Elias José Mediotte
Especialista em MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela Universidade FUMEC. Mestrando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa – UFV. Membro Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Gestão e Desenvolvimento de Territórios Criativos (GDTeC), Brasil. E-mail: eliasmediotte@gmail.com.
RESUMO
O objetivo  do artigo é caracterizar os estudos sobre implementação de políticas públicas a  partir dos estudos clássicos e contemporâneos, no contexto do turismo. Dentro  do contexto do turismo no Brasil, o histórico dos estudos em políticas públicas  é muito recente, pois somente após os anos de 1990, quando o turismo começou a  se legitimar no país, as pesquisas começaram a procurar compreendê-lo enquanto  um objeto de estudos da Administração Pública. A implementação é uma etapa que  possibilita identificar bases sobre as orientações específicas para a gestão  permanente do turismo, e neste caso entende-se que a política pública do  turismo está inter-relacionada com outras bases políticas, como econômicas,  sociais, de saúde, educação, emprego e renda, e outras. Portanto, estão  presentes neste artigo reflexões a respeito da implementação de políticas  públicas, a partir da contextualização de teorias que abarcam desde o modelo  racional ao conceito de bem-estar social, de forma integrativa, às importantes  áreas da Administração Pública, como a teoria do Equilíbrio Pontuado e as  formas de implementação Top-down e Bottom-up no contexto dos estudos do  turismo.
Palavras-chave: Turismo. Implementação de Políticas Públicas. Welfare State. Equilíbrio Pontuado. Políticas Top-down e Bottom-up.
APPROACHES TO CLASSICAL AND CONTEMPORARY THEORIES IN PUBLIC ADMINISTRATION STUDIES UNDER THE PERSPECTIVE OF THE IMPLEMENTATION OF TOURISM POLICIES
ABSTRACT
  The  objective of this article is to characterize studies on the implementation of  public policies from the classic and contemporary studies in the context of  tourism. Within the context of tourism in Brazil, the history of studies in  public policies is very recent, since only after the 1990s, when tourism began  to legitimize itself in the country, research began to seek to understand it as  an object of study of Public Administration. The implementation is a stage that  allows to identify bases on the specific guidelines for the permanent  management of tourism, and in this case it is understood that the public policy  of tourism is interrelated with other political bases, such as economic,  social, health, education, employment and income, and others. Therefore,  reflections on the implementation of public policies, from the  contextualisation of theories that range from the rational model to the concept  of social well-being, in an integrative way, to the important areas of Public  Administration, such as the theory of Punctuated Equilibrium and the Top-down  and Bottom-up implementation forms in the context of tourism studies.
Keywords: Tourism. Implementation of Public Policies. Welfare State. Punctuated Equilibrium. Top-down and Bottom-up Policies.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: 
Elias José  Mediotte (2019): “Aproximações das teorias clássicas e contemporâneas nos  estudos da Administração Pública sob a perspectiva da implementação de  políticas de turismo”, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 26 (junio/junho  2019). En línea: 
  https://www.eumed.net/rev/turydes/26/politicas-turismo.html
  http://hdl.handle.net/20.500.11763/turydes26politicas-turismo
Com relação à Análise  de Políticas Públicas, pode-se afirmar que esse processo envolve diversas  abordagens, que visam a interpretação das causas e consequências relativas às  ações do governo. De acordo com Wildavsky (1979), a Análise de Políticas  Públicas é uma subárea aplicada, tendo em vista que ela abrange uma abordagem  mais apropriada no que concerne ao contexto e à natureza de um problema.  Portanto, esse processo visa compreender o que fazem os governos, por que  fazem, e quais os resultados ocorrem a partir dessa ação (DYE, 1976).  
   Vale ressaltar que uma  política pública pode influenciar a vida daqueles atingidos por problemas, de  domínio público e político, os quais envolvem vários grupos sociais, bem como  as ações dos policy makers 1 ao serem confrontados diante desses problemas.
   Cabe salientar que o  estudo de políticas públicas remete às relações entre Estado, a economia, a  sociedade e a política. Partindo dessa observação, entende-se que o bem-estar  social seja uma garantia à sociedade no que tange políticas sociais, que visem  o exercício da cidadania, inclusão social através de oportunidades iguais a  todas as pessoas, sem distinções de classes sociais. 
   Embora haja um dissenso  sobre o conceito de políticas sociais, pode-se deduzir que exista uma aproximação  com a concepção de cidadania. Portanto, os direitos sociais provenientes das  políticas públicas, se aproximam ao contexto da cidadania a medida que todos os  indivíduos tenham acesso aos mesmos bens e serviços sociais de forma  igualitária (MARSHALL, 1967).
   Tendo em vista que o processo de tomada de  decisão por políticas envolve uma série de informações e alternativas, e que  tanto o sistema político quanto o humano não são capazes de analisar todas  essas demandas de forma absoluta (SIMON, 1957; 1983), entende-se que é preciso  haver um equilíbrio entre os subsistemas que compõem o sistema político, de  forma que os policy makers procurem  mover as suas ações através das alternativas suficientemente boas, não  necessariamente ótimas, em virtude dos efeitos ocasionados pelas suas ações. 
