Revista: TURYDES
Turismo y Desarrollo local sostenible / ISSN: 1988-5261


FLUXO TURÍSTICO E MIGRATÓRIO INTERNACIONAL NO RIO GRANDE DO NORTE (2002-2007): IMPLICAÇÕES NA DINÂMICA SOCIAL LOCAL

Autores e infomación del artículo

Salete Gonçalves
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Christianne Luce Gomes
Universidade Federal de Minas Gerais

salleteg@gmail.com


Resumo: Este artigo buscou discutir as razões que potencializaram o fluxo turístico e migratório internacional no Rio Grande do Norte nos anos que antecederam a crise mundial de 2008, bem como compreender as implicações desse crescimento na dinâmica social local. Trata-se um estudo qualitativo que adotou como estratégias de pesquisa o estudo de caso e o levantamento de dados por meio da realização de entrevistas com 31 imigrantes, naturais da Itália, Espanha e Portugal. A análise interpretativa foi empreendida com auxílio do software MAXQDA, visando organizar e sistematizar as informações coletadas. Os resultados evidenciam que as causas do crescimento do fluxo turístico e migratório internacional no Rio Grande do Norte se devem principalmente a elaboração de políticas públicas que subsidiaram a vinda desses estrangeiros, quer seja como turistas e/ou como investidores, atrelada a localização estratégica do estado; ao clima e belezas naturais; ao valor do câmbio; e estabilidade econômica pela qual o Brasil vinha passando. Constatou-se ainda que esses imigrantes estabelecem suas redes sociais de modo bastante particular, havendo maior aproximação com brasileiros e distanciamentos dos compatriotas. No campo do turismo, por um lado, a migração facilitou a experiência turística de familiares e amigos dos entrevistados, e por outro, permitiu a circulação desses imigrantes até o país de origem; apontando assim, para a existência de um fluxo internacional. Dessa maneira, nesta pesquisa, a migração internacional no litoral potiguar é uma extensão do fenômeno turístico, tendo um peso na incidência de novos fluxos imigratórios e turísticos.
Palavras chave: Imigração – Turismo internacional – Redes sociais.

FLUJO TURISTICO Y MIGRATORIO INTERNACIONAL EN EL RIO GRANDE DO NORTE (2002-2007): IMPLICACIONES EN LA DINAMICA SOCIAL LOCAL

Resumen: Ese artículo buscó discutir las razones que potenciaran el flujo turístico y migratorio internacional en el Estado de Rio Grande do Norte en los años que precedieron a la crisis mundial de 2008, así como comprender las implicaciones de ese crecimiento en la dinámica social. Se trata de un complejo estudio de carácter cualitativo que adoptó como estrategias de investigación de la colección de estudio de casos y datos a través de entrevistas con 31 inmigrantes, nativos de Italia, España y Portugal. El análisis interpretativo fue emprendido con ayuda del software MAXQDA, buscando organizar y sistematizar las informaciones recogidas junto a los entrevistados. Los resultados evidencian que las causas del crecimiento del flujo turístico y migratorio internacional en el Rio Grande do Norte se deben principalmente a elaboración de políticas públicas que subsidiaran la llegada de estos extranjeros, tanto como turistas y/o como inversores, vinculada a la localización estratégica del estado, al clima y bellezas naturales; el valor del cambio; y a la estabilidad económica por la cual el Brasil venia pasando. Se constató aún que estos inmigrantes establecen sus redes sociales de manera bastante particular, existiendo una mayor aproximación con brasileños y distanciamientos de los compatriotas. En el campo del turismo, por un lado, la migración facilitó la experiencia turística de familiares y amigos, y por otro, permitió la circulación de estos inmigrantes hasta el país de origen; que apunta a la existencia de un flujo internacional. De esta manera, en esta investigación la migración internacional en el litoral potiguar es una extensión del fenómeno turístico, incidencia de nuevos flujos migratorios y turísticos, desencadenando así su recursividad.

Palabras-Clave: Inmigración – Turismo internacional – Redes sociales.

INTERNATIONAL TOURIST AND MIGRATORY FLOW IN RIO GRANDE DO NORTE (2002-2007): IMPLICATIONS OF LOCAL SOCIAL DYNAMICS

Abstract: This article sought to discuss the reasons that strengthened the international tourist and migratory flow in Rio Grande do Norte in the years leading up to the 2008 global crisis, as well as to understand the implications of this growth in the local social dynamics. This is a qualitative study that adopted as research strategies the case study and the data collection by means of interviews with 31 immigrants from Italy, Spain and Portugal. The interpretative analysis was undertaken with the help of MAXQDA software, aiming to organize and systematize the information collected. The results show that the causes of the growth of the tourist and international migratory flow in Rio Grande do Norte are mainly due to the elaboration of public policies that subsidize the arrival of these foreigners, both as tourists and / or investors, linked to the strategic location of the state; to the climate and natural beauties; to the value of the exchange; and economic stability that Brazil was experiencing. It was also verified that these immigrants establish their social networks in a very particular way, having greater approximation with Brazilians and distance of the compatriots. In the field of tourism, on the one hand, migration facilitated the tourist experience of family members and friends of the interviewees, and on the other, allowed the movement of these immigrants to their country of origin; thus, pointing to the existence of an international flow. In this research, the international migration in the Potiguar coast is an extension of the tourist phenomenon, having a weight in the incidence of new immigrant and tourist flows.
Keywords: Immigration – International tourism – Social networks.

 

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Salete Gonçalves y Christianne Luce Gomes (2019): “Fluxo turístico e migratório internacional no Rio Grande do Norte (2002-2007): implicações na dinâmica social local”, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 26 (junio/junho 2019). En línea:
https://www.eumed.net/rev/turydes/26/rio-grande-norte.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/turydes26rio-grande-norte


