CARLOS GOMES
MEIOS HUMANOS - CARACTERÍSTICAS CULTURAIS E SOCIAIS
O objectivo fundamental das primeiras comunidades consistia na auto conservação e reprodução e tal objectivo só era possível através duma actividade colectiva coincidente com a própria estrutura social.
Para conseguir obter os seus meios de vida, tornou-se necessário ao homem o conhecimento perfeito do ambiente natural ao longo das estações, os hábitos dos animais e o conhecimento e selecção das plantas úteis à sua alimentação.
A construção e o uso de utensílios, de instrumentos de trabalho ou das armas a utilizar, sendo tarefa da comunidade, onde a divisão do trabalho é ainda muito rudimentar, exige a aquisição de conhecimentos por todos os habitantes que são transmitidos de geração para geração, especialmente aos jovens sujeitos a provas muito rigorosas de formação. Paralelamente, desenvolveram-se funções superiores, como a memória, a atenção e o pensamento abstracto. O homem revelou uma grande capacidade de criação de artefactos.
A difícil luta pela existência exigia do ser humano qualidades individuais, tanto físicas como intelectuais e morais, sem as quais seria impossível manter a sua sobrevivência. Era indispensável força física, capacidade de resistência, habilidade, transmissão de conhecimentos, criatividade e um grande espírito de solidariedade, colectivismo e sacrifício. O indivíduo, no seu comportamento, regula-se pelas normas, proibições e tradições da sua comunidade.
Mas, para além destas características individuais, essenciais para vencer as duras condições de vida, o homem teve de viver sempre agrupado com os seus semelhantes. A sua aptidão para assegurar uma vida em comum, ampliar e modificar as características da vida social, permite-lhe desenvolver a capacidade técnica, os hábitos sociais, o domínio do espaço e do tempo.
O vínculo indissociável entre o indivíduo e a comunidade permitiu ao género humano conservar-se a si próprio, sobreviver e criar as premissas imprescindíveis para a passagem à civilização. Tal vínculo foi determinante nas etapas iniciais do desenvolvimento da sociedade e na manutenção posterior de estruturas comunitárias, algumas ainda hoje existentes. Este espírito colectivista não elimina ou contradiz a necessidade duma chefia da vida em grupo, sobretudo na actividade de caça, que possivelmente remonta já a tempos muito antigos.
A linha materna era, e em muitas situações ainda é, a única considerada válida. A mulher desempenhava neste modo de vida um papel predominante, que nos tempos primitivos se encontrava difundido por toda a parte.