Brendow de Oliveira Fraga
Magnus Luiz Emmendoerfer
Júlio da Costa Mendes
Universidade Federal de Viçosa
brendow.fraga@ufv.brResumo: O objetivo da presente pesquisa foi efetuar uma análise comparativa do planejamento e implementação da economia criativa em atividades turísticas, no plano da administração pública, nos municípios de Ouro Preto (MG) e Viçosa (MG). Para tanto, como procedimentos metodológicos foram adotados o estudo de campo, visitando órgãos e eventos municipais, estaduais e federais relacionados ao tema e entrevistas com os agentes participantes das atividades turísticas ligadas à economia criativa. Como principal resultado observou-se nos municípios estudados que a economia criativa em atividades relacionadas ao turismo ainda se desenvolve de maneira incipiente e pouco estruturada, todavia com perspectivas e oportunidades de desenvolvimento. Conclui-se que a economia criativa aliada ao turismo, pode ser um elemento fundamental para o desenvolvimento das cidades, para a valorização da identidade de grupos regionais, para o fortalecimento das políticas culturais locais e para valorização do espaço público.
Palavras-chave: Gestão cultural, políticas públicas, desenvolvimento territorial, criatividade, destinos turísticos, planejamento turístico, governo local, desenvolvimento turístico.
TOURISM, CREATIVE ECONOMY AND PLANNING GOVERNMENT IN TWO Interior Brazilian cities
ABSTRACT: The objective of the research is to perform a comparative analysis of the planning and implementation of the creative economy in tourist activities, in terms of public administration in the municipalities of Ouro Preto (MG) and Viçosa (MG). Therefore, as methodological procedures were adopted the field of study, visiting agencies and city events, state and federal related to the subject and interviews with the players taking part in tourist activities related to the creative economy. The main result was observed in the cities studied the creative economy in activities related to tourism still develops incipient and unstructured, but with prospects and development opportunities. We conclude that the creative economy coupled with tourism can be a key element in the development of cities, for the recovery of the identity of regional groups, to strengthen local cultural policies and for recovery of public space.
Keywords: cultural management, public policy, territorial development, creativity, touristic destinations, creative industries, touristic planning, local government, tourism development.
JEL: O2; O38; L83
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 Brendow de Oliveira Fraga, Magnus Luiz Emmendoerfer y  Júlio da Costa Mendes (2015): Turismo, economia criativa e planejamento governamental em dois municípios do interior do Brasil (Esse trabalho é resultado de cooperação de pesquisa: Planejamento Público e Desenvolvimento Turístico: Uma análise dos Destinos Nacionais em Minas Gerais (2007-2014) com fomento Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), Processo 471136/2014-0.  Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelas bolsas de ao Programa de Educação Tutorial (PET) e de pós-doutoramento (Processo BEX-1254/14-6), oferecidas, respectivamente, aos primeiro e segundo autores), Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 18 (junio 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/turydes/18/economia-criativa.html
 1. INTRODUÇÃO  
              
              O  conceito de cultura reflete uma evolução histórica da manifestação da  capacidade humana, de simbolização de sua subjetividade. Deste modo, novas  abordagens emergem no campo da ciência, versando sobre temas relacionados à  cultura e gerando aplicações desta área do conhecimento em saberes como o  marketing cultural, a gestão cultural, a indústria cultural, o turismo cultural  e afins. 
              Nesta  perspectiva, a economia criativa emerge da evolução e substituição do conceito  de indústria cultural, a qual pode ser entendida como “a transformação de um  bem cultural em mercadoria” (Machado, 2009:84) e desde então se aprimorou como  uma atividade ligada à elaboração, preparo, produção e também à distribuição de  bens que tenham como seu principal subsídio, o capital intelectual, o ato  criativo, a geração de conteúdo simbólico e a inventividade mental, em nível de  conhecimento técnico e recursos utilizados. Por criatividade, entende-se neste  artigo, a expressão do potencial humano de realização, e, sobretudo, a  capacidade de gerar algo novo, que seja útil e capaz de transmitir significado  (Howkins, 2013).
              A  economia criativa conglomera, por este aspecto, organizações que dependem da  criatividade e inventividade de seus integrantes para funcionarem, e tem como  principais setores, segundo Howkins (2013) a gastronomia, a arquitetura, a  publicidade, as artes e antiguidades, o artesanato, a moda, o cinema e vídeo, o  rádio, softwares de lazer, a música, a televisão e as atividades relacionadas  às tradições culturais.
              Em  função da crescente relevância do tema em âmbito mundial e do aumento da  representatividade dos setores criativos; na esfera da administração pública  brasileira, a fim de se proteger as iniciativas no setor, fora criada em 1 de  junho de 2012, a Secretaria de Economia Criativa (SEC), a qual objetiva  “conduzir a formulação, a implementação e o monitoramento de políticas públicas  para o desenvolvimento local e regional, priorizando o apoio e o fomento aos  profissionais e aos micro e pequenos empreendimentos criativos brasileiros” (Brasil,  2014).
              A  economia criativa consiste em uma área de intensa transversalidade. Desta  forma, um ramo do conhecimento conexo a essa temática, é a ciência do turismo;  atividade que investiga os movimentos, deslocamentos e experiências humanas em  viagens e vivências em novas localidades. Nessa atividade, o indivíduo se torna  agente antropológico de trocas de experiências sociais e interações entre  diferentes culturas.
              Assim,  sob a égide de que as atividades relacionadas às tradições culturais compõem um  setor da economia criativa, é possível conceber o turismo como uma atividade  criativa, seja pelas experiências geradas aos agentes envolvidos, ao produzir  valor simbólico; seja pela originalidade, criatividade e processo de inovação  contínua em determinados setores turísticos, como por exemplo, o turismo  cultural.
