BIBLIOTECA VIRTUAL de Derecho, Economía y Ciencias Sociales

A UTOPIA NEGATIVA: LEITURAS DE SOCIOLOGIA DA LITERATURA

Jacob J. Lumier




Esta página muestra parte del texto pero sin formato.

Puede bajarse el libro completo en PDF comprimido ZIP (158 páginas, 763 kb) pulsando aquí

 


Crise do Romance e Individualismo:

A Estandardização Como Fator da Montage

Em T. W. Adorno

A Coisificação do Mundo

A crise da objetividade literária, a impossibilidade em narrar algo especial e particular deve ser examinada como supres-são do objeto do romance em face da reportagem. O narra-dor romanesco não mais possui a experiência: as peripécias e as aventuras se generalizaram, já são conhecidas.

Em face da descontextualização do romance realista do século XIX, na época da modernização industrial do século vinte, a crise de objetividade literária tem sido estudada a partir da correspondência entre os temas só-cio-afetivos da obra literária e os modelos intensamente presentes nos públicos receptores.

Na sociologia da literatura admitiu-se que um aspecto dessa crise teria sido detectado pelos escritores de avant-garde, na medida em que suas obras exprimem não os valores realizados ou realizáveis, mas a ausência, a im-possibilidade em formular ou perceber os valores aceitá-veis, em nome dos quais poderiam compor a crítica da sociedade.

Admitiu-se igualmente que tal impossibilidade posta ao indivíduo, sobretudo após a catástrofe do século XX, se-ria a transposição de um aspecto da grande transforma-ção social e humana surgida com os mecanismos de au-to-regulação da economia, levando o indivíduo a uma passividade crescente (daí o destaque na literatura de avant-garde para a figura do voyeur) .

É o que autores como Lucien Goldmann estudaram sob o prisma da reificação, como processus psicológico.

Entendeu-se que havia uma correlação sociológica di-reta entre a estrutura das sociedades econômicas sob o capitalismo organizado e o romance como gênero estético literário.

A literatura teria alcançado uma objetividade bem dife-rente dos realistas do século XIX, como Balzac ou Sten-dhal. O novo romance do século XX se teria voltado para dar expressão a um estado penetrado pelo sentimento de ausência dos valores essenciais, como elementos neces-sários à crítica social.

Por sua vez, apreciando a produção literária sob uma abordagem bem diferenciada e individualizada, T. W. Adorno enfoca a questão da objetividade em arte e literatura de avant-garde sob vários aspectos além do tema da ausência, examinando-a sob a mirada do sociólogo, mas considerando-a no âmbito de uma filosofia antropo-lógica e da respectiva problemática da desmitologização – incluindo nisto o descrédito do tema da teodicéia na consciência ético-teológica, com o fim da idéia do destino na consciência individualista-literária .

Em seu método, este autor leva em conta não somente a sociedade de mercado como caracterizada pela media-ção , mas a concomitante separação relativa da ciência e da arte.

Vale dizer, a separação relativa da ciência e da arte na modernidade é tomada em correlação com a coisificação do mundo, que se gera na produção para o mercado, de tal sorte que, por este via, para ser verificada como tal, a coisificação exige como pré-condição a desmagização e a desmitologização da cultura.

Com essa separação, o domínio subjetivo das impres-sões passa por exclusividade da arte, por um lado, en-quanto por outro lado, tudo o que diz respeito à objetivi-dade no conhecimento passa a pertencer à rede técnico-científica.

Em Proust a elaboração sobre a esperança e a desilusão constitui um conhecimento individual capaz de servir de fonte para a objetividade literária.

. Todavia, o desencantamento do mundo não é assim simples redução à coisificação, e será possí-vel reconhecer um elemento de objetividade literá-ria para além de meras impressões, que tampouco é captável na rede técnico-científica.

Trata-se de certos conhecimentos acerca do homem e das conexões sociais que se pode reconhecer na elabo-ração poética de Proust, como necessários e constritivos, cuja objetividade não pode ser reduzida à vaga plausibili-dade, posto que seja componente da experiência humana individual e se preserva nos casos limites dessa experi-ência, a saber: na esperança e na desilusão.