1 INTRODUÇÃO

O Rio Grande do Norte tem uma localização geográfica privilegiada, na costa leste do Brasil, o que atribui ao Estado “potiguar” – como é conhecido – o título de “Esquina do Continente”, ou “Esquina do Atlântico”. Devido ao seu rico patrimônio natural, com belas praias de águas cálidas e clima tropical durante todo o ano, rica vegetação e vários outros atrativos, é um destino buscado não apenas por turistas brasileiros, como também por estrangeiros de diferentes países. Cabe destacar que os voos regulares que partem de Lisboa/Portugal levam apenas 7 horas para chegar a Natal, que é a capital do Estado potiguar.
Buscando diversificar o produto turístico local, a mais recente campanha de promoção turística, lançada em março de 2018, foi denominada “Rio Grande do Norte: Tudo começa aqui”. Baseada nos resultados das pesquisas realizadas por Pinto (1998) e outros autores, essa campanha afirma que o “descobrimento do Brasil” ocorreu no Estado potiguar. Segundo essa interpretação, as caravelas da esquadra portuguesa liderada por Pedro Álvares Cabral desembarcaram em 22 de abril de 1500 na Praia do Marco, localizada no município São Miguel do Gostoso, e não no litoral sul da Bahia, como sempre se pensou. Apesar das controvérsias em torno do tema, essa campanha promocional incentiva turistas nacionais e estrangeiros, assim como a população potiguar, a conhecerem o local onde, supostamente, os conquistadores portugueses chegaram ao Brasil.
Outro fato histórico relacionado à retomada do litoral potiguar deu-se durante a II Guerra Mundial, quando o Estado norte-rio-grandense foi “redescoberto” por estrangeiros, por estar situado numa região estratégica (Oliveira, 2017). Naquela época, duas instalações militares norte-americanas foram instaladas no território potiguar – a Base Marítima (ou “Rampa”) em Natal e a Base Terrestre de Parnamirim Field (ou “Campo”) em Parnamirim, um município vizinho a capital– além de diversas Unidades Militares das Forças Armadas Brasileiras.
Estima-se que 25 mil soldados norte-americanos viveram em terras potiguares naquela época: um número bastante significativo, pois, a população de Natal era cerca de 50 mil habitantes (Oliveira, Ferreira & Simonini, 2012). Uma infraestrutura teve que ser preparada para atender essa nova demanda e possibilitar o crescente fluxo de pessoas. Desse modo, a disposição das principais avenidas da capital foi modificada, as habitações seguiram novos parâmetros e o comércio local foi ampliado, impactando economicamente a região. Além disso, hábitos e costumes da população foram alterados, assim como os modos de se alimentar e se vestir, palavras e expressões inglesas foram introduzidas no vocabulário potiguar. Muitas dessas mudanças foram absorvidas pela cultura local e, por isso, permanecem ao longo dos tempos.
Logo após 2006 – quando o turismo internacional estava no auge –, foi feita uma proposta de recuperação da Base marítima norte-americana “Rampa”, que estava completamente abandonada. Ali ocorreu, por exemplo, o encontro dos Presidentes Getúlio Vargas e Franklin Roosevelt, entre outras ações de grande importância no contexto da Segunda Guerra Mundial. Tal empreendimento previa restaurar a antiga estação de passageiros da base de hidroaviões do rio Potengi, viabilizar a construção de um novo píer e do Memorial do Aviador.
As obras visando criar o “Complexo Cultural da Rampa” foram iniciadas apenas recentemente, ou seja, cerca de uma década depois de terem sido propostas, em 2007. O fato de elas não terem sido começadas naquele período pode estar relacionado com a crise econômica deflagrada em 2008 nos Estados Unidos, que abalou vários países do mundo. Embora a situação econômica do Brasil estivesse relativamente estável mesmo após essa crise mundial, ela impactou o turismo internacional no Rio Grande do Norte.
Essas considerações iniciais evidenciam que o Estado potiguar, em diferentes momentos de sua história, recebeu um contingente significativo de estrangeiros. A conquista/colonização de seu território e a instalação de bases militares norte-americanas no período da Segunda Guerra Mundial, são hoje vislumbradas como uma estratégia de marketing para potencializar o turismo histórico-cultural.
Vale destacar que a marcante presença de estrangeiros no território potiguar também ocorreu nos primeiros anos do século XXI. Especialmente no período 2002-2007, quando centenas de milhares de estrangeiros – principalmente homens de origem europeia – visitaram o Estado potiguar como turistas e/ou investidores e, em muitos casos, acabaram decidindo permanecer como residentes. Esse cenário foi impactado pela crise mundial de 2008, de maneira que a presença de estrangeiros foi progressivamente sendo reduzida.
A que se deve o crescimento desse fluxo turístico e migratório internacional no Rio Grande do Norte? O que mobilizou a vinda de turistas e investidores estrangeiros? De que maneira esses estrangeiros que fixaram residência estabelecem suas redes sociais e interagem com a população local? Quais foram as implicações desse fluxo internacional na dinâmica social local, especialmente quando se pensa no campo do turismo?
Considerando essas indagações, os objetivos do presente artigo são discutir as razões que potencializaram o fluxo turístico e migratório internacional no Rio Grande do Norte nos anos que antecederam a crise mundial de 2008, bem como compreender as implicações desse crescimento na dinâmica social local, considerando especialmente o campo do turismo.

2 MIGRAÇÃO E TURISMO: DIÁLOGOS POSSÍVEIS

Os fenômenos turísticos e migratórios são exemplos emblemáticos desta sociedade contemporânea que está permanentemente em movimento e apresentam uma série de características teórico-empíricas que os aproximam e suscitam reflexões que merecem ser aprofundadas.
Primeiramente, sabe-se que tanto o migrar quanto o “turistar” – ato de ser turista – tem como pré-requisito a viagem, isto é, o deslocamento de um local de origem para outro. A consumação desse ato é perpassada por valores intangíveis e tangíveis. E esses fatores interferem diretamente na capacidade de maior mobilidade ou imobilidade dos sujeitos (Urry, 2007).
Um segundo aspecto das aproximações entre esses fenômenos surge a partir da compreensão de Skeldon (2013), na qual a migração não é um evento único no tempo e no espaço, podendo repetir-se ao longo da vida de um sujeito. Essa particularidade também pode ser observada nas experiências turísticas, uma vez que se pode vivenciá-las por diversas vezes durante sua existência.
Por outro lado, considerando os aspectos que distanciam a migração do turismo, têm-se a relação estabelecida tanto pelo turista quanto pelo imigrante no destino, o primeiro tem um contato geralmente mais superficial e predominantemente comercial (Mazon, 2014), enquanto o segundo, por sua fixidez, busca manter outros tipos de vínculos, tanto afetivas quanto políticas e/ ou econômicas, na busca de melhorias na infraestrutura e qualidade ambiental.
Essa visão está amparada a partir da proposição de Bauman (1998), ao afirmar que a relação estabelecida pelos turistas nos destinos é frágil e efêmera, já que não possuem perspectivas de futuro e inexiste passado. Ainda nas palavras do autor, o turista “está”, sendo um status momentâneo. Partindo desse mesmo entendimento, pode-se inferir que a relação do migrante com o destino é mais duradoura, já que o tempo de permanência é de médio e longo prazos, e em alguns casos até ao final da vida.
Além disso, segundo Sayad (1998) o migrante “é”, sendo considerado um emigrante no seu país de origem e um imigrante no país de destino, tornando-se um status permanente. Em contrapartida, o status de turista tem início e fim pré-determinados, que se estabelece apenas durante a viagem.
Em face dessas discussões, observa-se que as categorias tempo e espaço emergem como conceitos basilares que distinguem e aproximam a migração e o turismo. A relação do sujeito enquanto turista com o tempo se distingue da relação que assume com o tempo enquanto migrante. Geralmente, o turista quer aproveitar o tempo ao máximo, consumindo produtos e serviços de forma intensa, diferentemente do migrante que incorpora ações de cotidianidade, o tempo parece ser mais lento, uma vez que a permanência não tem tempo definido, podendo haver um retorno ou um viver semi-permanente ou permanente no novo destino.
Com relação ao espaço, embora o migrante também estabeleça relações comerciais no destino, o caráter simbólico é mais proeminente quando comparado a experiência do turista, uma vez que o valor de uso é maior que o valor de troca. No entanto, quando o lócus onde se desenvolve o fenômeno migratório acaba tornando-se o mesmo do turista e vice-versa, acredita-se que as interfaces entre turismo e migração se sobressaem e a linha tênue que os separa se manifesta de modo mais latente.
Mais um aspecto de distinção que merece destaque se refere à reflexividade. Enquanto a migração é um fenômeno reflexivo, já que migrante é sujeito e objeto do próprio deslocamento (Sayad, 1998), no turismo, há uma diferenciação entre o sujeito e o objeto, pois enquanto o primeiro trata do turista, o segundo se refere aos bens e serviços turísticos (Beni, 2000).
Diante disso, cabe enfatizar que embora a fixidez do migrante seja sua marca, ela é complexa e não implica em imobilidade, pois, frente aos avanços tecnológicos, acesso à internet e das facilidades dos meios transportes, se mover tornou-se muito mais fácil. Tendo acesso às ferramentas tecnológicas, esse migrante pode se comunicar com qualquer pessoa em qualquer parte do mundo, bem como pode se deslocar em questões de horas, caso disponha de recursos.
Ampliando essa questão, King, Skeldon e Vullnetari (2008: 26) afirmam que “o custo da migração não é apenas financeiro, mas também humano e psicológico. [...] os custos de saída e se adaptar a uma nova cultura, da separação de longo prazo de família e amigos, de fugir de prisões etc.”. Percebendo-se que a ruptura com os laços deixados na cidade de origem é mais forte que a do turista, já que neste caso há um afastamento temporário.
As inquietações sobre migração e turismo emergem ainda mais, diante das inúmeras mudanças vivenciadas na contemporaneidade, dentre elas a compressão espaço-tempo (HARVEY, 2010) e a destemporalização do espaço social, ou seja, “o tempo já não estrutura o espaço. [...] o que conta é exatamente a habilidade de se mover e não ficar parado” (Bauman, 1998: 113), tornando assim, os limites entre os campos complexos e difusos.
Nesse sentido, mais um ponto é evidenciado, na migração a mobilidade é mais um meio do que um fim, já no turismo a mobilidade é mais um fim do que um meio. Pois no primeiro caso, a viagem/deslocamento vai ser um canal para a fixação no novo destino; e no segundo caso, a viagem/deslocamento é a sua finalidade principal.
Cabe ressaltar que esses aspectos devem ser analisados de modo conjunto, não isolados, tendo o cuidado ao distingui-los já que formam parte de um todo que é a mobilidade humana. Ademais, uma reflexão se faz necessária, que existem exceções em certos modelos de turismo mais endógenos e tipos de migração onde os sujeitos preferem formar guetos, optando por não interagir com a comunidade local.
Por fim, se compreende que, tanto a migração quanto o turismo, embora sejam movimentos globais, ocorrem em distintas escalas, variando de região para região. No caso específico deste estudo, analisa-se o caso do litoral turístico do Rio Grande do Norte, sendo possível observar esta dinâmica. A metodologia e os resultados serão discutidos a seguir.

