Clediane Nascimento Santos (CV) y Rosângela Custodio Cortez Thomaz
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem o propósito de analisar a  potencialidade das manifestações culturais dos assentamentos Gleba XV de  Novembro e Nova Pontal como possibilidade de criação de roteiros turísticos. 
                Para entender o ambiente que essas manifestações  estão inseridas, vale uma breve contextualização histórica dos dois assentamentos:  Gleba XV de Novembro e Nova do Pontal dos quais são os selecionados para a  realização deste estudo.
                O assentamento Gleba XV de Novembro está  localizado em dois municípios, com lotes distribuídos em vários setores, nos  quais, o setor I, II, III localizados em Rosana/SP e os setores IV, V VI em  Euclides da Cunha Paulista. Originalmente, foram criados 571 lotes, dos quais  438 estão em Rosana/SP (IOKOI et al., 2005). 
                O inicio deste assentamento está relacionado às  demissões da Companhia Energética do Estado de São Paulo - CESP, das  empreiteiras e da Destilaria Alcídia. O desemprego massivo de milhares de  pessoas deixaram muitas famílias sem ter para onde ir e nem opção de emprego na  redondeza, logo que não havia outras empesas que pudesse acolher todo o  contingente dispensado. Aliado a isso, outro agravante que surgiu foi à  enchente no rio Paranapanema, no ano de 1983 que desabrigou muitas famílias  ribeirinhas. Estas famílias se juntaram em um grande acampamento no trevo de  Euclides da Cunha Paulista e organizaram um movimento que tinha como objetivo a  luta pela terra (SOUZA, 2007).
                Assim, em 15/11/1983 aproximadamente 800  trabalhadores vindos dos municípios de Rosana, Euclides da Cunha, Teodoro  Sampaio, Mirante do Paranapanema e outras localidades, ocuparam as terras da  ex-fazenda Tucano e Rosanela, ambas em Teodoro Sampaio. A ocupação terminou por  meio de um pedido de desapropriação feito pelos proprietários e foram  despejados e fizeram um acampamento na Rodovia Arlindo Bétio, SP 613 (IOKOI et  al., 2005).
                Após um tempo foram para uma área provisória  cedida pela CESP. Com o agravamento da questão agrária, o governo paulista em  1984, desapropriou uma área equivalente a 15 mil hectares (há) para a  implantação do projeto de assentamento, que hoje é conhecido como Gleba XV de  Novembro (SANTOS, 2009).
                Este assentamento, por ser o mais antigo do  Pontal do Paranapanema, sua história evoca aos bastidores da luta pela terra  nesta região, protagonizados pelas famílias que conquistaram o direito de ter o  seu lugar, o seu pedaço de chão. 
                Ele é palco de muitos embates internos que faz  deste assentamento um caso típico, no qual a luta ideológica dos movimentos  sociais pela terra se faz presente. Este fato caracteriza este assentamento no  município de Rosana como enigmático para se desvendar o histórico da luta pela  terra e para compreender a atuação dos movimentos sociais que lutam pela  reforma agrária.
                Ele possui algumas festividades popular tais  como: Folias de Reis, festa de Aniversário da Gleba XV de Novembro, Festa da  Mandioca, Roda de Viola e as festas dos padroeiros, como Nossa Senhora  Aparecida, Sagrado Coração de Jesus, Santa Luzia.
                Este assentamento é o mais indicado para uma  proposta de Turismo no Espaço Rural - TER que valorize os aspectos culturais,  representados pelas festas populares, especialmente a Roda de Viola e a Folia  de Reis, para as questões de reforma agrária e assim como os aspectos  produtivos das propriedades por meio da vivência com as famílias assentadas em  sua lida diária com a produção.  
                Já o assentamento Nova Pontal, originalmente, era  composta por 122 famílias, abrangendo uma área de 2.786 hectares de terra  localizando-se nas margens direita e esquerda da rodovia que liga distrito de  Primavera ao Paraná, via Diamante do Norte (CRUZ, 2008). Possui em sua área  grande capacidade hídrica por estar próxima a margem do rio Paranapanema e do  reservatório da Usina Hidrelétrica de Rosana. 
