A FORMAÇÃO DAS SOCIEDADES DE AMIGOS DE BAIRRO
BIBLIOTECA VIRTUAL de Derecho, Economía y Ciencias Sociales

 

ECONOMIA, POLÍTICA E SOCIEDADE

Luiz Gonzaga de Sousa

 

 

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A FORMAÇÃO DAS SOCIEDADES DE AMIGOS DE BAIRRO

 

Os movimentos comunitários têm suas origens muito antes do século XIX com os países europeus, onde eclodia a "Revolução Industrial". As migrações se intensificavam. Os desempregos cresciam absurdamente e as condições de vida ficavam, cada vez mais, piores para os nativos do campo e os desempregados surgidos com o advento da máquina substituidora do trabalho manufatureiro das indústrias têxteis da época. Tudo isto, juntou-se em ideologias e práticas revolucionárias contra aquela situação que massacrava o povo daquele momento. Diante disto, o povo sentiu a necessidade de união, de uma liderança que lutasse em favor de seus direitos, portanto, nasceram as associações de classe.

No caso brasileiro, as associações de classes surgiram com os migrantes europeus por volta de 1930. A primeira entidade de classe fundada no Brasil foi a Sociedade de Amigos da Cidade-SAC, que tinha como objetivos a construção de metrôs e a abertura de grandes avenidas na grande São Paulo. A SAC foi fundada mais exatamente no ano de 1934, com grande participação na emancipação política da capital paulistana, isto no final de 1940 e início de 1950. O primeiro regimento interno da SAC tem sua data de 1936. A SAC pretendia, além do mais, participar do plano geral da cidade que crescia a uma taxa muito rápida e desordenada.

Diante deste emaranhado de dificuldades que passava o povo paulista, a necessidade de uma integração comunitária crescia e a SAC já reunia um número bastante significativo de filiados capazes de exigir das autoridades governamentais um maior empenho naquilo de que o povo precisava para uma melhora no seu bem-estar social. A primeira reivindicação do povo paulista liderado pela SAC foi a preservação do Parque da Mooca, no ano de 1936. A SAC foi inspirada no modelo que estava em voga em Buenos Aires, capital da Argentina. É importante lembrar que o primeiro Presidente da SAC foi o ex-Prefeito de São Paulo, Prestes Maia, com grande participação no soerguimento do movimento popular reivindicatório no país.

Não sabe o fato exato da extinção da SAC, mas afirma-se convincentemente que em 1942 criava-se a Sociedade de Amigos do Bairro de São Bernardo do Campo, com uma participação tão ativa que no ano de 1948, São Bernardo do Campo conseguia a sua emancipação política municipal, vindo a constituir-se num Município livre e obviamente independente. A SAB de São Bernardo do Campo passou a ser um recurso poderoso para o povo fazer as suas reivindicações e exigir das autoridades os melhoramentos necessários de que a cidade estava carecendo, isto é, maior apoio ao migrante do campo, ou da cidade; melhores condições de vida; arborização da cidade; abastecimento d’água; em fim, estruturar a cidade condigna de sua população.

O movimento comunitário no Brasil crescia e com ele a formação de Sociedades de Amigos de Bairro, até que, com o processo de redemocratização do país, em 1945, as SABs tiveram uma participação nunca vista na história das comunidades brasileiras. Sabe-se de antemão que uma boa parte das SABs, constituía-se num ponto de apoio aos políticos que mantinham o poder, transformando essas SABs em currais eleitorais, ou movimento populista/clientelista, coisa que até hoje ainda ocorre. Na medida em que se possa influenciar, jamais se deve permitir que as SABs tornem-se redutos eleitorais de qualquer político, mas sim um movimento reivindicatório da população dos bairros.

Foi na percepção de que as SABs formavam-se por pessoas de baixa renda e com pouco grau de conscientização reivindicatória que surgiram os interessados em tomar partido por estes movimentos, mas na esperança de que suas bases eleitorais estariam sendo formadas para a sua carreira de político partidário. O primeiro a receber o valor desses conglomerados ou associações nos bairros foi o Senhor Jãnio Quadros, conseguindo, entretanto, grande popularidade e até mesmo eleger-se Governador de São Paulo, através de um apoio clientelista que sempre proporcionou às SABs existentes na capital paulista. Não só o ex-Presidente Jãnio Quadros congregou-se às SABs para o seu reduto eleitoral, mas, uma infinidade de políticos fez dessas Sociedades um ponto de apoio para a sua ascensão de políticos carreristas.