3 METODOLOGIA

Vários autores recomendam a busca de novas abordagens para se pensar as novas mobilidades e o turismo, tais como Nechar & Panosso Netto (2010) e Hall, Williams & Lew (2014). Nesse sentido, esta pesquisa foi de abordagem qualitativa e, além de contar com um estudo bibliográfico, o objeto investigado foi aprofundado por meio de entrevistas com estrangeiros que residem no litoral oriental potiguar.
A nacionalidade dos entrevistados considerou dados secundários junto aos órgãos públicos no âmbito federal e estadual, pois, de acordo com os Censos Demográficos 2000 e 2010 realizados pelo IBGE, os três principais países emissores de turistas e de imigrantes para o Rio Grande do Norte foram Itália, Portugal e Espanha. Esses países europeus também estão entre aqueles que mais investiram no setor turístico e imobiliário do Estado potiguar. Outros critérios foram utilizados para selecionar voluntários: conseguir se comunicar em português e residir no mínimo há um ano nos municípios de Natal, Parnamirim ou Tibau do Sul, que foi o lócus dessa investigação, sendo considerados residentes e não turistas.
Para selecionar possíveis voluntários para a pesquisa, a técnica snowball sampling (bola de neve) foi utilizada. Segundo Babbie (2004), este procedimento é apropriado quando os membros de uma população especial são difíceis de localizar. Velasco e Díaz de Rada (1997) esclarecem que se trata de uma técnica de amostra não probabilística utilizada em pesquisas sociais onde os voluntários iniciais de um estudo indicam novos participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o objetivo proposto.
Nesta pesquisa, os membros iniciais foram imigrantes indicados por brasileiros. A partir dessa primeira cadeia de referência, foi solicitado que esses estrangeiros indicassem o nome e o contato de outros imigrantes, e assim sucessivamente. Foram entrevistados 14 italianos, 10 espanhóis e 7 portugueses. Os 31 voluntários concederam uma entrevista e a quantidade de respondentes, conforme orientações de Brinkmann (2013), esteve sensível à saturação temática.
O roteiro de entrevistas foi semiestruturado, pois a flexibilidade desse tipo de entrevista “possibilita um contato mais íntimo entre o entrevistador e o entrevistado, favorecendo assim a exploração em profundidade de seus saberes, bem como de suas representações, de suas crenças e valores” (Laville; Dionne, 1999: 188). As questões abordaram os motivos para o traslado e processo de adaptação no Brasil; as redes sociais dos imigrantes, as vivências de lazer e o desejo do retorno. As entrevistas foram gravadas e transcritas com o consentimento dos voluntários, através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) previamente aprovado pelo Comitê de Ética da universidade responsável pela pesquisa.
Visando preservar o anonimato dos entrevistados, cada um deles foi designado pelo nome de uma cidade localizada em seu país de origem. Assim, seus depoimentos serão referenciados pelo codinome aleatoriamente escolhido; seguido da idade; da letra M (quando se tratar de um homem) ou F (mulher); e da sua nacionalidade, representada por ITA (Itália), ESP (Espanha) ou POR (Portugal).
As informações coletadas nas entrevistadas foram transcritas e inseridas no programa Maxqda. Trata-se de um software que permite importar, organizar, analisar, visualizar e publicar diversas formas de dados que podem ser coletados eletronicamente ou não (Maxqda, 2016). O uso desse tipo de ferramenta em pesquisas qualitativas é defendido por Soares (2005), pois, permitem ler, codificar e classificar uma grande quantidade de informações, auxiliando no seu processamento e armazenagem. Ressalta-se que o software serve apenas como um recurso de apoio, já que a capacidade de organização e análise dos dados só é possível através do conhecimento da teoria que respalda a pesquisa e da capacidade analítica de quem pesquisa.
A partir dos aspectos mais frequentes nas entrevistas, foram definidas as categorias de análise, criadas a partir da teoria já existente, dos objetivos da pesquisa e das informações fornecidas pelos entrevistados. Após a sistematização e codificação dos dados, foi realizada uma análise interpretativa, que tem por finalidade "[...] tomar uma posição própria a respeito das ideias enunciadas, é superar a estrita mensagem do texto, é ler nas entrelinhas, é forçar o autor a um diálogo, é explorar a fecundidade das ideias expostas, é cotejá-las com outros, é dialogar com o autor” (Severino, 2007: 94).
Desse modo, a análise das informações coletadas focalizou os propósitos do estudo e contou com a produção bibliográfica sobre o tema aqui investigado: o aumento do fluxo turístico e migratório internacional no Rio Grande do Norte nos anos que antecederam a crise mundial de 2008, bem como as implicações desse crescimento na dinâmica social local, considerando especialmente o campo do turismo, conforme será tratado nos tópicos a seguir.

