César Augusto Soares da Costa
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Com o advento da ciência , surge no mundo moderno, um discurso sobre a morte de Deus que muitos profetas da humanidade anunciaram essa suposta morte, bem como o suposto fim da religião. Entre eles destacamos: Nietzshe, Freud, Feurbach e Karl Marx. Mas aos poucos, vemos aparecer um novo modo de pensar a vida e uma nova maneira de enxergar os problemas de maneira mais radical, que vão contradizer as arcaicas formas de pensar, do dizer e do fazer. O surgimento de um mundo novo (o mundo da ciência), como uma perspectiva autônoma e secular, fez como que entendêssemos que a natureza é previsível, manipulável e racional. Desfez-se assim, a intervenção de Deus como mediação para a explicação das realidades humanas. A realidade nesse momento histórico passou a ser explicativa, e a razão passava a ter agora, os instrumentos necessários para desvelar todos os enigmas. Aí, arma-se o jogo da secularização como um fenômeno que ganha a cada dia, mais adeptos intelectuais e uma aceitação tácita, com uma contínua provocação em torno do momento: Deus está morto!
Em fins da década de 80, parece que foram consolidadas condições mais favoráveis à análise sociológica do fator religião. Uma série de grandes mudanças acontecidas em escala mundial parecem ter colocado as premissas para análises sociológicas da religião de maneira bem menos simplista e redutiva do que assistimos no final dos anos 70 e, mais consciente da complexidade própria da religião imersa nos processos sociais. A religião passa a ser concebida como um fator relevante do universo sócio-político que está mudando o rosto do mundo contemporâneo, e adquirindo uma importância social não apenas na periferia da modernidade, mas logo nas sociedades subdesenvolvidas do terceiro mundo, nos países desenvolvidos como os Estados Unidos com a multiplicação dos cultos, das seitas, dos novos movimentos religiosos e dos grupos esotéricos, indo aquelas formas secularizadas pela imposição de ideologias destrutivas a religião (antiga União Soviética e leste europeu).
Frente a isso, o estudo da religião é sempre uma questão que abarca muitas esferas, que vai desde a esfera pessoal, interferindo na vida moral e social dos indivíduos. Vista sob perspectiva mais global, analisá-la até onde discorrem suas influências na sociedade é um ponto interessante por duas razões: a primeira delas, se refere como a sociedade se encontra pervadida pelo sagrado, e a segunda, se a religião exerce ou não alguma influência na vida dos indivíduos, sejam decisões éticas ou pessoais. Podemos pressupor que estudar a religião sob o ponto de vista sociológico envolve claramente questões subjetivas, das quais a antropologia cultural detém o seu papel no debate, e dos quais a religião já possui questionamentos por parte do pensamento social contemporâneo, chegando a ótica pós-moderna. Prova disso, e que não é nenhuma novidade acadêmica, são as contribuições do fenômeno religioso nas obras dos autores clássicos da sociologia, e que até hoje, ainda suscitam inúmeras análises de suas teorias. Uma vez que a sociologia da religião deixou de ser, segundo alguns pesquisadores, a ser simplesmente uma sub-área da sociologia para se tornar uma área de enorme relevância e interesse acadêmico, em relação as diversas teorias sociológicas existentes no debate.
Observando a sociedade atual, notam-se cenários muito complexos quanto as novas formas religiosas. Tal fato, verifica-se de modo particular aqui no Brasil, onde os dados do último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2000, nos apontam para uma perda da dimensão institucional da religião, para um notável crescimento dos indivíduos que se consideram sem qualquer crença religiosa, e para um significativo aumento das religiões evangélicas. Dentro destas conceituações, seria possível estabelecer uma postura ambivalente entre o “suposto fim da religião”, ou a sua posterior relativização na sociedade moderna. Logo é necessário afirmar, que na sociedade contemporânea surgiu variadas contribuições em relação ao problema, visto positivamente na margem das presentes discussões da chamada sociedade do conhecimento.
O objetivo central do nosso trabalho é analisar o conceito de secularização na sociedade moderna, procurando também estabelecer uma crítica sociológica à perspectiva da secularização. Também por considerar a discussão em torno da sociologia da religião de grande abrangência, em se tratando que nos meios acadêmicos possa suscitar o debate, que sempre está em voga. Por fim, esta pesquisa se apresenta à condição de pesquisador interessado no debate contemporâneo que traz dúvidas e re-conceituações quando ao futuro da religião na lógica moderna.
