Fábio de Oliveira Paula*
Maria Ângela Campelo de Melo**
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
Email: fabioop@gmail.com
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RESUMO
Neste  artigo introduz-se um novo paradigma de gestão organizacional tomando-se como  referência o conceito de Ecologia Organizacional introduzido por Trist (1977).  Considerando-se como base uma unidade organizacional com características de  autonomia e auto-regulação, o artigo propõe a Ecologia Intraorganizacional, que  refere-se ao campo de estudos criado por uma série de unidades ou partes de  organizações que possuem certo grau de autonomia, cujas interrelações compõem  um sistema no nível do campo organizacional formado por essas entidades, como  um todo. Este trabalho, desenvolvido em um nível teórico-conceitual, também  propõe estratégias, que a literatura apresenta como de nível organizacional,  que podem ser utilizadas no nível da unidade para operacionalizar esse  conceito. Conclui-se que o Incrementalismo Articulado é a estratégia de  planejamento mais adequada para esse tipo de unidade devido às suas  características de flexibilidade e capacidade de articular as diversas ações.
Palavras-chave: ecologia  intraorganizacional; planejamento adaptativo; incerteza
ECOLOGÍA INTRAORGANIZACIONAL: ENFRENTANDO LA  TURBULENCIA CON FLEXIBILIDAD Y AUTONOMÍA
RESUMEN
En este artículo se introduce un nuevo paradigma de  gestión organizacional tomando como referencia el concepto de Ecología  Organizacional introducido por Trist (1977). El artículo propone la Ecología  Intraorganizacional, que se refiere al campo de estudios creado por una serie  de unidades o partes de organizaciones que poseen cierto grado de autonomía,  que se considera como base una unidad organizacional con características de  autonomía y autorregulación, las interrelaciones componen un sistema en el  nivel del campo organizacional formado por esas entidades, como un todo. Este  trabajo, desarrollado en un nivel teórico-conceptual, también propone  estrategias, que la literatura presenta como de nivel organizacional, que  pueden ser utilizadas en el nivel de la unidad para operacionalizar ese  concepto. Se concluye que el Incrementalismo Articulado es la estrategia de  planificación más adecuada para ese tipo de unidad debido a sus características  de flexibilidad y capacidad de articular las diversas acciones.
Palabras clave: ecología intraorganizacional; planificación adaptativa; incertidumbre
INTRAORGANIZATIONAL  ECOLOGY: FACING TURBULENCE WITH FLEXIBILITY AND AUTONOMY 
                        ABSTRACT 
                        In this paper we introduce a new paradigm of  organizational management taking as reference the concept of Organizational  Ecology introduced by Trist (1977). Considering as base an organizational unit  with characteristics of autonomy and self-regulation, the paper proposes the Intraorganizational  Ecology, which refers to the field of study created by a number of units or  parts of organizations that have a certain degree of autonomy, which  interrelations compose a system in the organizational field formed by these  entities as a whole. This work, developed in a theoretical and conceptual  level, also proposes strategies that the literature presents as of  organizational level, which can be used at the unit level to operationalize  this concept. We conclude that the Articulated Incrementalism is the most  appropriate strategy for planning for this type of unit due to its  characteristics of flexibility and ability to articulate the various actions. 
  Keywords: intra-organizational ecology; adaptive planning; uncertainty
Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato: 
Fábio de Oliveira Paula y María Ángela Campelo de Melo (2019): "Ecologia intraorganizacional: enfrentando a turbulência com flexibilidade e autonomia", Revista Observatorio de la Economía Latinoamericana, (julio 2019). En línea: 
https://www.eumed.net/rev/oel/2019/07/ecologia-intraorganizacional.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/oel1907ecologia-intraorganizacional
1 INTRODUÇÃO
   Uma  competição dinâmica intensa, aliada a relações complexas, muitas das quais não  previstas, entre um grande número de atores diferenciados influencia o ambiente,  dificultando a formulação de previsões, o que leva empresas a tomarem decisões  com relação a eventos cada vez menos familiares (DRUCKER  in ANSOFF & McDONNEL,1993). Esse ambiente,  em que as corporações atualmente estão inseridas, pode ser considerado como  turbulento, de acordo com a classificação de Emery & Trist (1965).
   Nesse  contexto, é definida a Ecologia Organizacional (TRIST, 1976, 1977), que focaliza  o campo formado por uma série de organizações cujas interrelações compõem um  sistema. O estudo desse campo organizacional tem como um dos objetivos  minimizar o impacto das incertezas do ambiente, considerando-se que os seus  participantes se relacionam de forma difícil de antecipar.