4 INTERNACIONALIZAÇÃO DOS INVESTIMENTOS E DA DEMANDA TURÍSTICA NO ESTADO POTIGUAR: O PAPEL DO PRODETUR/NE

Até 2000, a demanda de turistas estrangeiros era baixa e esporádica no Estado potiguar, esse público-alvo não era almejado, a promoção desse destino era incipiente e a infraestrutura turística era deficitária. Entretanto, esse cenário mudou profundamente: entre os anos 2002-2007, o número de visitantes quase triplicou, pois, os voos charters provenientes da Europa passaram a ser cada vez mais frequentes. O aumento desse fluxo turístico internacional pode ser dimensionado pela chegada de turistas no Rio Grande do Norte por vias de acesso, segundo Continentes e países de residência permanente. De acordo com os levantamentos feitos pela Infraero (2011; 2014), o movimento anual de aeronaves (pousos mais decolagens) registrado em 2006 contabilizou 984 voos não-regulares e 861 voos regulares, totalizando 1.845 voos internacionais, um índice surpreendente. Oriundos predominantemente da Europa, esses estrangeiros foram atraídos pelo clima, pela paisagem natural, pela proximidade com o continente europeu, pelo câmbio favorável e pela estabilidade econômica pela qual o Brasil vinha passando.
De acordo com os estudos realizados no decorrer desta pesquisa, o crescimento do fluxo turístico internacional no Rio Grande do Norte esteve diretamente relacionado com a implementação do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE). Esse programa foi criado em 1996, por iniciativa dos Governadores dos Estados do Nordeste do Brasil, com o apoio do Governo Federal e financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. O PRODETUR objetivou desenvolver e consolidar a atividade turística nessa região do país, valorizando o seu enorme potencial natural e, simultaneamente, garantindo a sua sustentabilidade socioeconômica. Outras políticas públicas comprometidas com o incremento do turismo regional também foram desenvolvidas, mas, como elas priorizaram o turismo doméstico, não serão aqui abordadas.
No Rio Grande do Norte, a primeira edição do PRODETUR/NE (1996-2002) atendeu seis municípios: Natal, Parnamirim, Ceará-Mirim, Nísia Floresta, Extremoz e Tibau do Sul. De acordo com Fonseca (2005), os recursos advindos desse programa foram direcionados para implementação de infraestrutura básica em três frentes de ação: desenvolvimento institucional (investimentos nos setores e departamentos administrativos, elaboração da base cartográfica e de planos diretores municipais), obras múltiplas (saneamento básico, recuperação ambiental e construção/melhoria de estradas), e aeroporto (ampliação/modernização do Aeroporto Internacional Augusto Severo).
Segundo Lopes e Alves (2015: 54), a segunda edição (PRODETUR/NE II) deu continuidade às obras da primeira fase do programa, procurando corrigir as falhas identificadas no decorrer do processo. Ademais, procurou dar um maior suporte à gestão e ao planejamento da atividade turística e incentivar maiores estratégias para o seu desenvolvimento institucional nos Estados e municípios do Nordeste do Brasil, como previsto na edição anterior. Buscou, também, fortalecer os Polos Turísticos de cada Estado, que, para isso, deveriam elaborar um Plano de Desenvolvimento do Turismo Integrado (PDITS). Porém, ao final dessas ações, dos cinco Polos Turísticos que compõem o Estado potiguar (Costa das Dunas, Costa Branca, Agreste/Trairi, Serrano e Seridó), os municípios do Polo Costa das Dunas foram os maiores beneficiados.
Depois de décadas de recessão, elevado índice da inflação e desemprego no Brasil, a segunda edição do PRODETUR/NE foi marcada por um período de estabilidade política e econômica, com a gestão do então presidente Lula da Silva (2003-2010). Durante o seu governo, o país conseguiu reduzir desigualdades sociais, teve consideráveis avanços econômicos, reforçou laços políticos e comerciais, sendo reconhecido e respeitado mundialmente. Dessa forma,

[…] parecía ser que con el gobierno de Lula da Silva (2003-2010) iba a convertirse en un lugar seguro para las inversiones turísticas extranjeras, lejos de crisis financieras y lejos de la inestabilidad climática. Además, Brasil con 8,5 millones de km² y 184 millones de habitantes (sexto país del mundo en cuanto a población) presentaba unas condiciones muy “interesantes” para el despliegue del negocio del ocio. (Mas, 2015: 313).

Os resultados positivos alcançados pelo PRODETUR/NE no final da primeira etapa foram potencializados na sua segunda fase, sendo esse programa fundamental para expandir o desenvolvimento do turismo internacional no Rio Grande do Norte e na região Nordeste em geral. Ao serem direcionados para a infraestrutura, os recursos desse programa atraíram investimentos públicos e também privados, sobretudo estrangeiros. A atividade turística antes concentrada em Natal foi ampliada nos municípios do entorno da capital potiguar e em Tibau do Sul, onde está localizada a famosa praia da Pipa. Como salienta Fonseca (2007), o PRODETUR/NE alavancou consideravelmente o turismo potiguar, com a internacionalização dos investimentos e da sua demanda turística.
Naquele período, muitas empresas turísticas/imobiliárias europeias procuravam diversificar seus investimentos turísticos e residenciais em novas áreas fora da Europa (Aledo et al., 2010). O Nordeste brasileiro acabou tornando-se, assim, um dos alvos dos investidores europeus.

[…] diversas razones explican el gran interés por invertir en el país [Brasil]: los turistas procuran cada vez más diversificar esta actividad y buscar otros contextos socioculturales; el aumento de la oferta de vuelos internacionales hacia el país, unido a la mejora de la estructura aeroportuaria especialmente en la región Nordeste; la competitividad de los precios brasileños comparados con destinos tradicionales como España; y el proceso de degradación socio-ambiental vivido en otras localidades. (Aledo et al, 2011: 781).

Segundo Silva & Fonseca (2012: 112), boa parte dos investimentos que foram efetuados por muitos estrangeiros era caracterizada “pela associação da hotelaria, segundas residências e áreas de lazer no mesmo empreendimento, exigindo grandes extensões de terra”. Tratava-se, principalmente, de projetos de grandes complexos residenciais, incluindo espaços recreativos, segurança privada e dotados de infraestrutura hoteleira em áreas valorizadas pelo turismo. O litoral nordestino apresentava as condições ideais para atrair investimentos internacionais, e grandiosos projetos turísticos e imobiliários foram preparados. O prenúncio de megaeventos esportivos como a Copa do Mundo FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 indicava que o Brasil era o novo “Eldorado” turístico-imobiliário mundial (Mas, 2015).
Muitos estrangeiros adquiriam terrenos, casas e hotéis no Rio Grande do Norte com o intuito de desenvolver negócios turísticos associados ao lazer e ao descanso, com possibilidade de desfrutar de um clima agradável naquele “paraíso tropical”. O governo local ofereceu vantagens atrativas para esses investidores, tais como a isenção ou diminuição de tributos fiscais e mínimo de exigências socioambientais.
Esse cenário aparentemente promissor, contudo, afetou sobremaneira a dinâmica local. Em decorrência desses investimentos financeiros, o preço do solo foi supervalorizado e a especulação imobiliária aumentou expressivamente, sobretudo porque esse setor demandava poucos gastos adicionais, tais como permissões para edificar, construção de algumas infraestruturas e, especialmente, marketing (Cañada, 2012).
Essas não foram as únicas consequências que impactaram a dinâmica social local, pois, muitos estrangeiros que adquiriram bens turísticos e investiram no mercado potiguar estavam interessados em “lavar” o dinheiro obtido em atividades ilícitas e criminosas, como o narcotráfico e o tráfico de mulheres. Esse procedimento tenta ocultar a origem ilegal do capital principalmente por três vias: vinculando o dinheiro ilícito ao capital legal de uma empresa, que é incluído na receita desta, por meio da criação de empresas de fachada que funcionam somente para esta prática, e pela aquisição de imóveis. Nesse sentido:

El turismo y la construcción se han beneficiado muy directamente del blanqueo de dinero procedente del fraude fiscal y la economía criminal (narcotráfico, prostitución, juego). Capitales de origen ilícito depositados en paraísos fiscales han sido la base de financiamiento de no pocos emprendimientos turístico-residenciales construidos en los últimos años en la región. (Cañada, 2012: 47)

Dessa maneira, os investimentos de capital estrangeiro e a internacionalização do fluxo turístico no Rio Grande do Norte potencializaram vários problemas, como a especulação imobiliária, a lavagem de dinheiro, o narcotráfico, a prostituição não apenas de mulheres, mas também de crianças e adolescentes, o tráfico de mulheres, a prática de crimes e de diferentes atividades ilícitas. As atividades desse lucrativo negócio concentravam-se em Natal, especialmente nos territórios dominados pelos “gringos”, e envolvia bares, meios de hospedagem, taxistas e agências europeias de turismo. Elas eram praticadas nos locais próximos dos equipamentos turísticos e das vias que dão acesso à Ponta Negra, o principal bairro turístico da cidade, onde era comum a circulação de pessoas prostituídas e de usuários de drogas. Essa situação acabou “expulsando” para outros bairros da cidade os residentes (e turistas) que não tinham interesse nesse tipo de atividade.
Alguns casos foram deflagrados pela Polícia Federal e noticiados na mídia, culminando no desmantelamento de organizações criminosas transnacionais, geralmente instaladas em Natal, ligadas a diversos grupos mafiosos. Para contextualizar esses fatos e destacar sua influência na dinâmica local, bem como no turismo no Estado potiguar, três dessas operações serão citadas.
A “Operação Corona” foi realizada no ano de 2005. A Polícia Federal no Rio Grande do Norte, com o apoio do Ministério Público Federal e da Justiça Federal, prendeu 15 pessoas (seis italianos, oito brasileiros e um uruguaio) por lavagem de dinheiro e prática de outros crimes, tais como o aliciamento e tráfico de mulheres para o exterior (Sevilha/Espanha), com a finalidade de exploração sexual. Para isso, essa organização contava com uma boate (prostíbulo), dois bares, uma loja no principal Shopping Center da cidade e uma pousada.
A segunda operação foi denominada de “Paraíso”. Deflagrada em 2007, foi realizada em parceria com Polícia da Noruega, contabilizando 11 mandados de prisão e 33 mandados de busca e apreensão no Rio Grande do Norte e na Paraíba. Um grupo criminoso norueguês atuava no Estado potiguar desde 2002 e lavava dinheiro por meio de investimentos no mercado imobiliário, através da aquisição de diversos hotéis e condomínios no litoral de Natal, Parnamirim e Nísia Floresta.
“Cristal” foi uma ação policial realizada em cooperação com a Espanha, em 2009. Foram detidas 27 pessoas acusadas dos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, tráfico internacional de drogas, associação e financiamento ao tráfico, crime contra o sistema financeiro nacional e organização criminosa. O grupo mantinha uma estrutura empresarial formada por bares, restaurantes, construtoras, imóveis e escolas com o objetivo de lavar os recursos obtidos ilicitamente com o narcotráfico no exterior. Era chefiada por um espanhol, mas continha integrantes italianos, brasileiros e cubanos.
Os crimes revelados por essas operações policiais geraram reações xenofóbicas em uma parcela da população local, que demonstrou hostilidade aos turistas e residentes estrangeiros – afinal, qualquer um deles poderia estar envolvido. Ademais, a repercussão nacional e principalmente internacional acabou comprometendo a imagem do destino potiguar e sua demanda turística ao longo dos últimos anos.
Ser um destino com a marca de “sexo e turismo” desencadeia uma série de consequências negativas, tais como a suposição de que todas as mulheres daquele local são prostitutas, o aumento da exploração sexual infanto-juvenil, da pedofilia e do tráfico internacional de mulheres. Essa imagem foi atrelada ao Rio Grande do Norte e ao Nordeste do Brasil, em geral, onde supostamente se poderia ter contato com belas mulheres visando obter sexo fácil e barato (Bignami, 2005). Os turistas estrangeiros adeptos dessa prática divulgavam suas experiências quando regressavam aos seus países, instigando a curiosidade e despertando o interesse de outras pessoas. A contragosto da população local, esse tipo de atividade foi sendo fomentada (Laranjeira, 2012) e reforçava a imagem do Brasil, do Nordeste e do Rio Grande do Norte como paraísos turísticos onde tudo era permitido. Visando combater esse problema, órgãos públicos e algumas organizações não governamentais (ONG’s) realizaram ações no aeroporto, nos meios de hospedagens e demais equipamentos turísticos de Natal.
Obviamente, não se pode generalizar a motivação e o interesse de todos os turistas estrangeiros que visitaram o Estado potiguar. Segundo o Estudo da Demanda Turística Internacional 2004-2010 do destino Natal/RN (MTUR, 2011), a principal motivação desses turistas foi o lazer, visto como possibilidade de desfrutar “sol e praia”. O destino foi recomendado por amigos e familiares, reforçando assim, a importância da propaganda boca-a-boca. Pacotes turísticos que incluíam serviços ligados à organização e execução da viagem foram amplamente comercializados no período abrangido pelo estudo. Os estrangeiros se hospedaram majoritariamente em hotéis, flats ou pousadas, permanecendo uma média de 15 dias. A maioria desses estrangeiros era composta por homens na faixa etária de 41 a 50 anos, com formação de ensino superior e uma renda mensal média de 3.000€. Com relação ao grau de satisfação da sua experiência turística, a maioria afirmou estar plenamente satisfeita. Quase todos os participantes desse estudo (96%) manifestaram a intenção de retornar ao Brasil em outra oportunidade.
Percebe-se, assim, que o destino foi bem avaliado e teve um forte crescimento internacional até 2007. No entanto, a crise financeira iniciada nos Estados Unidos em 2008 afetou todo o mercado mundial, em especial o setor imobiliário e de construção civil.

La crisis tuvo una rápida e intensa incidencia en los sectores de la construcción e inmobiliario. Y grandes grupos de la construcción e inmobiliarios protagonizaron las mayores quiebras conocidas hasta la fecha. El colapso de la producción inmobiliaria no hacía nada más que comenzar y a partir de ese momento se fue acentuado. La explosión de la burbuja afectó tanto a la construcción de nuevas viviendas que fueron descendiendo en picado. (Mas, 2015: 384).