   Com  relação ao processo de implementação de políticas públicas, entende-se que este  seja o momento de decisão e de execução de uma política pública. É, de fato,  quando os stakeholders, grupo  constituído pelos atores governamentais e não governamentais, compartilham  ideias, recursos e ações em relação à implementação de políticas, e também  quando o poder e a influência são combinados. 
   No  turismo, após a discussão na agenda pública, e a etapa de formulação das  políticas que visem o desenvolvimento turístico, cabe então implementá-las.  Torna-se portanto necessário observar que nesta etapa o grau de interesses,  consensos e conflitos, além das possibilidades de mudanças pontuais ou globais,  será mais proeminente. Nesta etapa, os detentores de poder e influência social  ou política, poderão intervir, através de seus interesses, comprometendo o  desempenho de uma política pública. Sendo assim, entende-se que a implementação  de políticas de turismo possa ser caracterizada como um jogo de interesses, no  qual uma rede entre agências institucionalizadas de turismo e os stakeholders promovem situações de  negociação e adesão, ao ponto em que uma política se torne um objeto de  barganha.
   Dentro  do contexto do turismo no Brasil, o histórico dos estudos em políticas públicas  é muito recente, pois somente após os anos de 1990, quando o turismo começou a  se legitimar no país, as pesquisas começaram a procurar compreendê-lo enquanto  um objeto de estudos da Administração Pública. A implementação é uma etapa que  possibilita identificar bases sobre as orientações específicas para a gestão  permanente do turismo, e neste caso entende-se que a política pública do  turismo está inter-relacionada com outras bases políticas, como econômicas,  sociais, de saúde, educação, emprego e renda, e outras. A junção dessas bases,  no turismo, propicia um aumento do desenvolvimento pretendido na sociedade  contemporânea (BENI, 2002).
   Desta forma, este artigo possui como objetivo  caracterizar os estudos sobre implementação de políticas públicas a partir dos  estudos clássicos e contemporâneos, no contexto do turismo. 
   A seguir, expõe-se uma contextualização  relativa a abordagem racionalista e a de bem-estar social a fim de compreender  os estudos de formulação e implementação de políticas públicas. Na sequência,  apresenta-se as perspectivas do Equilíbrio Pontuado como forma de analisar a  tomada de decisão de uma política pública a partir das interações entre os policy makers e o ambiente político. Por  conseguinte, são discutidas as abordagens top-down e bottom-up no contexto de  implementação de políticas públicas no turismo, complementando-as com a  reflexão apresentada na conclusão do presente artigo.
A abordagem  racionalista exerce uma forte relação com a formulação de políticas públicas,  pois acredita-se que ao formular uma política racional, são considerados e  abarcados amplamente todos os valores primordiais que constituirão a política,  previamente à sua implementação. Desta forma, é previsto também que caso um  desses valores precise ser descartado, outro deverá substituí-lo, desde que  seja capaz de fornecer o mesmo efeito, ou solução.  
   Acredita-se que a  formulação de políticas racionais seja um processo no qual os atores tomam suas  decisões, a partir de ações sistematicamente ordenadas. Neste caso, os  problemas são compreendidos como técnicos e não políticos, e que o ambiente  seja entendido como consensual e controlável. Portanto, infere-se que esse  ambiente não permite a resolução dos problemas de forma democrática, dado que a  política possui um caráter estritamente normativo (HOGWOOD; GUNN, 1984).
   A política racional prioriza a eficiência através da relação do custo X  benefício, tal qual o custo seja o valor dos inputs e o benefício seja o valor dos outputs. Segundo Easton (1965), os inputs são as entradas ou perguntas provenientes do ambiente  externo como econômico, social, religioso, cultural, e que se convertem em outputs, que são as saídas ou as  respostas baseadas nas decisões políticas. Assim, presume-se que quanto mais  calculada racionalmente seja uma política pública, maior será a sua eficiência  técnica.
   De acordo com Simon (1945), é  importante que os policy makers sigam  alguns passos no que se refere à formulação, e consequentemente, à  implementação de políticas públicas racionais, tais quais: i) conhecer as  preferências dos grupos sociais e os pesos relativos a elas; ii) obter o maior  número possível de alternativas possíveis e viáveis para a execução de uma  política pública; iii) fazer um diagnóstico prévio sobre os impactos de cada  política alternativa; iv) determinar quais valores serão cumpridos e quais  serão descartados através das relações de custo X benefício; v) optar pelas  alternativas que possibilitarão minimizar os custos e maximizar os benefícios,  de forma eficiente.   
   Este  tipo de abordagem, foi fundamentada por Simon (1945) como modelo  racional-compreensivo ou racional-exaustivo de formulação de políticas  públicas, tendo em vista que esse processo envolve a escolha de alternativas  que promovam melhores resultados, onde são previstos os efeitos ou  consequências derivados das alternativas consideradas viáveis para uma  política. Desta forma, este modelo está relacionado a uma macropolítica top-down, de máximo ganho  político-institucional. Portanto, entende-se que o modelo racional-compreensivo  induza um ambiente hierarquizado de decisões políticas, no qual as pessoas  cumprem as normas estipuladas nas políticas racionais, havendo uma minimização  de conflitos e desvios de objetivos previamente definidos. 
