Revista: TURYDES
Turismo y Desarrollo local sostenible / ISSN: 1988-5261


PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS APLICADAS A EVENTOS: UMA REALIDADE POSSÍVEL*

Autores e infomación del artículo

Ana Rosa Cavalcanti da Silva*

Maria Helena Cavalcanti da Silva Belchior**

Centro Universitário UniFBV Wyden, Brasil
Universidade Federal de Pernambuco, Brasil

ana.silva@unifbv.edu.br


Resumo
É perceptível um novo movimento relativo ao setor de eventos nos dias atuais no que diz respeito à concepção, ao planejamento, à execução e ao pós-evento relacionados a perspectivas sustentáveis. O presente trabalho propõe-se a analisar, de forma sintética, as relações existentes entre o setor de eventos e as questões relativas à sustentabilidade, pautadas nas normas e certificações específicas. Para o alcance dos objetivos destacam-se a pesquisa bibliográfica e a documental como principais formas de obtenção de dados correlatos ao objeto de estudo. Entidades representativas do setor de eventos conhecidas nacional e internacionalmente também foram pesquisadas em busca de se coletar informações que trouxessem as relações entre os eventos e as práticas sustentáveis. Conclui-se que há uma expansão em termos de estudos cujo tema seja a sustentabilidade ou o desenvolvimento sustentável em si, e que há a possibilidade de abrangência de organizações que percebam a necessidade quanto à adequação de sua prestação de serviços aos pilares da sustentabilidade. Porém, o estabelecimento de relações entre as questões que envolvem a sustentabilidade atrelada aos eventos carece de um maior aprofundamento. As ações, muitas vezes embrionárias, podem sucumbir por questões primordiais de falta de conhecimento e de um direcionamento coerente entre o equilíbrio do crescer e do desenvolver, porém o que se percebe são tentativas de aproximar a realidade dos eventos a questões básicas da sustentabilidade de forma que se alcancem as benesses, se mitiguem os impactos e se gerem dividendos àqueles envolvidos com a ação.

Palavras - chave: eventos; sustentabilidade; Brasil; desenvolvimento sustentável.

SUSTAINABLE PRACTICES APPLIED TO EVENTS: A POSSIBLE REALITY
Abstract

It is perceptible a new movement on the Sector of Events now a day, in other way, the conception of planning, execution and post-event related to sustainable perspectives. This paper intends to analyze, in a synthetic way, the existing relations between the sector of events and the issues related to sustainability, based on the norms and specific certifications To achieve the objectives of this paper we highlight the literature and documents as the main ways of obtaining related to the object of study data. Representative entities of national and internationally known event industry were also surveyed in search of collecting information to connect the relations between the events and sustainable practices. It is concluded that there is an expansion in terms of studies whose theme is sustainability or sustainable development per se, and that there is scope for organizations that perceive the need for the adequacy of their service delivery to the pillars of sustainability. However, the establishment of relations between issues involving sustainability linked to events needs to be further deepened. Actions often embryonic, may succumb to fundamental questions of lack of knowledge and a coherent targeting balance between growing and developing, but what we can see are attempts to approximate the reality of events to basic issues of sustainability so intended to achieve the spoils if mitigate impacts and generate dividends those involved with the action.

Key words: events; sustainability; Brazil; sustainable development.

PRÁCTICAS SOSTENIBLES APLICADAS A EVENTOS: UNA REALIDAD POSIBLE

Resumen
Es perceptible un nuevo movimiento relativo al sector de eventos en los días actuales en lo que se refiere a la concepción, la planificación, la ejecución y el post-evento relacionados con perspectivas sostenibles. El presente trabajo se propone analizar, de forma sintética, las relaciones existentes entre el sector de eventos y las cuestiones relativas a la sostenibilidad, pautadas en las normas y certificaciones específicas. Para el logro de los objetivos se destacan la investigación bibliográfica y la documental como principales formas de obtención de datos relacionados con el objeto de estudio. Entidades representativas del sector de eventos conocidas nacional e internacionalmente también fueron investigadas en busca de recoger informaciones que presentasen las relaciones entre los eventos y las prácticas sustentables. Se concluye que hay una expansión de estudios cuyo tema sea la sostenibilidad o el desarrollo sostenible en sí, y que existe la posibilidad de abarcar organizaciones que perciban la necesidad en la adecuación de su prestación de servicios a los pilares de la sostenibilidad. Sin embargo, el establecimiento de relaciones entre las cuestiones que envuelven la sostenibilidad vinculada a los eventos carece de una mayor profundización. Las acciones, muchas veces embrionarias, pueden sucumbir por cuestiones primordiales de falta de conocimiento y de un direccionamiento coherente entre el equilibrio del crecimiento y del desarrollo, pero lo que se percibe son intentos de aproximar la realidad de los eventos a cuestiones básicas de la sostenibilidad de forma que se alcancen los beneficios, que se reduzca los impactos y se generen dividendos a aquellos involucrados con la acción.