                Sua fundação está atrelada a concessão da Fazenda  Timboril Agropecuária Ltda, para o Estado, em 1998. O Instituto de Terras do  Estado de São Paulo “José Gomes da Silva”- ITESP realizou assembleia com 122  famílias selecionadas para ocupar as terras. Este assentamento foi um caso  especifico já que foi formado por quatro grupos diferentes: o MST, o MAST,  ex-funcionários das fazendas e os sindicatos de Porto Primavera. Cada qual  ficou com uma área do assentamento (CARNEIRO, 2007).
                Segundo pesquisa de Carneiro (2007) as famílias  iniciais deste assentamento enfrentaram algumas dificuldades, pois não havia  infraestrutura no local, tais como: estradas, água canalizada, energia  elétrica, meios de transporte, escolas. Somado a isso a falta de recurso para  investir na terra fizeram com as famílias buscassem ajuda na gestão municipal  da época para sua produção, e para perfurar poços. Do Estado conseguiram ajuda  para construir estradas e escola. Dessa forma com o apoio conquistado e com o  esforço das famílias as dificuldades foram superadas.
                Atualmente este assentamento é visto com grande  potencialidade para o desenvolvimento do turismo. Constitui-se, portanto, num  assentamento de grande beleza cênica pela proximidade com o rio Paranapanema e  em virtude de seu formato ficou conhecido com “tuiuiú” (CARNEIRO, 2007). Este  assentamento foi diagnosticado como propício para o projeto piloto de  desenvolvimento do Turismo Rural – TR, mas também como possibilidade para o  TER.
                Este artigo é um estudo de caso de natureza  descritiva e exploratória. O estudo de caso é uma “investigação empírica que  investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real,  especialmente quando o limite entre fenômeno e o contexto não estão claramente  definidos” (YIN, 2005, p. 32).
                Além disso, “parte do principio de que o estudo  aprofundado de um caso pode ser representativo em muitos outros, ou mesmo em  casos semelhantes”, isso é o que induziria a escolha do objeto de estudo (GIL,  2008, p. 18).
                A natureza descritiva da pesquisa tem como  características: observar, registrar, analisar e correlacionar fatos. Este tipo  de pesquisa é utilizado principalmente nas ciências humanas, especialmente para  obtenção de dados que não consta em documentos. Dessa forma, a pesquisa  descritiva, em suas diversas formas, trabalha sobre dados ou fatos colhidos da  própria realidade (CERVO E BERVIAN; 2002).
                Do mesmo modo, a pesquisa exploratória é  importante, porque tem como “finalidade desenvolver, esclarecer e modificar  conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou  hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. Este tipo de pesquisa se caracteriza  como aquela que exige pouco rigor no planejamento e envolvem levantamento  bibliográfico e documental e aplicação de entrevistas não padronizadas, no qual  está muito presente nos estudos de casos (GIL, 2008, p.27).
                A coleta de dados se deu por meio da pesquisa  bibliográfica, documental e entrevista semi-estruturada, com roteiro elaborado  previamente e com questões em aberto, pois este tipo de entrevista possibilita  mais flexibilidade à pesquisadora em inserir alguma questão sobre algum aspecto  importante surgida no ato da entrevista, e que não tenha sido contemplada no  roteiro.
                Os  entrevistados foram escolhidos: 1- por serem representantes da Roda de Viola e  da Folia de Reis; e 2- por ocuparem cargo ou função em órgão público que esteja  relacionado com a temática de cultura e turismo. 
                As  entrevistas foram norteadas por questões que levariam a caracterização e a  compreensão da cultura local e do desenvolvimento do turismo. Por isso  entendeu-se que não era possível à padronização e a aplicação do mesmo roteiro  para todos os entrevistados, exceto para os representantes das manifestações  culturais.
                As manifestações com potencialidade para a  criação do roteiro turístico são: Folias de Reis e a Roda de Viola. Elas foram  escolhidas dentro do contexto cultural, por estar mais associada com o espaço  rural e trazem as características da ruralidade, tais como: a musicalidade da  viola, a transmissão do saber por meio da oralidade e da tradição da Folia de  Reis “Estrela Guia”. 
