Revista: TURYDES
Turismo y Desarrollo local sostenible / ISSN: 1988-5261


O ESTUDO DO TURISMO NO BRASIL À LUZ DOS PRINCIPAIS CONCEITOS-CHAVE DA GEOGRAFIA

Autores e infomación del artículo

Christiano Henrique da Silva Maranhão*
Doutor em Geografia Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN, Brasil.
christianomaranhao@gmail.com

Francisco Fransualdo de Azevedo**
Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia - Minas Gerais, MG, Brasil.
ffazevedo@gmail.com


Resumo: Estudos constatam que a produção científica no Brasil encontra-se em progresso na contemporaneidade. Em meio a esse cenário, destaca-se a valorização que o campo do conhecimento em turismo vem recebendo na academia. Destarte, objetiva-se especificar as principais noções que foram utilizadas, diante do emprego dos conceitos-chave da Geografia, nos estudos acadêmicos (teses e dissertações) que abordam o turismo como tema central de pesquisa, no âmbito dos programas brasileiros de pós-graduação stricto sensu em geografia. Trata-se de estudo exploratório-descritivo, de viés qualitativo. Faz uso da amostra aleatória estratificada com alocação proporcional para delimitar o empírico, e utiliza a análise de conteúdo e o Wordle como ferramentas técnicas para as reflexões. Os resultados indicam que conceito de paisagem é o mais empregado nos estudos que analisam o turismo como objeto de pesquisa, mesmo quando este conceito não se configura como centro das investigações. Conclui-se, diante desta compreensão inicial, que os outros conceitos-chave (região, lugar, espaço e território) passam a ser empregados mediante o avanço do grau de complexidade estabelecido entre a práxis do turismo e o consumo do espaço. Possibilitando debates sobre normas territoriais, identidade do lugar, regiões funcionais entre outros escopos de pesquisa.
Palavras-chave: Estudo do turismo, Conceitos-chave da Geografia, Pós-Graduação em Geografia.

Resumen: Los estudios constatan que la producción científica en Brasil se encuentra en progreso en la contemporaneidad. En medio de ese escenario, se destaca la valorización que el campo del conocimiento en turismo viene recibiendo en la academia. De este modo, se pretende especificar las principales nociones que se utilizaron, ante el empleo de los conceptos clave de la Geografía, en los estudios académicos (tesis y disertaciones) que abordan el turismo como tema central de investigación, en el marco de los programas brasileños de postgrado stricto sensu en geografía. Se trata de un estudio exploratorio-descriptivo, de sesgo cualitativo. Hace uso de la muestra aleatoria estratificada con asignación proporcional para delimitar el empírico, y utiliza el análisis de contenido y el Wordle como herramientas técnicas para las reflexiones. Los resultados indican que el concepto de paisaje es el más empleado en los estudios que analizan el turismo como objeto de investigación, aun cuando este concepto no se configura como centro de las investigaciones. Se concluye, ante esta comprensión inicial, que los otros conceptos clave (región, lugar, espacio y territorio) pasan a ser empleados mediante el avance del grado de complejidad establecido entre la praxis del turismo y el consumo del espacio. Posibilitando debates sobre normas territoriales, identidad del lugar, regiones funcionales entre otros ámbitos de investigación.
Palabras-clave: Estudio del Turismo, Los conceptos clave de la geografia, Postgrado en Geografía.

Abstract: Studies have shown that scientific production in Brazil is progressing in the contemporary world. In the midst of this scenario, it is worth highlighting the value that the field of tourism knowledge has been receiving in the academy. The purpose of this study is to specify the main notions used in the use of the key concepts of Geography in academic studies (theses and dissertations) that approach tourism as a central research topic within Brazilian postgraduate programs stricto sensu in geography. This is an exploratory-descriptive study, with a qualitative bias. It uses the stratified random sample with proportional allocation to delimit the empirical, and uses content analysis and Wordle as technical tools for reflections. The results indicate that the concept of landscape is the most used in studies that analyze tourism as an object of research, even when this concept is not the center of research. It is concluded, in view of this initial understanding, that the other key concepts (region, place, space and territory) are now employed by advancing the degree of complexity established between the praxis of tourism and the consumption of space. Enabling debates on territorial norms, place identity, functional regions among other research scopes.
Keywords: Tourism Study, Key Concepts of Geography, Graduate in Geography.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Christiano Henrique da Silva Maranhão y Francisco Fransualdo de Azevedo (2018): “O estudo do turismo no Brasil à luz dos principais conceitos-chave da geografia”, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 25 (diciembre / dezembro 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/turydes/25/geografia.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/turydes25geografia


