Observatorio Economía Latinoamericana. ISSN: 1696-8352


IMPORTÂNCIA SÓCIOECONÔMICA DAS PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS PRODUTORAS DE MAÇÃ PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL DE URUPEMA-SC

Autores e infomación del artículo

Alesandro Muniz Pereira*

Bruna Fernanda da SILVA**

Lenita Agostinetto***

UNIPLAC, Brasil

brusilvabio@gmail.com

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RESUMO

O Estado Santa Catarina é o maior produtor nacional de maçã. No estado destaca-se o município de Urupema, que tem no cultivo da maçã sua principal fonte de geração de emprego e renda. O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo de caso referente à importância socioeconômica das pequenas propriedades rurais com cultivo de maçã no município de Urupema, SC, e descrever sobre os aspectos relacionados à relevância destas propriedades na produção, no movimento econômico do local, e na permanência das pessoas no meio rural. O referido trabalho trata-se de uma pesquisa descritiva e documental baseada no levantamento de dados em materiais bibliográficos e documentos da Prefeitura do referido município. Com esta pesquisa, foi possível observar que a grande maioria (82%) dos pomicultores de Urupema, tem área de cultivo de até 5,0 ha, caracterizando pequenas propriedades rurais, que tem como base da força de trabalho o agricultor e a sua família.  As propriedades com área de cultivo de até 10 hectares perfazem 52,3 % do total da produção da fruta no município e contribui com cerca de 60% do movimento econômico da produção agropecuária municipal. Nessas propriedades rurais, o manejo da maçã se dá basicamente pela mão-de-obra familiar, onde os pomicultores realizam troca de serviços com os agricultores vizinhos. Isto promove geração de emprego e renda para as famílias e jovens que vivem nos arredores e garante a permanência destas pessoas no meio rural.

Palavras-chave: Cultivo, Malus domestica, economia, sustentabilidade, propriedades rurais.

ABSTRACT

The State Santa Catarina is the largest national apple producer. In the state stands out the municipality of Urupema, that has in the cultivation of the apple its main source of generation of employment and income. The objective of this work was to carry out a case study concerning the socioeconomic importance of small farms with apple cultivation in the city of Urupema, SC, and to describe the aspects related to the relevance of these properties in the production, in the economic movement of the place, and in the permanence of people in rural areas. This work is a descriptive and documentary research based on the collection of data on bibliographical materials and documents of the municipality of the said municipality. With this research, it was possible to observe that the great majority (82%) of the growers of Urupema, has a cultivation area of up to 5.0 ha, which characterizes small farms, based on the farmer's labor force and your family. The properties with a cultivation area of up to 10 hectares account for 52.3% of the total fruit production in the municipality and contribute with about 60% of the economic movement of the municipal agricultural production. In these rural properties, the management of the apple is mainly by the family workforce, where the growers make an exchange of services with the neighboring farmers. This fact makes it possible to generate employment and income for the families and young people living in the surrounding areas and guarantees the permanence of these people in rural areas.

Key words: Cultivation, Malus domestica, economy, sustainability, farms.

RESUMEN

El estado de Santa Catarina es el mayor productor nacional de manzanas. En el estado se destaca el municipio de Urupema, que tiene en el cultivo de la manzana su principal fuente de generación de empleo e ingresso. El objetivo de este trabajo fue realizar un estudio de caso sobre la importancia socioeconómica de las fincas pequeñas con cultivo de manzanas en la ciudad de Urupema, SC, y describir los aspectos relacionados con la relevancia de estas propiedades en la producción, en el movimiento económico del lugar, y en la permanencia de las personas en las zonas rurales. Este trabajo se trata de una investigación descriptiva y documental basada en el levantamiento de datos en materiales bibliográficos y documentos del Ayuntamiento de dicho municipio. Con esta investigación, fue posible observar que la gran mayoría (82%) de los cultivadores de Urupema, tiene la cultivación de área de hasta 5.0 ha, que se caracterizan pequeñas granjas, basadas en la fuerza de trabajo del cultivador y su familia. Las propiedades com la cultivación de hasta 10 hectáreas representan el 52,3% del total de la producción de la fruta en el municipio y contribuye con cerca del 60% del movimiento económico de la producción agropecuaria municipal. En estas propiedades rurales, la gestión de la manzana es predominante por la familia de trabajo, donde los cultivadores realizan un intercambio de servicios con los vecinos. Esto promueve generación de empleo y renta para las familias y jóvenes que viven en los alrededores y garantiza la permanencia de estas personas en el medio rural.