TURISMO NO ESPAÇO RURAL: PROPOSTA DE ROTEIRIZAÇÃO PARA OS ASSENTAMENTOS RURAIS GLEBA XV DE NOVEMBRO E NOVA PONTAL
O turismo, dentre todas as suas  características, pode-se afirmar que tem como elemento substancial para sua  efetivação, as peculiaridades de cada local, a identidade e a cultura. Assim,  os assentamentos rurais de Rosana/SP, é um diferencial para o desenvolvimento  da atividade turística. Dessa forma, é necessário o entrelaçamento dessa  singularidade, que leve em consideração a vida dos trabalhadores assentados, a  geração de renda, emprego, autoestima, valoração da identidade e do modo de  vida do pequeno agricultor, pois a relação entre turismo e cultura é  riquíssima. 
                A busca pelo  turismo no espaço rural encontrou na transformação da estrutura da produção  agropecuária um campo favorável, pois propiciou ao delineamento de um novo  modelo produtivo rural, no qual o turismo é uma alternativa como provedor de  recurso econômico em virtude de sua fácil adaptação dos recursos rurais em  oferta turística. Assim, em meio à dificuldade enfrentada pelo agricultor  familiar em manter-se no meio rural, o turismo surge como saída que poderá  agregar valor ao que é produzido (THOMAZ, 2010).
                Para o Ministério do Turismo - MTur  (BRASIL, 2008), a conceituação de turismo no espaço rural engloba as diversas  atividades desenvolvidas no meio rural, independente de suas especificidades,  tais como: o turismo rural, o agroturismo e o turismo rural na agricultura  familiar. É o conjunto de atividades comprometidas com as atividades  agropecuárias e com a valorização do patrimônio cultural e natural como feições  da oferta turística no meio rural.
                Este município, chamado Rosana/SP, no qual  neste trabalho estuda a possibilidade de inserção do turismo no espaço rural,  há tempos, desde o período que José Ferrari Leite estudou a ocupação do Pontal  do Paranapanema, que fora percebido e identificado o seu o potencial e sua  vocação para o turismo, no seguinte dizer: 
Nesta estação, a vila de Rosana fica envolvida pelas águas excedentes dos dois rios em enchentes colossais. Assim, envolvida pelas águas, Rosana revela toda a beleza de sua geografia selvagem em que o sol vermelho da tarde mostra milhares de garças e patos-selvagens voando no horizonte avermelhado em direção ao ocidente. A visão levou um geógrafo a sonhar com um polo turístico paulista com base em Rosana, por sua semelhança com o Pantanal (LEITE, 1998, p. 20-21).
O turismo depende de muitos fatores para  sua concretização, para este conjunto de fatores constitui o chamado sistema  turístico, que há certas particularidades para seu funcionamento, tais como:  demanda, oferta, produto, potencialidade, o empreendimento turístico, os  atrativos, a infraestrutura. Por este motivo, por depender de inúmeros fatores  se faz necessário o seu planejamento, para que seja uma atividade responsável.
                Assim, o turismo compromissado com a  realidade local é aquele que atrai as pessoas para conhecer o lugar e desfrutar  de sua cultura, da beleza natural, assim como, o turista deve ser respeitado e  acolhido com qualidade, segurança e oferta de bons serviços. Dessa forma a  infraestrutura é indispensável para que o acolhimento aconteça (CORIOLANO,  1997).
                Diante da possibilidade de se transformar  um recurso ou um bem patrimonial em atrativo turístico surgiu a proposta de  criação de roteiros que leve em consideração o espaço rural e o seu patrimônio  cultural, por meio do aproveitamento do fluxo de visitante da Usina  Hidrelétrica Eng. Sérgio Motta e do Museu de Memória Regional, pois ambos são  atrativos turísticos formalizados no município em questão. 
                Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta  – UHE Eng. Sérgio Motta, anteriormente foi chamada de Usina Hidrelétrica Porto  Primavera está localizada no Rio Paraná, a 28 km a montante da confluência com  o Rio Paranapanema. 