1 INTRODUÇÃO
Estudos constatam que a produção científica no Brasil encontra-se em evidente progresso na contemporaneidade. Conforme o relatório Research in Brazil produzido pelos analistas da Clarivate Analytics, a pedido da Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior (Capes), o Brasil é o 13º maior produtor de publicações de pesquisa em nível mundial, estando à frente de países como Rússia, Holanda e Turquia (Cross; Thomson; Sinclair, 2017).
Conexo a este dado, destaca-se o aumento da oferta de cursos de pós-graduação em turismo, da promoção de eventos acadêmicos de temáticas variadas e da ascensão dos canais de publicações que estimulam conteúdos inéditos sobre o campo do conhecimento em turismo no Brasil. Somado a isto, sublinha-se o esforço dos órgãos de fomento científico, associados às grandes áreas do conhecimento (ciências humanas, sociais e aplicadas), na busca pelo incentivo de pesquisas que abordam a temática do turismo (Rodrigues, 2001).
Legitimando o destaque acadêmico referente ao turismo, informa-se que o Brasil consta atualmente com 11 programas de pós-graduação em turismo, que juntos ofertam 14 cursos, a saber: 08 cursos de mestrado acadêmico (Universidade de São Paulo - USP, Universidade Anhembi Morumbi- UAM, Universidade de Caxias do Sul - UCS, Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, Universidade Federal do Paraná - UFPR, Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, e Universidade Federal Fluminense- UFF). Somados a eles, tem-se mais 03 cursos de mestrado profissional (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe- IFS, Universidade Anhembi Morumbi- UAM e Universidade Estadual do Ceará - UECE) e 04 cursos de doutorado (Universidade Anhembi Morumbi- UAM, Universidade de Caxias do Sul- UCS, Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI e Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN). O Sistema Nacional de Pós-graduação (SNPG) aponta novas oportunidades para a área do turismo nos próximos anos (Plataforma Sucupira, 2018).
Nota-se que o destaque acadêmico que o turismo vem recebendo na academia surge concomitantemente ao momento de “ebulição” que a produção científica vivencia no Brasil. Imerso nesta conjuntura, percebe-se um fortalecimento do movimento de atuação conjunta entre campos distintos do conhecimento. Assim, é possível identificar interesses de ciências distintas para o estudo do turismo, resultando em pesquisas científicas necessárias tanto para turismólogos (diante da demanda por postulados científicos consolidados) quanto para outros pesquisadores (diante da interferência que o turismo gera nos seus objetos de estudo). A priori, sabe-se que a relação e/ou contribuição partilhada entre campos do saber diferentes é legitimada como consequência de problemas de ordem mundial, como a desigualdade socioeconômica e degradação ambiental, que demudadas em questões científicas solicitam ações interdisciplinares (Maranhão, 2010; Meneghel, 2007).
Logo, tem-se o turismo como um dos aspectos mais influentes da sociedade moderna. Sabe-se que seus deslocamentos respondem ao fluxo de milhares de pessoas pelo globo, facilitado por meios de transporte espacializados por uma rede que se conecta quase sem restrições a maior parte do mundo organizado pelo capital. É neste momento que a natureza observável do turismo se transforma em fenômeno socioespacial, e passa a solicitar estudos, teorias, explicações e pesquisadores (Azevedo; Figueiredo; Nóbrega; Maranhão, 2013).
Inerente a este entendimento do turismo está à relação que ele desenvolve com elementos disciplinares de outras ciências (Administração, Economia, Geografia, Psicologia, Sociologia entre outras). Da lista citada, destaca-se a ciência geográfica, pioneira no interesse e na contribuição de pesquisas em torno da temática do turismo (Lima; Rejowski, 2011).
Considera-se que a maneira como o espaço é organizado (forma) e o modo como os sujeitos constroem suas relações no espaço (conteúdo) favorece a atuação e competência analítica da ciência geográfica em propor arguições. Neste viés, o turismo habilita-se como conteúdo de interesse geográfico, exatamente por inserir uma série de rebatimentos que interferem no espaço, moldando-o por meio de diferentes processos sociais (econômicos, políticos, culturais e ambientais). Por isso é que Rodrigues (2001: 40) diz que quanto maior for à intervenção espacial do turismo, maior será o “tratamento geográfico do fenômeno”.
Rodrigues (2001) também menciona os conceitos-chave da Geografia (espaço, paisagem, lugar, região e território) como ferramentas determinantes para a análise dos fatos que agem sobre o/no espaço (inclusive o fato turístico). Justamente porque esses conceitos-chave formam a “base de toda construção de leitura geográfica” (Moreira, 2007: 117).
Por todo o exposto, objetiva-se identificar os principais usos dos conceitos-chave da Geografia, quando empregados nos estudos (teses e dissertações) que abordam o turismo como tema central de pesquisa, no âmbito dos programas brasileiros de pós-graduação stricto sensu em geografia. Sendo possível com isso analisar, dentre os conceitos-chave da Geografia, quais são os mais empregados quando se estuda o turismo no Brasil.
Justifica-se este artigo fazendo uso do argumento que informa o real interesse em estudar o turismo pelo viés geográfico. Ao reconhecer o turismo como uma prática socioespacial, admite-se que ele inexiste sem o consumo, produção e alteração do espaço geográfico, que é o objeto de estudo da Geografia (Silva, 2012).
Outro determinante que ratifica esta pesquisa é a identificação do turismo como um campo recente de estudos, razão que motiva diversas ciências, dentre elas a Geografia, a fornecer suportes teórico-conceituais para elucidar questões alusivas ao campo do conhecimento turístico (Castrogiovanni, 2002).
Relata-se que este artigo expõe parte dos resultados de uma tese defendida em 2017, que analisou a representatividade teórico-metodológica direcionada para a temática do turismo, no campo da pós-graduação stricto sensu em Geografia no Brasil.
Por fim, informa-se que não se busca finalizar o tema abordado. O real comprometimento aqui é estimular o avanço no conhecimento sobre o turismo, a partir de uma abordagem tipicamente geográfica.
2 APONTAMENTOS SOBRE A ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO TURISMO
Sabe-se que a ciência geográfica é especialista em empréstimos científicos. Esta particularidade histórica deriva da sua perspectiva corológica, proposta pelo filósofo Immanuel Kant, que norteava o estudo geográfico para uma espécie de síntese das demais ciências (Moraes, 2002; 2007). Entretanto esta conduta motivou uma série de críticas, respaldadas pelo argumento que inexistia ineditismo nos estudos geográficos, justamente por seus conteúdos serem resumos de temas já validados por outras ciências (Moreira, 2014).
Diante de uma conjuntura contemporânea, entende-se como dissonante manter-se apático à disposição de relacionar-se com outras ciências. Perdigão (1995:157) diz que análises isoladas são frágeis, pois “há um agrupamento de coisas, que o sentido de cada parte só aparece quando vista em relação às outras partes do todo”. Assim, a predisposição geográfica por relacionar-se com outras bases científicas ainda se sustenta.
Carlos (2002:161) diz que a Geografia caracteriza-se por uma “multiplicidade temática e teórico-metodológica”, e esta pluralidade deriva da gênese de novas racionalidades postas no espaço (como o turismo, por exemplo) que solicitam estudos interdisciplinares e permeados pela ideia de totalidade espacial.

