BIBLIOTECA VIRTUAL de Derecho, Economía y Ciencias Sociales


NOVAS TRAJETÓRIAS ENERGÉTICAS

Sinclair Mallet Guy Guerra y Mariana Pedrosa Gonzalez



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CIÊNCIA E TECNOLOGIA

O relatório em questão (CHU e GOLDEMBRG, 2007) parece seguir uma tendência clara de acreditar que a ciência produzirá bases tecnológicas para a redução das emissões de carbono na atmosfera e consequentemente ruptura com a utilização dos combustíveis de origem fóssil. Não parece ser muito discutível a possibilidade tecnológica da alteração das matrizes energéticas atuais baseadas na queima de carbono por renováveis, mas para acreditarmos nisso, seria preciso acreditar que a ciência é isenta de ideologias e caminha de forma descolada da sociedade que a produziu. Esta ciência, nada mais é que a realização das potencialidades humanas − condicionadas por determinado desenvolvimento das condições materiais − através da relação entre o pensar e o realizar. As idéias não existem de forma autônoma, estão imbricadas as condições materiais que permitiram sua formação e que por sua vez só existem através do homem em consonância com sua condição de existência.

O mundo que surgiu a partir do sistema feudal teve – e tem – como núcleo central o capital, sua reprodução coloca a humanidade em problemas nunca vistos antes. Baseado no modelo consumista tem como um dos seus combustíveis o petróleo que assumiu centralidade industrial, tornando-se motivo de poder e de disputas.

A ciência tecnológica não tem respostas a dar sobre essas questões geopolíticas relacionados à energia. Como explicaria ela em pleno século XXI ainda utilizarmos derivados de petróleo para queima pura e simplesmente nos motores de veículos automotores, quando há formas de utilização muito mais nobres e de maior valor agregado como a petroquímica?

A explicação chamada de racional diz que as tecnologias para queima de outros tipos de combustíveis ainda não estão plenamente desenvolvidas a ponto de viabilizarem financeiramente a troca da tecnologia. Gera-se aí um círculo vicioso, onde o não desenvolvimento da tecnologia a torna cara, e em conseqüência disto, o seu preço não estimula o seu desenvolvimento, fica-se então com o petróleo que é mais “barato” com os preços subindo ano a ano chegando a U$145 o barril em julho de 2008.

Configura-se então um dilema: não se adotam alternativas para a substituição dos combustíveis fósseis porque elas têm um custo elevado, comparado ao petróleo, ou é exatamente por não haver uma utilização em larga escala das tecnologias alternativas que as tornam mais caras?

Além disso, para que haja pesquisa é preciso investimento e por que este investimento não é feito de forma satisfatória? Seria porque vivemos na civilização do petróleo? Ou seria a ciência isenta de ideologias?

Este é outro paradigma ideológico onde há uma divinização da ciência, esta seria algo puro, livre de interferências externas e que visaria apenas o desenvolvimento dos saberes e das técnicas humanas sobre a matéria. O tipo de pensamento que desloca a ciência das influências dos grupos sociais é fruto da ideologia positivista que transformou os paradigmas religiosos em paradigmas científicos, tornando o questionamento a estes, argumentos não bem vindos. Isto é, facilmente compreendido se tivermos em mente o sentido de ideologia de Marx, onde o pensamento dominante em uma determinada sociedade é sempre o pensamento da classe dominante, aquele que detém a produção material do mundo também controla sua produção intelectual. Nesta toada a idéia de uma ciência isenta e pura fica totalmente baseada na fé e não nos fatos concretos.

Como vimos anteriormente, vivemos na civilização do petróleo, qualquer pesquisa cientifica que diminua a dependência mundial deste produto é altamente prejudicial à lucratividade dos cartéis petrolíferos, além disso, uma libertação mundial da dependência do petróleo faria com que este deixasse de ser símbolo e arma de poder como foi salientado.

“o cientista deve então ser descrito como membro de uma comunidade, e não como um indivíduo racional e lúcido.”

Concretamente a simples posse deste produto não se realiza efetivamente em poderio econômico, político e militar, haja vista os países árabes e Sul-Americanos que possuem grandes reservas e vivem à periferia do sistema econômico vigente.

È fato que as indústrias do petróleo, sejam elas estatais ou não, nunca foram adeptas da livre regulação do mercado proclamado por Adam Smith, apesar de discursarem o contrário, a tal mão invisível, é invisível apenas para alguns, mas perfeitamente visível e principalmente controlável para outros. Uma breve leitura sobre a história das indústrias do petróleo nos indica que ela já nasce altamente concentradora e com tendências monopolistas de produção e comercialização.

“A formação do cartel do petróleo data dos anos 20, quando a Shell, a Exxon e a British Petroleum resolveram partir para um entendimento que pusesse fim à guerra dos preços que vinham travando desde o término da Primeira Guerra Mundial . O acordo de Achnacarry , selado em 1928, adotava uma padronização mundial dos preços do petróleo e uma repartição do mercado, por meio de quotas para evitar que a produção viesse a aumentar de modo descontrolado, conduzindo a uma queda dos preços.”

A OPEP nasce em 1960 como iniciativa de países produtores de petróleo (Venezuela, Irã, Arábia Saudita, Kuweit, Iraque, Líbia, Nigéria, Abu Dabi ( mais tarde representado pela União dos Estados árabes ), Indonésia, Argélia, Catar, Trinidat-Tobago, Equador e Gabão) de se articularem de modo a enfrentarem o cartel das indústrias petrolíferas. Desses países em 1971 saía 50% da produção mundial e as suas reservas chegavam a 80% das totais conhecidas mundialmente . Hoje o percentual está em torno de 75% das reservas conhecidas . Por essas razões, confiar em informações sobre petróleo, embasadas em dados fornecidos por membros deste cartel - seja pelas indústrias ou pelos governos - é um exercício de fé digno dos épicos bíblicos. A sociedade tornou-se refém das informações tendenciosas, onde as técnicas informacionais são utilizadas por alguns atores em função de seus objetivos particulares, sendo assim:

“o que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde.”

Esta é uma conclusão aterradora, pois, neste sentido, todos os artigos parecem se basear em informações não tão confiáveis, quem pode dizer quais as reservas provadas ou não são as próprias indústrias que perfuram os poços, uma vez que as informações que elas divulgam interferem diretamente em seu faturamento - podemos confiar? A Eron nos mostrou que não. Além disso, são essas mesmas indústrias que estão financiando pesquisas em combustíveis renováveis. A exemplo da Petrobras Biocombustíveis, que faria avanços significativos em pesquisas que substituam o diesel tradicional em detrimento da petroleira?

A ciência pode sim encontrar alternativas para uma mudança da matriz energética mundial, mas a ciência é meio e não fim em si. Portanto é controlada por quem tem interesse em manter a dependência da sociedade dos combustíveis fósseis, podendo no máximo, buscar alternativas tecnológicas que diminuam a emissão de carbono na atmosfera, mas utilizando os mesmos combustíveis. Como no caso da China que investe maciçamente na construção de usinas termelétricas à carvão com baixo grau de emissões de carbono, gerando assim um revival deste. Deste modo, o combustível base da Revolução Industrial, ainda é de suma importância para a sobrevivência deste modelo de sociedade.

Passado mais de 150 anos ainda acredita-se que a mudança da matriz energética depende somente dos avanços tecnológicos, ou de boas vontades.


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