                A barragem dessa Usina é a mais extensa do  Brasil, tem 11.380 m de comprimento. A seleção pelo município de Rosana se deu  devido às condições geográficas do lugar. A usina foi projetada para ter  dezoito turbinas, mas só 14 estão operando, no qual todas podem gerar 1.980  megawatts. A primeira etapa do enchimento do reservatório, na cota 253,00 m,  foi concluída em dezembro de 1998 e a segunda etapa, na cota 257,00 m, em março  de 2001. Em Outubro de 2003, entrou em operação a unidade geradora 14,  totalizando assim, 1.540 MW de potência instalada. Devido ao pouco declive do  local, o tamanho da área a ser inundada para a criação da barragem da usina foi  gigantesco – o maior lago artificial do Brasil e um dos maiores do mundo, com  2.250 Km², ou 225 mil hectares, com uma capacidade de 20 bilhões de m³ de água  o que aumentou em nove vezes o leito do rio Paraná.
                Todo o impacto gerado pela construção dessa  usina leva a questionamentos sobre a sua capacidade de produção energética e  colocando muitas vezes em xeque todo o discurso defendido pela CESP em relação  ao custo – beneficio, atrelado a essa Usina.
                Os municípios mais afetados do lado de Mato  Grosso do Sul, foram: Anaurilândia, Bataguassu, Brasilândia, Santa Rita do  Pardo e Três Lagoas, que fica a montante da barragem. Já os municípios do estado  de São Paulo foram: Rosana, Teodoro Sampaio, Presidente Epitácio, Panorama,  Paulicéia, Castilho, Caiuá, Nova Guataporanga, Nova Independência, Presidente  Venceslau, Ouro Verde. No total foram dezesseis municípios que conseguiram  indenização da CESP.
                Além disso, foram afetados os pescadores,  agricultores, e toda a cultura local, presentes nos sítios arqueológicos, e do  patrimônio histórico e cultural que foram perdidos a partir do momento que as  famílias foram realocadas para outro lugar. Por esses e outros motivos, várias  ações judiciais passaram a ser movidas contra a CESP para que houvesse um  reparo por essas perdas, não que o valor indenizatório recuperasse o que foi  perdido, mesmo com o EIA – RIMA, nem todos os animais conseguiriam ser  resgatados e consequentemente serem salvos. Igualmente a perda imaterial  representada pelo patrimônio histórico cultural foi irreparável. 
                Vale alertar que tanto o viveiro de mudas  quanto o museu são obras de compensação da CESP, que de acordo com um estudo de  impactos realizado precisariam ser criados para fins de “minimizar” os impactos  causados com a construção da Usina.
                Conhecendo um pouco sobre o histórico da  Usina, entende se o porquê foi necessário indenizar os municípios que foram  impactados pela sua construção, no qual estão retratados no Museu. O inicio das  visitações na Usina, segundo o Entrevistado relata, foi desde o princípio da  construção da Usina se tomamos por base o inicio no ano de 1982, já são mais de  30 anos que a Usina recebe visitantes. 
                Sobre o sistema de vista na Usina foi verificado  que há um roteiro no qual inclui três locais: usina, viveiro de mudas e museu.  Geralmente há uma recepção que é feita no auditório, e dependendo da sugestão  do responsável é feita a visita a usina, o viveiro de mudas e o museu, não  tendo uma ordem definida. Pode ser que um local não dê tempo de ser visitado, o  que vai depender também da disponibilidade do visitante e do objetivo da  visita, mas geralmente ocorrem as visitações nos três locais.
                Em relação aos pontos de visitação da Usina  foram elencados os seguintes: elevador e escada para peixes, a eclusa e a  própria estrutura da UHE são os principais motivos para sua visitação, já no  que diz respeito ao viveiro todas as técnicas e o processo de produção de mudas  para o reflorestamento tanto dos locais afetados pela construção da Usina  quanto do município de Rosana são tidas como atrativos.
                Em média o tempo de permanência é de  aproximadamente 7 horas, com o intervalo de uma ou duas horas de almoço, neste  tempo o grupo pode ou não ter trazido um lanche, quando não utilizam os  restaurantes e mercados de Primavera. Outras vezes a visita é feita em meio  período, parte da manhã ou da tarde, ou seja, há uma flexibilidade de horários  para atender a demanda dos grupos. 
