BIBLIOTECA VIRTUAL de Derecho, Economía y Ciencias Sociales

A UTOPIA NEGATIVA: LEITURAS DE SOCIOLOGIA DA LITERATURA

Jacob J. Lumier




Esta página muestra parte del texto pero sin formato.

Puede bajarse el libro completo en PDF comprimido ZIP (158 páginas, 763 kb) pulsando aquí

 


Consciência Alienada

Para T.W. Adorno, a alienação como processamento de uma consciência alienada - no seu dizer: a auto-alienação - consiste em converter as qualidades humanas dos indi-víduos em lubrificante para o suave funcionamento da maquinaria.

Deste ponto de vista, chega-se a formular a situação do romance do século XX, ou seja: para permanecer fiel à sua herança realista e continuar dizendo como são real-mente as coisas o romance tem que se afastar de um rea-lismo voltado para reproduzir apenas a fachada e tem que promover o equívoco desta.

Tarefa por sinal não estranha ao romance, que desde o século XVIII com o Tom Jones, de Fielding, já encon-trara seu verdadeiro objeto no conflito entre os homens vivos e as petrificadas (ou mumificadas) relações, de tal sorte que a própria alienação se converte assim para o romance em meio artístico.

Quanto mais estranhos se fizeram os homens, os indi-víduos e os coletivos uns aos outros, tanto mais enigmá-ticos se fazem uns aos outros, e o intento de decifrar o enigma da vida externa, que é o verdadeiro impulso do romance, se transmuta em um esforço por alcançar a es-sência, a qual, por sua vez, aparece coberta de conven-ções.

T. W. Adorno conclui que o momento antirrealista do novo romance, sua dimensão metafísica é em si mesma fruto do seu objeto real, isto é, fruto de uma sociedade na qual os homens estão desgarrados uns dos outros e cada qual de si mesmo.

Nada obstante seria equivocado tomar essa análise como relevando da sociedade econômica. Trata-se de significações simbólicas. Conforme foi assinalado é a desmitologização que se desenrola na base do processus de mediação próprio à sociedade de produção para o mercado, de tal sorte que a separação irreversível da ci-ência e da arte está em correlação com a coisificação do mundo. Por isso, na sociologia crítica da cultura, a análi-se da situação do romance do século XX leva à assertiva de que na transcendência estética se reflete o desencan-tamento do mundo.

Novamente reencontra Proust. O procedimento narra-tivo do monólogo interior desenvolvido em sua obra literária e romanesca estaria conforme a exigência de suspensão da ordem objetiva espacio-temporal, suspen-são esta que unicamente permite ao narrador fundar um espaço interior, como já foi dito.

Será exatamente pela arte do monólogo interior que o mundo vai sendo arrastado ao espaço interior assim fun-dado, e todo o externo se apresenta como um fragmento de interioridade, como momento da corrente da consciên-cia que é resguardado em face da refutação pela ordem do mundo alheio.

Tal é a “técnica micrológica” que T. W. Adorno inter-preta ao observar que todo o primeiro livro de Proust - Combray - não é mais do que o desenvolvimento das di-ficuldades que tem uma criança para dormir, quando a mãe bonita não lhe deu o beijo de boa noite.

Mais não é tudo. Será à recordação proustiana de cri-ança que T. W. Adorno distinguirá a fundação pelo nar-rador de um espaço interior como capaz de lhe permitir escapar de toda a saída em falso ao mundo do alheio.

Tal recordação monológica, permite ao narrador evitar a falsidade do tom que se finge familiar com esse mundo externo. Pelo contrário, o monólogo interior faz com que tal mundo é que vai sendo arrastado para o espaço inte-rior.

Desta forma, se descobre em Proust o exemplo de proceder artístico para o autor literário evitar a pretensão de que sabe exatamente “como foi”, pretensão essa desig-nada por T. W. Adorno “pretensão de conhecimento”, que o romance deve excluir, isto é, o gesto e o tom do “foi assim”.

Pode notar, enfim, conforme disse, que na descoberta do proceder proustiano percebe-se igualmente o elemen-to da fantasia - “o quimérico”. Observam-se nessa arte micrológica as significações da unidade do vivo fracionada em átomos, as significações de uma sensibilidade artística mul-tifária, que em sociologia crítica da cultura chamar-se-á no dizer de T W. Adorno “o esforço do sensório esté-tico” .


Grupo EUMEDNET de la Universidad de Málaga Mensajes cristianos

Venta, Reparación y Liberación de Teléfonos Móviles