BIBLIOTECA VIRTUAL de Derecho, Economía y Ciencias Sociales

UMA LEITURA DA NÃO RELIGIÃO A PARTIR DA REFLEXÃO SOCIOLÓGICA CONTEMPORÂNEA: DA SECULARIZAÇÃO À (RE) DESCOBERTA DO SAGRADO NA SOCIEDADE

César Augusto Soares da Costa



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1.3 Max Weber- A religião e o processo de desencantamento do mundo

Max Weber (1854-1920) também intervém neste debate, com uma contribuição de indubitável originalidade. Weber restitui à religião uma posição autônoma, ou seja, reconhece-lhe autonomia e capacidade de exercer um papel nos processos sociais. A abordagem weberiana, na obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, debate a contribuição que o cristianismo deu à gênese do mundo moderno, mostrando que o protestantismo, em sua versão ascética, favoreceram a afirmação do capitalismo . Do outro lado, discute o incontido processo de racionalização , que se traduz no plano religioso em desencantamento do mundo . “O interesse de Weber pela Religião nasce exatamente da convicção de que as imagens religiosas do mundo (weltanschauungen) exercem um papel fundamental na formação das sociedade, mediante a legitimação de comportamentos tradicionais ou inovadores ”.

Para Weber, nos calvinistas e seus adeptos saídos da Reforma Protestante, o controle constante dos próprios progressos morais foi a pré-condição para a instauração do racionalismo econômico. O ativismo racionalista dos puritanos foi um forte fator que predispôs a afirmação de um novo tipo de homem, o capitalista, “para o qual o cálculo do tempo e do aproveitamento são os pressupostos da habilidade na profissão e da audácia nos negócios: atitudes essas sempre acompanhadas pela sobriedade e vida e severa autodisciplina ”. Quanto ao processo de racionalização, Weber afirma que ela está baseada sobre aspectos não-racionais, sobre instituições pré e meta racionais, e isso é verdadeiro não apenas sob o ponto de vista da desmaginação religiosa do mundo pregado pelo judaísmo e protestantismo, mas também na sua situação futura.

A racionalização promoveu a concepção utilitarista do homem e a concepção manipuladora da natureza, além da fé no valor intrínseco do acúmulo, seja ele econômico, seja do tipo tecno-científico. Esta racionalização está repleta de conseqüências negativas, não apenas para a relevância social da religião, como também para o desenvolvimento da própria sociedade moderna . O cientificismo ateu, criou junto com outros elementos da cultura moderna, com o capitalismo e o utilitarismo, um mundo objetivado, no qual as relações interpessoais são impossíveis. Surgiu o que o próprio Weber afirmou: o intelecto criaria uma aristocracia de posse da cultura racional que seria profundamente antifraterna. Desse modo, o autor leva até as últimas conseqüências o processo do racionalismo ocidental, que comporta o desencantamento da própria imagem cientificista do mundo que, na época positivista assumiu o papel de substituto funcional da religião.

Segundo Weber,

a imagem do mundo que a ciência oferece é aquela de uma infinidade sem sentido, que somente a cultura, através das imagens do mundo, pode trazer significado para o homem. A falência da pretensa auto-suficiência do racionalismo dá, portanto, novamente espaço ao postulado religioso, marginalizado na idade do positivismo, dentro da tarefa sempre renovada de conferir significado ao mundo .

1.4 Karl Marx- A religião como produto da sociedade capitalista

Se para Karl Marx (1818-1883), ainda ligado ao filósofo Feuerbach, “a religião e sua crítica, é o pressuposto de qualquer outra crítica”, para Marx do Manifesto do Partido Comunista e do Capital a questão central no seu pensamento é o modo de produção capitalista e a conexa expropriação do trabalhador. O fetiche religioso desaparecerá, defende Marx no Capital, juntamente com o fetiche do dinheiro, pois ambos são inseparáveis do modo de produção capitalista.

Entre essas posições, afirma-se a definição de religião como uma ideologia , ou seja, uma verdade absoluta, mas que na realidade possui a função de defender os interesses da classe dominante. Na obra A Ideologia Alemã, Marx e Engels designam o conjunto das formas culturais, do Direito à moral, da filosofia à religião como superestruturas , isto é, produções de uma consciência falsa porque estão colocadas dentro de uma estrutura econômica capitalista que aliena o homem. Para Marx, a religião “é a única das superestruturas que não pode ser resgatada, porque as funções que ele exerce se inserem apenas no interior da sociedade capitalista e das formações históricos-sociais que a precederam ”.

O discurso marxiano sobre a função da religião completa-se com a função que ela exerce dentro da sociedade burguesa, de controle social (ópio do povo) e de expressividade consoladora (suspiro da criatura oprimida). Em 1875, pronunciando-se sobre a elaboração do programa do Partido Comunista Alemão, Marx afirmou que o Partido dos Trabalhadores deveria também expressar sua convicção de que a burguesa liberdade de consciência não é nada mais que a tolerância de todas as possibilidades, em especial de consciência religiosa, e que ele, aspirava libertar a sua consciência dos fantasmas religiosos .