                O número de visitas ao ano é de  aproximadamente de oito mil pessoas, com uma média de 650 visitas ao mês, tendo  nos meses de férias escolares uma queda na média de visitas já que as visitas  são em grande parte de grupos de estudantes.  
                O público visitante da Usina são geralmente  grupos de estudantes, caracterizando uma visita técnica pedagógica,  provenientes dos estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, e outros  estados que aparecem esporadicamente. O perfil dos visitantes são em sua  maioria constituídos por grupos de estudantes, técnicos, outros e estrangeiros. 
                A partir das informações obtidas com a  Usina, percebe-se que há uma potencialidade turística, representada pelos  aspectos naturais e tecnológicos do município, contudo sua fragilidade consiste  na questão do fomento, pois segundo o entrevistado da CESP é o que falta para  desenvolver o turismo local.
                Há uma procura dos visitantes da Usina por  artesanato o que cria uma perspectiva de desenvolvimento de um produto que  traga as características do local, o que pode trazer tanto uma referência dos  rios, da paisagem natural ou do espaço rural. Isso é outra possibilidade para  trabalhar o turismo local.
                O município indiretamente, por meio da  Usina faz parte do Circuito Oeste Rios, que é um roteiro regional, com o  objetivo de dinamizar o turismo regional. Este roteiro poderia ser integrado  com a proposta de roteiros que se fará nesse trabalho. O roteiro do Circuito  Oeste Rios poderá ser aprimorado no sentido de contribuir significativamente  para o turismo local.
                Na percepção da Usina, é possível  aproveitar o fluxo de visitantes para outros atrativos do município, inclusive  para os assentamentos. Uma pratica que é extremamente organizada, como acontece  na Usina poderá ser um ponto central para iniciar um processo de turistificação  nos demais atrativos ou potencialidades do município. No caso dos assentamentos  é possível a concretização de um roteiro que venha a incorpora-lo dentro das  visitações da Usina, como meio para se conhecer as formas de produção, a  cultura, tais como, o modo de vida, a culinária, entre outros. Este último  seria essencial logo que o perfil do público visitante da Usina, em sua  maioria, permanece o dia todo e sendo assim, necessitam de serviços de  alimentação. E tendo um prato típico da localidade este poderá ser apreciado  pelos visitantes, que poderia ser relacionado ao rio, logo que o município está  entre dois importantes rios. Também poderia ser relacionado ao assentamento, o  que não excluiria o elemento rio, pois há dois assentamentos as margens dos  rios.
                Ainda, segundo a Usina, o turismo poderá  aproveitar ainda a eclusa que está parada, o aeroporto, e também alguns  elementos que estão em construção, como a ferrovia norte-sul sobre a usina  formando a rodoferroviária e o porto intermodal, que são recursos que poderão  contribuir para o desenvolvimento do turismo.
                Partindo de uma leitura da entrevista sobre  a visitação na Usina, percebe-se que há um potencial grande que permite o  entrecruzamento da proposta de Turismo no Espaço Rural – TER nos assentamentos  rurais por meio de roteiro de visitação.  
                Também foram entrevistados a Roda de Viola  e a Folia de Reis, que, relataram o desejo de ver essas manifestações culturais  como atrativo turístico, de receber visitantes, pois seria uma maneira de valorizar  o que cada um faz.
                A Roda  de Viola é uma expressão cultural que surgiu no assentamento Gleba XV de  Novembro há aproximadamente dez anos. Iniciou com a reunião de amigos, com o  propósito de confraternizar, e conforme o passar do tempo, os próprios participantes  sentiram a necessidade de tornar essa reunião um encontro que pudesse reunir os  violeiros das cidades próximas.
                A Roda  de Viola iniciou em 2007 no sitio localizado no assentamento Gleba XV de  Novembro, no qual teve o objetivo de incentivar a cultura rural por meio da  moda de viola com a música de raiz. Nesse contexto, o entrevistado afirmou que  por meio da Roda de Viola, alguns violeiros conseguiram avançar e gravar CD. 