   Percebe-se  que o modelo racional-compreensivo se aproxima mais do ambiente econômico do  que o político, pois segundo Downs (2017), analisar, planejar, decidir e  executar racionalmente é uma característica inerente aos economistas, tendo em  vista que o homo economicus possui  uma lógica diferente do homo  politicus. Parte-se do pressuposto que o primeiro acredita que o  comportamento racional exige uma lógica social previsível, enquanto o segundo,  em algum momento, buscará obter algum benefício com as suas ações, em  detrimento das metas que atendam preferencialmente os problemas mais relevantes  à sociedade.
   Acredita-se  que o modelo racional-compreensivo acarrete em maior morosidade nas tomadas de  decisão política, pois demanda maior tempo de análise das consequências, do  processamento das informações e alternativas disponíveis. Além disso,  entende-se que as decisões dos policy  makers não envolvem, democraticamente, as preferências da sociedade. Sendo  assim, no campo prático de formulação e implementação de políticas públicas,  esse modelo racional não possibilita efetividade, tendo em vista os fatores  complexos e imprevisíveis quanto aos problemas sociais, cujo modelo não  contempla, já que sua premissa é pautada na previsibilidade, na técnica e na  racionalidade absoluta.         
   No entanto, foi introduzido no campo de estudos de políticas públicas um  modelo considerando as limitações dos policy  makers, através do conceito de bounded  rationality, no qual as alternativas definidas não necessitam  prioritariamente maximizar os valores, bastando apenas serem boas o suficiente,  evitando, inclusive, que a análise dos custos alternativos resulte num processo  exaustivo. O que se traduz a respeito desse modelo com a racionalidade  limitada, tem a ver com o fato de a maioria das pessoas não adotarem  comportamentos exclusivamente racionais, pois considera-se que em políticas  públicas, a racionalidade dos policy  makers é limitada devido às informações que eles normalmente possuem, às limitações  cognitivas intelectualmente inerentes aos seres humanos, e às restrições do  tempo para tomarem decisões (SIMON, 1957). 
   Desta forma, Simon (1983) diz que a formulação de uma política racional  deve lidar com fatores exógenos e endógenos, a ocorrência de mudanças  imprevisíveis de contexto, o limite de tempo disponível para a tomada de  decisão, os valores, ideologias e interesses dos próprios policy makers.
   Contudo, acredita-se que essa racionalidade limitada dos policy makers, pode ser reduzida através  do conhecimento, pela criação de estruturas e incentivos que propiciem ao  atingimento de objetivos esperados, evitando a maximização dos interesses  próprios.
   Uma das críticas que  se faz ao modelo racional, é que ele não prevê a participação dos stakeholders na formulação e  implementação de políticas públicas, tendo em vista o seu caráter burocrático e  hierarquizado. Exemplo disso, são as políticas provenientes de um Orçamento  Participativo, onde seria impossível adotar o modelo racional, uma vez que as  prioridades do Orçamento Participativo preveem a interação de vários atores (policy makers, burocratas de nível de  rua, policy entrepreneurs2 , grupos de interesses  representantes da sociedade civil), enquanto a abordagem racional preconiza  imposições de forma top-down. Outra  crítica tem a ver com a análise das macropolíticas, pois essas dificilmente  promovem consensos, uma vez que estes tratam de questões pontuais da sociedade,  enquanto as macropolíticas abrangem questões mais genéricas, o que  impossibilita a alocação de recursos mais eficientes em políticas mais  assertivas.
   Vale ressaltar que previamente ao consenso, deve ser percebido um jogo  de interesses, e saber gerenciar esses conflitos pode ser positivo, pois a  partir desse jogo, preferências são apontadas, e havendo consenso, os próprios stakeholders serão capazes de direcionar  seus interesses pontualmente, sentindo-se, inclusive, responsáveis pela efetividade  da política.
Acredita-se  que o de bem-estar social esteja relacionado com o conceito de Welfare State, que segundo Wilensky  (1975) é uma forma do Estado garantir direitos mínimos de proteção aos seus  cidadãos através de políticas sociais, que promovam medidas de saúde,  alimentação, moradia, educação, energia elétrica, trabalho e renda, entre  outras medidas asseguradas como direitos políticos, e não altruísmo (BOBBIO,  1992). Exemplos dessas políticas sociais podem ser constituídas através de  planos e programas públicos como: Plano Nacional de Turismo, Programa Mais  Médicos, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Programa Universidade Para  Todos, Programa Luz Para Todos, Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e  Emprego, e outros.
