CARLOS GOMES
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
A essência da lei fundamental da economia do sistema comunitário radica-se na necessidade objectiva e na capacidade dos grupos humanos assegurarem a sua existência, como membros da comunidade, com base no trabalho conjunto e na propriedade comum dos meios de produção. Esta força colectiva constituiu a principal força produtiva e, por sua vez, com base nela se formaram as relações sociais e económicas da comunidade primitiva.
Os agregados humanos confinaram-se durante muitas centenas de milhares de anos a pequenas regiões e expandiram-se muito lentamente por outras áreas devido, eventualmente, às suas dificuldades de movimentação, à reduzida população, à extensão territorial, aos condicionalismos geográficos e ecológicos e às mutações climáticas. Com a sua deslocação em direcção a todos os continentes, ao mesmo tempo estimulada e dificultada pelo meio ambiente, começa a despontar um traço específico histórico que é o desenvolvimento desigual.
O aparecimento de novos modos de produção, entre determinadas populações, não conduz ao desaparecimento automático dos anteriores. Surge uma coexistência de estruturas e a interacção de sociedades que se encontram em níveis diferentes de desenvolvimento. O predomínio de um certo tipo de produção numa dada etapa histórica não significa a ausência de modos de produção precedentes. Pelo contrário, persistiram, durante alguns milénios, comunidades de recolectores e caçadores ou comunas agrícolas, total ou parcialmente isoladas umas das outras, no Continente Americano (a norte do México e na América do Sul, com exclusão da zona dos Andes), na África ao Sul do Sara, na Península Arábica, em certas regiões do sul e do sudeste da Ásia, na Austrália, Tasmânia e outras ilhas do Oceano Pacífico. Em muitas regiões, só depois de outros povos, vivendo em formações económicas e sociais diferentes, terem penetrado nesses continentes se alteraram os processos de produção e as relações existentes.
Em épocas históricas separadas por dezenas de milhares de anos, mantiveram-se espantosas semelhanças no comportamento humano, mesmo quando os processos produtivos se desenrolaram de forma isolada e independente. Em todas elas existiram povos que se encontravam em níveis diferentes de civilização. Alguns evoluíram com mais lentidão e outros adiantaram-se no seu desenvolvimento, o que criou complicadas interacções. Esta desigualdade começou a manifestar-se, de forma mais acentuada, nos períodos em que, no meio da multiplicidade de comunidades de caçadores e recolectores, se destacaram tribos de agricultores e pastores que adoptaram um modo de vida sedentário ou nómada.
Apesar da grande diferença temporal no desenvolvimento dos povos de todos os continentes, a ciência descobriu a presença de leis e traços objectivos comuns no processo produtivo, na organização de clãs e tribos, nos sistemas de parentesco e de família, na divisão do trabalho e diferenciação social como consequência da desenvolvimento das forças produtivas. Populações, separadas por continentes e milénios, criam e usam os mesmos instrumentos, as mesmas técnicas de corte e polimento da pedra, os mesmos métodos de cultura ou de criação de animais, os mesmos ardis para a caça, de acordo com as condições ambientais em que vivem. A sequência do processo produtivo acompanha as mesmas tendências: à recolha simples de plantas ou animais, segue-se a domesticação, o desenvolvimento da produção alimentar, o aumento e fixação da população e a emergência de sociedades mais complexas. A diferença apenas reside no início temporal dos modos de produção subsequentes. Estabelecem-se tipos de relações sociais muito semelhantes entre estes povos.
Os povos receberam muitas
influências do exterior, o que aconteceu em muitas épocas e lugares. O
processo de assimilação de técnicas e crenças fez-se por adaptação ao
ambiente e às circunstâncias locais.