Meditando sobre a relação acadêmico-científica estabelecida entre a Geografia e o turismo, destaca-se seu inicio no ano de 1841, por meio do primeiro registro epistemológico do geógrafo austríaco Kohl (Século XIX), instigado pela mutação do meio natural por conta dos deslocamentos de turistas e de suas interações com lugares e sujeitos visitados (Gómez, 1987).
Castro (2006) aponta outro episódio marcante dessa afinidade acadêmica, o momento em que o geógrafo austríaco Joseph Stradner, no ano de 1905, intitula de Geografia do turismo Fremdenverkehrsgeographie, todo conhecimento gerado a partir da relação posta entre a Geografia e o turismo. Nesta ocasião os estudos tratavam dos efeitos positivos do turismo na balança de pagamentos.
Em âmbito nacional, Castro (2006) menciona a tese de Dr. Armando Corrêa da Silva, “O litoral norte do estado de São Paulo: formação da região periférica”, defendida em 1975, no Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, como o primeiro estudo acadêmico-científico da geografia brasileira envolvendo a temática do turismo. Contudo, esta pesquisa tratou do turismo como um elemento complementar do cenário estudado.
Já quando se trata do primeiro trabalho geográfico, em nível de pós-graduação stricto sensu no Brasil, que abordou o turismo como temática central da pesquisa, aponta-se a tese de Kleber M. B. Assis “O turismo interno no Brasil”, defendida no Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1976. Este estudo levantou um expressivo volume de dados econômicos ligados ao turismo, evidenciando a centralidade do turismo, como base estruturante da pesquisa (Rodrigues, 2001).
Destarte, tem-se que a abordagem geográfica do turismo se estabelece por meio da relação sinérgica dos deslocamentos (cerne da prática do turismo) com as materialidades (infraestrutura urbana e turística), possibilitando o movimento dos fluxos através do espaço. O turismo desponta com uma base geográfica notável, uma vez que ele é capaz de conectar pessoas e lugares, considerados como os dois eixos de sustentação da ciência geográfica (Coriolano; Silva, 2005).
3 BREVE EXPOSIÇÃO DOS CONCEITOS-CHAVE DA GEOGRAFIA
Inicialmente, entende-se que todo conceito é uma ordenação lógica da descrição de um fenômeno, iniciando nos sentidos e finalizando no empírico (Sposito, 2004). Portanto, quando se medita sobre os conceitos geográficos mais aplicados em estudos sobre o turismo, logo vem à lista dos conceitos-chave da Geografia: espaço geográfico, paisagem, lugar, região e território.