Essa crise econômica repercutiu diretamente na dinâmica imobiliária e turística do Estado potiguar, pois, em momentos vulneráveis, o capital turístico move-se para outros territórios mais lucrativos, reproduzindo a mesma dinâmica em outros destinos (Cañada, 2012). Com o declínio dos investimentos, muitos empreendimentos ficaram inacabados, vários projetos de grande porte permaneceram no papel e outros foram redirecionados para o mercado nacional. Construções em áreas proibidas que exigiam intervenções de caráter estrutural foram interrompidas, ignorando os riscos e impactos gerados, tais como degradação ambiental, transformação da paisagem de comunidades litorâneas, refuncionalização dos modos de produção e vulnerabilidade econômica (Aledo et al, 2010; Fonseca, 2015).
Embora o fluxo turístico internacional no Rio Grande do Norte tenha registrado um declínio substancial a partir de 2008, não foi inibido por completo, pois o Estado continua recebendo turistas oriundos da Europa, com voos regulares operados pela companhia aérea portuguesa TAP. Muitos desses europeus, outrora turistas e/ou investidores, fixaram residência no litoral potiguar. De que maneira esses imigrantes estabelecem suas redes sociais e interagem com a população potiguar? Segundo a percepção desses estrangeiros, quais foram as consequências da internacionalização desenfreada do turismo na dinâmica social local? Eles são afetados por isso? Esse assunto será abordado a seguir.

5 TECENDO REDES SOCIAIS NO CONTEXTO MIGRATÓRIO POTIGUAR

Mobilidades internacionais indicam a existência de redes sociais entre pessoas, sejam ou não de mesma nacionalidade, o que pode ter contribuído para que os fluxos turísticos e migratórios permanecessem no Estado potiguar mesmo após a crise mundial de 2008. Os laços estabelecidos entre os sujeitos que compõem uma rede migratória facilitam as trocas de informações (Hagan, 1998; Soares, 2002), produzindo territórios onde é possível compartilhar experiências. Junto a essa rede social, há recursos materiais e imateriais, conhecimentos, sistemas de comunicação e serviços de transportes que viabilizam a migração internacional.
No que diz respeito às redes sociais dos entrevistados, alguns imigrantes afirmaram ter dificuldades em estabelecer vínculos com os brasileiros. Os laços constituídos entre eles são fracos, ou seja, “são caracterizados por relações esparsas que envolvem um menor consumo de tempo e de emoções, menor intimidade e reciprocidade” (Brandão, 2010: 59).
Essa dificuldade foi explicada da seguinte maneira:

A palavra amizade é complicada. Ninguém é amigo de ninguém. As minhas verdadeiras amizades estão lá, só lá. Aqui tenho amigos, mas claramente amigos que você faz pra, como posso dizer? Por conveniência. Até hoje, graças a Deus, não precisei pedir ajuda, mas não sei quantos viriam me socorrer. Mas para o social tenho, tenho amigos, converso, saio. Quando treino, assim, reúno com o professor, com a turma que a gente treina junto, e vamos tomar uma [cerveja]. (Milão, 49, M, ITA)

Vamos dizer, a gente se acostumar a cidade, com o costume da gente, foi um pouco complicado pelo fato do preconceito que o povo natalense tem com os estrangeiros, muito complicado. Até hoje, depois de três anos, não tenho nenhum amigo brasileiro. Tenho, agora tenho sim. Depois de três anos posso dizer que sim, não são muitos amigos, mas são conhecidos. (Turim, 37, M, ITA)

O primeiro depoimento registra que as relações são constituídas devido a interesses mais utilitários, para que algumas atividades sociais possam ser desenvolvidas. Isso, no entanto, não chega a ser visto como amizade. Os vínculos que requerem mais compromisso, proximidade e intensidade emocional são inexistentes, pois, o entrevistado não conhece ninguém no Brasil a quem poderia atribuir essas qualidades.
O segundo entrevistado destaca que, por ser estrangeiro, percebe que é rejeitado por alguns natalenses. Segundo Bignami (2002), os brasileiros são conhecidos como um povo que acolhe bem o estrangeiro, o que não acontece nesse caso. Por certo, a reação xenofóbica é decorrente do passado recente vivido no estado potiguar, como foi salientado no tópico anterior. O comportamento de norte-rio-grandenses indica que muitos generalizam seu descontentamento com os crimes e atividades ilícitas praticadas por alguns estrangeiros como se todos fossem perversos e sem caráter, culminando em hostilidade generalizada aos imigrantes.
Constatou-se, também, que a integração entre os imigrantes e seus compatriotas em território brasileiro é mínima. Independentemente da nacionalidade, muitos deles afirmaram que até conhecem e cumprimentam alguns conterrâneos, mas isso não chega a constituir relações de amizade. Alguns entrevistados justificam esse comportamento com o receio de que outros estrangeiros podem, em algum momento, ter se envolvido com o chamado “turismo sexual” ou com outras atividades ilícitas. Foram severas as críticas a esse perfil de estrangeiro, numa tentativa de não ser associado a condutas consideradas desprezíveis. Para isso, reforçaram que vieram ao Brasil para trabalhar, para investir e/ou para mudar o estilo de vida.
Além disso, muitos constituíram família no Brasil e, por isso, pretendiam preservar uma imagem moralmente correta, adequada e aceita pela sociedade brasileira. Essas impressões podem ser verificadas no que foi enunciado pelos próprios estrangeiros:

Não gosto muito de me relacionar com espanhóis. Não gosto de espanhóis. Não dos que estão aqui. (Zaragoza, 41, M, ESP).

Conheço todos, chamo de amigos, no sentido de uma amizade assim superficial. São todos diferentes. Todos moram aqui, tem dinheiro que chove do céu e fala mal de Natal, então não pode ficar comigo. São pessoas que não gostam daqui, mas estão aqui a força, não por livre escolha. Deve ter algum motivo que eu não quero nem saber. Uma pessoa que fala mal de um canto onde mora, pegue o ônibus e vá embora. Deve ter algum motivo pra pessoa estar, pessoas que fizeram alguma coisa de errado lá, que não podem voltar. Dizem que amam tanto a Itália, mas ficam aqui? Eu não entendo isso. (Parma, 44, M, ITA)

Não, não tive interesse, até porque aqueles poucos italianos que conheci estavam casados com brasileiras e eu percebi que elas ... hummm, porque eles queriam uma permissão [de residência] e eu não me encaixava. (Veneza, 56, F, ITA)

Os trechos revelam que os entrevistados, independentemente da sua nacionalidade, até conhecem seus conterrâneos, mas deixam claro que não existe uma maior aproximação, intimidade ou reciprocidade com outros compatriotas, chegando inclusive a desqualificá-los.
A partir das entrevistas é possível inferir que existe outro tipo de imigrante, considerado enganador, desleal, desonesto e envolvido com questões ilegais, que além disso, não tem receio em manchar a imagem da cidade que os acolheu. Essa situação foi mencionada por vários entrevistados como algo incômodo e constrangedor: no decorrer de suas falas, fizeram questão de reiterar que são diferentes, ratificando esse caráter de distinção.
Faz-se pertinente destacar, ainda, que muitos entrevistados disseram que diversos imigrantes estavam envolvidos com práticas diretamente relacionadas à prostituição no Estado potiguar. Ademais se observa no depoimento anterior de Veneza (56, F, ITA), a entrevistada sugere que muitas mulheres eram vulgares, e que diversos estrangeiros haviam se casado com prostitutas brasileiras. Sendo relacionamentos pautados em outros interesses, como a obtenção de visto de permanência. Ela afirmou ser diferente dessas mulheres e não se enquadrar nesse perfil.
Muitos entrevistados também enfatizaram que vários turistas estrangeiros foram atraídos pelo binômio “sexo e turismo” e que, inclusive, alguns deles fixaram residência no litoral potiguar. Dos 31 entrevistados, 20 pessoas, em algum momento da sua entrevista, fizeram menção a esse tema.

