BIBLIOTECA VIRTUAL de Derecho, Economía y Ciencias Sociales

A UTOPIA NEGATIVA: LEITURAS DE SOCIOLOGIA DA LITERATURA

Jacob J. Lumier




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Indivíduos Problemáticos

Se tiverem em consideração que os criadores no do-mínio da literatura são os indivíduos que permanecem orientados essencialmente para os valores de uso, pode-rão alcançar a evidência de que a criação do romance como gênero literário não tem coisa alguma de surpreen-dente.

A respeito dessa situação são observados dois aspec-tos seguintes: (a) – ao levar em conta que a vida econô-mica no plano consciente e manifesto se compõe de gen-te orientada exclusivamente para os valores de troca, constatarão que os criadores de obras literárias e artísti-cas, como indivíduos ligados à produção, por permanece-rem orientados essencialmente para os valores de uso, não somente se situam por isso à margem da sociedade, mas se tornam o que o sociólogo chama indivíduos pro-blemáticos;

(b) – nada obstante, admite-se como ilusão romântica supor uma ruptura total entre a vida interior e a vida social, mesmo a respeito da situação desses indivíduos problemáticos, já que, como criadores de obra literária e artística, não poderiam eles destacar-se da degradação que sofre sua atividade criadora na sociedade produtora para o mercado, desde o momento em que essa atividade se manifesta exteriormente nos quadros, nos li-vros, no ensino, na composição musical, etc., as quais desta maneira passam a desfrutar de certo prestígio, por via do qual adquirem um preço.

Na sociologia do gênero romanesco, para saber como se faz a ligação entre as estruturas econômicas e as manifestações literárias em uma sociedade em que esta ligação tem lugar no exterior da consciência coletiva, deve-se observar a ação convergente de quatro fatores diferentes.

Quer dizer, a criação do romance, sua forma literária complexa ao extremo é a forma estética na qual vivem os homens, os dias todos, ao serem compelidos a buscar toda a qualidade, todo o valor de uso, por um modo inau-têntico através da mediação da quantidade, do valor de troca.

Complexidade esta acentuada pelo fato de que todo o esforço para se orientar diretamente aos valores de uso não engendra senão os indivíduos também como inautênticos, embora sob um modo diferente, que é o do indivíduo problemático.

Para Goldmann essa análise psicossociológica esboça-da prova que as duas estruturas – a do gênero romanesco e a da troca econômica competitiva – mostram-se tão rigo-rosamente homólogas que é possível falar de uma única e mesma estrutura que se manifestaria em dois planos dife-rentes.

Mas não é tudo. Restam ao menos dois problemas importantes: (1) o estudo da sociologia da obra que, adi-ante se verá, em Goldmann subordina-se à sociologia do conhecimento; e (2) o problema específico da sua socio-logia do gênero romanesco, que é o de saber como se faz a ligação entre as estruturas econômicas e as manifesta-ções literárias, em uma sociedade em que esta ligação tem lugar no exterior da consciência coletiva.

Em acordo com esse autor, devem observar a ação convergente de quatro fatores diferentes.

O primeiro fator põe em relevo que a categoria da me-diação ao surgir no pensamento dos membros da socie-dade burguesa traz consigo a tendência implícita a subs-tituir esse pensamento por uma falsa consciência total, que Goldmann esclarece como sendo um modelo de ori-entação no qual o valor mediador se torna valor absoluto e onde o valor mediatizado desaparece inteiramente.

Tendência-limite esta que se realizaria praticamente na propensão a fazer do dinheiro e do prestígio social os valores absolutos e não mais simples mediações dando acesso aos outros valores de caráter qualitativo.

O segundo fator de ligação entre as estruturas homó-logas é o mencionado há pouco, ou seja: a subsistência dos indivíduos tidos como problemáticos por exercerem um pensamento e um comportamento que permanece ori-entado para os valores qualitativos, sem que lhes seja fa-cultado subtraírem-se à existência da mediação inautênti-ca cuja ação geral no conjunto da estrutura social-econômica a nova sociologia do romance põe em desta-que.

Assim se incluem dentre os indivíduos problemáticos todos os criadores, escritores, artistas, filósofos, teólo-gos, homens de ação, etc. cujo pensamento e comporta-mento são regidos antes de tudo pela qualidade de sua obra – embora, como já mencionado, não possam eles escapar inteiramente à ação do mercado e à acolhida da sociedade reificada.

O terceiro fator compreende um aprofundamento en-volvendo a situação dos romancistas em uma conjectura sobre a probabilidade do gênero romanesco. Inicialmente, Goldmann considera estabelecido que nenhuma obra im-portante pudera ser a expressão de uma experiência pu-ramente individual.

Daí a pesquisa para descobrir a atitude de um conjunto ou grupo social cuja subjetividade pudera haver segrega-do a energia para a criação cultural do gênero romanes-co.

Neste sentido, a conjectura goldmanniana afirma a probabilidade de um descontentamento afetivo não conceitualizado (ou não representado na percepção co-letiva) seguinte: a ocorrência verificável de uma aspiração afetiva à mirada direta dos valores qualitativos que seria observada como se desenvolvendo seja no conjunto da sociedade burguesa, seja talvez unicamente entre as classes médias - sendo no interior destas últimas que são recrutados a maior parte dos romancistas.

Quanto ao quarto e último fator para a ligação entre as estruturas econômicas e as manifestações literárias em uma sociedade em que esta ligação tem lugar no exterior da consciência coletiva deve-se levar em conta algumas observações sobre a origem do elemento de biografia que é constitutivo do romance e a contradição que o limita.

Com efeito, o quarto fator da ligação entre as estrutu-ras homólogas se observa em decorrência do seguinte:

(a) – a biografia individual no romance provém dos va-lores do individualismo liberal, ligados às necessidades mesmas do mercado concorrencial (liberdade, igualdade, propriedade, tolerância, direitos do homem, desenvolvi-mento da personalidade, etc.);

(b) – no desenvolvimento do romance, tal categoria da biografia individual tomou a forma do indivíduo problemá-tico a partir (...)

(b1) - não só da experiência pessoal dos indiví-duos problemáticos distinguidos na vida da socieda-de burguesa, mas (...)

(b2) - da própria contradição interna entre o indi-vidualismo como valor universal, engendrado pela sociedade burguesa, e as limitações importantes e peníveis que essa sociedade aportava ela mesma, em realidade, às possibilidades de desenvolvimento dos indivíduos.


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