brasileiro decorre de uma elevada concentração em produtos intensivos em recursos naturais, ao mesmo tempo em que a maior parte dos produtos que oferecem posicionamento favorável no comércio internacional se caracterizam por incorporar mais valor, serem mais sensíveis à elevação da renda mundiais e quase sempre pertencentes às seções (6; 7 e 8), caracterizadas pelo uso intensivos de tecnologias. 
                                        
            O mercado interno da economia brasileira e as políticas de proteção às indústrias nascentes contribuíram para o prolongamento e avanço do processo de substituição de importação. Contudo, a atuação do Estado como interventor agiu no sentido de industrializar o país e o fez baseado com tecnologias obsoletas, as indústrias aqui instaladas detinham mercados nacionais cativos e o aumento da produção estava condicionado tanto ao crescimento da demanda interna quanto das importações, esta sempre defasada tecnologicamente, no final do processo a manutenção de uma política de alta proteção e um mercado fechado contribuiu para uma não dinamização das exportações brasileiras.
            A falta de uma integração ao comércio internacional ocorreu tanto pela ausência de políticas industrias seletiva a setores competitivos no comércio internacional, quanto pelo não ajustamento da substituição de importações a nova reestruturação produtiva internacional, portanto a estratégia de desenvolvimento adotada pelo Brasil reforçou uma inserção baseada em setores exportadores que o país já detinha vantagens comparativas, mas que não condiziam com uma matriz dinâmica do ponto de vista internacional.
            O desempenho exportador ficou concentrado em termos de valor exportado a poucos produtos e na sua maioria todos caracterizados por uso intensivo em recursos naturais. A inserção externa através de manufaturas não baseadas em recursos naturais não apresentou boa classificação quanto aos padrões de competição externa, mas encontram-se entre as dez mais importantes da economia brasileira nos dados de 2000.
            Diferente da inserção brasileira a Coréia do Sul mostrou que entre 1985 a 2000 suas exportações melhoraram o market-share em setores com demanda externa ascendente. O bom desempenho é descrito pelo aumento de participação nos setores ótimos que em 1985 representavam apenas 8,04% e em 2000 saltaram para 46,40% do valor exportado.
            Houve melhora na qualidade das exportações sul-coreanas com um aumento da participação na pauta de 22,21% em 1985 para 53,64% em 2000 dos produtos dinâmicos em termos desagregados, indicando uma forte especialização para setores com demanda internacional elevada. Os ganhos de market-share configuram uma situação de aumento da competitividade, na Coréia do Sul vinte dos quarenta produtos analisados ganharam mercado contribuindo com 55,08% do valor exportado, dos quais 46,4% foram produtos dinâmicos, reforçando a integração com a dinâmica internacional.
            As tendências analisadas na estrutura exportadora no agregado se confirmam também na matriz detalhada da Coréia do Sul, dos dez produtos mais importantes da sua pauta em 2000, nove figuram entre os vinte mais importantes do comércio internacional. Dos nove analisados, seis se encontram entre os dez mais importantes entre eles o subgrupo (7810) –automóvel para passageiros e (7764)- microcircuits eletrônico ocupando o 1º e 4º lugar no ranking internacional respectivamente.
            As transformações observadas na estrutura de exportação da Coréia do Sul a condicionaram para uma inserção competitiva e determinaram uma concentração em setores de alta tecnologia, resultados de políticas industriais bem sucedidas implantadas pelo governo sul-coreano de concessão de incentivos fiscais para investimentos em setores estratégicos.
            Este salto no desempenho exportador sul-coreano se deve em grande parte a correção de falhas nos mercados de produto e fatores não ignorados pelo governo, mas que estavam relacionadas ao aprendizado, diferenciação do produto e nível do pacote tecnológico que juntos entravavam o desenvolvimento industrial sul-coreano.
            Nesse sentido, dada a importância destas imperfeições para a edificação de um parque industrial, a saída encontrada reuniu a implementação de políticas seletivas aos setores de alta tecnologia e individualmente respeitaram-se às necessidades e especificidades de cada setor, dadas as peculiaridades dos mercados para os quais ele concorria. O regime de comércio se caracterizou como não neutro, com significativas intervenções estatais e políticas tarifarias protecionistas com relação às importações condicionadas ao desempenho exportador.
            Deste modo à Coréia do Sul serviu-se de uma estratégia de intervenção seletiva e uma orientação voltada para fora, e o esforço da intervenção governamental se estenderam ao campo tecnológico para diminuir as externalidades e preparar os grandes conglomerados sul-coreanos para a concorrência internacional. Na verdade, a grande mudança de estratégia da Coréia do Sul foi à substituição de importações tecnológica que conduziu sua matriz exportadora ao dinamismo internacional.
            No dinamismo exportador de Brasil e Coréia do Sul se observa que diferente da visão neoclássica ou ortodoxa, houve sim significativa intervenção estatal para corrigir falhas nos mercados e implantar uma industrialização que melhorasse os termos de troca, a partir daí o regime de comércio utilizou como instrumento certo grau de protecionismo que variou em cada caso, mas bem diferente da neutralidade defendida pelos neoclássicos porque a estrutura de comércio era de clara limitação das importações.
             A grande virada sul-coreana para melhorar seu padrão de inserção externa ocorreu através de um certo abandono dos princípios originais da substituição de importações, que no Brasil se estendeu até finais dos anos oitenta. A grande estratégia partiu do próprio estado sul-coreano que exerceu uma intervenção não apenas funcional, mas sobretudo seletiva implantando instrumentos que auxiliaram a fortificação de setores de alta tecnologia mas que não se encontravam preparados para enfrentar a concorrência externa.
            Nesse sentido, se fazia necessária desenvolver mecanismos de proteção a estes setores através de políticas que fossem seletivas, ou seja, individualizadas para cada setor, neutra em relação ao mercado de forma a conduzir ao mesmo tempo a proteção e o desempenho exportador e seletivo em relação às empresas que já estavam consolidadas como grandes competidoras e com isso deveria existir precaução para não beneficiá-las indiretamente.
            Portanto, aliado a mecanismos de intervenção o governo sul-coreano utiliza praticas já observadas pelas políticas de substituição de importações e ajusta estes mecanismos que sofreriam limitações futuras para prosseguir tal como ocorreram no Brasil, em virtude da limitação de recursos naturais e reduzido mercado interno da Coréia do Sul, a uma preparação seletiva de setores intensivos em tecnologia que apresentavam fatores dinâmicos como (aprendizado e diferenciação) e com isso transforma o setor exportador numa matriz dinâmica no comércio internacional.  

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