   Sabe-se que o  capitalismo pode ser um indutor de desigualdades sociais, pois a relação do  mercado com a sociedade industrial moderna, tem configurado um cenário de  dependência econômica, na qual o Estado passa a ser o provedor de políticas  assistencialistas de combate à pobreza e de inclusão social, principalmente  (ARRETCHE, 2018; SEN, 2000). Em resposta a essa relação entre Estado e mercado  capitalista, o Welfare State é uma  alternativa para lidar com os problemas gerados na contemporaneidade,  garantindo a todos os mesmos direitos (KERSTENETZKY,  2012),  conforme previstos entre os princípios fundamentais da Constituição Federal de  1988 (CF/88), quais sejam, a cidadania e a dignidade da pessoa humana (BRASIL,  1988/2017).
   É através do Welfare State que se promove o poder  organizado, de forma deliberativa, a fim de direcionar as forças do mercado  para garantir a todos os cidadãos um renda mínima, segurança pública e serviços  sociais (BRIGGS, 2000). 
   De acordo com Esping-Andersen (1991), o Welfare State se desenvolve através da evolução de três regimes  distintos, sendo: i) modelo liberal – predomínio do mercado e assistência aos  que comprovem a situação de pobreza; ii) modelo conservador – o Estado garante  atenção às pessoas pela sua ocupação laboral. Contudo, pessoas que estiverem  fora do mercado de trabalho, a responsabilidade pelo bem-estar recai sobre a  família, e não ao Estado; iii) modelo social-democrata – pautado nas políticas  sociais universalistas, garantindo direitos iguais a todos, sem distinção de  qualquer perspectiva. Tem como principal finalidade possibilitar ao indivíduo  independência do mercado, promovendo o bem-estar, independentemente da atuação  da família, desvinculando-a de tal responsabilidade.  
   Ainda considerando os efeitos do modo de produção capitalista, a  política social abrange a concepção do direito ao trabalho, do direito  universal, e do direito por necessidade. Assim, cada categoria (saúde,  alimentação, moradia, educação, energia elétrica, trabalho e renda, etc.) de proteção  requer uma ação política, a qual gerará efeitos distintos (BRIGGS, 2000). 
   O bem-estar social está abarcado pelas vertentes equidade e eficiência,  e neste caso as decisões políticas devem garantir o equilíbrio entre essas duas  vertentes. Portanto, parte-se do pressuposto que quanto maior a atuação e  controle do Estado, maior será a equidade. No entanto, haverá maior dependência  econômica dos beneficiados pelas políticas sociais, e menos eficiente se  tornará a economia. Sendo assim, como não é possível obter um consenso a esse  pressuposto, e além do processo decisório não ser direcionado para o racional,  cada categoria de proteção deverá definir suas próprias políticas e estratégias  (ESPING-ANDERSEN, 1991).
A proteção e promoção do bem-estar social encontra-se, também, amparada pela CF/88, e segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2010), forma-se um novo pacto social quando as políticas públicas visam atender, de forma solidária a uma ordem social, os direitos resguardados aos cidadãos como saúde, educação, aposentadoria e seguro-desemprego, nas quais estarão incluídos, prioritariamente, os indivíduos em situação de risco social. Além disso, sabe-se que atualmente a ONU definiu juntamente com 193 países, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que visam alcançar objetivos pautados em 169 metas relacionadas à Agenda 2030. Essa nova Agenda busca melhorar a vida das pessoas priorizando ações globais para resultados locais, apontando objetivos para o futuro sustentável dos países, das regiões e principalmente das famílias mais vulneráveis em termos socioeconômicos (NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL – ONUBR, 2016).
Ainda que no Brasil o termo Welfare State sobre políticas públicas possa ser interpretado como redes de proteção social, voltadas para o bem-estar social dos indivíduos, observa-se que os tipos e características dessas políticas podem variar de acordo com as ideologias políticas e os regimes dos governos que as promovem. Portanto, mesmo que se discuta sobre o bem-estar social em direção ao equilíbrio relacionado à inclusão social, às garantias de emprego e de qualidade de vida, torna-se fundamental aos tomadores de decisão de políticas que entendam as necessidades sociais, em detrimento dos seus próprios interesses e coalizões partidárias. Assim, recomenda-se que as políticas públicas que visem o bem-estar social ou o Welfare State sejam formuladas considerando os valores éticos de toda a sociedade, e que possam promover justiça social e isonomia, valorizando e preservando as relações sociais, as tradições sociais e culturais e as especificidades relativas à diversidade de um povo, bem como as suas condições socioeconômicas, como saúde, educação, emprego, renda e acessibilidade.
Duas perspectivas foram importantes para a  introdução do termo Equilíbrio Pontuado no campo de estudos das políticas  públicas. A primeira, tem a ver com biologia, quando foi denominado o  equilíbrio pontuado nos estudos de Eldredge e Gould (1972) ao confrontarem a  teoria imposta por Charles Darwin sobre a evolução biológica, afirmando que  essa evolução não ocorre de maneira lenta e constante, conforme previa-se. 
   Trazendo esse conceito  para o campo de estudos da Administração Pública, é possível compreender que  uma política pública se configura por períodos de extensa estabilidade, sendo  interrompidos pontualmente por súbitos períodos de instabilidade, que  constituem em mudanças necessárias na política precedente. A segunda  perspectiva remete-se à racionalidade da Ciência da Computação e dos trabalhos  de Herbert Simon, quando definiu a racionalidade limitada do homo politicus, mais precisamente dos policy makers.