              A  concepção de turismo adotada nesta pesquisa foi definida pela Organização  Mundial do Turismo (OMT), enquanto “atividades desenvolvidas por pessoas ao  longo de suas viagens e estadas em locais situados fora do seu enquadramento  habitual por um período consecutivo que não ultrapasse um ano, para fins  recreativos, de negócios e outros” (Cunha, 1997:9). Desta forma, pode-se  afirmar que o turismo é um elemento fundamental para o desenvolvimento local,  e, neste sentido, no Estado de Minas Gerais, a pluralidade da cultura regional  e as paisagens naturais compostas por inúmeros atrativos, bem como as  manifestações humanas de arte e oportunidade de negócios, compõem alguns dos  elementos que tornam essa localidade, um cenário ideal para a consolidação da  atividade turística.
              Uma  vez que o território mineiro seja destino de turistas de todo o mundo, bem como  seja repleto por atrativos de cunho turístico, os resultados alcançados pelo  turismo demonstram a importância desta atividade para a economia estadual, como  elemento gerador de renda, capaz de dinamizar os setores de comércio e  serviços. 
   Desta maneira, lançando-se um olhar  sobre o cenário do turismo mineiro, observam-se duas realidades distintas, que  foram percebidas como especialmente importantes para este trabalho: Por um  lado, encontra-se o município de Ouro Preto, cidade-monumento, declarada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a  Ciência e a Cultura (UNESCO)  como Patrimônio Cultural da Humanidade, cuja atividade turística é planejada,  sistematizada e fomentada pela administração pública. 
   Outra realidade observada é a em  que se insere o município de Viçosa, cidade sem tradição na sistematização de  seu setor turístico; em que não existem evidências de uma organização do  turismo conduzida pelo governo municipal, por meio dos seus órgãos competentes.
              Sob  este aspecto, diante da realidade contextualizada, emerge a seguinte pergunta  de pesquisa: Como a economia criativa em atividades ligadas ao turismo vem  sendo tratada no planejamento de cidades no Brasil?
              A  fim de responder a esta inquietude, este trabalho tem o objetivo geral de  analisar de forma comparativa como a economia criativa em atividades turísticas  é planejada e implementada no plano da administração pública, nos municípios de  Ouro Preto MG e Viçosa MG.
              Como objetivos específicos, têm-se:         
            A  relevância deste trabalho reside no potencial que as organizações criativas  possuem para a geração de renda e desenvolvimento, exemplificado pelo fato de  que “no Brasil, o mercado formal de trabalho do núcleo criativo é composto por  810 mil profissionais, o que representa 1,7% do total de trabalhadores  brasileiros com carteira assinada” (Firjan, 2014).
                Além disto, considera-se também, esta pesquisa  relevante para o campo da ciência, pois seus resultados podem ser aplicados  para se compreender a realidade do planejamento público acerca da economia  criativa e das políticas de cultura em relação à atividade turística nas  cidades do interior de Minas Gerais, advindos de um processo indutivo de  investigação e análise.
               Ademais,  os achados deste trabalho podem trazer informações úteis para a discussão sobre  a elaboração de projetos de lei, programas e ações da administração pública,  capazes de integrar a cultura, artes, a gestão social e o turismo, com  realidades emergentes como a economia criativa. 
 2. CULTURA, INDÚSTRIA E ECONOMIA CRIATIVA: UMA  BREVE DISCUSSÃO 
              
   A fim de se obter um pleno  entendimento da economia criativa, deve-se, pois, compreender as indústrias  culturais e as indústrias criativas; termos dos quais aquela deriva. Dessa  forma, o termo indústria cultural, está relacionado ao conceito de cultura de  massa, de estandardização da arte e de conteúdos simbólicos. 
   As indústrias culturais podem ser  compreendidas como organizações nas quais as ofertas são vistas por seus  públicos como produtos culturais, isto é, os artigos cujo valor é enxergado por  um mercado consumidor devido a atributos simbólicos e de significado, em vez de  as características materiais (Adorno, 2007). 
   A  lógica da indústria cultural, em uma perspectiva adorniana consiste na criação  de capital sobre a circulação da produção cultural, possibilitando, pois o  aparecimento de tecnologias associadas à cultura, como por exemplo, no  surgimento e desenvolvimento das mídias (Rubim, 2007)
   Em relação à indústria criativa, o  termo surgiu a partir da chamada virada cultural ocorrida no século XX, que se  refere às mudanças dos valores socioculturais, ocasionada pela instauração de  uma sociedade cuja base de troca é a informação, pautada na mudança de valores  materialistas para valores pós-materialistas (Bendassolli et. al., 2009). Dessa forma, essas indústrias podem ser  classificadas como:
Atividades que têm a sua origem na criatividade, competências e talento individual, com potencial para a criação de trabalho e riqueza por meio da geração e exploração de propriedade intelectual e talento individual, com potencial para a criação de trabalho e riqueza por meio da geração e exploração de propriedade intelectual (Dcms, 2005:5, apud Bendassolli et al., 2009:12)
O foco de tornar o usuário o  principal agente do deleito da experiência, coloca a economia criativa como uma  forma de acesso a experiências locais, à vivência de novas culturas, de  transmissão e experienciação de valores e símbolos, e da mesma forma, o  desenvolvimento e a combinação de costumes e hábitos culturais.
   Para compreensão do termo economia  criativa, lança-se um olhar para a Austrália, mais especificamente no ano de  1994, sendo pois, a primeira vez em que um governo federal australiano  implementou oficialmente uma política cultural. Essa política tratava-se da Creative Nation, uma medida de 250  milhões de dólares australianos em financiamento adicional os quais foram  prometidos a instituições culturais (Australia, 1994)
   Howkins (2013) descreve o processo  de emergência e amadurecimento das indústrias criativas após a ocorrência da Creative Nation, e, posteriormente, o  surgimento da expressão indústria criativa, promovida pelo governo britânico no  final da década de 1990, o qual delineou os atuais ramos e destinos dessa  atividade.