Palabras – clave: eventos; sostenibilidad; Brasil; desenvolvimiento sustentable

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Ana Rosa Cavalcanti da Silva y Maria Helena Cavalcanti da Silva Belchior (2018): “Práticas sustentáveis aplicadas a eventos: uma realidade possível”, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 25 (diciembre / dezembro 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/turydes/25/eventos.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/turydes25eventos


Introdução
A cadeia produtiva necessária para a consecução de um evento tem como pontos fundamentais cenários primorosos, ampla rede de hospedagem com exemplares em padrão internacional, destinos turísticos conhecidos mundialmente e mão de obra vasta na Hotelaria e no Turismo. Oliveira (2000) afirma que a realização de eventos traz para um destino a possibilidade da venda deste ser “por atacado”, ou seja, previamente se sabe quantas pessoas estarão em um destino, onde ficarão, qual a procedência, possibilidades de atrativos a serem visitados.
A captação de eventos é uma tarefa benéfica a qualquer destino uma vez que o perfil do visitante de eventos difere sobremaneira dos demais. A título de exemplo, alguns dos resultados de pesquisa realizada pelo Recife Convention & Visitors Bureau, entidade representativa do setor em Pernambuco, localizado no Nordeste brasileiro, relativa ao ano de 2015 (última edição disponível) são apontados a seguir: influenciada pelo período de duração dos eventos, a variável “tempo de permanência dos turistas” foi, em média, de quatro dias, com gasto diário médio de R$ 471,76. A relevância do evento se destacou como motivo principal dos entrevistados para participar dos eventos em Pernambuco, com 64,5%. Esse grupo diferenciado de turista expressou a intenção de retornar ao estado (83,4%), bem como afirmou, com 99% de respostas positivas, que recomendaria a um conhecido visitar Pernambuco.
A partir do exemplo acima fornecido, percebe-se que o turista de eventos, ao chegar a um destino, tende a não apenas permanecer com atividades específicas do evento. Há um consumo do espaço turístico que vai além do local onde o evento ocorre. É sabido que o Turismo de Eventos, por exemplo, pode servir de ponte para o Turismo de Natureza, contribuindo no combate à sazonalidade. Segundo Bezerra (2018), na última Copa do Mundo no Brasil, os torcedores estrangeiros que assistiram aos jogos em Cuiabá (MT), estado da Região Centro-Oeste do Brasil, foram responsáveis pelo aumento de 90% na venda de pacotes para o Pantanal. 
Outra constatação cabível é que a sociedade – de forma geral – vem intensificando cada vez mais o debate acerca do consumo consciente. E aqui, mais uma vez, percebe-se uma nova relação dos eventos às questões sustentáveis. Tratar de consumo provoca uma troca econômica e é justamente a economia responsável por uma relação desigual provocada por um crescimento desordenado. Em sua obra Eco-economia, Brown (2003) aponta a possibilidade de um replanejamento na economia de forma que se equalize as questões de ordem ambiental em relação às econômicas proporcionando a continuidade do progresso econômico.
Amplamente discutida, a temática da sustentabilidade vem com o passar dos tempos, especialmente no século XXI, estreitando seus laços com o setor de eventos. Pode-se apontar, por exemplo, dois acontecimentos que integraram estas tão distintas áreas. A primeira relaciona-se com a Olimpíada de Londres. Como parte dos preparativos para o evento, foi lançado em 2007 o plano intitulado Towards a One Planet 2012, que versava, a partir de cinco eixos prioritários, a saber: mudança climática, lixo, biodiversidade, inclusão e vida saudável (FELTRIN, 2013), as ações a serem implantadas pelo comitê organizador dos Jogos, bem como pelo demais envolvidos.
A reboque das Olimpíadas surgiu, em 2012, a normalização NBR ISO 20121 - Sistemas de gestão para a sustentabilidade de eventos, criada pelo British Standards Institute (BSI), da Inglaterra, e pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), do Brasil. A NBR ISO 20121 teve como base a norma inglesa BS 8901, que foi amplamente utilizada em eventos internacionais como o COP15 e na organização dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, acima citado.
Como exemplo de evento certificado com a NBR ISO 20121, o Rock in Rio foi o primeiro evento da América Latina a receber tal certificação por se encontrar devidamente adequado aos preceitos contidos na normalização ora citada.

O prêmio foi um reconhecimento às ações promovidas pelo festival em prol de um mundo melhor, dentro e fora da Cidade do Rock. Dentre elas, está a geração de 138 mil empregos diretos e indiretos em todas as 13 edições do Rock in Rio, a destinação de mais de 16,5 milhões de dólares a causas socioambientais, entre outras. (Blog Rock in Rio, 2013. Acesso em 08 abr.2014).

Esse evento internacional, sediado no Rio de Janeiro, a propósito, passou, a partir dessa edição, a trabalhar com um plano de sustentabilidade, englobando o trabalho da organização, dos patrocinadores e dos fornecedores; compensação da pegada carbônica; gestão para reduzir, reutilizar e reciclar o máximo de resíduos possíveis (com taxa média global de 70% de reciclagem); doação de materiais reciclados ao final do evento; e premiação para os patrocinadores e fornecedores com as melhores práticas sustentáveis na Cidade do Rock (TECHTUDO, 2017). A iniciativa vem promovendo ainda campanhas de sensibilização sobre boas práticas de sustentabilidade e sobre mobilidade sustentável, com criação de planos de mobilidade para o público e espaços preparados para pessoas com mobilidade reduzida. Os Jogos Olímpicos realizados em 2016, também no Rio de Janeiro, receberam a chancela da mesma certificação:

Rio 2016’s sustainability programme received ISO 20121 certification, after a third party audit confirmed that the sustainability plan for the Games followed international best practices and had been fully implemented. This raised the bar for environmental practices throughout the supply chain. (OLYMPIC GAME, 2017).