   Cabe então compreender quais os fatores que  levam os policy makers a priorizarem  determinadas alternativas ou informações, às quais influenciarão as suas  decisões, e os custos relacionados a elas. Neste caso, é possível prever que  esses custos são relacionados às suas decisões, através das  institucionalizações e das barganhas, às informações que eles obtêm durante a  definição das políticas públicas, e aos custos cognitivos, tendo em vista que  os indivíduos são limitados por natureza (BAUMGARTNER; JONES, 1993).
   A teoria do Equilíbrio Pontuado surgiu em 1993,  e foi definida por Baumgartner e Jones quando analisaram o ambiente de tomada  de decisões relativas ao processo de formulação e implementação de políticas  públicas nos Estados Unidos, e ao perceberem características institucionais que  resultaram nessa definição, tais quais: i) a desagregação institucional; ii) a  sobreposição jurídica; iii) a contingencial manifestação à mobilização social.  Essas características possibilitaram a criação de uma dinâmica entre a política  e os subsistemas de políticas públicas, originando a macropolítica, que ora  reforçaria o status quo em determinados momentos de estabilidade, ora  iria contra ele, em momentos de crises.
   Sendo assim, a partir do contexto americano,  entende-se que o Equilíbrio Pontuado envolva um processo dinâmico de mudanças  incrementais e de longo prazo, seguido por conflitos externos ao monopólio das  macropolíticas, gerando um ambiente de mudanças imediatas e de larga escala. A  partir disso, as políticas se orientarão através de um novo ciclo, por novos  modelos incrementais, de longo prazo. 
   Segundo Baumgartner e Jones (1993), a  utilização do termo equilíbrio pontuado se justificou, ao analisar a interação  entre as instituições políticas, a mobilização de interesses e a racionalidade  limitada dos policy makers, como uma  estratégia de formulação da política nacional dos Estados Unidos. 
   Compreende-se, portanto, que as macropolíticas  envolvem discussões relevantes a problemas discutidos um por vez, tornando a  agenda pública limitada. Contudo, é nesse ambiente que as mudanças mais  significativas ocorrem, tendo em vista que ao entrar para agenda, a  macropolítica trará um tema abrangente e que poderá ser amplamente discutido, e  não necessitará de uma solução incremental imediata. Sendo assim, será  constituída uma policy image como  atributo fundamental na expansão das questões a serem discutidas e solucionadas  pelos policy makers ou pelos grupos  responsáveis pelo monopólio da macropolítica.
   Cabe ressaltar que o sistema político é  tendenciado pela lógica da estabilidade e do incrementalismo de longo prazo.  Contudo, esse processo acaba sendo envolvido, ocasionalmente, pela necessidade  de grandes mudanças ou rupturas pontuadas. Neste caso, mesmo que as  macropolíticas sejam direcionadas por longos períodos de estabilidade nas  políticas públicas, é impossível prever que esses períodos sejam ininterruptos. 
   Assim, mesmo que algumas mudanças sejam  calculadas de forma morosa, preservando a regularidade da política, certamente  haverá momentos em que mudanças céleres se tornem necessárias, haja vista a  dinâmica e a multidisciplinaridade do sistema político de uma sociedade  (BAUMGARTNER; JONES; TRUE, 2007).
   Entende-se portanto, que dentro de um ambiente  político há um macrossistema onde articulam-se assuntos ou questões relevantes  de interesse global da sociedade. No entanto, existem também microssistemas  ligados a uma rede política que lida com problemas mais pontuais e efêmeros  dentro do macrossistema. Desta forma, o equilíbrio pontuado tratará como  pressuposto que uma estabilidade de uma política pública estará ligada aos  problemas previamente definidos no macrossistema, e interpretados como  prioritários. 
   Logo, um “macro” problema, será transformado em  uma construção social e envolverá diversos fatores relacionados às questões  consideradas como relevantes, em detrimento de outras menos relevantes, segundo  o entendimento atribuído à racionalidade limitada dos policy makers. Desta forma, observa-se que dentro do sistema  político, haverá momentos de instabilidade, ocasionados, eventualmente, por  problemas pontuais, cujas mudanças e ações imediatas torna-se necessárias. 
   Embora a concepção supramencionada seja um  pressuposto ideal para uma mudança pontuada, baseada nos momentos eventuais de  instabilidade, ressalta-se que o fato dessa mudança ocorrer, e um problema  apontado numa macropolítica deixar de ser prioridade para que novas soluções  sejam incrementadas para atender a novos problemas, não determina a extinção ou  ruptura do monopólio político sobre determinado tema. 
   Como o monopólio político é uma estrutura  institucional, e que define as políticas relacionadas a questões de uma área  mais abrangente, sua legitimidade é construída por uma imagem política,  sustentada por uma ideologia fortemente conectada aos valores centrais dos policy makers. 