              Dessa  forma, de acordo com British Council (2005:15, tradução nossa) “O termo indústrias  criativas se originou na metade final de 1990 e foi levado pela primeira vez a  nível nacional pelo Governo do Reino Unido”.
              Este  conceito foi largamente defendido pelos agentes sociais que acreditavam na  mudança dos termos em debate sobre o valor dos produtos simbólicos da  inventividade humana. Assim, ainda nas definições dessa organização  internacional, a economia criativa se distende em setores criativos, os quais  são:
a propaganda, a arquitetura, o mercado de artes e antiguidades, o artesanato, o design, o design de moda, filme e vídeo, softwares de lazer interativo, música, as artes cênicas, publicações, softwares e serviços de computador, televisão e rádio (British Council, 2005:16, tradução nossa)
Reis (2012) discorre que no Brasil,  a economia criativa se desenvolveu a partir do ano de 2004 em um evento  intitulado Eleventh  United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD XI), por  meio de um documento Chamado Consenso de São Paulo, o qual estimulava os  setores criativos nacionais. Ilustrando a importância da figura do gestor  público, o então ministro da cultura criou o I Fórum Internacional de Cidades  Criativas, disseminando cada vez mais a temática em um contexto nacional e aberto.
   Dessa forma conclui-se, pois, que o  potencial empregador, produtivo e inovador das atividades culturais e criativas  é ainda relativamente pouco estudado, mas sua potência já é visível e parte de  um processo global de definições conceituais e parametrizações  teórico-empíricas [...] contribuindo para o crescimento de muitas economias em  desenvolvimento (Brasil, 2014).
3. QUESTÕES CULTURAIS E CRIATIVAS NA ATIVIDADE TURÍSTICA
            Uma vez que o turismo seja uma  atividade ligada diretamente a outros ramos do desenvolvimento socioeconômico  de territórios, os impactos dessa atividade podem ser observados, analisados e  mensurados em termos de divisas econômicas, manifestações antropológicas,  transformações socioculturais de regiões, legitimações históricas e inúmeros  outros parâmetros.
                 Pode-se  observar que a sociedade vivencia uma evolução da relação entre cultura e  turismo, sobretudo ao longo do século passado, em que o turista passou a  demandar por experiências e começou a buscar novas formas de reconhecer o valor  da cultura como uma forma potencial de geração de turismo (Richards, 2009).
              Atualmente, as atividades turísticas  se sobressaem no que diz respeito às relações sociais e políticas, bem como nas  transações econômicas das sociedades. Dessa forma, as demandas do turista  contemporâneo se baseiam na necessidade de experiências práticas e  enriquecedoras, nas quais o indivíduo poderá interagir diretamente com as  atividades proporcionadas por determinado atrativo turístico e dele desfrutar  de aprendizados e vivências. Assim, vertentes do turismo capazes de atender a  essas demandas, podem ser satisfeitas pelo turismo cultural e, mais  especificamente pelo turismo criativo, dentre outras formas possíveis, como por  exemplo, o turismo de base comunitária.
               O turismo cultural, é percebido por Batista  (2005), como o resgate da memória, da identidade e da cultura de um determinado  grupo étnico, que se preocupa com a preservação do seu Patrimônio Cultural,  suas crenças, hábitos, manifestações, ritos, etc. Ainda nessa perspectiva,  pode-se pensar o turismo cultural como:
Movimentos de pessoas em busca de motivações essencialmente culturais, tais como excursões de estudo, teatralizações e excursões culturais, viagens para festivais e outros eventos culturais, visitas a localidades e monumentos, viagens para estudar a natureza, folclore ou arte e peregrinações. O aspecto central nessa definição é que o turismo cultural envolve essencialmente motivações culturais (Richards, 2009:25)
            Convém salientar que essa dimensão  do turismo cultural é o que lhe torna característico, uma vez que a motivação  do agente em fazer uso da oferta de turismo será exclusivamente o atrativo  cultural e a possibilidade de absorção da cultura local. Um elemento  constitutivo deste aspecto é a experiência, a vivência individual e a  apropriação de valores e símbolos que a experimentação do turismo lhe  proporciona.
              Devido à emergência dessa “nova  economia capaz de gerar um tipo de solidariedade baseada no respeito das  expressões culturais locais e na proteção ao meio ambiente” (Marchi, 2014:  208), uma atividade turística voltada especificamente para a geração de valor  simbólico, de expressividade e de vivências integradoras se torna elemento  fundamental para a consolidação do setor turístico em âmbito público.
              De modo complementar, o turismo  criativo pode ser compreendido como um paradigma em que o turista vivencia os  símbolos, valores e os hábitos das comunidades na sua maioria em ambientes  urbanos, por meio da visitação e interação com certos agrupamentos humanos.  Essa configuração turística conforma a experiência subjetiva do turista acerca  da cultura local, caracterizada pela interação criativa com a localidade que  este agente se propôs a visitar (Emmendoerfer, Morais e Fraga, 2014).
               Dessa forma, segundo Gonçalves (2008) as novas  estratégias de regeneração urbana apontam para uma ligação e cooperação entre  as indústrias criativas e o turismo. O novo turista procura experiências  autênticas, que proporcionem desenvolvimento pessoal e aprendizagem.
   Richards (2011) afirma que o  turismo criativo pode assumir inúmeras formas, envolvendo por exemplo oficinas  interativas, em que há uma ambiência para a cocriação e aprendizagens coletivas,  cujas experiências mobilizam pessoas, base da atividade turística e de sua  dinamicidade.