Palavras claves: Cultivo, Malus domestica,economía, sostenibilidad, propiedades rurales.

Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato:

Alesandro Muniz Pereira, Bruna Fernanda da SILVA y Lenita Agostinetto (2018): "Importância sócioeconômica das pequenas propriedades rurais produtoras de maçã para o desenvolvimento regional sustentável de URUPEMA-SC", Revista Observatorio de la Economía Latinoamericana, (agosto 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/oel/2018/08/pequenas-propriedades-rurais.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/oel1808pequenas-propriedades-rurais


1 INTRODUÇÃO

A Cultura da maçã (Malus domestica) foi introduzida no Brasil em 1926 e durante muito tempo havia importação da fruta, principalmente da Argentina (EPAGRI, 2013). Na década de 1960 o Brasil situava-se como o quarto maior importador de maçã no mundo, cujo consumo nacional per capita situava-se em 2 kg/ano (BITTENCOURT; MATTEI, 2008). Deste período em diante a produção nacional acompanhou o crescimento do consumo, e o volume de maçã importada foi diminuindo constantemente. O significativo crescimento da produção interna, a qualidade da fruta brasileira e o preço atrativo possibilitaram ao país reduzir o número de importações e fizeram com que o país passasse de importador a autossuficiente, tornando-o um dos países exportadores da fruta para diversos países da Europa, da Ásia e do Oriente Médio (PEREIRA; SIMIONI; CARIO, 2010).
Apesar do Brasil apresentar menos de 40 anos de tradição na produção mundial de maçã, os pomares brasileiros implantaram variedades bem aceitas internacionalmente como Gala, Fuji e seus clones, além de disponibilidade de terras e a densidade de plantio que transformaram o país em um dos principais produtores mundiais de maçã, apresentando forte expansão em termos de área e volume de produção nos últimos trinta anos (BITTENCOURT; MATTEI, 2008; PETRI et al., 2011). Segundo dados do IBGE (2017) o Brasil apresentou na última safra uma área cultivada de maçã acima de 663,27 ha com uma produção de pouco mais de 14 milhões de toneladas.
Neste sentido, a produção de maçã representa importante fonte de emprego e renda, pois para a produção da fruta e o manejo dos pomares há necessidade de mão-de-obra de pelo menos três indivíduos por hectare, de modo direto e indireto, o que representa mais de 100 mil empregos em sua cadeia produtiva, demonstrando a relevância social deste empreendimento (PETRI et al., 2018). Obviamente, que a adoção de novas tecnologias possibilita a agregação de valor no produto final e contribui para o aumento da qualidade e da produtividade da maçã brasileira, neste sentido, a permanência e o desenvolvimento dos cultivos de maçã ao longo dos anos no Brasil se deu pela introdução de tecnologias inovadoras que afetaram positivamente a produtividade e a qualidade da fruta, sustentando o crescimento da cultura no país (BONETI et al. 1999; PETRI et al., 2018).

               No Brasil, o estado de Santa Catarina destaca-se no cultivo da maçã, sendo o maior produtor nacional da fruta e responsável por aproximadamente 48,7% do total da área cultivada no Brasil (IBGE, 2017). No estado o perfil do produtor de maçã é caracterizado por 90% de agricultores com até 4,5 ha de maçãs, num total de 2.497 pomicultores, distribuídos em 17.853 hectares, numa média de sete hectares por produtor (IBGE, 2017).