O ano de 1964 foi o final de um trabalho que as SABs vinham desenvolvendo dentro de um prisma de pressão e revolução, passando-se a um princípio de subordinação e atrelamento, não a políticos em si, mas, ajustando-se a uma filosofia educacional imposta pelo regime, para aceitação daquele status quo que passava a dominar o país. Neste momento, as SABs passaram de pressão social a integração social, mais especificamente, os movimentos comunitários passaram a servir como órgãos de prestação de serviços à comunidade. De lá para cá, os Presidentes de SABs passaram a servir como emissários de governos municipais, mais claramente, floresceu o peleguismo e acelerou-se o puxa-saquismo aos que vestiam as camisas da tão propalada Revolução de 1964, tão bem intencionada pelo Marechal Castelo Branco.

Esse foi o ano de início da repressão, de cassa aos bravos companheiros de luta e de proibição a que se dissesse a verdade que deveria ser escondida e esquecida pelo sistema agora imposto. Os lutadores sindicalistas foram presos. Os Presidentes de SAB, mais moderados, foram cassados indiscriminadamente e a população que participava daquele movimento foi arduamente vigiada e traumatizada pela repressão que fez deste país um palco de torturas e sofrimentos. Não se escandalizem com o número de mortos encontrados na Argentina. Aqui no Brasil, também aconteceu o mesmo, ou talvez em escala bem maior. O governo da repressão passou vinte anos ditando normas. A antiga ARENA, depois PDS e PFL que neguem os avanços que a sociedade conseguiu e a consolidação da democracia brasileira que aconteceu.

Entretanto, quanto aos movimentos comunitários de Campina Grande, verifica-se que datam de 1958, os primeiros movimentos comunitários nesta cidade, coordenados pela irmã Angela Beleza. Neste período, existia uma espécie de Conselho Comunitário que tinha a finalidade de reivindicar os melhoramentos dos bairros. Com este princípio de organização comunitária, formou-se aqui nesta cidade, a primeira SAB que foi a de José Pinheiro em 1962. Com José Pinheiro, nasceram outras e, em 1964, fundara-se a União Campinense das Equipes Sociais - UCES, da cidade, tendo como primeiro Presidente o Senhor João Basílio que pertencia à SAB de Monte Castelo e congregava neste movimento campinense oito (8) SABs. Não se nega que 1964 foi o ano em que as SABs tiveram cortadas a sua autonomia, mas não se esquece que nem todos os Presidentes de SABs, a partir desta data, tiveram o pensamento militarista exigido pelos integrantes do golpe de 64.

Hoje se tem um movimento em Campina Grande com uma certa independência. Hoje se tem um movimento de bairro consolidado, onde o povo participa, lutando constantemente com os poderes públicos na busca de melhores condições para os bairros da cidade. É inegável que se tenham conseguido alguns benefícios. É-se bem recebido em todos os órgãos públicos a que se recorra, com raras exceções. A Prefeitura Municipal tem prestado irrestrita solidariedade aos problemas que se enfrentam. Os serviços de terraplanagem, de energia elétrica, de coleta de lixo, de contenção dos preços das passagens dos coletivos e muitos outros que beneficiaram a comunidade campinense e, em especial, a mães batalhadoras.

Existiram algumas perdas, como foi o caso do Imposto Predial e Territorial Urbano-IPTU, onde se reivindicou alguma anistia e não se conseguiu nada. O Prefeito municipal, em reunião na Associação Comercial do dia 17 de junho de 1983, promovida pela UCES, comunicava que as Vilas teriam direito à isenção de seu respectivo IPTU, mas isto não se concretizou como um fato real, foi negativo com letras garrafais salientando, entretanto, que o Conjunto Presidente Médici teve seu IPTU isentado no governo anterior (Enivaldo Ribeiro). Não se colocaria como perdas, mas reivindicaram-se alguns outros benefícios e não se conseguiu, como foi o caso do prédio do grupo escolar Prof. Antonio Oliveira para sede permanente da SAB do Jardim Paulistano e até agora, não se foi atendido, embora um novo grupo escolar se encontre em funcionamento. Tem-se lutado muito pelo melhoramento dos bairros, reivindicando aterramento de lagoas localizadas em zonas centrais do bairro e também não se foi atendido, sem falar em questão calamitosa tipo fossas sépticas de antigas Vilas, onde já morreram crianças e continuam na mesma situação, sem nenhuma providência dos poderes públicos.

As reivindicações dos bairros deverão ter a participação de toda a comunidade, para que se tenha coragem e força para exigir dos governantes o de que se necessita. Quer-se a participação de toda a comunidade em todos os trabalhos que se tenha de realizar. A população deve se conscientizar de que o trabalho da SAB é um trabalho que deve ser executado por todos e não especificamente pelos seus Diretores, pois todos juntos constituem-se os organizadores do movimento. A SAB é intermediária entre as reivindicações comunitárias e os órgãos públicos e não se devem assumir determinadas tarefas que a comunidade não delegou poderes para poder resolvê-las. A SAB é a vossa porta-voz e vós sois, em união, a força máxima do bairro. Portanto, comunitários, é preciso união e com uma só voz e força, exigir dos governantes o melhor para os bairros da cidade!

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