   Essa nova modalidade do turismo se  constrói a partir de uma renovação no papel social ocupado pelo turista. Além  de desfrutar da visita de pontos turísticos, esse agente constrói  conhecimentos, vive uma situação concreta da atividade econômica, cultural ou  de lazer que dada localidade possui e após, atua como um propagador do  território visitado, dos simbolismos e dos atrativos turísticos daquela  localidade.  
   Incontáveis agentes da economia são sinalizados e  mobilizados nessa forma de turismo, uma vez que o mesmo passe a ser uma  atividade maior, na qual todos os pontos turísticos potencialmente geradores de  experiências e práticas vivenciais para visitantes, como cursos, oficinas e  visitações interativas, para seu funcionamento efetivo, necessitem da ação  integrada e articulada da administração pública, dos agentes dos comércios e da  hotelaria, da população local e de todos os indivíduos que componham o cenário  de experimentação com os quais os usuários do turismo criativo se relacionarão.
4. PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL E POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA E TURISMO
As políticas públicas surgem para que os governos consigam  implementar ações e transformações na área de suas respectivas governanças.  Howlett, Ramesh e Perl (2004) trazem uma dimensão elementar para a compreensão  das medidas adotadas pela gestão pública, ao falar que essas políticas se  estendem para além das decisões formais, expressas em normas e legislações,  mas, que tais políticas abrangem também as decisões potenciais, passíveis de  análise e planejamento.
   Deste modo,  deve-se pensar em modelos administrativos que sejam capazes de articular as  demandas sociais às possibilidades do ente governamental, alinhando-se dessa  forma os interesses e viabilizando formas de se realizar ofertas com  efetividade.
   Marchi (2014)  trabalha com a hipótese que as políticas culturais que usam da criatividade  inauguram um novo momento na interação entre a cultura e o Estado brasileiro  uma vez que as indústrias criativas passem a ser um elemento contundente no  desenvolvimento socioeconômico
   Assim,  o aumento dos estudos em cultura promoveu o desenvolvimento conjunto de temas  relacionados à área como identidade, desenvolvimento local e dispositivos  sociais (Rubim, 2007). Desta forma, pensar as políticas culturais representa  uma reflexão sistemática sobre o impacto que as articulações políticas  implementadas pela gestão pública, no que tange à cultura gerarão à sociedade. 
   Na  concepção de Rubim (2007), para se analisar uma política cultural, pode ser  consideradas dimensões como o estabelecimento conceitual de uma noção de  política, a noção de cultura a ser contemplada pela análise e o desenho dos  atores sociais das políticas de cultura, sejam organismos governamentais, sejam  cidadãos, sejam conselhos e grupamentos a fins.
   Em  função da dimensão múltipla da cultura, em que a mesma tenha abrangências  por  inúmeras áreas do conhecimento e do  desenvolvimento social, as questões culturais se tornam um interesse  estratégico do estado e passa a compor os interesses governamentais (Calabre, 2007).
  É  importante ressaltar que as políticas de cultura devem ser averiguadas por  controles sociais e apreciações de grupo, logo a participação de todos os  atores torna-se fundamental para o estabelecimento pleno de uma política  cultural (Rubim, 2007).
   Botelho  (2001) traz a concepção da efetividade das políticas culturais e ressalta a  importância de uma análise sistemática das necessidades locais e do  estabelecimento de metas e objetivos a fim de mensurar as ações planejadas.
   Todas  as políticas, inclusive as culturais, envolvem a utilização de recursos. Nesta  perspectiva, constitui uma etapa elementar dessas políticas, análises  orçamentárias e estudos sobre o financiamento da cultura, bem como análises do  território e das potencialidades da região. Nessa perspectiva, o objetivo desse  tipo de política é trazer o desenvolvimento da cultura, expresso, pois, no aumento  da produção cultural (Rubim, 2007). 
   Adotadas políticas públicas eficientes, a economia  criativa pode gerar ligações transversais com a economia global em níveis macro  e micro. Assim, é possível a promoção de uma dimensão de desenvolvimento,  oferecendo novas oportunidades para esses países saltarem diretamente para  setores de alto crescimento da economia mundial (UNCTAD, 2008, apud Marchi  2014:200)
   Neste sentido, medidas da gestão pública em caráter  de regionalização do turismo, insurgem como uma possibilidade de utilização do  potencial turístico de vários setores, de maneira racional e integrada,  explorando o potencial de destinos culturais e de experimentação de cada  região, capacitando os seus agentes e desenvolvendo o potencial turístico  dessas localidades regionalizadas.
   Uma vez que as políticas de turismo no Brasil  acompanhem uma tendência de potencialização de destinos, a fim de se gerar  competitividade para os mesmos, notabiliza-se em âmbito governamental  iniciativas de se desenvolver localidades com atributos tais quais atividades  culturais, práticas de sustentabilidade, envolvimento dos habitantes dos  destinos, isto é, participação efetiva da comunidade nas ofertas turísticas  locais aprimoramento dos serviços (Pimentel, 2014).
   Ainda na visão desta autora, é possível visualizar  algumas incongruências no desenvolvimento e execução das políticas públicas de  turismo brasileiras, caracterizada por problemas de governança e articulação  das políticas e foco excessivo na diferenciação e publicização das ofertas  turísticas, adequando-se à postura das políticas mundiais gerais de turismo.
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
            Esta  pesquisa possui abordagem qualitativa e classifica-se quanto aos fins e quanto  aos meios. Quanto aos fins, trata-se de pesquisa descritiva, a qual segundo  Vergara (2006:46) “expõe características de determinada população ou de  determinado fenômeno”. Em relação aos meios, utilizou-se de pesquisa documental  que ainda na visão desta autora, “é realizada em documentos conservados no  interior de órgãos públicos e privados de qualquer natureza, ou com pessoas:  registros, [...] comunicações informais e afins” (Vergara, 2006:48).
