AS RELAÇÕES ARGENTINO-BRASILEIRAS: IDENTIDADE COLETIVA E SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO MERCOSUL

AS RELA??ES ARGENTINO-BRASILEIRAS: IDENTIDADE COLETIVA E SUAS IMPLICA??ES NO PROCESSO DE CONSTRU??O DO MERCOSUL

Daniela Cristina Comin

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1.2. A Guerra do Paraguai

Um outro momento importante da história da Argentina e do Brasil foi a Guerra do Paraguai (1865-1870). Para se compreender o início desta guerra é necessário que se entenda o contexto da época e os diferentes interesses envolvidos.

Mesmo após sua independência em 1825, com o término do regime de Rosas, o Uruguai continuava sendo um país politicamente instável onde dois partidos, os blancos e os colorados disputavam o poder. Tal situação era instrumentalizada pelas potências desejosas para intervir no país. (FAUSTO; DEVOTO, 2004).

O Paraguai por sua vez, era um país fechado e autônomo e esta postura incomodava argentinos, brasileiros e britânicos (CANDEAS, 2005). Além disso, Solano Lopes que estava à frente do poder neste período, buscava uma alteração do equilíbrio de forças de forma a não mais depender de Buenos Aires. (FAUSTO; DEVOTO, 2004).

Paraguay ofrecía, pues, al observador extranjero, la fisonomía de una verdadera potencia mediterránea, libre de las presiones del capital internacional, autosuficiente y aislada. La aislación generó una natural desconfianza hacia el extranjero, en especial hacia los vecinos a los que se conocían pretensiones territoriales, y de esta desconfianza hacia el nacionalismo hubo poca distan¬cia, la cual se recorrió insensiblemente. (FLORIA; BELSUNCE, 2004, p.251).

A Inglaterra interveio indiretamente no conflito através do financiamento do Brasil e da Argentina. Contudo, segundo Fausto e Devoto (2004), não há provas que este país desejava buscar consolidar sua hegemonia no Paraguai.

Quanto ao Brasil, a intervenção na guerra parece ter ocorrido, sobretudo, por percepções de caráter geoestratégico como a definição definitiva de suas fronteiras no sul do país. No caso da Argentina, havia a preocupação de que a instabilidade criada no Uruguai afetasse o Estado argentino ainda frágil principalmente em razão da influência de Urquiza, líder da província de Entre-Rios, que não aceitava o sistema federalista argentino sob a hegemonia de Buenos Aires. Além disso, a entrada da Argentina na guerra também se deveu à invasão da província de Corrientes por Solano Lopes, presidente do Paraguai.

Além dessas razões particulares, Fausto e Devoto (2004), apontam também a coincidência de governos ditos liberais nos três países que constituíram a Tríplice Aliança, isto é, Argentina, Brasil e Uruguai, o que também teria contribuído para a formação da Aliança contra o ditador paraguaio, em nome de um suposto objetivo “civilizador”.

Como estopim da guerra pode-se apontar a invasão do Uruguai por Venâncio Flores do partido colorado, apoiado pelo Brasil, com o objetivo de derrubar o governo blanco de Bernardo Berro o qual contava com o apoio do governo argentino de Bartolomé Mitre.

O governo de Bernardo Berro temia uma invasão militar do Brasil por problemas de definição de fronteiras e pede ajuda ao Paraguai. Este intervém no conflito parecendo acreditar que a Argentina permaneceria neutra, principalmente em razão da rivalidade que existia entre este país e o Brasil. Contudo, a invasão da província de Corrientes por Solano Lopes leva a Argentina a mudar de posição e entrar no conflito juntamente com o Brasil e o Uruguai constituindo assim, a chamada Tríplice Aliança no ano de 1865.

De acordo com o Tratado os três países estavam determinados a desajolar del poder a López, no hacer la paz por separado ni terminar la guerra sino por común acuerdo [...] contenía también anexos secretos con las reivindicaciones territoriales argentinas y brasileñas: el Chaco boreal para la Argentina y las Misiones jesuíticas para Brasil (VEGAS, 1995, p.174).

Ao final da guerra, desentendimentos entre o Brasil e a Argentina devido a questões de limites de territórios quase culminou em uma guerra entre os dois países. A Argentina queria ocupar toda a região do Chaco e o Brasil não lhe apoiou o que causou a retirada argentina das negociações. Tais questões foram resolvidas em 1876 com a assinatura do Tratado de Limites entre Argentina e Paraguai que colocou fim a ocupação militar brasileira neste último país. À Argentina coube desde a margem direita do Rio Paraguai até o rio Polcomayo, além da ilha do Cerrito. O presidente norte-americano Rutherford Hayes foi o árbitro da questão da Vila Ocidental dando ganho de causa ao Paraguai.

El 12 de noviembre de 1878 el presidente Hayes dio su fallo arbitral otorgando, sin exponer fundamentos, todo el territorio en litigio al Paraguay. Como dijo Cárcano, Paraguay había ganado en la paz lo que había perdido en la guerra. (FLORIA; BELSUNCE, 2004, p.273)

Embora Argentina e Brasil terem atuado do mesmo lado no conflito, ao seu término percebe-se que o temor do “expansionismo” ainda permanecia de ambos os lados.