CARLOS GOMES
PRODUÇÃO DE ALIMENTOS - CRIAÇÃO DE ANIMAIS
Após o desenvolvimento da domesticação, os homens verificaram que a guarda e conservação junto de si de rebanhos resolvia alguns problemas alimentares. Da domesticação surgiu o cativeiro e depois a criação. O cativeiro é uma forma inicial e primitiva de criação de animais domésticos. Baseia-se numa selecção de castas consciente e numa alimentação cuidadosa em termos quantitativos e qualitativos.
Embora a finalidade inicial da domesticação e criação de animais tivesse sido o fornecimento de carne, outros usos derivados foram descobertos. O leite permitiu a obtenção de natas, manteiga e queijo. O estrume espalhado pelo campo enriqueceu o solo. Os ossos e os chifres constituíam boas matérias-primas para o fabrico de utensílios. Do pêlo apareceu a lã e com a pele se fabricou o couro. Os animais fornecem ainda materiais para manufacturar vestuário e para outra artes.
Os animais criados ajudam ao trabalho agrícola, proporcionam força de tracção e transporte para pessoas e coisas, agem como guardas, auxiliam na caça e noutras actividades. Transformam-se em meio activo auxiliar do trabalho. O uso do cavalo, do burro e do lama, como instrumentos de trabalho e de transporte de carga, constituiu uma mudança profunda que impulsionou a criação de animais.
Com a criação de animais alterou-se a dieta alimentar e surgiram novas necessidades como a conservação dos alimentos, o tratamento das peles e dos ossos, a modificação do sistema de abrigos ou dos acampamentos. A caça e a simples domesticação perderam a sua importância. Isto não significa que não perdurassem até aos tempos actuais e que não persistissem mesmo entre populações nómadas.
Alguma espécies de animais necessitam duma alimentação semelhante à dos humanos, o que se tornou num obstáculo à sua criação em larga escala. Por outro lado, eram já indispensáveis à alimentação da população, cujo aumento constante implicava a ampliação da terra cultivada e da criação de animais. Estes dois conjuntos de factores contribuíram para o desenvolvimento da actividade produtiva. Desenvolveu-se uma fonte de riqueza até então desconhecida e criaram-se relações económicas e sociais inteiramente novas.
Os animais domésticos adaptam-se à presença humana, podem ser seleccionados pelas famílias e estão estreitamente ligada à vida sedentária. Mas com o aparecimento dos rebanhos, constituídos por bois, carneiros, ovelhas, cavalos, lamas e outros mamíferos, colocou-se o problema dos pastos, pois os animais necessitam de água, erva fresca e abundante. Quando estes produtos não existem nos locais de acampamento, as tribos pastoras vêem-se forçadas a emigrar. Formaram-se assim as primeiras comunidades pastorícias, acentuando-se o nomadismo como estilo de vida, a divisão de trabalho e a intensificação inevitável da troca directa. Em zonas de clima mais variado e montanhoso é ainda hoje frequente a prática da transumância que motiva deslocações temporárias dos pastores, facilita a alimentação dos animais e permite a utilização de folhas de certas árvores e arbustos para forragens.
A economia de pastoreio depende
muito das diversidades ambientais. Segundo parece a pastorícia antecede a
agricultura. O homem aprendeu primeiro a conhecer os animais e, em
seguida, a observar e a servir-se dos ciclos da natureza necessários à
agricultura. A componente tecnológica necessária ao pastor completou-se
antes que o homem dominasse as técnicas do trabalho da terra.