   Então, mesmo que um problema previamente  definido deixe de ter a atenção de uma macropolítica, o monopólio político não  perderá a sua legitimidade, pois ele está relacionado com valores e ideologias  dos tomadores de decisão de políticas. Assim, os novos problemas emergidos em momentos  de instabilidade, estarão relacionados com o tema principal, que permanecerá  igualmente importante para a condução ou continuidade de uma macropolítica  (BAUMGARTNER; JONES; TRUE, 2007).
   Analisando que os comportamentos que induzem à  estabilidade nos monopólios políticos, de forma a reforçar e preservar o status quo, evitando as mudanças  pontuais e eventuais, e até mesmo sustentando os acordos institucionais através  das coalizões nas policy networks,  acredita-se que esses comportamentos possam resultar em feedbacks negativos  ao avaliar a efetividade das políticas implementadas. Portanto, uma das  alternativas do equilíbrio pontuado aponta para contínuas interações entre  todos os atores responsáveis pela formulação e implementação das políticas  públicas, e estratégias de gestão de conflitos e interesses, antes e durante a  execução de ações face aos períodos de estabilidade ou de mudanças imediatas  (BAUMGARTNER; JONES, 1993).
   É  preciso observar também que a estabilidade na formulação e implementação de  políticas públicas, presumida nos monopólios políticos, predispõe a colapsos, e  nestes casos a inserção de novos atores e instâncias governamentais para a  reorganização e definição de novas políticas é fundamental para lidar com as  imprevisibilidades (BAUMGARTNER; JONES; TRUE, 2007).
   Portanto, a imagem da política, que envolve  crenças, valores ideologias e informações empíricas, ao quebrar esse monopólio,  poderá elevar os subsistemas à macropolítica, e atrair novos atores, criar  espaços deliberativos para discussões, e principalmente promover a articulação  dos policy entrepreneurs. 
   Os indivíduos empreendedores de políticas  exercem papel de suma importância desde a definição da agenda pública até a  implementação das políticas, uma vez que são articuladores de ideias dos seus  interesses, e de outros a quem possam representar.  Acredita-se que os policy entrepreneurs sejam os atores com maior elasticidade no  meio político, tendo em vista a sua influência e representatividade no meio  político e social (BAUMGARTNER; JONES; TRUE, 2007). Além disso, na etapa de implementação, que apresenta-se de forma conflitante ao lidar com  dificuldades em relação ao processo de decisão proveniente de conflitos de  interesses, ideologias presentes na multiplicidade dos atores envolvidos,  exige-se muita articulação entre esses atores.
   Vale ressaltar que implementar é  uma forma de inovar ações, produtos e insumos através das políticas públicas.  Portanto, é apropriado entender que para implementar seja necessário  empreender, e neste caso, cabe aos policy  entrepreneurs, fazer com que as suas reivindicações sejam ouvidas e  consideradas; ter conexões políticas e capacidade de negociação, persistência e  discricionariedade. Sendo assim, os policy  entrepreneurs são capazes de promover feedbacks positivos às políticas e de influenciar positivamente os policy makers, pois num momento de instabilidade, mesmo as pequenas  mudanças pontuais no processo da política, podem servir de bases para novas  mudanças mais céleres e acentuadas em outras situações de imprevisibilidade.
   Mesmo que a teoria do Equilíbrio Pontuado tenha  sido criada e seja amplamente desenvolvida nos Estados Unidos, afirma-se que o  Brasil apresenta similitudes relativas à sua organização política e  administrativa, que propiciam um campo de estudos empíricos para a plena  difusão dessa teoria.
   O Equilíbrio Pontuado preconiza que os  elementos relacionados às políticas públicas são caracterizados pela definição  do issue e pela formação da agenda,  sendo que o issue representa uma  questão ou problema de responsabilidade pública, e a medida que ocorre a rotatividade  dessas questões na agenda, novas definições de políticas públicas são  reforçadas ou contestadas (BAUMGARTNER; JONES, 1993). Nestes casos, a partir  dessas experiências, acredita-se que mudanças mais profundas são necessárias  apenas em momentos de crises colossais, já que em outras situações menos  críticas de instabilidade, os policy  makers estejam mais capacitados e envolvidos com o processo das políticas,  e portanto, mais dispostos a atuar nas mudanças pontuais, quando forem  exigidas.
   Além disso, entende-se  que o modelo de Equilíbrio Pontuado de um sistema político possa abarcar desde  a manutenção do status quo em  momentos de estabilidade, até nos momentos de mudanças mais radicais nas  políticas públicas, em períodos de instabilidade. Esse modelo compartilha a concepção de que as imagens e símbolos são  centrais no processo de indução para a formação da agenda ao se definir um  problema, e que a mídia exerce um papel determinante na construção dessa  concepção.
   A teoria do Equilíbrio  Pontuado considera que o processamento das informações e alternativas  relevantes aos policy makers concentra-se mais nos impactos dos inputs ou nas questões provenientes do ambiente externo e no valor que os bens e  serviços públicos se manifesta entre os indivíduos, em detrimento dos próprios outputs que esses bens e serviços  promovem (JONES; BAUMGARTNER, 2005). Sendo assim, compreende-se que essa teoria  esclarece tanto o comportamento de estabilidade nas políticas públicas, quanto  as mudanças nos processos políticos quando há um período espontâneo de  instabilidade.