   As  contribuições da literatura propõem alternativas para lidar com o ambiente  turbulento e as suas incertezas. A todo momento, empresas têm sucesso, outras  perecem, teorias antigas são contestadas ou ressurgem, e novas são  desenvolvidas. O fato é que lidar com o ambiente atual é um grande desafio,  tornando-se necessário, a todo momento, desenvolver novas propostas e  testá-las.
   Dentre  as muitas teorias propostas  para lidar  com essa turbulência, pode-se destacar a abordagem sociotécnica (EMETY & TRIST,  1960; TRIST, 1981; SONDERGAARD el al.,  2007), as estratégias emergentes (MINTZBERG, 1987), o planejamento adaptativo (ACKOFF,  1969; OZBEKHAN, 1974; TRIST, 1976; MELO, 1982), as teorias do aprendizado  organizacional (ARGYRIS, 1977; de GEUS, 1988; MARCH, 1991), a análise de  cenários (GODET, 2000; POSTMA et al.,  2005) e o desenvolvimento de opções reais (WILLIAMSON, 1999).
   Essas  teorias geralmente discutem uma solução para o problema no nível organizacional  e no nível do campo organizacional. Ou seja, propõem formas de tomada de  decisões pela organização, de modo a definir como ela escolherá as suas  estratégias para atuar no campo, ou formas de integração entre participantes do  campo organizacional para lidar com os desafios. 
   A proposta deste ensaio é mostrar  que áreas com certo nível de autonomia dentro de uma organização e com missão  claramente definida têm condições de propor suas próprias alternativas para  enfrentar os desafios do ambiente turbulento e atingir os seus objetivos. 
  2 O QUE É ECOLOGIA ORGANIZACIONAL?
   Uma  necessidade fundamental é reconhecer a incerteza do ambiente para atuar de  acordo com ela, pois o custo de determinadas ações pode se justificar somente  em caso de incertezas muito altas. Diversas classificações de incerteza  propostas na literatura ajudam no momento da decisão sobre a melhor forma de  atuar. Makridakis e Héau (1987) discutem a extensão da incerteza, classificando-a  em relação a cinco pontos: intensidade, tipo, caráter, duração e  previsibilidade. Já Friend e Jessop(1969) identificam as fontes da  incerteza, identificando-as como o ambiente operacional (relacionadas à estrutura  do mundo externo à tomada de decisão), os valores (relacionadas ao juízo de  valor das decisões a serem tomadas) e as escolhas relacionadas (relacionadas à  tomada de decisão futura em consequência das decisões atuais).
   Courtney et al. (1997) propõem classificar o nível da incerteza, que considera a  variedade de futuros possíveis. Para cada um desses níveis, as posturas  estratégicas requeridas são identificadas e um portfólio de ações é proposto, de  modo que a escolha correta das estratégias depende de classificar adequadamente  a incerteza e se posicionar de acordo com ela.
   O  entendimento da incerteza requer a análise do ambiente no qual as organizações  estão inseridas, possibilitando formular estratégias para administrar os  desafios apresentados. Para compreender esse ambiente, Emery e Trist (1965) propõem  a teoria da textura causal, que focaliza as interrelações ambientais. Três  tipos de relação são explicitados para facilitar a análise do ambiente: i) relações  internas à organização; ii) relações entre organização e ambiente (ambiente  tarefa) e iii) relações entre organizações do ambiente (ambiente contextual).
   Considerando a complexidade dessas  interrelações, os autores classificam o ambiente organizacional em quatro  tipos:
A  turbulência revelada principalmente no último tipo da classificação justificou  uma ampliação do escopo de análise, que passou a abranger o ambiente ao qual a organização  está inserida. A partir dessa base, Trist (1976, 1977, pág. 162) refere-se à Ecologia  Organizacional como o estudo do:
   “Campo organizacional criado por uma série de organizações,  cujas inter-relações compõem um sistema no nível do campo, como um todo. O  campo geral torna-se um objeto de investigação, e não uma única organização em  relação ao seu conjunto.”
   Trist  fundamenta a Ecologia Organizacional no conceito de regulação socioecológica,  que abrange arranjos negociados entre os participantes do campo, promovendo a  cooperação entre eles. Essa regulação baseia-se nos seguintes fundamentos:
A  regulação socioecológica contrapõe-se aos princípios da burocracia de Weber  (2009), baseada na centralização, no autoritarismo e no controle, inadequados  para sistemas complexos e com alto grau de interdependência entre as partes. Seus  instrumentos são ineficazes para controlar sistemas com alto grau de incerteza  e turbulentos. 
