CARLOS GOMES
Familias
As comunidades primitivas assentavam no parentesco natural dos seus membros com base na linha materna. À medida que o homem adquire uma posição mais destacada e interveniente na produção alimentar, acaba por ser derrubada a descendência segundo o direito materno. O desenvolvimento da agricultura e da criação de gado está nitidamente ligado com a transição do sistema de parentesco por linha materna para o parentesco por linha paterna. Forma-se a família fundamentada em condições de natureza económica, em substituição dos laços consanguíneos. Em regra, as famílias faziam parte de grupos mais numerosos, económica e socialmente coesos.
A actividade agrícola tornou-se mais capaz de expansão pelo trabalho conjunto dum grupo de indivíduos. A família, como grupo geneologicamente aparentado, encontrava-se numa posição mais favorável do que o clã para cuidar da terra arável. A atribuição às famílias do trabalho nos campos foi uma das transformações sociais que se realizaram lentamente à medida que se desenvolveu o predomínio do modo agrícola de produção, sobretudo por sementeira. Isto não significa que a propriedade comunal deixasse de depender do clã ou da tribo, embora o usofruto da terra e os seus produtos pertencessem às famílias.
O acasalamento colocou ao lado da mãe natural o autentico pai natural. Constituiu-se a família que passou a dispor da posse privada dos meios de produção. A unidade social tornou-se o núcleo familiar, o casal, os filhos e outros parentes. O agregado além dos familiares directos incluía outras famílias unidas por laços de parentesco indirecto.
A família, como célula mais pequena
da sociedade, passou a deter uma importância económica considerável, como
nos indica a existência de explorações agrícolas individuais integradas em
comunidades maiores, com a formação das tribos.