   Em suma, entende-se que  o modelo de Equilíbrio Pontuado configura-se  no momento em que a agenda precisa de mudança rápida devido a questões  emergentes, às quais costumam atrair outras, como um efeito cascata. Quando  isso acontece, as novas ideias tornam-se populares e tomam lugar das antigas, o  que possibilita uma abertura a novos espaços e movimentos políticos. Através  desse modelo é trazido o conceito de policy  image, que Baumgartner e Jones (1993) explicam que questões políticas e  sociais não se transformam, necessariamente, em um problema, haja vista que  para chamar a atenção dos policy makers,  é preciso que uma imagem ou um consenso em torno de uma política seja a ligação  entre o problema e a sua solução. Além disso, acreditam também que soluções e  problemas percorrem direções distintas, e que somente em “momentos críticos” há  um equilíbrio pontuado acerca dos períodos de célere mudança.
Na literatura, é  possível identificar que a etapa da implementação envolve a associação do  sujeito e objeto, sendo que o primeiro é representado pelos governos e atores  governamentais, e o segundo pela formação dos stakeholders, composta pelos grupos civis, entidades privadas e  organizações do terceiro setor. Desta forma, compreende-se que a implementação  de políticas públicas de turismo seja um processo de ação social, na qual se  relacionam diferentes intenções entre diferentes atores.
   Destarte,  pode-se caracterizar os estudos sobre implementação de políticas públicas no  turismo como um processo que envolve: i) ação interinstitucional, com enfoque  na promoção de atividades turísticas através da implementação de políticas  coercitivas, normativas ou participativas; ii) dimensão das deliberações, na  qual envolve quantidade e competência dos atores responsáveis pela implementação  das políticas de turismo, seja em nível local, regional ou nacional. Envolve  também hierarquias, discricionariedade, níveis de governança e tipos de  abertura e comunicação entre as instâncias deliberativas do turismo; iii)  situação socioeconômica e política, onde são expostos os recursos disponíveis  para a implementação das políticas de turismo, o contexto social e econômico do  destino turístico, a presença ou ausência da opinião pública e/ou do poder  local, e a atuação dos partidos políticos e dos grupos privados, não  institucionais (SCOTT, 2011; HALL, 1994).
   Com  relação às abordagens sobre os processos Top-down e Bottom-up, descreve-se a seguir,  uma contextualização interpretativa, em síntese, quanto aos principais estudos  clássicos em torno dessas duas perspectivas.
A  partir dessa contextualização, com relação ao entendimento do que é uma  política top-down e bottom-up, no turismo, o Ministério do  Turismo (MTur) atua tanto em um quanto em outro modelo. Exemplos de Políticas top-down podem ser identificados na  Política Nacional de Turismo, que foi implementada como uma macropolítica, onde  são compostos macroprogramas de planejamento e gestão, de informação e estudos  turísticos, da logística e de transportes. Além disso, a Política Nacional de  Turismo prevê o desenvolvimento turístico no país de forma integrativa através  de macroprogramas de Regionalização do Turismo, de fomento à Iniciativa  Privada, de Infraestrutura Pública, de Qualificação de Equipamentos e Serviços  Turísticos, bem como ao Apoio à Comercialização do Turismo (BRASIL, MTur,  2007). 
   Como  políticas bottom-up, essas são  exclusivamente implementadas em nível local, tendo em vista que nas Instâncias  Deliberativas Coletivas (IDCs) são concentrados os representantes públicos e  não públicos (stakeholders), os quais  formalizam as suas decisões para a formulação e implementação de políticas  públicas locais, mediante consensos, mas também através de jogos de interesses,  onde as necessidades prioritárias e os problemas pontuais são mais visíveis do  que no âmbito nacional.
   Observa-se que o  Programa de Regionalização do Turismo (PRT) seja uma política que abarca tanto  o top-down quanto o bottom-up, pois é um política normativa  implementada e controlada a partir do governo nacional, ao mesmo tempo em que  promove a descentralização do poder e das atividades turísticas, onde há a  participação efetiva da sociedade em geral (BRASIL, MTur, 2004).  
   Este programa é fruto  de uma parceria entre o governo nacional e os governos locais, representados  pelas IDCs tendo como objetivos específicos dar qualidade ao produto turístico  local, promovendo a imagem do turismo em nível nacional; diversificar a oferta  turística; estruturar os destinos turísticos; ampliar e qualificar o mercado de  trabalho; aumentar a inserção competitiva do produto turístico no mercado  internacional; ampliar o consumo do produto turístico no mercado nacional e  local, e; aumentar a taxa de permanência e gasto médio do turista (BRASIL,  MTur, 2004).