              Igualmente,  utilizou-se o método de pesquisa de campo para investigar a realidade  problematizada neste trabalho, vivenciando assim, os processos inerentes ao  planejamento público do turismo e da cultura em órgãos governamentais  municipais e estaduais. Esse método, segundo Rodrigues (2007:4) “é a observação  dos fatos tal como ocorrem. Não permite isolar e controlar as variáveis, mas  perceber e estudar as relações estabelecidas”.
              As  pesquisas foram realizadas nos municípios de Ouro Preto MG, Viçosa MG, Belo  Horizonte MG e Brasília DF, respectivamente nas secretarias de turismo,  patrimônio histórico e cultura; no Departamento de Turismo (DETUR); na Secretaria  de Estado de Cultura; e no Ministério do Turismo (MTur), bem como em dois  eventos relacionados ao turismo e a cultura, sendo pois, o VI Salão Mineiro de  Turismo e o I Encontro do Fórum Permanente das Microrregiões. 
              Além  disso, os pontos turísticos das cidades investigadas também foram visitados e  analisados sistematicamente, de modo a subsidiar as informações advindas da  observação lançada nestas localidades e compreender a dinâmica envolvida no  setor turístico dos municípios analisados.
              Os  principais agentes envolvidos neste trabalho foram os profissionais ligados à  gestão pública do turismo nas cidades em análise, o que envolveu, deste modo, a  chefe do Departamento de Turismo de Viçosa, a assessora da secretaria de  turismo e a representante da Secretaria de Cultura de Ouro Preto, bem como  outros agentes tais quais donos de associações, participantes de eventos na  área de turismo e pessoas que realizam o turismo criativo nos loci de pesquisa. Além disso, em âmbito  da administração pública federal entrevistaram-se um representante da Diretoria  de Infraestrutura Turística, o diretor de produtos e destinos e o coordenador  geral de estruturação de destinos da Secretaria Nacional de Políticas de  Turismo. 
              Para  coleta e análise de dados secundários, foram acessados sítios eletrônicos do  Ministério do Turismo e de outros órgãos pertinentes ao setor turístico, bem  como portais eletrônicos relacionados à gestão pública da economia criativa, a  fim de enriquecer as reflexões e ampliar os conhecimentos sobre o tema.
              Realizaram-se  para coleta de dados primários, entrevistas gravadas com roteiro  semiestruturado com os agentes participantes das atividades turísticas ligadas  à economia criativa. Os esforços deste trabalho direcionaram-se à investigação  sistemática dos agentes públicos envolvidos com o desenvolvimento do turismo no  interior mineiro.
6. ECONOMIA CRIATIVA, PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL E TURISMO NOS MUNICIPIOS EM ESTUDO
            Observou-se  por meio dos instrumentos de comunicação oficial da SEC, que a mesma tem como seu objetivo “contribuir para que a cultura  se torne um eixo estratégico nas políticas públicas de desenvolvimento do  Estado brasileiro” (Brasil, 2014). Dessa forma, o  Plano da Secretaria de Economia Criativa: política, diretrizes e ações 2011 a  2014 (PSEC) surge nesta perspectiva, como uma medida do ministério da cultura  de sistematizar, coordenar e dar direcionamento às ações voltadas à produção  cultural brasileira. 
               Outro  ente responsável por monitorar as atividades econômicas ligadas à criatividade  no país, consiste no Observatório Brasileiro da Economia Criativa, cujas ações  ainda mostram incipientes e em estado de desenvolvimento.
               Fora inaugurada em janeiro de 2014, a Casa da  Economia Criativa na Cidade de Belo Horizonte MG. Esse fato tem potencial para  fortalecer as políticas de economia criativa no interior do estado, uma vez que  possa direcionar e atender às demandas de empreendedores criativos mineiros que  objetivem organizar suas atividades e referenciar suas ações. 
              Além  disso, o Sebrae Minas, auxilia em cinco projetos  de fomento ao desenvolvimento setorial das atividades que compõem partes da  economia criativa, com um investimento inicial de R$ 1,652 milhão (Cultura  e Mercado, 2014).
              Na  entrevista efetuada com representantes da gestão pública nacional do turismo,  observou-se que as atividades da economia criativa na esfera das políticas  públicas ainda encontram em fase de desenvolvimento e articulação. Todavia,  existe o interesse dos representantes da SEC de integrar as ações e políticas  da cultura e das artes, com as atividades do setor turístico.       
              As  análises efetuadas nesta pesquisa a fim de se diagnosticar o turismo no estado  de Minas Gerais derivam, sobretudo, da investigação e análise de sítios  eletrônicos e dos dados apurados após a participação dos pesquisadores  envolvidos no VI Salão Mineiro de Turismo, evento promovido pela Secretaria de Estado de Turismo e Esportes de Minas (SETES-MG) com o objetivo de proporcionar  trocas de experiências entre os gestores municipais do turismo mineiro,  fortalecendo assim as atividades do setor e aprimorando as práticas turísticas  efetivas por meio das contribuições de todos os agentes presentes e da troca de  vivências entre localidades com culturas diversas, com diferentes formas de se  produzir cultura e com variadas maneira de se mobilizar os atores sociais  envolvidos com o setor turístico. 
              Neste  evento, foi possível identificar marcas da produção local dos municípios  participantes, bem como o resgate de valores e a disseminação da potencialidade  de cada um dos municípios participantes. 
              Desta  forma, observou-se nesta iniciativa, um modo de fortalecimento das bases de  relacionamentos dos gestores municipais de turismo, uma via de se oportunizar o  crescimento da atividade turística no estado, e uma oportunidade de valorização  da cultura mineira, de seus pontos turísticos e das ações municipais que devem  ser implementadas para se consolidar e aprimorar a atividade turística no  estado.