O presente trabalho propõe-se a analisar, de forma sintética, as relações existentes entre o setor de eventos e as questões relativas à sustentabilidade, pautadas nas normas e certificações específicas. É perceptível que os estudos relativos aos eventos sobre a égide da sustentabilidade ampliam-se consideravelmente. Daí decorre a importância de se analisar a produção existente sobre o tema, afinal, unir áreas tão distintas torna-se desafiador na medida em que se trata ações de ordem econômica em um primeiro plano, mas que também são sociais, políticas, culturais e ambientais, por exemplo.
Como a propagação do desenvolvimento sustentável avança no cotidiano da população, estudos nesse sentido tornam-se necessários no sentido de se criar um ambiente profícuo de discussões onde se possa aproximar de maneira real as ações sustentáveis, em especial, e sua aplicação no âmbito dos eventos.

 

O cenário promissor do mercado de eventos
Cotidianamente a expansão do setor de eventos é tratada com euforia por aqueles que atuam diretamente no segmento, afinal, a realização de um evento possui relação estreita junto aos demais entes da cadeia produtiva do turismo. Segundo a presidente da ABEOC Brasil, Fátima Facuri, o setor de eventos deixa legado, após sua realização e faz girar a roda da economia, ao envolver 52 setores econômicos (serviços gráficos, energia, financeiros, equipamentos, alimentos, segurança, administração, combustíveis, atacadistas, etc.) (ABEOC, 2018).
Em termos econômicos, o turismo de eventos pode gerar muitos benefícios, como o incremento na receita global do local-sede do evento, levando-se em conta, por exemplo, que um turista participante gasta três vezes mais que um comum, conforme Britto e Fontes (2011). Outro dado interessante é que o chamado MICE (Meetings, Incentives, Congress & Events) é o segundo segmento que mais contribui no fluxo internacional de visitantes para o Brasil, logo após do Lazer (EMBRATUR, 2018).
Ademais, o efeito multiplicador atrelado à atividade faz com que ocorra um aporte considerável de recursos com vistas à captação de eventos. Para Britto e Fontes (2011, p.349):

Os eventos são incontestavelmente, o maior e melhor meio de desenvolvimento nacional, de fomento da economia, de geração de empregos, juntamente com o desenvolvimento da infraestrutura turística, do turismo natural, rural e cultural e do segmento de negócios e eventos.
Ainda que venha perdendo posições, nos últimos anos, o Brasil se configura entre os 20 maiores realizadores de eventos internacionais, conforme ranking da International Congress and Convention Association (ICCA) de países que mais realizaram eventos e reuniões em 2017, em sua última divulgação disponível, ocupando a 16ª posição (EMBRATUR, 2018). Ainda assim, conta favoravelmente ao País o fato de ele ser o mais rico em ecossistemas o que, segundo o Fórum Econômico Mundial, o coloca no topo de uma lista de 140 países como o com maior potencial para desenvolver a atividade turística (BEZERRA, 2018).
Um outro dado relevante que ratifica o setor de eventos é trazido por Martin (2008, p.18) apresentando a estreita relação entre os segmentos de negócios e eventos.

O segmento que mais cresce dentro do turismo é o de negócios – turismo de eventos e de tecnologia: 9,9% do turismo mundial. Além disso, é considerado o que mais oferece retorno econômico e social. Também é o único setor de destino obrigatório e único para quem quiser participar de determinado evento [..].
Em se tratando da concepção em si do que seja Evento, a palavra, de origem latina, traz consigo a ideia básica relativa a um acontecimento, eventualidade (MICHAELIS, 2009). O estudo da área é desenvolvido nos dias atuais com bastante afinco por pesquisadores, acadêmicos, instituições públicas e privadas, como por exemplo, a Associação Brasileira das Empresas Organizadoras de Eventos (ABEOC) e a International Congress & Convention Association.
A partir da expansão do setor de eventos, autores renomados no Brasil que estudam a área, como Martin (2008), Britto e Fontes (2011), Zanella (2006) e Giacaglia (2008), trazem em suas obras distintos conceitos acerca dos eventos. Dada a pluralidade do setor, busca-se através das palavras de Britto e Fontes (2011, p.121) apresentar as distintas concepções e, por conseguinte, abordagens relativas aos eventos.

Nesse contexto de autonomia empresarial, o evento apresenta várias concepções que podem ser assim entendidas:

  • Quando representa a sua própria atividade comercial de cujos resultados a empresa depende para sobreviver e crescer no mercado. São eventos realizados pelas inúmeras empresas organizadoras que existem no mercado;
  • Como subproduto, ou seja, serve de apoio para comercializar ou divulgar os seus principais produtos ou atingir objetivos mercadológicos, que podem ser externos ou internos;
  • Quando os hotéis se utilizam da realização de eventos internos como uma das formas de garantir hospedagem, frequência nos restaurantes, boates, entre outros;
  • Para angariar fundos, difundir atividades sociais, conhecimentos científicos, entre outros;
  • Como forma institucional: criando ou mantendo imagem positiva da empresa junto a vários públicos.