                A Folia de Reis do assentamento Gleba XV de  Novembro, é chamado de Estrela Guia. Este grupo iniciou sua atividade na cidade  de Belo Horizonte, Minas Gerias, com a liderança do senhor Soriano. Com a  mudança para o estado de São Paulo com sua família, em busca de melhores  condições de vida, trouxe a Folia consigo. Este senhor antes de falecer, pediu  ao seu filho que continuasse com o grupo, e assim por meio de uma promessa, deu-se  continuidade a este patrimônio cultural imaterial (SANTOS, 2009).
                Tendo como proposta conhecer mais esta manifestação  e entendendo que esta é portadora de saberes, com grande riqueza cultural, que  a mesma foi escolhida para este trabalho com o intuito de poder enriquecer o  estudo sobre o desenvolvimento do turismo, podendo ser um atrativo em potencial  para a proposta de Turismo no Espaço Rural - TER.
                Conhecendo o perfil dos visitantes da  Usina, bem como a disposição de tempo de alguns grupos propõe-se a elaboração  de dois tipos de roteiros, no qual englobam os visitantes de meio período e  período integral conforme o quadro 01 e quadro 02.
Quadro 01: Roteiro I.
| Roteiro 1 – Usina no contexto ambiental e cultural | |
| Meio Período | Atividade | 
| A combinar | Recepção no Auditório | 
| 1h00 minutos | Vista a Usina: enfatizar sobre a construção da Usina e a produção de Energia. | 
| 00h40minutos | Visita ao Viveiro de Produção de    Mudas: enfatizar sobre os impactos ambientais.  | 
| 00h40minutos | Auditório ao ar Livre: falar dos    aspectos culturais da relação homem com a natureza | 
| 00h40 minutos | Finalizar a Visita | 
Fonte: Autora.
No primeiro roteiro podem ser contemplados  os aspectos ambientais e técnicos como a escolha do local para a construção da  Usina; os benefícios e os malefícios da geração de energia por meio de Usina  hidrelétrica; os impactos na fauna e flora com destaque para as espécies em  extinção, bem como os reflorestamentos, unidades de conservação, manejo da  fauna silvestre; e o remanejamento populacional com a criação dos  reassentamentos e os impactos que isso ocasionou.
                Dos aspectos culturais poderiam ser mencionados  os espaços ao ar livre que as famílias utilizavam como forma de lazer com os  piqueniques, entre outras, e fazer essa contextualização ao espaço que eles  estão que é o Auditório ao ar livre. Mencionar o modo de vida das famílias  assentadas e sua relação com o meio ambiente natural, logo que a maioria das  famílias realocadas de suas residências em virtude da construção da Usina  dependia do meio ambiente para sobreviver, dessa forma poderia ser abordada a  questão dos ribeirinhos e sua relação com o rio Paraná, os agricultores e sua  relação com a terra, e os oleiros que retiravam a argila em uma das áreas que  foram inundadas para construção do lago; além dos aspectos de alimentação,  trabalho, os meios de transporte.
                Nos meios de transporte pode haver uma  breve contextualização com o transporte do inicio do povoamento da região com  os que são utilizados pelos assentados na atualidade, falando de sua  importância para quem vive no campo.
                Este roteiro poderá ser alterado para se  adequar a necessidade do grupo que está visitando, com a inserção de outras  atividades ou temáticas que seja mais pertinente ao grupo visitante.
                Para o segundo roteiro foi entrevistado o  Museu de Memória Regional. Na entrevista com o Museu de Memória Regional,  quando foi questionado sobre a criação do roteiro que integrasse o museu, a  usina e os assentamentos rurais, o entrevistado foi favorável, apontando que  esse caminho é possível.
                Dessa forma, quando indagado sobre as  atividades que poderiam integrar o turismo local, além de pesca, foi mencionado  o turismo de aventura aproveitando os rios, a prática de canoagem, de remo,  caminhada, cicloturismo, arvorismo, turismo rural, entre outros.  
                Como já mencionado, há interesse da Folia  de Reis e da Roda de Viola, em ser um atrativo turístico e um anseio dos  organizadores para que haja um reconhecimento por parte do poder público local  sobre a importância dessas manifestações para a cultural municipal, conforme  entrevistas realizadas. 
                Estas duas manifestações foram selecionadas  por serem aquelas que permitem um deslocamento para a cidade para apresentações  e em virtude das características já mencionadas nesse texto.
