AS RELAÇÕES ARGENTINO-BRASILEIRAS: IDENTIDADE COLETIVA E SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO MERCOSUL

AS RELA??ES ARGENTINO-BRASILEIRAS: IDENTIDADE COLETIVA E SUAS IMPLICA??ES NO PROCESSO DE CONSTRU??O DO MERCOSUL

Daniela Cristina Comin

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1.4 Os Armamentos Navais

Outra questão na qual Zeballos e o Barão do Rio Branco estiveram envolvidos foi em relação aos armamentos navais de 1908. Segundo Etchepareborda (1978), é inevitável que as idéias predominantes na época como “paz armada” e “equilíbrio de potências” influenciaram os estadistas da época. Para Zeballos, o estadista brasileiro planejava isolar a Argentina e por esta razão teria dado início à militarização do Brasil em 1904. De acordo com o autor, o Brasil teria mesmo iniciado uma política armamentista e declara ser incerta a acusação de que teria sido a Argentina quem a iniciara, visto que sua lei de armamentos só fora promulgada em 1908.

O ponto culminante da questão foi o telegrama número 9 que teria sido enviado a Zeballos pelo Itamaraty e que comprovava, de acordo com o estadista argentino, que o Brasil estaria conspirando contra a Argentina. “Esa actitud representa la ruptura del equilibrio naval sudamericano y un desafío para la Argentina que se preciaba de ser la primera potencia del subcontinente”. (ETCHEPAREBORDA, 1987, p.82).

A atitude se refere à aquisição de três encouraçados cujo objetivo seria proteger a costa brasileira e também para outras questões internas, porém, tal justificativa não teria convencido os argentinos Etchepareborda (1987). Zeballos chegou mesmo a cogitar a possibilidade de invadir o Rio de Janeiro.

Em razão do contencioso criado, Zeballos foi obrigado a renunciar, mas o problema dos armamentos navais só seria completamente resolvido em 1914, com um anúncio oficial da Câmara dos Deputados da desistência brasileira de construir um novo encouraçado.

1.5 O ABC

Em 1910, Roque Sáenz Pena é eleito presidente da Argentina e faz uma visita ao Brasil onde teria dito a frase “Tudo nos une, nada nos separa”. Seu objetivo segundo Moniz Bandeira (1987), era unir os dois países contra o poder dos Estados Unidos, haja vista que este país havia lançado sobre o continente a “Doutrina Monroe”. Nesse período, Argentina, Brasil e Chile atuaram em conjunto no conflito entre México e Estados Unidos tendo assinado em 1915 o Tratado de Cordial Inteligência Política e Arbitramento, o chamado Tratado do ABC, em alusão às iniciais dos países signatários. Este tratado foi mal visto pelos Estados Unidos e pelo presidente argentino Hipólito Yrigoyen, eleito em 1916, não tendo sido ratificado pela Câmara de Deputados argentina. (BANDEIRA, 1987).