   Nesse  tipo de regulação socioecológica, o controle realizado pela organização deixa  de existir. Configura-se uma ‘supervisão’ realizada de forma  compartilhada entre os integrantes do campo  organizacional ou a ausência de ‘supervisão’ (TRIST, , 1976, 1977).
   O  campo organizacional objeto da Ecologia Organizacional é um sistema  colaborativo, que tem como objetivo principal sobreviver às mudanças impostas  pelo ambiente turbulento. Ele forma uma rede de aprendizado interorganizacional  que permite inovação compartilhada entre as organizações participantes do  campo.
  3 ECOLOGIA INTRAORGANIZACIONAL
   De  acordo com a Ecologia Organizacional, o aumento da complexidade no sistema de  interrelações entre as empresas e o ambiente muda o paradigma de gestão para  focar o estudo do campo organizacional com todas as suas organizações e  interrelações. Mediante uma mudança de nível de análise, propõe-se, neste  trabalho, a introdução da Ecologia Intraorganizacional, considerando-se como  referência, no estudo, uma unidade da organização com características de  autonomia e auto-regulação.
   A  função de regulação deve garantir que as unidades do campo da Ecologia Intraorganizacional  realizem ações que se direcionam em conjunto para o atingimento dos objetivos  organizacionais, não se anulando  nem  estando direcionadas a objetivos conflitantes com aqueles. Nessas condições,  parafraseando Trist (1977), introduz-se o conceito de Ecologia Intraorganizacional:
  Ecologia Intraorganizacional refere-se  ao campo de estudos criado por uma série de unidades ou partes de organizações que  possuem certo grau de autonomia, cujas interrelações compõem um sistema no  nível do campo organizacional formado por essas entidades, como um todo. O  campo geral torna-se um objeto de investigação, e não uma única entidade em  relação ao seu conjunto.
   É  fundamental ressaltar que as relações consideradas não são exclusivamente  internas à organização. Relações relevantes entre uma unidade organizacional e  entidades externas à organização também fazem  parte do campo objeto de estudo.
   A  forma de abordagem ideal para se tratar um departamento nesse contexto é a  abordagem sociotécnica (EMERY & TRIST, 1960), já que essa abordagem permite  tratar o aspecto social em conjunto com o aspecto técnico do departamento e do  campo como um todo. Para implementar essa abordagem, a metodologia de  pesquisa-ação (TRIST, 1976) é considerada adequada, pois permite tanto aumentar  o conhecimento com relação a esse tipo de organismo como atingir os resultados  práticos que o departamento busca.
   Autores  como Weil (1993) afirmam que a visão da empresa deve ser holística, coerente  com a Teoria Geral de Sistemas de Von Bertalanffy (1950), na qual o conjunto  das partes forma um todo complexo e unitário (Maximiano, 2004).  De acordo com Weil (1993), a abordagem holística  propõe uma visão não fragmentada da realidade, onde se equilibram e se reforçam  sensação, sentimento, razão e intuição. Por outro lado, a abordagem sociotécnica prega uma maior autonomia e  interdependência dos grupos de trabalho dentro da organização, pois, de acordo  com Trist (1981), esses grupos precisam apresentar, entre outras  características, auto-regulação, autonomia e liberdade de ação.
   Embora, de acordo com a visão holística,  qualquer movimento no sentido de fragmentar as corporações para tratar partes  dela como se fossem uma unidade pareça inconsistente, a ecologia  intraorganizacional não vai de encontro aos conceitos dessa visão. O objetivo  de não considerar a organização como um todo é que se quer verificar  determinadas propriedades de uma unidade. Não se aborda, contudo, a unidade isoladamente,  mas todo o seu campo de influência. 
   As  entidades que compõem o campo podem ser, tomando-se como referência uma unidade  de uma organização:
Dentre  as entidades acima relacionadas, é importante entender as possibilidades de  interação entre departamentos de mesma natureza em empresas concorrentes.  Observa-se hoje que, além do benchmark tradicional entre empresas, realizado por meio de consultorias ou colaboração  direta do mesmo segmento ou mesmo colaboração costumeira e aprendizagem em clusters (TALLMAN et al., 2004), existe colaboração entre áreas afins de empresas de determinadas  indústrias. Uma forma de interação também se dá pelas relações interpessoais,  que permitem troca de informações e eventual abordagem de profissionais para  trocar de empresa.
   Também  é relevante ressaltar a possibilidade de relações entre outras áreas da organização  da unidade que está sendo considerada como relações no ambiente contextual.  Essas relações, embora não diretamente realizadas com a unidade em estudo, podem  ter influência direta no seu futuro (eventualmente, tomadas de decisão estratégicas  que modificam de forma relevante a vida de uma unidade podem ser feitas em  nível organizacional superior). 