Todo este cenário promissor atrelado ao segmento eventos baseia-se prioritariamente no viés econômico, pois é sabido do aporte financeiro trazido para um evento em relação ao destino receptor. As ações desempenhadas pelos Conventions & Visitors Bureau, por exemplo, são de extrema valia a um destino pelo envolvimento junto aos prestadores de serviços turísticos relacionados ao setor.
Um outro dado que corrobora ao contexto atual do mercado de eventos no Brasil é a Lei Geral do Turismo de 2008. Através deste documento, elencam-se os prestadores de serviços turísticos que possuem relação com a atividade sendo as empresas organizadoras de eventos presentes na legislação. A partir da definição do que é uma empresa organizadora de eventos, direitos e deveres, a sociedade obteve a chancela do poder público quanto às empresas pertencentes ao trade turístico que estão em consonância com a legislação turística. É nesta perspectiva atual que as relações entre a sustentabilidade e os eventos ocorrem sendo o desenvolvimento sustentável a base para todas as ações conforme disposto a seguir.

Desenvolvimento sustentável: um recorte temporal
O movimento relativo a causas sustentáveis começou a delinear-se fundamentalmente a partir da década de 1970. Antes vale abrir um parêntese acerca de todo o processo da industrialização vindo desde a Revolução Industrial, onde a economia era a mola propulsora da humanidade em detrimento às questões sociais e ambientais. Tomando um maior impulso, através da realização de eventos cujos objetivos centrais versavam sobre a discussão do crescimento atrelado a um desenvolvimento, o ano de 1972 marca a realização da Conferência de Estocolmo. É nesta que o desenvolvimento pautado em questões sustentáveis toma corpo tornando-se conhecido pela expressão desenvolvimento sustentável. Pautando-se na consecução de 26 princípios, aponta a necessidade de um melhoramento do meio ambiente humano e das relações das gerações atuais e das vindouras.
Em 1968, quatro anos antes da realização da Conferência de Estocolmo, é lançado o documento intitulado “Limites do crescimento” (em sua versão original recebeu o nome de “Limits of growth”). Tal documento, na época em que foi apresentando trouxe consigo uma série de questionamentos, abordou a real necessidade de se equalizar o desenvolvimento econômico a questões ambientais, de forma que fossem gerados equilíbrios entre estas duas forças (CAMARGO, 2003).
Na década de 1980 ocorre uma proliferação em termos de eventos relativos à sustentabilidade. A Declaração de Manila de 1981, o Relatório Bruntland de 1987, também conhecido por “Nosso Futuro Comum”, podem ser citados como avanços desta década (CAMARGO, 2003). Ainda tratando do avanço quanto a discussões sobre desenvolvimento sustentável, os anos 1990 são marcados pela realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento também conhecida como Rio 92. Segundo dados constantes no documento intitulado “Rio + 20: Comitê Nacional de Organização”, Brasil (2012) foi no momento de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992 que ocorreu a consolidação do conceito “desenvolvimento sustentável”, proferido no ano de 1987 através do Relatório de Bruntland.
Em tal documento o conceito de desenvolvimento sustentável foi apresentado da seguinte maneira: “O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades” (ONU, 2014, p.1). Ainda são ações importantes advindas da Rio 92 a preparação de um compêndio de informações acerca da eminente necessidade de tornar o desenvolvimento da humanidade pautado em questões sustentáveis chamado de Agenda 21, “ a Convenção – quadro das Nações Unidas sobre Mudança de Clima, a Convenção sobre diversidade biológica, a Declaração de princípios sobre florestas e a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente de Desenvolvimento” (ONU, 2014; RIO + 20, 2012, p. 4).
O ano de 2002 é marcado pela realização da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável ocorrida na África do Sul. Ademais no ano de 2012 tem-se a realização da Rio + 20, em alusão aos vinte anos da realização da Rio 92. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável” teve como centro de discussão questões relativas à “erradicação da pobreza, à promoção da saúde, à expansão dos serviços de água e saneamento, à defesa da biodiversidade e à destinação de resíduos tóxicos e não tóxicos”. (BRASIL 2012, p.5). Questões relativas à responsabilidade ambiental das organizações e energia renovável também foram temas abordados nesta Conferência (BRASIL,2012).
É diante deste contexto de grandes eventos cujo centro do debate são as relações do homem e do seu ambiente e os meios em se prover um desenvolvimento pautado em questões sustentáveis que ocorre a proliferação de estudos cujo tema central seja o desenvolvimento sustentável. Também é a partir da consecução de grandes discussões, cujo o cerne do debate tem relação com a sustentabilidade, que uma gama de definições e conceitos começam a ser expostas à sociedade.
De acordo com a ONU (2014), o desenvolvimento sustentável é um “processo de mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras”.
Questões centrais entre o equilíbrio econômico e o ecológico permeiam as explanações de Brown. Para o referido autor:
As políticas econômicas que geraram o crescimento extraordinário da economia mundial são as mesmas que estão destruindo seus sistemas de apoio. Por qualquer medida ecológica que se possa conceber, são políticas fracassadas. Um manejo inadequado está destruindo florestas, pradarias, pesqueiros e terras agrícolas, os quatro ecossistemas que fornecem nosso alimento e, com exceção dos minerais, toda nossa matéria-prima também. Embora muitos de nós vivamos numa sociedade urbana de alta tecnologia, dependemos dos sistemas naturais da Terra da mesma forma que nossos ancestrais caçadores-catadores dependiam. (BROWN, 2003, p.8)
Sachs (2005 apud VEIGA, 2005, p. 10) põe em perspectiva o fato de que a “sustentabilidade no tempo das civilizações humanas vai depender da sua capacidade de se submeter aos preceitos de prudência ecológica e de fazer um bom uso da natureza”. Ele sugere que ao termo desenvolvimento sustentável deva ser acrescentado o seguinte desdobramento: “socialmente includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado no tempo”.  
Veiga (2007) comenta que o:

[...] crescimento econômico é um meio e não um fim. E tem capacidade muito variável de fazer com que as sociedades atinjam os objetivos almejados. Duas singelas idéias que ainda não imbuíram a maioria das análises sobre a situação do Brasil. Elas revelam obsessão pelo crescimento como um fim em si mesmo, supondo ingenuamente que ele mantenha uma relação automática, constante, permanente e até eterna com o desenvolvimento. Em raras ocasiões e em poucos lugares, algumas sociedades elevaram a renda per capta mediante o aumento da produtividade total dos fatores (recursos naturais, força de trabalho e capital). Mas foram proezas passageiras, que não tardaram a decair ou colapsar. Esses surtos de crescimento ‘intensivo’ compõem a história das grandes civilizações. (VEIGA, 2007, p.47-48).

Na mesma obra, o autor chama a atenção para os variados resultados que a junção do adjetivo “sustentável” pode causar ao ser acoplado aos termos “crescimento” e “desenvolvimento”.  No primeiro caso, a resultante transmite a ideia de manutenção de razoáveis taxas anuais de aumento do PIB, em vez de revezamento com períodos de estagnação ou recessão, algo como estável, permanente, duradouro ou consolidado, numa roupagem bem diferente do que se pretendia ao usar adjetivo, pela primeira vez com tal pretensão, em 1987, quando passou a ser usado pela Organização das Nações Unidas.
É oportuno destacar que as sociedades em sua maioria enxergam a sustentabilidade apenas relativa a questões ambientais. Contudo, tratar de um desenvolvimento em padrões ditos sustentáveis abrange outros campos temáticos. A sustentabilidade pode, por exemplo, ter relações diretas com questões de ordem política e econômica bem como empresarial. Recorrendo ao cerne da discussão, a palavra sustentabilidade tem a ver com “característica ou condição do que é sustentável” (HOUAISS, 2009). Acerca da morfologia da palavra sustentável encontra-se: “que pode ser sustentado; passível de sustentação”. (HOUAISS, 2009).
Diante do exposto objetiva-se demonstrar que a sustentabilidade é bem mais que questões puramente ambientais. Cada sociedade é que pode definir seus padrões de sustentabilidade baseado em condições próprias de organização, afinal, não é possível prover a sustentabilidade e, por conseguinte seu desenvolvimento sem o envolvimento dos indivíduos que a compõem.
Não obstante, a criação dos pilares da sustentabilidade ou as dimensões para seu entendimento foram propostas por autores e entidades no sentido de prover um entendimento global da temática a partir da conceituação das partes que o compõem. Assim, para fins deste estudo basear-se-á no disposto da Organização das Nações Unidas que compreende como pilares da sustentabilidade os relativos à economia (econômico), os relativos à sociedade (social) e os relativos ao ambiente (ambientais). (BRASIL, 2012). Desta feita, conclui-se a parte específica aos marcos teóricos que permeiam a discussão deste estudo, passando-se a seguir à apresentação dos procedimentos metodológicos utilizados na consecução da presente obra.

Metodologia
A partir da delimitação temática do presente estudo – as relações entre a sustentabilidade o setor de eventos, foram definidos os instrumentos de pesquisa mais apropriados para a consecução dos objetivos propostos e da problemática estudada. Ademais a definição do escopo da pesquisa foi fundamental na medida em que auxiliou as pesquisadoras quanto ao caminho a seguir no que concerne a escolha apropriada dos métodos presentes no estudo. Partindo-se do da escolha pelo tipo de pesquisa qualitativa, Alves (2011, p. 610 -611) pontua:

Desse modo, as pesquisas qualitativas em turismo tendem a contribuir tanto para um exercício reflexivo de novos conhecimentos quanto para a sua aplicabilidade nas diversas esferas do social. Ao problematizar os condicionamentos sócio-culturais de um determinado local, os pesquisadores lidam com metodologias que lhes possibilitam refletir sobre diferentes concepções da realidade. Com caráter interdisciplinar, lançam mão de diferentes abordagens teóricas e imprimem significados diversos conforme a tradição em que se inserem [..].

 