São os conhecimentos individuais de um homem expe-rimentado, tratados por Proust em uma série experimental ao pô-los em obra, como experiências individuais suas e não passíveis de generalização.

Daí se compreende que uma das fontes da objetivida-de literária é a consciência individual confiando em si mesma e não antecipadamente estreitada sob a censura do patamar organizado da vida social.

No dizer de T.W.Adorno, em Proust se reconhece aqui-lo que nos dias do individualismo burguês tinha valor so-cial como formando os conhecimentos de um homem ex-perimentado .

A crítica da cultura se defronta ao fenômeno da standardi-zação, o Sempre Igual da produção em massa como marca do mundo administrado, em que se impõe a relação de co-municação social e se torna bloqueado o quid especial e particular indispensável à narrativa romanesca.

Estudando o deslocamento dos desafios originais do romance na sua forma contemporânea, T.W. Adorno toma como referência, além do realismo do século XIX (a crise do modelo típico), a maior incidência dos meios de comu-nicação e do jornalismo na produção literária, especial-mente a absorção dos desafios ao romance realista pela reportagem, como relato informativo, e pelos demais mei-os da indústria cultural.

Sobressai, então, através da leitura de Joyce, a con-traposição do romance à ficção da informação (ficção no sentido de que as reportagens são editadas) na mesma medida em que se busca o individualismo no ponto de vista do narrador e na relação com o leitor, tornado este último o receptor, em uma relação de comunicação social penetrada pelo paradoxo de que é impossível narrar, en-quanto a forma do romance exige a narração.

Para a produção literária, a identidade da experiência do sujeito foi destruída no século XX, e a única atitude do nar-rador é de que a vida continua em si e articulada, qualquer narração posta como se o narrador fora o dono da expe-riência aparece como levando a suscitar a impaciência do receptor.

Trata-se do que T. W. Adorno desenvolvendo a Crítica da Cultura atribuiu ao fenômeno da standardização, o Sempre Igual da produção em massa, marca do mundo administrado, no qual se impõe a relação de comunicação social e se torna bloqueado o quid especial e particular que o narrar significa.

Daí a indispensabilidade da Critica da Cultura, sendo ilegítima a pretensão que leva a supor a interioridade do indivíduo como diretamente capaz de algo; daí também a justificação para a revolta de Joyce contra linguagem dis-cursiva.

A crise da objetividade literária, a impossibilidade em narrar algo especial e particular deve ser examinada co-mo a supressão do objeto do romance em face da repor-tagem: o narrador romanesco não possui a experiência, as peripécias e as aventuras se generalizaram, já são co-nhecidas.

Do ponto de vista da fantasia, o fracionamento da frase em Joyce é fruto de sua mirada artística sobre o Hamlet de Shakespeare, de tal sorte que sua revolta contra o discursivo se atribuiria ao procedimento artístico de composição do sonambulismo ou da linguagem sonambúlica.

Desta sorte, o primeiro passo é compreender a posição despossuída do narrador e isto se faz tomando como pre-missas o seguinte:

Sendo ligadas à indústria cultural, a informação e a ci-ência em sua permanência absorveram todos os conteú-dos aos quais se podiam associar o que é positivo e a-preensível, incluindo a faticidade do que se experimenta como interno ao sujeito;

A este efeito da produção em massa corresponde o encobrimento ou ocultação do caráter inteligível, da es-sência: na standardização a superfície do processus vi-tal social se vai estruturando mais densamente e reco-brindo mais hermeticamente o caráter inteligível .

Finalmente, T. W. Adorno sentencia: a auto-alienação como tendência histórica consiste em converter as quali-dades humanas dos indivíduos em lubrificantes para o suave funcionamento da maquinaria (basta visualizar os métodos de administração das relações humanas no mundo corporativo, onde as pessoas são assistidas e confortadas para renderem o máximo).


Grupo EUMEDNET de la Universidad de Málaga Mensajes cristianos

Venta, Reparación y Liberación de Teléfonos Móviles