   O  modelo da textura causal de Emery e Trist (1965), sintetizado na seção  anterior, também pode ser utilizado para avaliar a turbulência do ambiente de  uma unidade dentro da organização. Embora o nível de turbulência ambiental que  sofre uma organização influencie a turbulência do ambiente de uma unidade  específica, essa pode enfrentar turbulência maior ou menor, dependendo das interações  das entidades do seu campo organizacional. O modelo para analisar a textura  ambiental do departamento é o mesmo anteriormente apresentado, com adaptação na  natureza dos organismos. As formas de relações possíveis entre essas novas  unidades adaptadas são descritas a seguir:
4 OPERACIONALIZANDO A ECOLOGIA INTRAORGANIZACIONAL
   Para  interagir com o ambiente, uma unidade com certo grau de autonomia possui  diversas opções de atuação.  É possível  retirar da literatura diversas estratégias de nível organizacional que podem  ser utilizadas no nível da unidade. A figura 1 contém um modelo de interação unidade  – ambiente em que se considera a unidade como uma entidade que recebe estímulos  ou inputs do ambiente, trata-os segundo  determinadas estratégias e envia os resultados ou outputs para o ambiente. Esses resultados atendem tanto à  organização da qual ela faz parte quanto a diversas organizações que fazem  parte do seu campo.
   Sobre  a estratégia de planejamento adaptativo, constata Trist (1976, pag. 226-227)  que ela: 
  “...estabelece  a primazia do nível normativo ou de valor e da postura proativa, e a  necessidade de engajamento de grupos de interesse múltiplos para que a  implementação possa ser alcançada. Busca o estabelecimento de uma ordem  negociada (Strauss et al., 1964), com feedback repetido para avaliação e  autocorreção, e requer que nós pesquisemos o processo enquanto o  desenvolvemos.”
   Para  isso, é necessária a criação de organizações sociais adaptativas capazes de  aprender continuamente. O planejamento adaptativo é uma forma eficiente de se  considerar as estratégias emergentes, que surgem em resposta a uma situação que  evoluiu. Um planejamento estratégico racionalista e imutável não é capaz de  aproveitar essas oportunidades, o que só é possível pelo aprendizado. 
   Uma  abordagem do planejamento adaptativo relevante para a ecologia  intraorganizacional é o Incrementalismo Articulado (MELO, 1977). Essa  estratégia é uma modalidade de planejamento adaptativo baseada nos seguintes  pontos:
A  utilização de cenários, definidos por  Godet (1983) como a descrição de um futuro possível, realizável ou desejável,  também é fundamental para lidar com o ambiente dos dias atuais. Schwartz (1995, in Santos, 2011, p.39) define  cenários como “uma ferramenta para  explorar o futuro em um mundo de grandes incertezas”. Faz-se uma projeção  dos futuros possíveis de acordo com diversas condições de algumas variáveis  fundamentais e, a partir dessa projeção, selecionam-se estratégias. O número de  cenários a serem considerados deve ser pequeno para tornar factível sua  elaboração. Da mesma forma, a quantidade de variáveis utilizadas para formar os  cenários também não deve ser grande para não inviabilizar o modelo.
   Coerentes  com o planejamento adaptativo estão as teorias que focalizam o planejamento  como aprendizado. Uma organização que aprende, de acordo com Peter Senge (in GARVIN, 1993, pag. 78) é ”onde as  pessoas continuamente expandem sua capacidade de criar os resultados que elas  realmente desejam, onde novos e expansivos padrões de pensamento são nutridos,  onde a aspiração coletiva é deixada livre e onde as pessoas estão continuamente  aprendendo a aprender juntas”.
   Para aprender, uma empresa deve assumir  novos modos de pensar e modificar o seu comportamento, como quando ela adota o double-loop learning (ARGYRYS, 1977), em  que as pessoas na empresa são capazes de questionar objetivos, normas e  políticas corporativas quando as coisas saem errado, indo além da mera adoção  de ações corretivas, como no tradicional single-loop  learning.
   Uma  metodologia baseada no aprendizado, que pode ser adequada para lidar com os  desafios das organizações no mundo atual, é a pesquisa-ação. Essa metodologia  introduz o pesquisador na organização com o objetivo de implementar mudanças  efetivas e, também, produzir conhecimento acadêmico. De acordo com Melo (1985,  pag. 2), a “pesquisa-ação postula que  uma maneira efetiva de entender organizações é introduzir mudanças e analisar  como a organização reage a elas.” 