A escolha por um estudo bibliográfico foi priorizada, pois o objeto de pesquisa em si encontra-se em fase de maturação quanto a propostas já implantadas e em vigor, uma vez que, as relações existentes entre o setor de eventos e os princípios da sustentabilidade ganharam maior destaque no ano de 2012 com a publicação da norma NBR ISO 20121 intitulada “Sistemas de gestão para sustentabilidade de eventos”. No Brasil, além da existência da referida norma também se encontra em atividade a “Certificação da Sustentabilidade em Eventos”, emitida através do Instituto Brasileiro de Eventos (IBEV).
Também merece destaque o compêndio de informações da Global Reporting Initiative (GRI) a partir da metodologia disponível à realização de eventos que se enquadrem nos padrões sustentáveis definidos pela Organização através de seus relatórios setoriais. Em concomitância à pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental também foi utilizada para prover subsídios a esta pesquisa.
Nos escritos de Oliveira (2000) encontramos que a pesquisa documental ou a análise documental fundamenta o pesquisador em relação a outros tipos de fontes utilizadas e podem enquadrar, por exemplo, a análise de tabelas, relatórios, projetos de leis, leis, dentre outros tipos documentais. Acerca deste item, fontes como Ministério do Turismo e International Congress & Convenion Association podem ser apontadas. Optando-se por ser uma pesquisa do tipo descritiva foi possível elencar as principais características do fato estudado. Na fala de Gil (2008) um aspecto a ser enaltecido neste tipo de pesquisa é a possibilidade dada ao autor do estudo de prover novas contribuições à temática ora estudada.
Com a etapa de coleta de dados foi possível a partir das pesquisas realizadas ter acesso a uma vasta quantidade de materiais relativos às temáticas: eventos, sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e certificação. Como a base do estudo centrou-se nas relações existentes entre a sustentabilidade atrelada ao mercado de eventos, foi possível elencar dentre os materiais aqueles que seriam posteriormente aproveitados na construção do documento final. Por ser uma pesquisa do tipo descritiva, os dados constantes são apresentados em formato de levantamento, ou seja, de apresentação a partir de um recorte temático de informações que tenham relação direta com a proposta presente no estudo.
É oportuno destacar que a interdisciplinaridade (JAFARI, 1981; 2005 apud LOHMANN; PANOSSO NETTO 2008, p. 43) do Turismo se faz presente neste documento justamente por unir áreas aparentemente distintas, mas que podem prover àqueles que se debruçam sobre seus estudos plenas condições de integrá-los e entregar à sociedade novos modelos, documentos e esquemas teóricos atuais e relevantes à sociedade.

 

Discussão: preceitos da sustentabilidade aplicados aos Eventos
Como tratado anteriormente, as questões que envolvem os debates acerca da sustentabilidade surgiram, com maior impulso, a partir da década de 1970 e cada vez mais ganham espaço entre pesquisadores, acadêmicos e sociedade em geral. No âmbito do turismo, o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade também se fazem presentes a partir da perspectiva de integração entre as áreas fazendo surgir o desenvolvimento sustentável da atividade turística em um destino.
Especialmente se tratado do setor de evento, um dos entes da cadeia produtiva da atividade turística, percebe-se um movimento também relativo ao desenvolvimento de eventos apoiados nas questões sustentáveis. Sendo assim, a expansão em termos de normas e certificação quanto à realização de eventos sobre a chancela “sustentável” já faz parte do escopo dos eventos. Por definição, considera-se “Evento Sustentável” como aquele que tanto reduz seu impacto ambiental direto, quanto consegue “contribuir para deixar um legado positivo e duradouro para a comunidade local”. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2012, p.2)
Na consecução de pesquisas relativas aos eventos atrelados a questões sustentáveis, são utilizados como fonte de informações para o presente estudo: a metodologia proposta pelaGRI,a NBR ISO 20121, a normalização oriunda da APEX/ASTM Internacional e a certificação proposta pelo IBEV.
É a partir da emissão dos relatórios de sustentabilidade que a GRI apresenta à sociedade um compêndio de informações acerca da realização de um determinado evento (tipologias e portes podem variar). A adoção desta metodologia proporciona à organização contratante a possibilidade de publicitar a partir de quatro eixos temáticos (economia, ambiente, sociedade e governança), o desempenho de determinada entidade. De acordo com o sítio eletrônico da entidade no Brasil, elencam-se algumas das particularidades inerentes às organizações que optam pela construção de um relatório de sustentabilidade. São elas:

• Aumentar a compreensão sobre os riscos e oportunidades que elas enfrentam
• Melhorar a reputação e a fidelidade à marca
• Ajudar seus stakeholders a compreender os impactos de sustentabilidade e desempenho
• Enfatizar a relação entre o desempenho organizacional financeiro e o não financeiro
• Influenciar na estratégia e política de gestão em longo prazo e planos de negócios
• Servir como padrão de referência (Benchmarking) e avaliação de desempenho de sustentabilidade com respeito às leis, normas, códigos, padrões de desempenho e iniciativas voluntárias
• Demonstrar como a organização influencia e é influenciada pelas expectativas relativas ao desenvolvimento sustentável
• Comparar o desempenho organizacional interno e entre outras organizações
• Conformidade com os regulamentos nacionais ou com os requisitos referentes à bolsa de valores. (GRI, 2014)

