CARLOS GOMES
OBJECTOS E MEIOS DE TRABALHO
Os objectos de trabalho incluem todas as coisas, materiais ou imateriais, sobre as quais incide o trabalho do homem e que se destinam a ser adaptadas, transformadas ou criadas. Integram:
1. As matérias proporcionadas pela natureza, incluindo: a terra, solo e subsolo; a água dos mares, dos rios, dos lagos; a energia, o fogo; os animas e as plantas, quando úteis ao homem, etc.;
2. As matérias já submetidas a algum trabalho humano, sobre as quais o homem ainda tem de actuar para realizar a produção, sejam matérias-primas ou produtos semi-acabados;
3. Os meios de trabalho a criar ou aperfeiçoar;
4. A investigação, o poder criativo, a formação e informação do próprio homem;
5. Os serviços de natureza económica ou social a prestar aos indivíduos ou à comunidade.
Sob o ponto de vista económico, a
terra, na qual a água está compreendida, apresenta-se com todos os seus
elementos, como o objecto universal do trabalho humano. As coisas
destacadas do todo terrestre são por natureza objectos de trabalho: as
plantas colhidas, os peixes retirados da água, seu elemento de vida, o
minério retirado do seu filão, a madeira cortada da floresta virgem, etc.
No processo de trabalho a actividade do homem opera uma modificação dos
objectos de trabalho, através dos meios de trabalho, com um fim de antemão
determinado.
Os meios de trabalho incluem todas as coisas com o auxilio das quais o homem age sobre os objectos de trabalho para os modificar e transformar. Conforme o seu objectivo, utiliza as propriedades físicas, químicas, biológicas energéticas das coisas, mesmo quando o seu conhecimento ainda é empírico.
Continuamente, o homem cria e aperfeiçoa os seus meios de trabalho e põe-nos em movimento. Por sua vez, através deles, cria os seus hábitos, experiência e conhecimentos. Cada nova geração dispõe dos meios de trabalho das gerações anteriores, aperfeiçoa-os e transmite-os às gerações seguintes, ligando o passado com o futuro. O desenvolvimento do homem não atinge limites naturais porque acompanha sempre a mutabilidade dos seus meios de trabalho.
Por sua vez, a alteração profunda dos meios de trabalho dá origem a alterações nas relações de produção e, consequentemente, de toda a estrutura económica da sociedade, o que leva Marx a escrever As épocas económicas distinguem-se, não por aquilo que produzem, mas pela maneira como o produzem e com que meios de trabalho.
Fazem parte dos meios de trabalho, entre outros:
1. Os instrumentos utilizados na produção, desde os paus de rebuscar e pedras lascadas às ferramentas, máquinas, equipamentos mecânicos ou electrónicos;
2. As construções destinadas a actividades económicas como abrigos, edifícios, armazéns, recipientes, estábulos, portos;
3. Caminhos, estradas, canais, animais de carga, gado de lavoura, barcos e outros meios de deslocação e transporte;
4. Os meios de captação, conservação, utilização e condução de energia;
5. Os meios de acumulação e transmissão de comunicação e informação;
6. Os conhecimentos técnicos e científicos acumulados ao longo da vida do homem e transmitidos entre as gerações;
7. Em geral, todas as condições materiais ou imateriais sem as quais a produção não pode ter lugar.
Como instrumentos de trabalho consideram-se os objectos extraídos da natureza ou os inventados e construídos pelo homem, quando utilizados na produção. A preparação e o emprego de instrumentos foi o começo decisivo de formação do trabalho humano e permitiu a passagem da fase de simples aproveitamento dos objectos oferecidos pela natureza. A invenção de instrumentos, criados pelo homem com um objectivo específico, constitui um primeiro progresso decisivo no desenvolvimento físico, intelectual e social do homem. A força criadora do homem está patente na criação de instrumentos de trabalho artificiais. O seu uso aumentou a sua independência em relação à influência do meio ambiente e alterou o modo de vida, o contacto e o relacionamento dos homens entre si.
Os primeiros instrumentos são simples, como os paus, as lanças ou os machados, mas tornam-se, com o decorrer do tempo, cada vez mais complexos. As ferramentas destinam-se, em princípio a intervir na obtenção ou modificação doutros meios de trabalho. O homem agrega as ferramentas aos seus órgãos naturais com o fim de os reforçar e só as movimenta por meio de esforço individual. Esta características diferenciam-nas das máquinas que deixam de estar vinculadas ao reforço dos órgãos humanos e movimentam-se no âmbito dum trabalho socializado. Os equipamentos automáticos, uma vez programados e comandados, actuam sem a interferência humana directa durante uma fase do período de execução.
A energia é um meio de trabalho que tem desempenhado uma participação fundamental na produção e que contribuiu para impulsionar o desenvolvimento económico em diversas épocas. Entre as suas fontes destacam-se:
- a energia motora do próprio homem
e a proveniente dos animais de carga e de tracção;
- a energia mecânica e a cinética e potencial da água e do vento;
- a energia molecular ou química, proveniente do fogo ou do Sol;
- mais recentemente, a energia nuclear.
A linguagem oral assegura a comunicação entre as pessoas no trabalho e o contacto entre os povos. A linguagem escrita permitiu o contacto e o conhecimento entre comunidades separadas pelo espaço e pelo tempo. Assegurou ainda a acumulação, conservação e transmissão da informação adquirida.
Os conhecimentos científicos acumulados representam uma força produtiva indirecta e assumem a característica de força produtiva directa quando materializados como meios de produção. Os domínios da ciência e da produção aproximam-se e interpenetram-se.
A transformação da ciência em força produtiva directa significa que:
1. Os meios de trabalho e os processos tecnológicos passam a ser o resultado da materialização do conhecimento científico;
2. O conhecimento científico assume a posição dum componente indispensável da experiência e da cultura dos trabalhadores que participam no processo produtivo;
3. As próprias normas de execução da produção e os processos tecnológicos correspondentes se transformam em resultado da aplicação da ciência;
4. O próprio conceito de produção amplia-se, pois passa a incluir no processo produtivo a confecção de projectos, investigação, desenhos ou a realização de experiências laboratoriais, por exemplo.
Os meios técnicos ou científicos aplicáveis na produção permitiram o desenvolvimento dos processos e meios de transformação dos instrumentos e dos hábitos de trabalho e conduziram à melhoria da utilização dos bens e serviços. O aperfeiçoamento contínuo dos instrumentos utilizados na produção, revela uma atitude activa do homem que se reflecte no aumento da produtividade e, consequentemente, no processo ininterrupto do desenvolvimento das forças produtivas. Por outro lado, o desenvolvimento da própria técnica e o seu ritmo dependem em grande medida da produção.