BIBLIOTECA VIRTUAL de Derecho, Economía y Ciencias Sociales

A UTOPIA NEGATIVA: LEITURAS DE SOCIOLOGIA DA LITERATURA

Jacob J. Lumier




Esta página muestra parte del texto pero sin formato.

Puede bajarse el libro completo en PDF comprimido ZIP (158 páginas, 763 kb) pulsando aquí

 


Justiça Poética e Crítica Social

Há na utopia negativa contradição envolvendo uma liber-dade (neutralizada em vazio de emoção) na qual os tabus sexuais perdem sua força e são substituídos (a) pela auto-rização do antes proibido, ou (b) se fixam em maneira vã por uma estéril constrição.

Com efeito, a análise Crítica da Cultura diz-nos que a cena romanesca do The Brave New World mostra a ten-tativa da protagonista Lenina em conquistar o selvagem John segundo as regras da imposta promiscuidade. T.W. Adorno põe em relevo os desencontros na composição romanesca seguintes:

(a) – o fracasso da figuração da ataraxia nessa tentati-va, posto que o dirigir-se contra Eros, o pretendido efeito antierótico que o autor Huxley almeja alcançar, com a pintura da graça artificial e da desvergonha de Lenina, resultam pelo contrário enormemente atrativos, ao ponto que o próprio colérico “selvagem” sucumbe à graça dela no final da novela;

(b) – ao serem no fundo identificados os gestos de Le-nina com a convenção (cada um dos seus gestos está pré-formado socialmente), se suprime a tensão do con-vencional com a natureza, desarticulando a imagem terrí-vel do The Brave New World como utopia negativa e, em conseqüência,

(c) – se suprimiria igualmente a violência exercida pela injustiça da convenção ruim, que é sempre signo de uma identificação insuficiente ou malograda;

(d) – se este fosse o caso do The Brave New World como utopia negativa, resultaria superado o conceito mesmo de convenção nessa utopia;

(e) - portanto, e em razão desta total mediação social, se restabeleceria de fora para dentro uma segunda i-mediação, uma nova humanidade, da qual T.W. Adorno afirma não faltarem indícios na civilização americana;

(f) – teriam ainda que a explosão do “Selvagem” contra a amada, não aceitando sua desvergonha e a insultando por isso, não resulta como pretendia Huxley em um pro-testo da pura natureza humana contra a fria desvergonha em moda, mas, desde o ponto de vista do que T.W. Ador-no chama justiça poética, aplicada ao caso de Huxley como artista para com seu próprio personagem, e apesar do próprio Huxley como autor, resulta, sim, uma agressão de um neurótico (neste caso em particular Freud teria demonstrado no dizer de T.W. Adorno a motivação do "selvagem" John como homossexualidade reprimida).

Por sua vez, o ato de insultar contra a amada resulta como conduta do hipócrita que treme de cólera santa con-tra aquilo que ele não pode fazer (o "selvagem" John não pode possuir a desavergonhada Lenina devido ao seu complexo freudiano reprimido, como disse).

Finalmente, T.W. Adorno classifica como distancia-mento da crítica social tal fragilidade composicional da concepção de conjunto, que (a) vincula como disse o fu-turismo por um lado e, por outro lado, a ideologia deriva-da do puritanismo, e que (b) vincula a ambos com o prin-cípio moral da fungibilidade absoluta na utopia negativa.

***

A busca da individuação na composição literária de avant-garde deve levar em conta a coisificação não somente como condição da ruptura libertadora, condi-ção negativa, mas como a forma positiva que torna objetivo o trauma subjetivo, como o caráter de merca-doria assumido pela relação entre os homens.

Pode então ver neste ponto que a crítica social tem um alcance maior do que é exigido pela incipiente forma romanesca composta em fantasia futurista. Como men-cionada, esta é limitada ao modelo da tradição do roman-ce que vem do século XVIII, desde o Iluminismo, tendo por objeto o conflito entre o homem vivo e as petrifica-das relações sociais.

Na verdade, ao pôr em relevo a indispensabilidade em figurar a justiça poética, evitando colocar os persona-gens em injustiça pelo não reconhecimento ou pela des-caracterização do perfil neurótico desempenhado, T.W. Adorno acentua a crítica social, não só como ponto de vista aproximadamente freudiano sobre a busca da indi-viduação (perfil neurótico) em contexto de alienação, inspirando esta busca à utopia negativa, porém nosso autor vai mais longe e equipara a crítica social ao conheci-mento de que a promessa humanista da civilização afirma o humano como incluindo em si juntamente com a contradição da coisificação também a coisificação mesma.

Busca a individuação na composição literária de avant-garde implica não deixar escapar o trauma subjetivo; exige levar em conta a coisificação não somente como condi-ção da ruptura libertadora (desmitologização), condição negativa, mas como a forma positiva que torna objetivo o trauma subjetivo, como o caráter de mercadoria assumido pela relação entre os homens: uma relação que se esque-ceu de si mesma (tornou-se objetivada).

Em tal caráter de mercadoria a busca da individuação passa pela forma reflexa afirmando a falsa consciência que o homem tem de si mesmo, e que é decorrente dos seus fundamentos econômicos. Do ponto de vista da Crí-tica da Cultura, a falsa consciência configura por sua vez o homem coisificado não somente como uma realidade crítico-teórica, mas dá-lhe expressão como um homem obnubilado diante de si mesmo.

Daí, finalmente, de tal estado de estranhamento do Eu para consigo procede a figura recorrente na literatura de avant-garde do personagem neurótico, como afirmação da individuação buscada no contexto da Standardização e da indústria cultural, o personagem com alcance crítico e por isso com valor artístico positivo.

De fato, se a justiça poética é uma noção reflexiva aplicável à utopia negativa como tema configurando o campo da arte e literatura de avant-garde, e se vale para designar o modo pelo qual o autor, como artista, deve ob-servar e aplicar a forma de objetivação na composição dos personagens, isto é, sua assimilação ou seu distanci-amento para com a crítica social, então tem-se que a ati-tude efetiva assumida em face desse modo composicional ou dessa crítica social leva a distinguir um momento posi-tivo e um momento negativo interpenetrados na utopia negativa. É o que T.W. Adorno nos sugere e suas análi-ses esclarecem.

Daí a apreciação dos limites da fantasia futurista elabo-rada no marco da concepção composicional distanciada da crítica social. Entretanto, nota-se logo de início que a crítica social não se exerce independentemente de sua contrapartida na ideologia derivada do puritanismo, a qual restringe a objeção contra a “Era Industrial” somen-te ao nível do relaxamento dos costumes, desconsideran-do a desumanização.

Tanto é assim que a crítica social só é afirmada pela inoperância composicional dessa ideologia, como foi visto. Trata-se do procedimento pelo qual se aprofunda a utopia negativa em face do mundo que a fantasia futurista pintou como pertencendo à própria utopia negativa, mas que, assim fazendo, lhe impôs uma rigidez equiparável ao princípio de unidade do velho mundo.

Quer dizer, a crítica social em sua funcionalidade utópica só se exerce na medida em que leva a ultrapassar a fixação da contradição "humanidade versus coisificação", na confi-guração do mundo da utopia negativa como um mundo rígi-do.


Grupo EUMEDNET de la Universidad de Málaga Mensajes cristianos

Venta, Reparación y Liberación de Teléfonos Móviles