Em especial ao setor de eventos, a GRI oferta a preparação de um relatório de cunho técnico pautado nas diretrizes setoriais para os eventos, ou seja, a partir da criação de suplementos setoriais, a entidade auxilia “as organizações na elaboração de seus relatórios de sustentabilidade endereçando os impactos específicos de forma internacionalmente comparável” (GRI, 2014).
Atrelado à metodologia GRI, o Festival de Música SWU em suas edições ocorridas no Brasil teve seu relatório de Sustentabilidade apresentado à sociedade e auditado por organizações chanceladas pela GRI, de forma que, ao final do evento foi possível encontrar em um único documento, a partir dos eixos de trabalho definidos pela GRI, o que foi feito pelo Festival quanto aos impactos ocorridos nos locais sede do Evento. O Relatório de Sustentabilidade SWU 2010, inclusive, foi o primeiro relatório de sustentabilidade de eventos já elaborado no Brasil e o primeiro da América Latina, também para o segmento de eventos, a fazer uso da metodologia GRI (SWU, 2011).
Amplamente difundida globalmente, a metodologia GRI é empregada em organizações de diversos setores da sociedade que tenham o interesse em informar àqueles interessados acerca do seu comportamento perante áreas fins de execução. Outro desdobramento oriundo dos relatórios que utilizam a metodologia adotada pela GRI é a possibilidade de se comparar relatórios entre instituições, de forma que se observem, a partir de parâmetros previamente definidos, o desempenho destas em relação ao alcance dos objetivos previamente dispostos.
No ano de 2012, a ISO publicou sua norma relativa à consecução de eventos sob a perspectiva da sustentabilidade. Intitulada no Brasil como “Sistemas de gestão para a sustentabilidade de eventos – requisitos com orientação de uso” traz consigo tal qual a metodologia GRI, a possibilidade de organizações de qualquer porte que trabalhem diretamente com eventos poderem seguir suas diretrizes. A norma, de fácil entendimento, está organizada a partir das diretrizes do ciclo PDCA (em português: planejar, executar, checar e agir).
Informação de bastante relevância contida nesta norma diz respeito à conformidade ou não em relação à sustentabilidade de um evento sendo o seu sistema (de forma geral) dito como conforme ou não aos preceitos da norma. Pode-se afirmar que a preparação desta norma tem relação direta com as Olimpíadas de Londres e seu intento em ser lembrada pela presença das questões sustentáveis desde sua concepção até o momento após o megaevento. Para tanto uma equipe multidisciplinar foi envolvida no que concerne à preparação do documento utilizado em diversos países assim como no Brasil. O evento Rock in Rio recebeu a certificação NBR ISO 20121 no ano de 2013, por estar em conformidade com os preceitos contidos na referida norma, tendo o mesmo acontecido com os Jogos Olímpicos Rio 2016.
Outra norma em vigor relativa aos eventos e a relação destes com os pilares da sustentabilidade é a norma internacional apresentada pela APEX (Accepted Pratices Exchange) / ASTM International). A partir de nove áreas relativas aos eventos, são dispostas normas inerentes a cada uma destas, é possível aferir os índices relativos à sustentabilidade e os objetivos alcançados pela organização. A norma, de caráter voluntário, tal qual a metodologia proposta pela GRI bem como a constante na NBR ISO 20121 atende a qualquer porte de evento em suas distintas tipologias trabalhadas. Abaixo apresenta-se um diagrama das áreas mensuradas pela norma proposta pela APEX/ASTM International:
Pode-se perceber a heterogeneidade de áreas correlatas abarcadas pelo setor de eventos que possuem normas específicas APEX/ASTM International.  A partir da delimitação de critérios que possuem relações a questões sustentáveis, é possível mensurar com a emissão de relatórios referentes ao evento auditado a sua adequação ou não à norma. No sítio eletrônico da instituição é possível ser ter informações de cunho geral sobre cada uma das normas de modo que o interessado possa previamente visualizar qual/quais necessitará adquirir para receber a chancela da instituição.
Uma entidade, desta vez brasileira, que possui em seu escopo de serviços a certificação relativa à sustentabilidade é o Instituto Brasileiro de Eventos (IBEV). Intitulada como “Certificação Ibev de Sustentabilidade de Eventos”, busca certificar a empresa interessada quanto à realização de eventos sustentáveis. Alinhada ao disposto na NBR ISO 20121, todo o processo de auditoria e, por conseguinte, certificação é acompanhado pela entidade de modo que ocorra a adequação da empresa aos eixos temáticos instituídos pelo IBEV. É oportuno destacar que da mesma forma que as demais entidades detentoras de normas relativas aos eventos e a relação destes com a sustentabilidade, é possível a certificação de empresas de qualquer porte e que desenvolvam distintas tipologias de eventos.
O que se pode perceber a partir de uma análise síntese das relações existentes entre o setor de eventos e as questões relativas à sustentabilidade é a possibilidade de abrangência de organizações que percebam a necessidade quanto à adequação de sua prestação de serviços aos pilares da sustentabilidade.
É mister destacar que as instituições pesquisadas em termos de provimento de normas procuram proporcionar aos interessados a possibilidade de declarar à sociedade à anuência relativa à sustentabilidade. Ademais, a certificação proporciona às entidades avaliadas a condição de se colocar perante a sociedade como uma empresa coerente e sensível à sustentabilidade e ao desenvolvimento do setor de eventos de uma maneira também sustentável. Isto é o que se espera de um ente da cadeia produtiva do turismo que produz aos destinos turísticos ganhos econômicos volumosos.
Espera-se que as empresas ligadas ao setor de eventos percebam os lucros também oriundos a partir das certificações disponíveis ao mercado corporativo de forma que, se equilibrem os ganhos aos envolvidos no setor pautados em valores condizentes ao que se espera de um desenvolvimento sustentável.