            Dentre as diferentes regiões do Estado, duas se destacam na maleicultura, a região meio-oeste e a região da Serra Catarinense (PEREIRA; SIMIONI; CARIO, 2010).  Na região meio-oeste o destaque vai para os municípios de Fraiburgo, Monte Carlo, Lebon Régis e Água Doce e caracteriza-se pela produção empresarial, com utilização de tecnologia de ponta e práticas inovadoras (BRDE, 2011). Na região serrana catarinense os municípios de São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Urubici e Urupema, destacam-se no cultivo da maçã, que advém principalmente de pequenos produtores rurais e de algumas empresas cooperativas (BRDE, 2011).
Os municípios produtores de maçã situados na Serra Catarinense possuem características edafoclimáticas muito semelhantes, com altitude elevada, onde a fruticultura de clima temperado se desenvolve naturalmente (BITTENCOURT; MATTEI, 2008).  O município de Urupema, por exemplo, tem segundo a classificação de Koppen, clima do tipo Cfb – Temperado Marítimo Úmido, com inverno rigoroso e verões brandos, e localiza-se a 1400 metros acima do nível do mar o que favorece o cultivo da maçã (PREFEITURA MUNICIPAL DE URUPEMA, 2018). Assim, as características edáficas e climáticas da região são favoráveis à produção da maçã, devido ao frio e a oscilação da temperatura do início ao fim do dia, que permitem maior teor de açúcar e coloração às frutas (EPAGRI, 2013).
Assim, desde sua implantação comercial, no final dos anos 1970, o cultivo de maçã tem ganhado importância na economia da região. No município de Urupema, a estrutura fundiária é composta basicamente pelo cultivo da fruta em pequenas e médias propriedades, sendo a principal fonte de renda para as famílias que utilizam a mão-de-obra familiar, o que a torna fundamental para o desenvolvimento social e econômico do município. Deste modo, a maleicultura permite viabilizar economicamente a pequena propriedade rural da região e agrega valor a economia do munícipio. Segundo dados do IBGE (2016) o município cultiva uma área de 512 ha de maçã com produção média de 17,9 toneladas, o que representa valores elevados para um município pequeno de pouco mais de 350 km2 de extensão territorial e pouco populoso com 2.482 pessoas.
O cultivo da macieira se caracteriza por ser uma atividade de alto retorno econômico por unidade de área, com produtividade média elevada se comparada com outras culturas anuais, o que contribui para a permanência do agricultor no meio rural e intensifica o movimento econômico da região de cultivo (AUGUSTIN; DA CRUZ, 2015). Este fato, principalmente na região de Urupema, assume grande importância, uma vez que uma família inteira pode ser mantida apenas à custa desta atividade e com uma pequena área cultivada, o que seria bem diferente para o caso de outras culturas, tal como, a soja.
Com base no exposto, este estudo teve como objetivo investigar a importância socioeconômica das pequenas propriedades rurais com cultivo de maçã no município de Urupema/SC, abordando aspectos relacionados à relevância destas propriedades na produção da fruta, no movimento econômico do local, e na permanência de agricultores e de seus familiares no meio rural.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa descritiva e documental baseada no levantamento de dados referente à importância social e econômica das pequenas propriedades rurais com cultivo de maçã no município de Urupema, SC, Brasil.
O municipio localiza-se na Região da Serra Catarinense, com Latitude de 27°57 e Longitude de 49°52 e Altitude de 1.425 metros, a maior do Estado de Santa Catarina, favorecendo a ocorrência de geadas e neve no inverno. O clima de Urupema, segundo a classificação de KOPPEN, pode ser considerado, como chuvoso, com inverno e verão brandos e temperatura média anual de 14ºC, sendo que no inverno a temperatura pode atingir até 14ºC negativos. Em relação à economia do município, as principais fontes são oriundas da atividade agropecuária, principalmente do cultivo de maçã, batata e moranga, pecuária de corte e leite, produção orgânica e truticultura (PREFEITURA MUNICIPAL DE UREPEMA, 2018).
Para esta pesquisa, a fonte de informações foram extraídas de documentos da Prefeitura Municipal de Urupema fornecidos pelas Secretarias Municipais de Administração e Agricultura do município. Os documentos pesquisados foram os Relatórios Gerais do Movimento Econômico referente aos anos de 2012 a 2015 e o levantamento de área e produção de maçãs na safra de 2014. O uso específico dos dados de área e produção da safra 2014 foi devido à confiabilidade e a amplitude dos dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Urupema.
Estas informações foram complementadas com dados obtidos de sites do Governo do Estado, da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã – ABPM, do Ministério da Agricultura e Abastecimento – MAPA e da Associação de Produtores de Maçã e Pera do estado de Santa Catarina – AMAP.
A partir dos dados obtidos foi realizada análise estatística descritiva (médias e percentuais), os quais foram apresentados em gráficos e tabelas. As informações referentes à relevância das propriedades na produção de maçã, no movimento econômico do local e na permanência dos agricultores no meio rural foram comparadas entre pequenas, médias e grandes propriedades rurais do local.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 O cultivo de maçã no município de Urupema