              Observou  neste evento, a presença da chefe do DETUR de Viçosa, bem como representantes  da Secretaria de Turismo de Ouro Preto. Nesse fato, pode-se observar a preocupação  da administração pública do turismo, nos dois municípios em análise por  aderirem às novas demandas da gestão turística, obtendo informações relevantes  para a feitura de um gerenciamento pleno do turismo.
              Ademais,  as experiências vivenciadas nas exposições permitiram constatar a força da  atividade turística no estado de Minas Gerais, proporcionada por sua riqueza  arquitetônica, cultural e paisagística, de modo que cada cidade apresenta um  conjunto de ações em níveis mais ou menos estruturados para articular o seu  turismo e estimular as atividades desse setor.
              Por fim, observa-se que o turismo  criativo começou a ser discutido na pauta dos gestores estaduais do turismo  mineiro, desde o surgimento da Superintendência de Gastronomia na Secretaria de  Estado de Turismo e Esportes. Ademais, o Sistema Fecomércio MG realizou a 2ª  Semana do Turismo com a apresentação da “Creative Tourism Network” uma rede de contatos entre pesquisadores, agentes e  profissionais do turismo criativo, para concentrar os conhecimentos na área e  desenvolver os saberes sobre este ramo da atividade turística (Fecomércio-MG,  2014).
                           
  6.1  Planejamento governamental no setor turístico dos municípios de Viçosa e Ouro  Preto
Foram realizadas visitas sistemáticas ao DETUR Viçosa e uma entrevista com as representantes na Secretaria de Industria, Turismo e Comércio e Secretaria de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto, no período compreendido entre maio de 2013 e outubro de 2013.
6.1.1 Turismo em Viçosa MG
            Realizaram-se  três entrevistas com a Chefe do Departamento de Turismo de Viçosa (DETUR),  sendo que todos os encontros foram registrados com instrumentos de gravação de  voz a fim de se analisar e armazenar as informações necessárias à execução  deste trabalho. As entrevistas tinham um roteiro semiestruturado, o qual foi  empregado para abordar questões específicas relativas ao objetivo desta  pesquisa.
              As  investigações realizadas neste município, permitiram compreender o cenário,  sobre o qual atua a gestão pública do turismo viçosense. Com uma política de  sistematização da atividade turística em processo, a responsável por esta  medida enfrenta problemas sobretudo na mobilização dos agentes envolvidos no  turismo local e alinhamento estratégico dos objetivos do Departamento de  Turismo de Viçosa (DETUR) com a Prefeitura Municipal de Viçosa (PMV).
              Por  fim, constata-se que as políticas públicas de turismo de Viçosa, se articulam  sobretudo na organização de roteiros para integração e divulgação do potencial  turístico do munícipio. Dessa forma, como uma ação inicial para a efetividade  dessa política, a gestão pública do turismo viçosense se articulou em um  mapeamento do potencial turístico em termos de ofertas ao mercado, de  experiências que podem ser direcionadas a turistas e de atores sociais que  podem ser mobilizados com as atividades do DETUR. 
   Assim, a gestora do Departamento de  Turismo de Viçosa direcionou seus esforços em estruturar a cidade para as  políticas de roteirização e criar uma infraestrutura propícia à ampliação do  turismo municipal. 
              O  primeiro roteiro estruturado foi realizado no bairro da Violeira. Ao investigar  o itinerário por meio de sua experimentação e ao abordar os agentes  responsáveis pelo atrativo do roteiro, foi possível identificar na fala dos  entrevistados, a falta de coesão entre a gestão pública do turismo, no sentido  de orientar e auxiliar os responsáveis por cada ponto turístico e por controlar  e revisar a efetividade desta política pública.
              Marcada  por políticas em estruturação, por falta de coesão entre os objetivos da gestão  municipal do turismo, dos agentes promotores dos destinos turísticos locais e  dos usuários dessas políticas, o cenário viçosense revela a necessidade de  maturidade na gestão municipal do setor turístico, bem como o alinhamento dos  objetivos deste setor com a administração pública geral do município.
6.1.2 Turismo em Ouro Preto MG
Realizou-se uma entrevista com a diretora de produção cultural, com a agente de desenvolvimento local e com a secretária de turismo da prefeitura de Ouro Preto. As gestoras públicas do turismo e da cultura reconhecem o potencial da localidade para o desenvolvimento da economia criativa, ainda que não apresentem grandes conhecimentos científicos em relação à temática. Todavia, mobilizam esforços a fim de estruturar a economia criativa como uma forte política cultural, explorando a transversalidade da mesma em setores como o comércio e o turismo:
Por ser um assunto novo a economia criativa, e por Ouro Preto ser uma cidade que eu acredito que tenha um potencial muito forte, principalmente pelo lado da cultura. E o turismo hoje se apropria desse potencial cultural que Ouro Preto tem para se desenvolver. E tem a questão governamental, porque eu acredito que a economia criativa tem que fazer parte de uma política pública. Por ser um assunto novo, eu não acredito que a economia criativa na sua essência, seja uma meta de governo. Talvez alguma ação de governo [...] acaba sendo uma ação de economia criativa, mas sem o próprio governo entender que o é... (Gestora pública entrevistada)
            A  economia criativa e o turismo se mostram intrinsecamente coesos nesta cidade,  sendo planejadas de modo contundente as ações a fim de se estimular o turismo  cultural.
              A  presença de eventos planejados e sistematizados com intuito de desenvolver a  economia criativa em uma localidade potencialmente turística é latente, de modo  que, realizou-se no dia 23 de setembro de 2013, o Seminário de Competitividade  na Casa da Ópera do município de Ouro Preto, evento que teve a presença de 130  participantes e cuja temática abordou viabilidades para o desenvolvimento da  cidade em um contexto de criatividade, mais especificamente na economia da  cultura e da criatividade.