Como metodologia, utilizaremos a pesquisa bibliográfica que se fez pertinente ao objetivo do nosso estudo, juntamente com o processo histórico-sociológico. Assim, a presente pesquisa visa realizar um exame claro da discussão sobre a secularização, como também remeter o debate à sociologia contemporânea, que melhor abordou o tema do nosso trabalho.
PRIMEIRA PARTE- RELIGIÃO, SECULARIZAÇÃO E SOCIEDADE
Delineia-se de início, uma problemática que ainda hoje, constitui uma característica de nó teórico: a religião assim como outra qualquer instituição pode exercer alguma função na sociedade? Nesta primeira parte, examinaremos a possibilidade do sistema social oferecer através das distintas reflexões, equivalentes sociais adequados a questão da religião. Entre tais autores, remeteremos a Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. Faremos uma breve apresentação destes autores que já no século XIX, e princípio do século XX, contribuíram no exame do problema. Em seguida, analisaremos os primeiros passos da sociologia da religião no que tange as primeiras discussões na área.
1 Os clássicos da sociologia e a religião
Começaremos pela sucinta exposição dos autores que marcaram as primeiras elaborações neste campo.
1.2 Émile Durkheim- A natureza religiosa da sociedade
A obra de Émile Durkheim (1858-1917), constitui um marco para os estudos sociológicos dos fenômenos religiosos. A questão da religião é enfrentada pelo sociólogo, depois de uma pesquisa teórica sobre problemas fundamentais da sociedade . A identificação do social com a moral e com a religião torna-se sempre mais clara nas obras da última fase do pensamento de Durkheim. Na obra As formas elementares da vida religiosa, O sistema totêmico na Austrália (1912), o autor analisa a religião das tribos australianas, o totemismo. A explicação do totemismo , como sistema religioso primitivo, permitiria explicar as funções, a origem e a persistência da religião em todas as sociedades, inclusive as modernas.
Para Durkheim, “mais do que a reconstrução da religião australiana primitiva, nas Formas elementares, era prioritário sublinhar a importância social do princípio totêmico, que assegura a unidade do sistema religioso australiano, e tirar daí uma conclusão universal da religião, como pré-condição do viver social em todas as épocas ”. Segundo ele, entre o sagrado e o profano não existe uma relação de superioridade, e sim uma relação de heterogeneidade absoluta. Assim, “a religião é um sistema solidário de crenças relativas a um certo número de coisas sagradas, que apresentam entre si relações de coordenação e subordinação, e são venerados por crentes reunidos numa comunidade moral chamada igreja ”. No caráter coletivo da religião, ela possui o critério que a distingue da magia: não há uma igreja mágica, mas somente uma relação entre o mago e o cliente. A Igreja, isto é, a coletividade do crentes, é, uma outra característica de qualquer religião.
Em As Formas elementares, encontramos a origem do social e do religioso na vida coletiva da sociedade. O autor afirma que na religião existe qualquer coisa de eterno, destinado a sobreviver a todos os símbolos dos quais o pensamento religioso foi circundado. Para Durkheim, a sociedade é uma máquina de criar deuses e define a mesma, como uma realidade transcendente, dotada de moral sobre o indivíduo e, capaz de elevá-lo além de si mesmo. Após reconhece no sagrado, a própria sociedade pensada simbolicamente. O sagrado é objeto de uma intuição afetiva por parte do crente, mas para o autor, tal experiência é coletiva. Diante disso, ressalta o papel social da religião que preserva e dá forma expressiva a sentimentos que alimentam normas e valores, fundamentais numa sociedade. Por sua vez, fornece uma sólida base para o controle social das tendências desviantes, e a sociedade sustenta a religião porque o sistema simbólico não é outra coisa, senão a sacralização dos sentimentos morais duma sociedade.
Portanto, para Durkheim “não existem religiões falsas. Todas a seu modo são verdadeiras; todas respondem, mesmo se de maneiras diferentes, a determinadas condições da existência humana ”.