                Neste segundo roteiro é dada ênfase para  aspectos técnicos da Usina, como já é de costume se fazer, mas igualmente os  aspectos culturais e a visita nos assentamentos. Dessa forma, este roteiro tem  como objetivo enfatizar sobre o processo de construção da Usina, com dados  técnicos e essenciais para se compreender o porquê que a Usina foi instalada no  município, bem como a questão da produção de energia, a escada para peixes e a  eclusa. 
Quadro 02: Roteiro II.
| Roteiro 2 – UHE Eng. Sérgio Motta e o espaço rural | |
| Período Integral | Atividade | 
| A combinar | Recepção no Auditório | 
| 1h00 minutos | Vista a Usina: enfatizar sobre a construção da Usina e a produção de Energia | 
| 00h40minutos | Visita ao Viveiro de Produção de    Mudas: enfatizar sobre os impactos ambientais  | 
| 01h00minutos | Visita ao Museu de Memória    Regional: falar dos aspectos culturais da região. | 
| 1h45 minutos | Deslocamento para o assentamento | 
| 01h00 | - visita a algumas propriedades próximas ao rio Paranapanema ou Paraná. | 
| 01h00 minutos | - Apresentação do grupo de    Folias de Reis ou Violeiros da Roda de Viola. | 
Fonte: Autora.
Na visita ao Viveiro de Produção de Mudas  poderiam ser exemplificados com as principais ações que a CESP desenvolve para  minimizar os impactos causados pela construção da Usina; a questão das sementes  e o banco ativo de germoplasma, relatando sobre as principais espécies de flora  que foram retiradas para a construção do lago; assim como na parte da trilha os  visitantes podem ver os exemplos dessas espécies cultivadas como meio para  garantir sua existência; mencionar a fauna que foi remanejada.
                Nos aspectos culturais mencionar na visita  ao Museu de Memória Regional sobre o modo de vida das famílias que residiam nos  municípios impactados, falar sobre as formas de lazer, as brincadeiras, os  bailes, a musicalidade, que podem ser contextualizadas com a viola e o grupo de  Folias de Reis.
                Nos assentamentos ficaria a parte da  alimentação, o contato com os aspectos culturais, com o modo de vida e  produtivo dos assentados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração de roteiro que integre a  visita da Usina e do Museu com os assentamentos é uma possibilidade que poderá  contribuir para o desenvolvimento do turismo no espaço rural.
                Estes roteiros serão eficazes se tiverem a  participação da comunidade assentada e o poder público local. Para isso a  utilização do planejamento é de suma importância para pensar em toda a  infraestrutura necessária para que isso se torne realidade. 
                Neste contexto, a vivência dos assentados  articulado com a atividade turística é uma possibilidade que permitirá a esses  pequenos agricultores se manterem em seus lotes ao mesmo tempo em que seu  poderá ter a valorização da sua produção, seu saber - fazer, suas músicas, suas  tradições, suas religiosidades, entre outros aspectos.
                O aproveitamento do fluxo de visitação que  ocorrem na usina hidrelétrica, para trabalhar em conjunto com as comunidades  rurais é um caminho que abre portas para outras atividades, como por exemplo,  feira de artesanato com doces caseiros produzidos nos assentamentos, oferta de  produtos diversos que podem ser desenvolvidos no município. A oferta de roteiro  pode favorecer para que outros roteiros sejam elaborados no município e outras  atividades de lazer e atrelados a pratica do turismo sejam criadas. 
                Entretanto, mais uma vez se faz necessário  o planejamento para que o turismo seja desenvolvido de acordo com o desejo da  comunidade, para que esta atividade não seja priorizada em detrimento de  elementos que são substanciais para o cotidiano da comunidade como: a educação,  saúde, transporte, saneamento básico, lazer, entre outros.
                Por isso é de suma importância pensar na  responsabilidade que todos têm sobre o turismo, desde o poder público local, a  sociedade civil e as associações. A atuação em conjunto para pensar o turismo  fará com que este seja um sucesso ou não.
REFERÊNCIAS
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Recibido: 12/2/2013
Aceptado: 10/03/2014
Publicado: Junio 2014
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