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INFRA-ESTRUTURAS EM ENERGIA E TRANSPORTES E CRESCIMENTO ECONÔMICO NA CHINA

Elias Marco Khalil Jabbour



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I.1.2.2 – As estatais e os investimentos em ativos fixos: motor de crescimento da demanda doméstica

A China procurou, desde o início de seu programa de reformas, criar condições objetivas macroeconômicas para a acumulação de capital. Tal acumulação obedeceu a ações de estímulo às exportações e de proteção e expansão do mercado doméstico.

A instalação de ZEE’s obedeceu ao estímulo exportador, enquanto o governo chinês protegeu de forma racional sua capacidade produtiva instalada de várias formas: centralização do comércio internacional, do câmbio em traders estatais e das importações com elevadas tarifas até 2001 (admissão da China à OMC).

Assim, podemos destacar outra característica no processo de expansão chinesa: a liberalização do acesso a investimentos externos anteriores à liberalização das importações18.

Esta política foi induzida por uma dupla política fiscal (dual track policy) e de preços que na ponta do processo servia notoriamente para a proteção de inúmeras empresas estatais que ainda não dispunham de condições para concorrer com empresas estrangeiras instaladas na China.

A política de câmbio também obedecia a um duplo caráter com a desvalorização do yuan em 1984: de um lado, estatal, administrado com taxa flutuante e, de outro, um “mercado de swaps” restrito às ZEE’s, com uma taxa ainda mais desvalorizada.

O gradualismo chinês é demonstrado com a lenta queda desses regimes tarifário, de preços e de câmbio consolidada na década de 1990 – momento em que a China já estava em outra condição, muito diferente da do início dos anos 1980.

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Pois bem, com uma estratégia de desenvolvimento definida, caberia aos dirigentes chineses definirem qual o papel a ser desempenhado pelas empresas estatais em tal quadro.

Desde então, já na década de 1980 e até hoje, as empresas estatais, sob um ponto de vista pessoal, constituem-se na grande alavanca de desenvolvimento da China, em particular de sua expansão doméstica. Claro, milhares delas passaram por processos de reestruturação, fazendo com que a participação das mesmas no conjunto total da economia caísse de 78%, em 1978, para 65%, em 1996 (relação entre número de empregados nas mesmas na composição geral do emprego na China). Fecharam-se, ainda, cerca de 54.000 micro-empresas estatais entre 1978 e 2002.

Observamos nessas empresas um movimento cada vez maior de participação do setor privada nacional e estrangeiro em áreas que não contivessem importância estratégica (setor de serviços, por exemplo) e, por outra ordem, o fortalecimento de conglomerados estatais em setores com alto grau de monopólio e capacidade de competir no estrangeiro, como energia, eletrônica, ferro e aço, farmacêutica, construção, transporte, petróleo, oito grupos que trabalham na geração de energia e a indústria química.

Percebemos, assim, que entre 1978 e aproximadamente 1998, a China criou condições para o surgimento de um setor privado nacional, com altíssima capacidade e acúmulo financeiro para substituir o Estado em setores que não exigem monopólio, mas com grande capacidade de absorver mão-de-obra (ler anexo). A isso pudemos constatar pessoalmente na China ao percebermos que em todas as obras em construção civil (principalmente de torres comerciais ou hotéis de luxo) a participação majoritária era de empresários chineses do continente, mas também de Hong-Kong e Taiwan.

Mas retornando ao cerne da questão, a participação das estatais nesse processo de expansão doméstica deve ser colocada no âmbito da planificação central e da ação das mesmas num ambiente de mercado, ou seja, grandes empreendimentos em energia e transportes gerenciados pelo governo central e executados pelas mesmas, enquanto as demais demandas seriam gerenciadas de acordo com as necessidades do mercado e dos planos de ação de cada empresa estatal.

Esta combinação pode ser sintetizada no entrelaçamento entre o planejamento central, a autonomia gerencial de cada empresa, o acesso a créditos bancários dos principais bancos estatais de investimento do país e o último elemento que agregamos: a cada vez maior separação entre gestão e propriedade no âmbito das estatais, ou seja, partido é partido, governo é governo. A gestão dessas empresas está (desde a metade da década de 1980) cada vez mais entregue a gestores altamente competentes e preparados em detrimento de desígnios políticos mais profundos.

Outro detalhe perceptível em nossa viagem à China: todos os diretores de empresas estatais que conhecemos no país têm pelo menos um diploma de mestrado, mas em sua maioria já são doutores formados em grandes universidades estrangeiras. No âmbito da administração estatal, percebemos que todos os entrevistados de nível de 3º e 2º escalões já dominam o idioma inglês com fluência (falaremos um pouco sobre investimentos em ciência e tecnologia mais à frente).

Falando em números, e demonstrando a força das estatais no processo de crescimento econômico na China, segue abaixo um gráfico demonstrando seus volumes de investimentos:

Grande parte destes investimentos esteve – e está –, concentrada nos setores de infraestrutura em energia e transportes, nas reestruturações produtivas; de aço, ferro, alumínio e cimento; de indústrias químicas e farmacêuticas; no militar, aeroespacial; dentre outros setores estratégicos.

Outro exemplo empírico observado em nossa visita ao complexo siderúrgico de Wuhetan (30 km a oeste de Pequim), construído com auxílio soviético nos anos 1950: nos últimos 10 anos a linha de produção e montagem da empresa havia sido trocada três vezes.

Perguntamos ao secretário do Partido Comunista na empresa, Wu Tingguo, como andavam as reestruturações no Japão (país altamente desenvolvido neste setor). O mesmo nos respondeu que o Japão há 10 anos não troca suas linhas de produção na área siderúrgica e que no ritmo de investimentos em que andava a China, em pelo menos 15 anos ela alcançará o Japão nesse setor.

Já em Xangai, em visita ao complexo siderúrgico da Baosteel (maior siderúrgica do mundo), observamos a construção de um porto no delta do rio Yangtsé pela própria empresa.

Além disso, a Baosteel amplia sua participação no mundo com a atuação em negócios e instalação de plantas industriais em mais de 10 países, inclusive no Brasil.

A contradição desse processo de múltiplos investimentos por parte de centenas de empresas na China é a raiz do surgimento desse crescimento econômico do primeiro semestre do presente ano (9,35%), bem acima do planejado pelo governo (7,5%), provocando o surgimento de um superaquecimento econômico – havendo um surtimento do efeito de vultosos investimentos justamente em empresas de aço, ferro, alumínio e cimento. Medidas de controle de crédito foram implementadas (depósitos compulsórios), mas nenhuma alta na taxa de juros foi sinalizada até então.

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Enfim, e apesar das contradições inerentes ao processo, o papel das empresas estatais como espinha dorsal da economia chinesa tem sido cumprido e ampliado com a reforma da estrutura econômica tanto das estatais em si, quanto da economia chinesa em seu conjunto. E são parte fundamental dessa nova fase – a ser demonstrada neste trabalho – de alavancamento dos gastos públicos pós-crise asiática.

Vale lembrar que o conceito “economia socialista de mercado” pressupõe a participação dessas empresas nos gânglios vitais da economia chinesa, convivendo com múltiplas formas de propriedade, inclusive com a individual e privada.

Essa combinação, como já salientamos, é o motor da expansão econômica chinesa neste início de século XXI.


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