   Na  pesquisa-ação, o pesquisador tem papel ativo no planejamento e na execução das  mudanças organizacionais, avaliando se o resultado é o desejado, implantando as  alterações necessárias e registrando o conhecimento produzido. Como afirmou  Trist (1976, pag. 225):
  “Assumir  o papel ativo significa intervir. Intervenção implica planejamento. Mas os  efeitos da execução dos planos têm que ser continuamente descobertos e  avaliados para permitir a modificação apropriada. O que é este processo, se não  pesquisa-ação?”
   Percebe-se  que o conceito do Incrementalismo Articulado se relaciona de maneira  consistente com a abordagem sociotécnica e com a ecologia intraorganizacional,  pois sua implantação tem como premissa um sistema sociotécnico que tenha  autonomia suficiente para modificar seu estado final de acordo com as mudanças  incrementais articuladas ao longo do tempo.
   Essa  possibilidade é reafirmada pelo princípio da equifinalidade (EMERY& TRIST,  1960), que ensina que se pode atingir a estabilidade a partir de diferentes  condições iniciais e por diferentes caminhos. Se existem vários meios de  atingir os objetivos, não é necessário fazer um controle externo das atividades  de uma área. Mais interessante é dar autonomia para que seus componentes  definam o que fazer. A organização deve criar condições de coordenar os vários  grupos, verificar os resultados, dar o apoio técnico, treinamento e  estabelecimento de metas e objetivos (DUARTE, 1987), sem recorrer ao inchamento  da estrutura hierárquica.
   É  importante esclarecer que o conceito de unidade com autonomia e auto-regulação  proposto nesse trabalho é diferente do conceito de Unidades de Negócio, que  realizam planejamento estratégico independente e possuem uma grande autonomia  em diversas empresas nos dias atuais. Uma Unidade de Negócio tem uma relação  íntima com o cliente final da empresa, pois ela representa uma linha de  produtos, ou uma subdivisão de mercado. A proposta neste texto refere-se a  qualquer área da organização que apresentar as condições necessárias, na menor  granularidade possível, abrangendo até mesmo pequenas gerências. 
   Como  insumos para atuação da unidade, são citados alguns fornecidos pela própria  organização da qual ela faz parte: missão e visão, metas e políticas  organizacionais. Atores externos à organização também atuam, fornecendo  resultados de benchmark (concorrentes,  consultorias) e regulações (órgãos regulatórios etc), entre outros. Incertezas do ambiente são fornecidas pelo  conjunto de relações contextuais imprevisíveis.
   Os  resultados são entregues tanto à organização (entregas da unidade) quanto a  outros organismos, como empresas concorrentes ou institutos de pesquisa  (informações para colaboração que dão insumos para benchmark). Cabe observar que as entradas, saídas e estratégias listadas  na figura 1 de forma alguma pretendem ser exaustivas.
5 CONCLUSÕES
   Este  trabalho propõe que o gerenciamento de uma unidade, que faz parte de uma  organização, com autonomia e auto-regulação, seja realizado de acordo com um  enfoque no campo organizacional formado pela unidade estudada e por outras  entidades a ela relacionadas. Este  campo é o objeto de estudo da Ecologia Intraorganizacional, aqui introduzida. 
   Para  isso, é necessário que as unidades formadoras do campo tenham certo grau de  autonomia e interdependência. A estratégia de planejamento considerada mais  adequada para esse tipo de unidade é o Incrementalismo Articulado, devido às  suas características de flexibilidade e capacidade de articular as diversas  ações.
   Esse  modelo, ao mesmo tempo que dá autonomia, aumenta o risco, pois a gestão das  diversas unidades da forma aqui proposta pode ser muito complexa, dificultando  o atendimento das necessidades da organização. Por esse motivo, devem ser  criados mecanismos que possibilitem às empresas trabalharem assim. A existência  de um agente regulador para ‘administrar’ as fronteiras dessas relações pode  ser eficiente. 
   Pela  ausência de organizações trabalhando segundo esse modelo, estudos mais  aprofundados devem ser realizados para verificar a viabilidade da proposta. Uma  possibilidade é estabelecer, em empresas que têm intenção de inovar implantando  ações dessa natureza, um projeto piloto. Escolhendo uma unidade que seja mais  adequada para iniciar o processo e utilizando a metodologia de pesquisa-ação, o  piloto poderia ser realizado a fim de produzir mais conhecimento e resultados  melhores para a organização.
   Com  essa proposta, pretende-se introduzir uma mudança no paradigma de gestão,  contribuindo para a maior eficiência das relações intraorganizacionais,  utilizando um mecanismo de regulação que respeita a autonomia das unidades e,  ao mesmo tempo, é capaz de articular suas ações para otimizar o desempenho
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