Antes de expor algumas das principais noções de cada conceito, informa-se que cada um deles passou por uma mutação de significado devido o surgimento de novos paradigmas. Sposito (2004: 60) declara que eles foram modificados “por várias razões: desenvolvimento tecnológico, aculturações, conflitos de interesse, novos conhecimentos”. Somado a isto, relata-se que os conceitos-chaves não foram fomentados simultaneamente. Eles originam-se de momentos históricos diferentes e por isso, norteiam subsídios distintos para o saber geográfico (Gomes, 1996).

Sublinha-se que os conceitos de paisagem, lugar, região e território derivam do conceito de espaço. Logo, o espaço é um conjunto composto de subconjuntos (paisagem, lugar, território e região), entendidos como recortes do espaço em totalidade.

Informa-se por fim, que não se busca abordar todo arcabouço teórico-conceitual que alicerça cada um dos conceitos-chave da Geografia. Antes se pretende dar uma visão geral dos principais entendimentos referentes a cada conceito-chave, com base na fala de diferentes geógrafos brasileiros. Dito isso, segue as principais informações relativas a cada conceito-chave.

(a) Espaço geográfico
É o objeto de estudo da Geografia, e uma de suas definições mais utilizadas foi proposta por Milton Santos (2009: 63), que diz que o espaço geográfico é “um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá”.

Observa-se então, um espaço composto por sistemas de objetos (naturais e técnicos) e sistemas de ações (sociais, culturais, políticas e econômicas), referenciando os polos constituintes do saber geográfico (homens e materialidades) e a sua relação como fator estruturante do espaço geográfico. Sublinha-se que o espaço geográfico não pode ser definido apenas pelos dados físicos e/ou pelos sociais. Antes, é a complementariedade dessas interfaces que reflete “seu principio ativo” (Santos, 1999:1).

No conceito de Santos (2009), destaca-se a sinergia entre questões que tratam dos elementos de composição do espaço geográfico e suas demandas específicas; da interação; da inseparabilidade; da noção de totalidade; da visão sistêmica, das categorias de análise dentre outras que dão base ao conteúdo do conceito.

Santos (1988) lista como elementos de composição do espaço geográfico: homem; instituições/normas e leis; firmas; infraestruturas e meio ecológico. Cada um destes elementos possibilita pesquisas a partir de seu escopo informacional, a saber: elemento homem (trata de questões sobre sociedade, cidadania e relações sociais); elemento instituições/normas e leis (estuda o Estado, política e fronteiras); elemento firmas (trata de questões sobre capital, trabalho, modo de produção); elemento infraestrutura (aborda temas sobre urbano, rural e fluxos); e o elemento meio ecológico (aborda sobre sustentabilidade, ecossistemas entre outros).

