CARLOS GOMES
MEIOS HUMANOS
As características físicas não se alteraram com a produção agrícola, mas a ampliação dos conhecimentos técnicos e científicos, adquiridos ao longo de milénios, foi decisiva para o desenvolvimento do processo que permitiu assegurar as bases do modo de produção alimentar. A memória colectiva do saber de grupos humanos passa de geração em geração sob a forma de rituais, de imagens físicas ou de cantos. Desenvolve-se a aptidão para memorizar os conhecimentos acumulados, de os conservar e transmitir por tradição oral. Aos jovens é dado a conhecer, pelos mais velhos, a extensão do território, os seus limites, a distribuição das águas, as características dos solos, das plantas e dos animais.
As deslocações e o contacto com os diferentes povos pode ter constituído um factor importante de comunicação e transmissão desses conhecimentos e da experiência vivida com a actividade agrícola, a perícia na manufactura de instrumentos de trabalho e o conhecimento empírico de muitos elementos de cultura material e imaterial.
A passagem da simples recolha de frutos e outros bens da natureza para a criação de plantas e animais, com o aparecimento de novos meios de produção, foi acompanhada de saltos graduais no aumento da população. Por sua vez, a pressão demográfica desempenhou um papel essencial na expansão da produção agrícola. As transformações ocorridas permitiram suportar populações mais numerosas, criando uma esperança de vida comparativamente superior à existente. Há um fenómeno de interacção entre o aumento da produção e o crescimento da população.
A fixação das populações deu lugar a uma muito maior densidade num dado território. Não há números nem estatísticas fidedignas que permitam avaliar as consequências demográficas. Calcula-se, porém, que o número de habitantes corresponda a cerca de 50 vezes mais do que o existente no modo de vida baseado apenas na simples recolha de alimentos. O crescimento demográfico contribuiu para a especialização produtiva, para o aumento da relação entre pessoas e recursos e para a expansão das permutas entre famílias e entre comunidades.
As populações que adoptaram o cultivo da terra abandonaram as migrações sazonais ou as deslocações para regiões vizinhas. Espalharam-se por várias regiões e concentraram-se de preferência nos vales dos rios e lagos, em zonas onde os solos e as pastagens encorajam a vida sedentária.
Com a crescente dessecação de
grandes áreas da África e da Ásia, os caçadores domesticaram o gado
selvagem e retiraram-se, juntamente com os seus rebanhos, para zonas onde
a água existia em permanência. Alguns povos que mais se dedicaram à
pastorícia optou por um tipo de vida nómada.