A produção de maçã surgiu no município de Urupema no ano de 1978 quando o município ainda era Distrito de São Joaquim, e foi incentivada pelo PROFIT. Após a emancipação que ocorreu em 1989, a atividade teve um grande impulso, com a criação de programas municipais de incentivo a implantação de pomares (PREFEITURA DE URUPEMA, 2018).
Desde então a atividade assumiu papel fundamental na economia municipal. Com condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento da macieira, apesar do relevo não possibilitar grandes áreas de plantio, foram com pequenos empreendimentos que a atividade se desenvolveu.
De acordo com o Levantamento Agropecuário Catarinense (2002-2003) o município de Urupema tem 352 estabelecimentos agropecuários, dos quais 89 baseiam-se no cultivo de maçãs, correspondendo a 25,3%.
No ano de 2005, cerca de três mil produtores cultivavam a macieira, basicamente na Região Sul do país, dos quais 2.200 produtores em Santa Catarina, 700 no Rio Grande do Sul e aproximadamente 100 no Paraná (BRDE, 2005). Assim, é perceptível que a cultura da maçã é o grande suporte econômico de uma série de municípios nos estados sulinos (BRDE, 2005).

3.2 Caracterização da produção de maçã e dos pomicultores de Urupema

O município de Urupema tem sua economia baseada essencialmente na agropecuária destacando-se o cultivo de maçã com uma área plantada de 466 ha (IBGE, 2017). Atualmente, o município de Urupema tem 89 pomicultores de maçãs, com predomínio de áreas de cultivo com até 3 ha (figura 1).
Figura 1. Relação entre o número de produtores de maçã do município de Urupema, SC e o tamanho da área cultivada com a fruta.
Do total de 89 pomicultores, a grande maioria, cultiva em área de até 3 hectares de maçã (59 pomicultores), seguido de 3,1 a 5 hectares (14 pomicultores), 5,1 a 10 hectares (12 pomicultores) e com área superior a 10,1 hectares (04 pomicultores). Isto indica que a região de Urupema produtora de maçã caracteriza-se principalmente pelo predomínio de pequenos empreendimentos no cultivo da fruta. 
Se considerarmos somente os pomicultores e seus familiares, temos em Urupema aproximadamente 350 pessoas envolvidas diretamente com o cultivo da maçã, equivalendo a cerca de 14,1% da população total. Assim, por ser uma atividade de grande densidade produtiva por área, é possível colher grande volume de frutas em apenas um hectare de área cultivada e muitas famílias conseguem renda suficiente para permanecer na atividade rural, mesmo com uma pequena área de produção (BONETI et al., 1999).  Este fato, principalmente em Urupema é de grande importância, pois, é possível manter toda a família vivendo diretamente desta atividade com uma porção relativamente pequena de terra, diferente de outras lavouras de cultivo anual onde seria necessário uma quantia bem maior de terra aproveitável para manter a mesma família.
A maioria dos produtores de maçã do município tem área de cultivo de até cinco hectares, correspondendo à 82% do total de produtores. Por outro lado, se considerarmos pomares com até 10 hectares de cultivo, o percentual aumenta para 95% do total de produtores. Estas características definem a importância da produção de maçã na estrutura fundiária local.