              As  intervenções locais contam com a participação de Ana Clara Fonseca Reis, por  meio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e  Pequenas Empresa (SEBRAE) e também com o criador da marca do município.  Dessa forma, a gestão municipal caminha para a construção de pilares  conceituais, a fim de padronizar e sistematizar a atividade da economia criativa  no turismo ouro-pretense.
              Houve  a criação de grupos de trabalho com profissionais do ramo para difundir e  elucidar os conhecimentos sobre o que é a economia criativa e como a mesma pode  ser aplicada em Ouro Preto. Os grupos foram categorizados em: Meios de  hospedagem; Receptivo; Atrativos; Produção associada ao turismo e Grupos  artísticos e manifestações culturais.
              Cada  grupo fez um levantamento do contexto de Ouro Preto e realizou sugestões do que  pode ser realizado a curto, médio e longo prazo a fim de se instrumentalizar e  introduzir de maneira efetiva a economia criativa na gestão pública municipal.  Esse trabalho contou com a participação efetiva de agentes de desenvolvimento  local.
   A visão das responsáveis pela  gestão municipal do turismo e da cultura sobre o futuro do turismo criativo em  Ouro Preto, é a de que este se consolidará numa medida pública, que só terá  efetividade e precisão caso haja a mobilização dos atores sociais e  direcionamento da administração pública, no sentido de desenhar políticas  pautadas em metas e planos, a fim de sistematizar os esforços da gestão  municipal nesse setor. 
              Assim,  podem-se expressar os aspectos em que a gestão governamental do turismo em  Viçosa e Ouro Preto de aproximam (congruências) e se diferenciam  (peculiaridades).
Observa-se com base no Quadro 1, que tanto as congruências, quanto as peculiaridades observadas no planejamento governamental para o turismo nas cidades de Ouro Preto e Viçosa revelam características de despadronização de práticas na gestão pública para o turismo. Segundo Pimentel, Emmendoerfer e Tomazzoni (2014), tal despadronização pode comprometer possibilidades de transferência de tecnologia gerencial de turismo entre essas cidades, bem o monitoramento e o investimento nessas práticas pelos demais entes governamentais (estadual e federal) no Brasil e de organismos internacionais como a Organização Mundial do Turismo (OMT). Entretanto, as diferenças e as peculiaridades identificadas na gestão pública do turismo nas duas cidades, reitera um cenário de desigualdade institucional e técnica, que necessita ser tratado pelos governos superiores e organismos do exterior de modo diferente, de forma a se praticar uma justiça distributiva de recursos para auxiliar no atendimento das demandas de administração pública das cidades de forma mais equitativa. Acredita-se que a partir disso, seja possível agir de forma mais arrojada para um desenvolvimento turístico com criatividade, num panorama nacional que revela-se favorável para esta finalidade.
7. PANORAMA NACIONAL DO TURISMO
            Na  entrevista efetuada no Ministério do Turismo (MTur) no Brasil, foi possível  compreender e analisar os nuances da gestão pública do setor turístico em  âmbito nacional, bem como a maneira que as atividades desse ente se desdobram  em ações de domínio estadual e municipal. Além disso, foi possível verificar o  nível de associação dos objetivos da gestão pública da economia criativa, com  as iniciativas das esferas da administração pública do turismo.
              As  ações do turismo nacional são desempenhadas sob as diretrizes do Plano Nacional  de Turismo, o qual é gerenciado por um sistema integrado que alinha as metas  que são de alcance externo – orientadas para o desenvolvimento do setor  turístico nacional, com a gestão interna – O plano de ação, que distribui a  administração do turismo brasileiro.
              Um  problema recorrente na gestão pública do turismo, em qualquer de seus âmbitos,  tem sido a falta de capacitação dos agentes que participam dos conselhos e  órgãos participativos. Para amenizar esta realidade, existe a iniciativa da  administração pública federal do turismo em desenvolver programas de  fortalecimento institucional dos órgãos públicos, sobretudo por meio de  programas de regionalização do turismo, e de um plano nacional de qualificação  de gestores públicos do turismo, a fim de capacitar os atores sociais  envolvidos com essa atividade e conscientizá-los do aspecto econômico e gerador  de divisas e renda, da atividade turística. 
              Além  disso, aferiu-se que os esforços da administração pública do turismo, em âmbito  nacional, orientam-se para estruturação dos destinos, a fim de torna-los  competitivos e elaborar diagnósticos de desenvolvimento e necessidades.  Ademais, o Ministério do Turismo trabalha em políticas de desenvolvimento do  setor turístico, orientadas por uma gestão descentralizada em que as  informações advindas dos entes municipais e estaduais advêm por redes de  cooperação entre agentes e por diagnósticos regionais, em que os municípios  repassam diagnósticos ao estado e, o mesmo repassa à esfera federal o panorama  da atividade turística.
              No  que diz respeito ao turismo criativo, identificou-se que os representantes da  gestão pública do turismo, vêm se empenhando em estimular a experiência nas  atividades turísticas oferecidas. Todavia, este empenho se configura em ações  estratégicas ainda pontuais e em projetos para destinos específicos, sem  configurar, contudo, um eixo estratégico de política pública de turismo. Essas  ações se configuram principalmente em projetos de consultoria para  proprietários e artesãos a fim de tornar a atividades destes agentes, uma  experiência de economia criativa, e possivelmente, de turismo criativo.
              Observa-se  também um esforço dos gestores de âmbito nacional em compreender e adaptar suas  políticas ao turismo criativo, observando as especificidades dessa forma de  turismo e adequando as ofertas às particularidades deste turismo.
              A  interação entre gestão pública do turismo e da cultura foi verificada. Membros  do Ministério do Turismo participam do Conselho Nacional de Políticas Culturais  e atuam nas decisões desse órgão, promovendo, pois a integração entre a cultura  e o turismo.