   Sendo assim, afirma-se  que tanto a abordagem top-down,  quanto a bottom-up são igualmente  importantes para os estudos de implementação de políticas públicas, pois de  acordo a contextualização apresentada, sabe-se que existe uma relação muito  próxima entre os dois modelos. Assim, acredita-se que ao invés de estabelecer  uma dicotomia entre ambos, é preciso entendê-los como modelos que se  complementam.
   De  acordo com Najan (1995), a partir da implementação é possível atribuir o  fracasso ou êxito de uma política pública dependendo da compreensão, do  direcionamento e da aplicação das abordagens top-down e bottom-up,  sendo que no top-down a política é  normativa, centralizada e por vezes autoritária, e que a bottom-up abarca toda a complexidade do processo de implementação  através das interações entre os atores públicos e os stakeholders, mas também traz consigo os conflitos de interesses  existente entre ambos. 
   Conforme  preconizado por Subirats (1989), os recursos provenientes do ambiente  burocrático podem ser analisados no processo de implementação de políticas  públicas como: i) controle sobre a informação; ii) formação de redes formais e  informais; iii) posicionamento dos burocratas nas estruturas de planejamento e  implementação por meio de coerção ou discricionariedade. Desta forma, quanto  mais apelo burocrático possuir o ambiente de implementação, menores são as  garantias de efetividade da política pública.
   Assim,  a visão sobre o campo de estudos de implementação deve ser vista como um  processo político, menos burocrático, centralizado e gerencial. Essa afirmação  ganha respaldo nos estudos de políticas, especificamente no processo de  implementação ao perceber que existe uma multiplicidade e complexidade entre os  elos de uma rede de políticas públicas, e que o controle e coordenação,  cooperação e colaboração devam se complementar e não se dissociar; e que o  conflito possa gerar o consenso. Nestes casos, observa-se que o processo de  implementação envolve poder e liderança, autonomia e dependência, interesses,  motivações e mudanças de comportamentos (BARRETT; FUDGE, 1981). 
Acredita-se que o  estudo sobre a implementação de políticas públicas de turismo, tendo como base  o desenvolvimento teórico seja de extrema importância à Administração Pública.  Através do embasamento teórico, a etapa de implementação tem se destacado e  tradicionalmente considerada como uma esfera legítima da atividade para a  administração pública. Além disso a teoria ensina que a implementação promove a  interação estratégica entre grupos expressivos de interesses na resolução de  problemas públicos.
   Os estudos de  implementação de políticas revelam o dinamismo e a complexidade de um política  pública, pois é nessa etapa que a política é de fato executada, colocada em  prática, em uso. Foi por intermédio do arcabouço teórico que se confirmou que  na implementação as metas estipuladas no processo de formulação são realmente  alcançadas, ou que mudanças pontuais ou globais são necessárias e realizadas, e  que a efetividade da política pode ser mensurada para então analisar os ganhos  ou perdas que ela trouxe aos beneficiários, e inclusive sobre a sua permanência  ou extinção. 
   Também pode-se  compreender a partir dos ensinamentos obtidos pela literatura, que o próprio  ambiente burocrático em torno da política pública seja o responsável por ações  quase conspiradoras. Isso se reflete quando os policy makers formam coalizões e utilizam as barganhas políticas  para atingir seus objetivos em dois momentos distintos: ao revelarem possuir  conhecimentos instrumentais e adequados, mas sem poder discricionário ou  legítimo, e vice-versa.
   Para  reforçar a importância dos estudos teóricos sobre a implementação, toma-se como  premissa uma importante contribuição do papel do Estado atuando nos projetos de  desenvolvimento turístico como ator (bottom-up)  e árbitro (top-down), interpretados  através das pesquisas teóricas, tendo em vista que impulsionaram descobertas  empíricas, de grande importância para o estudo do turismo. Especifica-se que na  posição de ator, o Estado se configura como agente de implementação de  infraestrutura básica, garantida a todos os cidadãos (transportes coletivos,  sistemas de comunicação, energia, abastecimento de água e saneamento básico,  postos de atendimento médico e de policiamento); atua na oferta e no subsídio  de incentivos fiscais a projetos vinculados ao crescimento do trade turístico e no desenvolvimento  social e sustentável, nos três níveis federativos: União, Estados e Municípios;  exerce o papel fundamental de construção de hotéis, promoção de eventos,  convenções, centros de artesanatos que incentivam a promoção da cultura. 
   Como  árbitro, sua função é a de zelar pela obediência da política pública  implementada e em curso, mediante fiscalização, quando determinado ambiente não  seja promotor de consensos; quando houver múltiplos interesses em jogo,  impedindo a efetivação da política; ou quando esses interesses não visam  atender aos reais beneficiários dessas políticas.
   Sendo  assim, menciona-se que estudos teóricos sobre políticas públicas, bem como os  relacionados à especificidade da implementação dessas políticas,  independentemente do contexto, setor ou área de pesquisas, podem propiciar um  campo epistemológico às gerações futuras, a fim de entender melhor o processo  de construção de uma sociedade, com direitos iguais a todos, sem distinções.  Possibilita também, a partir da teoria, compreender e estimular os estudos  empíricos, reforçá-los e legitimá-los.
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