Atrelado a isso, Santos (1988) ainda indicou quatro categorias que validam uma adequada leitura do espaço, são elas: Formas (aspectos visíveis, arranjo ordenado dos objetos), Função (é uma habilidade esperada de uma forma, pessoa, instituição ou coisa), Estrutura (abarca a noção de inter-relação das partes do todo) e Processo (é a ação contínua e promovida em direção a um resultado, implicando continuidade e modificações) Na fala de Santos (1988, p. 52):

Forma, função, estruturas e processos são quatro elementos disjuntivos, mas associados. Tomados individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas do mundo. Considerados em conjunto e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade.

A partir desse entendimento, nota-se a aproximação da Geografia com a práxis do turismo. Uma vez que, ao afirmar que o espaço é uma totalidade composta de materialidades e relações sociais em constante movimento, é possível dizer que a atividade do turismo é um fator partícipe da dinâmica de transformação, evolução e, às vezes, de depreciação do próprio espaço, entendendo o turismo como um expressivo “vetor produtor de espaço” (Cruz, 2000: 15).
(b) Paisagem
A paisagem é outro conceito geográfico bastante difundido, tanto que chegou a ser considerado, durante um tempo, o próprio objeto de estudo da Geografia. Sabe-se que o esforço científico em torno do conceito de paisagem marca os trabalhos dos geógrafos clássicos (Moreira, 2014).

Entende-se por paisagem tudo o que “nossa visão alcança [...] definida como o domínio do visível” (Santos, 1988: 21). É um recorte espacial composto de elementos naturais e artificiais que caracterizam fisicamente uma área. Na paisagem os objetos refletem uma lógica, que dependendo da observação, possibilita percepções distintas sobre as mesmas paisagens. Destaca-se a percepção como sua principal dimensão conceitual.

Contudo, a paisagem de um dado momento pode modificar-se rapidamente pela inserção de novos elementos oriundos do avanço das técnicas e do trabalho. Neste momento, o conceito de paisagem associa-se com a ideia de trabalho morto, onde a apreensão de uma paisagem passa a refletir um tempo passado (materialidades antigas, lembrança), em resposta a inserção de novas materialidades. No entanto, existe a possibilidade de coexistência de elementos passados e atuais, na mesma paisagem (Santos, 1988).
A paisagem ainda permite analisar a reprodução dos diferentes níveis das forças produtivas, materiais e imateriais, relevando a diversidade de formas associadas com funções superpostas. Logo, quanto maior for a complexidade da sociedade maior será a diversidade de funções e sobreposições e, portanto, maior o número de formas apresentará a paisagem (Dantas, 2011).

Estudar a paisagem torna-se relevante devido o entendimento gerado em função da espacialidade da dinâmica social, que é resultante das formas contidas na própria paisagem. Pensar no uso de recursos naturais, nas diferentes formas artificiais postas na paisagem, na coexistência de elementos de tempos distintos e na estruturação de forças produtivas, encaminha o conceito de paisagem para uma possível análise do turismo, como agente produtor de novas dinâmicas neste recorte espacial.

Reconhece-se que o conceito de paisagem não comporta todos os dados necessários para uma análise ampla da sociedade, uma vez que nem sempre os dados são perceptíveis à visão. E quando se trata de questões sobre o turismo, a diversidade de percepções atinge níveis complexos, demandando por análises, por meio de novos parâmetros.

c) Lugar
Para bem entender o conceito de lugar é preciso dedicar-se ao estudo da dimensão da vida, expressa pelos usos e costumes; Onde cada lugar apresenta sua substância, seu conteúdo social ligado à história de seus indivíduos. O lugar é o espaço que reflete a dimensão afetiva estabelecida entre sujeitos a partir da convivência cotidiana no aludido espaço (Gomes, 1997).

Destarte, a relevância do estudo do lugar vem da dimensão do espaço do cotidiano, dos simbolismos, dos significados, do movimento histórico e de elementos como a copresença, vizinhança, intimidade, emoção, cooperação e socialização. Mas apesar de ser dotado de elementos tão singulares, o lugar não é considerado como um espaço autônomo, uma vez que diariamente novas funções surgem e se impõem a dinâmica vivida (Santos, 1988).

O lugar ainda pode ser estudado a partir do par dialético global versus local. Santos (1994) diz que somente conhecendo o mundo é possível aprofundar no conhecimento do lugar, uma vez que atualmente, o lugar reflete o mundo. O autor ainda identifica intencionalidades distintas que chegam ao lugar, revestidas de intervenções impostas por meio de agentes hegemônicos.