Permanece em Karl Marx, a constante tese da superação da religião na sociedade utópica e redimida do mal da propriedade privada e da divisão de classes. Uma visão mais profética do que científica, que engloba o pensamento do autor em outros movimentos revolucionários do último século e faz dele uma religião secular.

Para aprofundar a questão da religião no pensamento social, analisaremos agora o início da sociologia religiosa.

2 O desenvolvimento da sociologia religiosa

“Em seus primeiros passos a sociologia religiosa, que penetrou nas Igrejas cristãs e nela adquiriu seu estatuto oficial depois da Segunda Guerra Mundial, foi confrontada com a questão da descristinanização ”. A sociologia emergente, vinha suceder às teorias dominantes a respeito da situação do cristianismo no mundo, e foi influenciada pela descoberta do estado da classe trabalhadora francesa, logo após a guerra. Sendo assim, teve que defrontar-se com posturas tradicionais e não-científicas sobre o que se chamava descristianização. Desde a Reforma Protestante (1517), o mundo se entendia diante uma onda de assaltos contra a Igreja, indo do protestantismo ao comunismo, mostrando que um desfecho catastrófico na história era inevitável.

Os adversários da Igreja teriam conseguido seduzir as massas, afastando-as da instituição, portanto, descristianizando-os. Os primeiros trabalhos de sociologia da religião foram determinados pela descoberta do estado da classe operária. “Viu-se aí, um fenômeno de descristianização, pois a Idade Média influía inconscientemente. Um tal estado, tão afastado do cristianismo, descoberto na classe operária, deveria ser resultado de uma decomposição ”. Assim, consideravam que a tarefa era explicar a descristianização, não mais através de mitos e de concepções medievais, mas agora, de maneira científica.

A sociologia da religião desenvolveu sua reflexão, partindo de categorias nas quais se define a sociedade moderna, como as categorias de sociedade urbanizada, industrial, individualizada, pluralista, de consumo. Nesta concepção, produziu-se uma transformação religiosa, transformando as motivações religiosas e suas instituições.

O sentido religioso deixa de orientar para outro mundo para se voltar para este. Consiste em fazer tomar consciência da responsabilidade do homem numa sociedade em que a liberdade abre a porta à responsabilidade. Ele se personaliza, uma vez que tem por matéria a responsabilidade pessoal neste mundo. Deus funda essa responsabilidade e a religião a cultiva .

No plano institucional, nascem as comunidades religiosas por associação voluntária, entre pessoas do mesmo meio que apresentam afinidades. E a religião deixa de ser encontrada sinteticamente a uma sociedade globalizada como nas sociedades pré-técnicas, e torna-se um domínio diferenciado, para uma sociedade também diferenciada.

2.1 O Histórico do conceito e o conceito histórico

Há uma indubitável confusão no conceito de secularização evidente desde as origens do termo. É oportuno distinguir na secularização sua origem jurídico-política, que é um fenômeno histórico e averiguável, da secularização como categoria filosófico-histórica, e que, com outros conceitos iluministas possuem a pretensão de interpretar toda a história moderna. Na sua primeira acepção, na língua francesa no fim do século XVI, o termo “secularização” indica a redução de um clérico regular ao estado laico. Dentro da concepção jurídica, Martelli afirma que “o conceito foi empregado para designar o processo de subtração de um território ou de uma instituição, da jurisdição e do controle eclesiástico: com essa acepção, o conceito aparece pela primeira vez durante os extrementes acordos para a paz de Westfália (1648) ”. Designou-se a eliminação da posse eclesiástica de territórios que, sob o ponto de vista formal, ainda continuavam sob jurisdição eclesiástica.

O valor neutro do conceito foi após substituído por uma acepção valorativa depois da espoliação da Igrejas, de seus direitos e propriedades, decretada na Alemanha durante a época napoleônica (1803). Assim, o conceito assumiu o significado de subtração de direitos e bens religiosos e de emancipação da tutela e controle da Igreja. Do campo jurídico-político, o termo secularização passou para o campo filosófico-ideológico , durante o século XIX, adquirindo proporções conflitivas, no quadro do processo de afirmação político-social da burguesia. O objetivo era “intencionalmente em sentido secularizante, isto é, exercendo um coerente programa de ação política a fim de reduzir drasticamente a influência das Igrejas em todos os setores da vida social, especialmente no campo da cultura e da educação ”. Na modernidade, o termo designa os processos de laicização, de autonomia em relação à esfera religiosa, que surgiram no Ocidente a partir da dissolução do feudalismo. Por isso, secularização tornou-se sinônimo de subtração de províncias, de poder e do agir social, do controle ou da influência de instituições religiosas ou de universos simbólico-religiosos.

Devido a estes antecedentes, não é de se admirar que o termo seja utilizado para afirmar juízos opostos sobre a presença e o futuro da religião na sociedade moderna, conforme a valoração positiva ou negativa atribuída a legitimação da religião institucional. Para alguns, a secularização é um fenômeno irreversível, cujas origens são as potencialidades libertadoras da fé cristã e que hoje, podem contribuir para purificar o cristianismo da tendência de tornar uma religião .


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