BIBLIOTECA VIRTUAL de Derecho, Economía y Ciencias Sociales

UMA LEITURA DA NÃO RELIGIÃO A PARTIR DA REFLEXÃO SOCIOLÓGICA CONTEMPORÂNEA: DA SECULARIZAÇÃO À (RE) DESCOBERTA DO SAGRADO NA SOCIEDADE

César Augusto Soares da Costa



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Conclusão

Após termos analisado as elaborações sobre a situação da religião presentes na sociologia contemporânea, julgamos ainda haver espaço para algumas posições, como críticas, que permanecem dentro do quadro por nós estabelecido. Na perspectiva da mudança social, não há como deixarmos de lado a questão das raízes sociais da religião, uma vez que os sistemas de crenças não são, de modo algum acidentais. Eles surgem como respostas a necessidades sociais, e em qualquer forma ou momento dado, uma determinada religião poderá servir de apoio no mercado de bens religiosos na explicação de Peter Berger. Tal problema, obedece às mesmas leis expansionistas e à lógica do capital numa sociedade urbanizada e industrializada, destruindo assim o monopólio de religiões vistas como tradicionais.

Do ponto de vista antropológico, a religião interpreta a totalidade cultural de um povo, porque é essencial e permanente à humanidade, representando um conjunto de reservas de símbolos e significados. O que é pertinente afirmar segundo Durkheim, é que a religião difere da magia, vista como uma expressão do homem para o sentido utilitarista, e a religião é uma forma coletiva de organizar a fé. Ainda assim, a religião não é um reflexo passivo das condições sociais dadas, a religião reflete suas próprias contradições (como o catolicismo medieval) como também é um fermento de sua ruptura (catolicismo moderno).

A religião contém a idéia de mudança social, sendo que através destas mudanças, ela propõe novos ideais, pois algumas práticas religiosas intuem tais perspectivas enquanto dimensão constitutiva da sociedade. Ou seja, ela não deve ser compreendida como uma realidade voltada somente para o indivíduo, mas principalmente para fora dele mesmo. Historicamente verificada, é filosófico e sociologicamente vista como um fenômeno social, e como tal, deve ser entendida como um fenômeno dinâmico, assim como o próprio conceito de social.

Sendo assim, podemos afirmar que a teoria da secularização representa uma fase de transição na mudança de atitude do homem moderno para com o mundo. Como a questão da descristianização ao qual sucedeu o tema da secularização significa uma visão particularista de mundo, onde supõe que o mundo gira em função da religião. Trata-se aí, não de uma visão objetivista da história, mas de uma interpretação interessada e limitada, pois o mundo ocidental moderno desde o começo segue dinamismos próprios explorados nas descobertas científicas que há séculos, interferiram e continuam a interferir criticamente na visão religiosa de explicação do mundo natural e humano. Assim, a concepção de secularização procede ainda uma mentalidade particular, mentalidade daqueles que crêem que o mundo gira em torno de instituições religiosas.

Do mesmo modo, pode-se aceitar que a teoria da secularização contribui num primeiro momento em direção ao entendimento do mundo profano, e estando uma vez situada na perspectiva da história da sociedade global, o fenômeno da secularização pode correr o risco de permanecer à margem do debate sobre a considerável variedade de denominações e crenças religiosas. Por isso, não deixa de ser relevante, estudarmos as mudanças provocadas pelos comportamentos religiosos na sociedade contemporânea, possibilitando cada vez mais espaços para a emancipação de teses críticas à noções pré-concebidas em relação a religião.

O eclipse da secularização como procuramos sustentar, surge pelos fenômenos emergentes em níveis internacionais, como pré-condição para um desenvolvimento das teorias sociais sobre a religião, já que na atual fase assistimos a co-presença contrastante do universo religioso tradicional e das novas formas religiosas. Pois ao lado de sinais que podem ser compreendidos como secularizados, vislumbram-se também, claros fenômenos de dessecularização, tais como o crescente prestígio diplomático do atual papa católico João Paulo II por inúmeras religiões, por sua ação reconhecida internacionalmente como pacificadora. Além disso, é considerável a multiplicação de formas de religiosidade eclesial e extra-eclesial, inclusive a difusão em alguns países dos Novos movimentos religiosos, dos fenômenos pentecostais e o reavivamento de práticas mágico-esotéricas em grupos sociais médio-superiores. Essa multiplicidade de formas e de fenômenos religiosos, constituem uma flagrante contraposição à reflexão do desencantamento do mundo como obra da racionalização humana em muito influenciada por Max Weber. Assim, torna-se evidente que a religião não é a parte principal da sociedade, a ponto de retrair-se diante do avanço do processo de racionalização. Pelo contrário, ela continua a transitar nas correntes sociais, sem que possamos prever o seu futuro.

Tanto na análise dos autores Sérgio Rouanet e Antônio Pierucci, como na reflexão proposta neste trabalho, interpretamos o presumido despertar religioso dos últimos anos, dentro da hipótese do eclipse secular na denominação de Stefano Martelli, que deve ser entendido no sentido da co-presença na sociedade contemporânea de elementos de secularizados e dessecularizados. De fato, também constatamos que a religião na sociedade chamada pós-moderna apresenta um andamento por demais complexo, que numa primeira aproximação chamaríamos de “flutuação” entre fenômenos secularizados e dessecularizados. Tal onda pós-moderna pode assumir na acepção do sociólogo Roberto Benedetti, uma concepção niilista da realidade que tende a especializar e fragmentar o saberes, a acelerar o tempo pelo ritmo desenfreado, a relativizar os valores (ético-morais) como crise do sujeito, a propor o fim da história e da religião como um mal necessário. Por outro lado, pode levar a novas perspectivas quanto as opções religiosas, o fato dos indivíduos neste cenário relativizarem as suas crenças, conforme a interpretação de Thomas Luckmann. Exemplo disso, é um indivíduo que aceita a doutrina católica, mas que também, aceita outras crenças como o espiritismo, a astrologia ou até a umbanda. Daí, constata-se que a religião na sociedade pós-moderna, tende a posições diversificadas de acordo com a lógica subjetiva dos indivíduos, fato que de modo algum, abole o fenômeno religioso.

Diante destas questões, podemos afirmar que a religião está como que flutuando entre fenômenos secularizados e dessecularizados, também por causa dos maiores graus de liberdade considerando que a possibilidade de reformulação das escolhas dos indivíduos ampliou-se, em virtude da emergência de novas manifestações não somente religiosas, mas subjetiva, ética, política que o dinamismo cultural das sociedades avançadas permitem para a esfera dos significados e dos símbolos. Dessa maneira, consideramos que dentro do novo horizonte de significado, a posição do deslocamento da religião entre secularização e dessecularização adquirirá mais consistência e nos permitirá nortear novas possibilidades, como ainda novas pesquisas que serão relevantes para a sociologia da religião dentro do atual clima sócio-cultural, como conseqüentemente das reflexões futuras.


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