Considerações finais
A partir dos anos 2000 a integração da pauta sustentabilidade sobre perspectivas econômicas, sociais, ambientais e políticas ganhou mais impulso. Seja pela forte necessidade de mudanças de paradigmas, seja pela eminência de distúrbios de ordem social ou ambiental, o fato é que temos uma maior atenção à pauta sustentabilidade em extratos da sociedade. Em especial no âmbito turístico, a necessidade de destinos salutares aos olhos do visitante, se fazem essenciais para à sua sobrevivência e consolidação, como preceitua Butler (2006) através do “Ciclo de vida dos destinos turísticos”.
Por fazer parte da cadeia produtiva do turismo, o setor de eventos traz consigo responsabilidades inerentes ao desenvolvimento de atividades que congreguem dividendos a um destino, a seus idealizadores e realizadores e a comunidade que o recebe. Assim, os efeitos multiplicadores originários das atividades serão suficientemente plausíveis acerca das benesses oriundas destes.
A integração da sustentabilidade aos eventos é uma realidade à disposição do trade atuante no setor. A concepção, planejamento e disponibilização de normas, certificações e demais documentos relativos a questões sustentáveis centradas nas especificidades dos eventos se fazem presentes como visto no decorrer do estudo. A partir do elenco de áreas fins diretamente impactadas com a estruturação de um evento, seja esta de qualquer tipo e porte, planejado por organizações que atuem com eventos, é possível perceber que existem disponíveis aqueles interessados pela questão certificações, normalizações, relatórios e diretrizes que agregam a sustentabilidade em medidas palpáveis de serem implantadas no escopo de um evento.
A partir das pesquisas realizadas para a consecução do estudo, foi possível perceber uma gama de materiais disponíveis que versem sobre as temáticas eventos e sustentabilidade. A junção destas pode ser mais percebida em textos comerciais, como por exemplo, a apresentação de um evento que recebeu a certificação NBR ISO 20121. O que não deixa de ser errado ou equivocado, afinal, o marketing social, a publicidade atrelada à sustentabilidade, já possui um público consolidado e sedento por novidades adequadas a seu estilo de vida.
Percebe-se que no Brasil, com a inclusão dos preceitos originários da normalização “Sistemas de gestão para sustentabilidade de eventos” e atrelando-se ao momento atual de realização de mega eventos, a pauta “eventos sustentáveis” vem ganhando fôlego nas discussões presentes na sociedade. Palavras como legado, mitigação e benefícios podem ser algumas das mais presentes em discursos sobre a temática.  É preciso destacar que todo o evento traz impactos. Isto é fato consumado. O que o fará ter uma importância singular a um destino é que tipo de impactos estes causarão e que esferas da sociedade serão diretamente afetadas.
A observância de documentos nacionais e internacionais relativos aos eventos sustentáveis traz consigo a necessidade daqueles envolvidos na atividade terem ciência do como, porquê, para que e para quem foram concebidas por exemplo, as diretrizes instituídas pela Global Reporting Initiative, os preceitos contidos na normalização proposta pelo ISO e intitulada no Brasil como “Sistemas de Gestão para Sustentabilidade de Eventos”, a certificação em eventos sustentáveis emitida pelo Instituto Brasileiro de Eventos.
É mister destacar também a presença da APEX/ASTM International como mais uma entidade envolvida com a criação de instrumentos avaliativos voltados à certificação quanto a eventos sustentáveis. Em comum, todos os instrumentos ora avaliados neste estudo trazem consigo semelhanças no que diz respeito ao escopo de atuação para um evento ser do tipo sustentável. São elencadas áreas fins a serem analisadas sendo estas em âmbito geral relativas a pilares da sustentabilidade, como apontas Sachs (2000).
A escolha de uma organizadora de eventos em passar pelo processo de certificação ainda carece de expansão no Brasil. De forma tímida, nota-se um início de movimento quanto à ação de se submeter a análises e adequações em se realizar eventos sustentáveis chancelados por entidades representativas que atuem com certificação. Trata-se, em um primeiro momento, de um movimento de sensibilização do trade. É a partir desta que tornar-se-á possível ampliar os conhecimentos dos envolvidos no setor sobre os conceitos relativos à sustentabilidade e a um desenvolvimento entendido como sustentável.
Já se percebe parte do setor atuando em prol da realização de eventos sustentáveis. Um dos grandes exemplos ocorreu em 2012 com a realização das Olimpíadas de Londres, definida a partir de eixos temáticos e que possuíam diretrizes definidas e relativas a questões sustentáveis.
O Brasil possui plenas condições de no ano de 2014 promover um mega evento sustentável e assim ser lembrado pelo legado deixado à comunidade receptora. O que se necessita é saber a relevância da sustentabilidade e a necessidade de se crescer sustentavelmente. Todo o desenvolvimento virá em seguida a partir de organizações sensíveis à ação e coerentes entre o equilíbrio necessário do crescimento e do desenvolvimento. Ademais, urge a necessidade de estudos no Brasil que congreguem os eventos à sustentabilidade uma vez que, a temática é recorrente e suas discussões carecem de novas olhares e contribuições sendo o Brasil um local com plenas possibilidades de alavancar novas discussões relativas à área em tela.

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* Artigo revisado e ampliado. Foi originalmente apresentando no IX Congresso Brasileiro de Turismo.
** Bacharel em Comunicação Social (Jornalismo). Professora do Centro Universitário UniFBV Wyden. E-mail: ana.silva@unifbv.edu.br
*** Bacharel em Turismo. Professora do Departamento de Hotelaria e Turismo, Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: mariahcsilva2@ufpe.br


Recibido: Julio 2018 Aceptado: Diciembre 2018 Publicado: Diciembre 2018

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