              Apurou-se  que existe interação organizacional e consonância de objetivos entre a  Secretaria de Economia Criativa e o Ministério de Turismo. Representantes da  SEC, logo após a fundação dessa secretaria, procuraram o MTur a fim de  efetuarem parcerias no sentido de desenvolver ações de maior impacto em relação  à disseminação da economia criativa e do turismo baseado na experiência  criativa. Todavia, ainda não foram elaboradas sistematicamente propostas de  ações conjuntas entre o MTur e a SEC para o desenvolvimento do turismo  criativo. O que existe hoje é uma sinalização do acordo de cooperação entre o  MTur, o Ministério da Cultura e a Secretaria de Economia Criativa, em que ficou  pactuada a elaboração de um programa nacional de turismo cultural criativo, o  qual se encontra em fase de articulação, e, a partir da assinatura do mesmo  seriam testadas essas ações por meio de equipes técnicas. 
              Logo,  a realidade observada nos munícipios em análise, pode ser compreendida como um  reflexo de incipiência e do processo estruturação das políticas de economia  criativa e de turismo criativo, em que a informação e delineamento de ações  ainda não foram integralmente formalizados e articulados em âmbito federal,  fazendo com que políticas e ações nos âmbitos estadual e municipal sejam ainda  pouco implementadas quanto à economia e turismo criativos. Observa-se que,  quando as políticas de economia criativa estiverem integradas, é preciso que  haja um diálogo entre os objetivos dos entes federais, estaduais e municipais  para que tais políticas possam constituir um fator de transformação social e de  desenvolvimento territorial, possuindo o turismo e a criatividade como indutores  relevantes. 
              Portanto,  cabe a reflexão sobre para que modelo de cidades a política de desenvolvimento  da economia criativa em interface com o turismo pode ser aplicada e efetivada,  bem como de que forma a gestão pública do turismo pode contribuir com esta  diretriz desenvolvimentista no Brasil.
8. CONCLUSÕES
            A partir dos dados empíricos  obtidos, é possível concluir que a economia criativa pode ser entendida com uma  área que ainda não se firmou enquanto um paradigma, e neste sentido, muitas de  suas estruturas subjacentes ainda se encontram em formação. Logo, muitas  atividades que façam uso do talento pessoal e da experiência podem ser  enquadradas nos olhares da economia criativa e desta se valem para alcançar  legitimidade e desenvolvimento. No âmbito da administração pública, as ações  nessa área ainda são incipientes e encontram-se em um processo de articulação.
              No turismo de Viçosa, observa-se a  falta de conhecimento sobre o que seja a economia criativa e ausência de  articulação dos agentes potencialmente criativos sobretudo os ligados ao  turismo e à cultura. Entretanto, a política implementada pelo DETUR reúne  em um roteiro, experiências que podem se tornar atividades criativas. Em Ouro  Preto, com o setor turístico consolidado e atuante, observa-se que os gestores  públicos se empenham em sistematizar e estruturar na cidade, os parâmetros da  economia criativa e, articulam-na com a atividade turística, que é o que move,  pois, a economia local e a geração de divisas.
              O turismo nacional, pode ser  identificado como um setor que encontra-se em desenvolvimento, por meio de  esforços do órgão público competente em um instaurar uma política que se baseia  na utilização do potencial turístico brasileiro, na publicidade e administração  da visibilidade do Brasil como um destino turístico tanto internacionalmente,  quanto em nível nacional e, sobretudo na capacitação dos gestores públicos do  turismo e no desenvolvimento de competitividade e condições de  gerenciamento  público do turismo. 
              Dessa forma, conclui-se que no  estado de Minas Gerais, a economia criativa, em atividades ligadas ao turismo,  ainda se desenvolve de maneira tímida e pouco incisiva, sendo mais latente em  cidades que já possuam tradição no setor turístico e que possuam potencial  cultural desenvolvido. Esta situação reflete a falta de amplitude das ações da  Secretaria de Economia Criativa em atingir a todos os territórios na  valorização de suas atividades voltadas aos setores criativos. O surgimento da  rede mundial Creative Tourism Network e sua discussão no estado mineiro podem dinamizar e aprimorar as práticas do  turismo criativo no estado de Minas Gerais. Neste sentido, o desenvolvimento  dessa forma de economia, sobretudo associada a atividades turísticas, mostra-se  relevante para repensar a utilização do espaço público como expressão de  cultura e criatividade, de desenvolvimento local, por meio de políticas  públicas que beneficiem as atividades criativas e legitimação da identidade de  regiões que possam se valer de sua cultura e de sua arte como uma via de obtenção  de recursos e de geração de atividades econômicas.
              Ademais, os esforços da  administração pública em articular o desenvolvimento do turismo criativo e as  possibilidades de parceria entre o MTur e a SEC, fazem emergir oportunidades e  novas perspectivas para o desenvolvimento do turismo criativo para o interior  de Minas Gerais. Todavia, essas ações ainda necessitam de passar por um  processo de maturidade política e estreitamento dos objetivos estratégicos para  que possam ter inserção em âmbito estadual e, principalmente, municipal.
              Além disso, nem todas as cidades  estarão preparadas ou devem entender o desenvolvimento da economia criativa  como a panaceia para todos os males da cidade, até porque podem existir outros  modelos de desenvolvimento mais adequados a vocação, a história e aos negócios,  socialmente desenvolvidos no território.
              Por fim, ressalta-se o potencial que  a economia criativa e o turismo criativo possuem para dinamizar e requalificar  os negócios e os territórios a fim de gerar desenvolvimento local e regional. Vale  acrescentar que nessa forma de turismo, as atividades profissionais criativas  desempenhadas em uma determinada localidade são apuradas, aperfeiçoadas e  tratadas como um destino turístico, empoderando atores sociais que possam  oferecer uma experiência criativa a potenciais turistas, resultando em  perspectivas de mercado, geração de riquezas e valorização de regiões  produtivas de cultura, arte e atividades criativas. 
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