Tinha sim, verdadeiramente e infelizmente, muito turismo sexual para Natal também. Infelizmente. Eu reconheço que, no grupo que eu vinha, ficava triste, porque de manhã já estavam pensando como iria ser a noite para fazer.... Infelizmente. Fiquei muito, muito triste. E além disso, não entendia, porque era uma coisa que tem perto de casa, em qualquer parte do mundo e fiquei... vai fazer negócios e fazer essa história... e você ia pela rua e via os homens agarrando duas ou três meninas. Mas vinha muito, muito, muitos investidores.  [...]. Naquele tempo, cliente de Natal, era um cliente que buscava sexo [sussurrando]. E foi um ponto de sexo de Natal horrível, horrível. Era um perfil homem. Muito feio. Horrível. Aqui em Pipa, não. Graças a Deus, vinha outro perfil. (Córdoba, 40, M, ESP)

Quando eu cheguei aqui, em 2009, era aquela época que ainda tinha muitos europeus aqui, aquele turismo sexual, também, né?! A realidade era essa, naquela época. E pelo fato de eu ser estrangeiro, eles me identificavam e... espanhol, eles me identificavam como isso aí, inclusive algumas vezes eu tive o acesso barrado a um local, por conta de eu ser espanhol. Locais importantes de Ponta Negra. Eu não tô falando de uma boatezinha, não. “Você é espanhol, você não pode entrar, porque não aceitamos gringos, porque vocês só procuram turismo sexual”. Mas eu tô com a minha esposa! Não, isso é um fato desagradável. (Pamplona, 38, M, ESP)

Eu vou ser bem sincero, melhorou muito. Melhorou muito em que sentido? Eu vou ser bem direto, quando o turista estrangeiro vem aqui é claro que o clima, mas também a beleza do lugar é a mulher, a mulher brasileira. Infelizmente, muita mulher era... a mulher que fazia programa, não estou dizendo a gente adulto, por exemplo, só que teve um momento que este negócio de estrangeiro que vinha, era muito pesado. Você é casado com brasileira, com filho brasileiro, este casal estrangeiro em qualquer tipo de restaurante ou lugar fica constrangido com comportamento de outro estrangeiro. Graças a Deus, você está vendo, não tem, não tem mais esse povo aqui, ficaram muito mais espanhol, italiano e português que ficaram como residente, e teve família normal. (Trieste, 50, M, ITA)

Eu acho que Natal é uma cidade muito racista com os europeus, com os estrangeiros em geral. Eu não sei se isso se deve a esse passado recente de Natal, onde os europeus, eu creio que não fizeram boas coisas aqui. Então há uma rejeição importante ao europeu, e eu nunca me senti tão rejeitado como me sinto aqui em Natal. Isso porque já morei em muitos lugares e eu nunca me senti tão rejeitado como tenho me sentido aqui em Natal. Em certos estratos sociais, em certos eu tenho sentido uma rejeição, uma desconfiança. (Bilbao, 46, M, ESP)

Os depoimentos revelam pontos que auxiliam a compreensão do fluxo internacional no Estado potiguar. Os estrangeiros tinham os mais variados interesses: investidores que também consumiam o serviço de prostituição; investidores que além de consumir também geriam esse tipo de negócio, ampliando esse mercado; o que é exclusivamente investidor; e os demais turistas que tem outras motivações. Isso resultou na rejeição por parte de outros turistas, que buscavam outro tipo de turismo, e comprometeu essa demanda, direcionando-a para outros destinos.
Como resultado, surge o terceiro ponto, rejeição aos estrangeiros, com atitudes hostis por parte da população local, indignada por eles residirem em Natal, já que muitos potiguares se sentiram agredidos pelo comportamento de um determinado tipo de turista. Gerando situações constrangedoras entre o recém-chegado e os estabelecidos, e até impedimentos no acesso desses imigrantes a determinados locais. Essa situação implicou em uma notória necessidade dos entrevistados se auto afirmarem como distintos desses tipos de estrangeiros. Dessa forma, ressalta-se que os mesmos merecem ser tratados com respeito, preservando suas individualidades e não serem discriminados pelo fato de não serem brasileiros.
Outra questão diz respeito à forma como a relação “sexo e turismo” foi tratada pelos entrevistados. Muitos nem gostam de usar esse termo e seus derivados, às vezes, falando em baixo tom de voz e outros momentos utilizando expressões que pudessem ser associadas a isso, como: “fazer essa história” (Córdoba, 40, M, ESP), “este negócio que estrangeiro que vinha, era muito pesado” (Trieste, 50, M, ITA), “eles me identificavam como isso aí” (Pamplona, 38, M, ESP). Muitos manifestaram desdém pela prostituição, o que reforça que eles são contrários a essa prática, inclusive clamando “graças a Deus” (Córdoba, 40, M, ESP) pela sua diminuição, nos últimos anos.
O imaginário social em torno da mulher brasileira é mais um aspecto a ser aqui discutido. Ela é representada como erotizada, exótica, liberada moral e sexualmente. Segundo Freyre (2006), essa imagem começou a ser construída no período colonial pelo próprio colonizador, que detinha o poder sobre tudo, inclusive sobre as mulheres.

(...) a mulher morena tem sido a preferida dos portugueses para o amor, pelo menos para o amor físico. A moda da mulher loura, limitada aliás às classes altas, terá sido antes a repercussão de influências exteriores do que a expressão de genuíno gosto nacional. Com relação ao Brasil, que o diga o ditado: ‘Branca para casar, mulata para f..., negra para trabalhar’; ditado em que se sente, ao lado do convencionalismo social da superioridade da mulher branca e da inferioridade da preta, a preferência sexual pela mulata. Aliás o nosso lirismo amoroso não revela outra tendência, senão a glorificação da mulata, da cabocla, da morena celebrada pela beleza dos seus olhos, pela alvura dos seus dentes, pelos seus dengues, quindins e embelegos muitos mais do que as “virgens pálidas” e as “louras donzelas”. (Freyre, 2006: 71-72)

Apesar de não ser unânime entre os estudiosos – por retratar um Brasil que corresponde aos interesses da elite aristocrata brasileira e por defender um processo colonizador harmonioso e sem conflitos entre os povos que aqui viviam –, Freyre valorizava a mestiçagem e afirmava ser este um fator positivo da cultura brasileira. Dessa mestiçagem surgiu a mulata, essa mulher representada como a “típica brasileira” que possui os seguintes atributos, por ele detalhados: a mais bela, cheia de encantos e sedução, que possui um lugar de destaque frente às negras e às brancas, pois é a melhor para se manter relações sexuais.
Progressivamente, essa imagem foi se estabelecendo no imaginário coletivo, como se fosse parte da identidade nacional e, ao mesmo tempo, um elemento atrativo para o turismo do Brasil. De acordo Bignami (2002: 123), essa é uma forma, mesmo que velada, de tentar atrair turistas, “é a da sensualidade, o País sendo considerado um lugar onde a prática sexual é livre, fácil e desenfreada”.
Dentro desse imaginário, Ouriques (2005) acrescenta que além da busca pelo prazer sexual e da simples troca monetária, os estrangeiros buscam afeto nessas relações, uma vez que para os turistas, as mulheres dos países periféricos são vistas como “carinhosas”, “compreensivas” e “calorosas”. O autor complementa:

O sexo é assim um produto de exportação consumido localmente. Embora pareça ser contraditório, queremos enfatizar aqui que nos países centrais existe um “imaginário” sobre as viagens à periferia, associando-a aos encontros prazerosos, ou seja, é exportada a ideia, socialmente construída, de que a periferia é um “jardim das delícias”. (Ouriques, 2005: 108).