Observa-se que de modo simultâneo ao impacto dessas ações homogêneas, encontra-se no próprio lugar a possibilidade de resistência aos processos exógenos, e por vezes contraditórios. Destaca-se que é no lugar que se estimula a troca de informações e o posicionamento político dos sujeitos, tornando-o um espaço importante de oposição às finalidades estranhas ao cotidiano.

Aqui é permitido apontar possibilidades para estudos do turismo com base na investigação da identidade cultural dos destinos, ou pesquisas que abordem a relação entre turistas e visitantes e /ou agentes hegemônicos (Estado e Mercado) entre outras possibilidades de cruzamento.

(d) Região
O entendimento sobre o conceito de região modificou-se com o passar da história. Anterior à globalização, a região era vista como um espaço isolado, autônomo e de particularidades específicas. Mas diante da economia internacional que visa satisfazer a produção/reprodução de capital, o conceito antigo de região foi suprimido (Santos, 1988).

Diante da atual intensidade posta nas relações entre o Estado e a região, não se permite mais pensar em região como um espaço isolado. Por isso, Santos (1988) define região como uma fração do espaço que apresenta as melhores condições para a promoção de determinadas atividades, resultantes da presença do capital que determina sua posição e funções técnicas, estabelecidas por uma rede interligada.
Logo, a região passa a ser entendida como um espaço, que apesar de está inserido em um contexto maior, não deixa de apresentar características peculiares que são utilizadas em consonância com a rede estabelecida em torno de uma produção capitalista. O dado que traz especificidade ao processo é que cada região, de características próprias, é determinada por critérios geralmente econômicos, previamente estipulados.

É permitido verificar o jogo de interesses entre a delimitação e a promoção das regiões, e a possibilidade de conectá-las a uma rede de comércio mundial, tornando o estudo sobre a região relevante para a temática do turismo.

Aqui, verifica-se a possibilidade de inserção do estudo do turismo, ofertando condições para o estabelecimento de parâmetros que delineiam uma região vocacionada à atividade ou não. Tem-se a região como uma particularização de um determinado espaço em relação ao todo, justamente com base no estabelecimento de critérios econômicos, políticos, culturais, turísticos dentre outros.

e) Território
Amplia-se o escopo do referido conceito, partindo da noção de poder (perspectiva de espaço vital de Ratzel), avançando da análise do território em si para a forma como ele vem sendo utilizado. Gomes (1997) menciona que o território é compreendido para além da ideia específica de poder sob um espaço físico. O território é um espaço de aspectos particulares, criado por meio de subsídios preestabelecidos pelos próprios sujeitos. É o território que conduz à compreensão de uma mediação entre o mundo e a sociedade nacional e/ou local.

E diante da notória racionalidade da produção do espaço e de sua dependência técnica, o território passou a ser entendido também como uma norma. Identifica-se uma ordem territorial na forma como os objetos e o homem estão organizados no espaço. A maneira como o território se estabelece está conectada com as possibilidades de sua organização, uma vez que alguns espaços são mais aptos que outros, considerando quesitos específicos, que possibilitam a instalação de determinadas atividades (turísticas), guiadas por normas sancionadas (Santos, 1994).

O aludido autor ainda destaca a norma jurídica, dentre as normas sociais existentes, como a norma que detém a força de estabelecer comportamentos e sanções. Ao passo que também sublinha as normas sociais e culturais, que mesmo sem apresentar poder coercitivo, podem igualmente regular condutas. Dentre elas é possível mencionar a cultura local, colocada em oposição à perspectiva global, que luta para demarcar territórios identitários e repletos de signos.

Destaca-se que de forma paralela a atuação dos agentes hegemônicos (Estado e mercado) tem-se a sociedade civil, fomentando movimentos que interferem na produção do território, buscando uma gestão mais democrática (Gomes, 1997). Neste momento é possível sublinhar estudos sobre movimentos sociais, representações sociais, territorialidades entre outras conjunturas, imersas no processo de inserção da atividade turística nos territórios vocacionados. Ainda é permitido pontuar que o Estado sempre foi o grande produtor de território após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Mas, ultimamente, diante de um Estado neoliberal, a iniciativa privada passou a assumir de forma majoritária esse papel.

Tendo exposto, sucintamente, algumas das principais noções associadas ao conceitos-chave da Geografia, segue a apresentação dos procedimentos metodológicos que serviram de base para as análises que validam essa exposição.

 

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Recibido: Agosto 2018 Aceptado: Diciembre 2018 Publicado: Diciembre 2018



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