Evidencia-se assim, que os atributos físicos e o comportamento das mulheres brasileiras são um atrativo turístico, o que, por conseguinte, gerou diversos estereótipos que nem sempre correspondem à realidade. Por isso, muitas brasileiras são assediadas por estrangeiros apenas pelo fato de serem brasileiras, estejam ou não circulando em zonas turísticas ou em territórios de prostituição. Segundo os entrevistados, os turistas que mais desenvolviam essa prática em Natal eram provenientes do norte da Europa (Suécia e Noruega) e da Itália.
Ratifica-se assim, que, embora a prostituição já existisse no litoral potiguar, a internacionalização do turismo intensificou essa prática. A vinda de estrangeiros envolvidos com essa prática, e a posterior fixação de alguns deles em Natal, dificultou a criação de laços sociais entre muitos imigrantes que tinham outros interesses. Percebe-se que que eles, em sua maioria, se reconhecem, mas se distinguem e por isso não querem cultivar relações de proximidade.
Há, no entanto, alguns que desenvolveram amizade com seus conterrâneos e afirmaram que esse vínculo foi originado no ambiente de trabalho ou foi decorrente do ambiente familiar. Isso inclui poucas pessoas, em média duas ou três. “Uma relação e quase parentesco, porque meu concunhado. Outras relações são de trabalho e amizade” (Florença, 33, F, ITA). “Tenho poucos amigos espanhóis e me relaciono com eles como amigos, vamos ao cinema, almoçar, e além do mais são sócios” (Barcelona, 44, M, ESP).
Observa-se assim, que o estabelecimento de redes sociais é importante tanto no processo migratório quanto na fixação desse imigrante e que esses vínculos contribuirão para uma melhor adaptação no novo contexto local.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta investigação partiu das inquietações que o tema imigração e turismo internacional suscita. Sabe-se que a migração de espanhóis, italianos e portugueses na costa litorânea nordestina do Brasil, e precisamente no Rio Grande do Norte, não se assemelha a nenhum outro movimento migratório vivido em tempos passados, e foi incorporada a partir da propagação do turismo internacional nos primeiros anos do século XXI.
As razões que potencializaram o fluxo turístico e migratório internacional no Rio Grande do Norte nos anos que antecederam a crise mundial de 2008 foram, em linhas gerais, devido principalmente a elaboração de políticas públicas que subsidiaram a vinda desses estrangeiros, atrelada a localização estratégica do Rio Grande do Norte – com um número significativo de voos regulares –; ao clima e belezas naturais; ao valor do câmbio; e estabilidade econômica pela qual o Brasil vinha passado e perspectiva de crescimento. Esse cenário favoreceu o desenvolvimento da atividade turística, bem como ao investimento de capital estrangeiro – uma realidade nas áreas periféricas do sistema econômico – e a expansão do setor turístico imobiliário. Ressalta-se assim, que esse fenômeno só pode ser compreendido de maneira associada a esse conjunto de fatores diversos: econômicos, políticos, ambientais e socioculturais.
Alusiva as implicações desse crescimento do fluxo internacional na dinâmica social local, observou-se algumas relações conflituosas, principalmente no que concerne às relações entre os compatriotas – já que muitos grupos de estrangeiros vieram para o Estado potiguar se envolver com atividades ilícitas e prostituição, e os imigrantes entrevistados ratificaram por diversas vezes sua distinção com relação a esses sujeitos e que apresentam compromisso com a sociedade em que vivem, sendo avesso a esses tipos de práticas.
Em menor grau também se diagnosticou resistências em desenvolver vínculos com brasileiros – quer seja pelo jeitinho brasileiro, atitudes xenofóbicas por parte dos locais ou diferenças culturais; no entanto, aqueles que desenvolveram proximidades com os nativos, em grande parte, se deu por influência de amigos em comum.
Constatou-se que a mobilidade turística contribuiu com a mobilidade imigratória, uma vez que grande parte dos estrangeiros esteve no país primeiramente como turista e essa experiência – avaliada positivamente – foi um dos fatores que contribuiu na tomada de decisão de migrar.
No que se refere especialmente o campo do turismo, constatou-se que a imigração permitiu que outros estrangeiros, conhecessem o litoral potiguar, e que essa experiência turística, foi facilitada devido a indicação e o convite desse imigrante para um amigo e/ou familiar. Por outro lado, existe a circulação dos imigrantes até o seu país de origem, quer seja por motivo de lazer, saúde e/ou trabalho, apontando assim para a existência e continuidade desses fluxos internacionais, porém esse cenário não permite afirmar de modo contundente que essa relação é fértil, até porque trata-se de uma imigração recente no Rio Grande do Norte, com menos de 10 anos, acredita-se que a médio prazo essa tendência poderá ser constatada.
Sabe-se que é difícil fazer previsões sobre o futuro desse fenômeno, uma vez que se vive nesse mundo de incertezas, da fluidez do capital e precisamente da instabilidade política pela qual vem passando o Brasil, mas pode-se afirmar que esse é um movimento contínuo ao longo da vida, e que as redes sociais estabelecidas podem permitir que esse fluxo permaneça, uma vez que mesmo diante da crise mundial de 2008, a turismo e a imigração não cessaram no litoral oriental potiguar. Acredita-se que agregado ao conjunto de fatores citados, a combinação do clima e da natureza, a fuga do urbano e a localização geográfica do estado permitiram que esses fluxos permanecessem.
Ademais acredita-se essas mobilidades vão se avolumar, principalmente pelas mudanças climáticas, intensificação da globalização, o avanço da tecnologia e da flexibilização do trabalho, devendo-se aprofundar pesquisas sobre esse tema e preparar as comunidades locais para essa nova tendência mundial.

Referências

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* Professora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Doutora em Estudos do Lazer pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre e Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa LUCE – Ludicidade, Cultura e Educação (UFMG/CNPq) e do GET – Grupo de Estudos Turísticos (UERN/CNPq). Participou do Programa Doutorado Sanduiche no Exterior na Universidade de Alicante/ Espanha com bolsa CAPES (2017 - Processo nº 88881.131526/2016-01).
** Professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Pesquisadora do CNPq (Produtividade em Pesquisa) e da FAPEMIG (PPM). Líder do Grupo de Pesquisa LUCE. Doutora em Educação pela UFMG, Brasil, com Pós-doutorado em Ciências Políticas e Sociais pela Universidade Nacional de Cuyo, Argentina. Realizou Estagio Sênior na Universidade de Barcelona com Bolsa CAPES (2017-2018, Processo nº 88881.118999/2016-01).


Recibido: Febrero 2019 Aceptado: Junio 2019 Publicado: 19 de junio 2019

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