Segundo Pereira, Simioni e Cario (2001), os resultados positivos da produção catarinense de maçãs são expressos pelo aumento da produtividade, que em 1994 se aproximava de 15 t/ha e em 2000 foi superior a 30 t/ha. Os mesmos autores ainda citam que a tecnologia já disponível permite obter produtividade próximas a 80 t/ha. O cultivo de maça no Brasil tem passado por um processo rigoroso de reestruturação, com incremento dos cultivos, novas tecnologias, plantas resistentes a pragas e doenças (incentivo ao melhoramento genético), plantas de menor porte mais produtivas e adaptadas ao clima de cada região, além de cumprir as exigências do mercado consumidor (EPAGRI, 2013). Assim, todas estas melhorias empregadas para o cultivo da maçã no Brasil têm impulsionado a maior produtividade por área cultivada.
No município de Urupema a produção total no município atingiu 21 mil toneladas da fruta no ano de 2014, das quais 11 mil toneladas foram produzidas nas propriedades com área de cultivo de até 10 hectares, perfazendo 52,3 % do total e outras 10 mil toneladas advindas de áreas acima de 10 hectares de pomar, correspondendo a 47,7 % do total (figuras 2A e 2B). Isto demonstra a importância das pequenas propriedades na produção da fruta para o município. Do ponto de vista produtivo, ambas, as propriedades são importantes, mas se considerar o contexto socioeconômico pelo número de propriedades envolvidas, as pequenas propriedades (até 10 ha de plantio) tem papel fundamental na produção municipal de maçã.
Figura 2. Produção total de maçã por área cultivada (A) e total de maçãs produzidas em área de cultivo de até 10 ha e acima de 10 ha (B), na safra 2014 no município de Urupema, SC.

. A agricultura familiar apresenta a família como proprietária do meio de produção e da força de trabalho, sendo que esta forma de produção encontra-se em evidência atualmente no meio rural brasileiro, uma vez que, promove a agregação de famílias, propriedades agrícolas, trabalho na terra, além de cultivar valores e tradições e diversificar o meio rural brasileiro de forma econômica, social e cultural (SILVA et al., 2010).
As pequenas propriedades rurais são os principais responsáveis pelo abastecimento do mercado interno e apesar da menor área cultivada em relação às demais propriedades, a agricultura familiar, é a responsável por garantir a segurança alimentar do país, fornecendo alimentos para o consumo interno (NETO, 2009; SPONCHIADO, 2011).  Segundo dados do censo agropecuário (2006) a agricultura familiar contribuiu com 87% da produção total de mandioca; 70% da produção de feijão; 46% da produção de milho; 34% da produção de arroz; 38% da produção de café; e 58% da produção de leite. Deste modo, a agricultura familiar contribui com a ocupação das pessoas no meio rural, sendo cerca de nove vezes maior em relação às atividades agropecuárias não familiares (FRANÇA et al., 2009).

3.3 A importância das pequenas propriedades de cultivo de maçã de Urupema para a geração de emprego, renda e permanência no meio rural

O município de Urupema tem uma população de 2.482 habitantes, dos quais 1.250 residem no meio rural e 1232 no meio urbano (IBGE, 2010). Dos 89 empreendimentos de maçã em Urupema, em 65 deles o produtor e seus familiares moram no meio rural (Figura 1), perfazendo 73% do total e em 24 empreendimentos o produtor e seus familiares residem no perímetro urbano, correspondendo a 27% do total. Além disso, observa-se que dos 89 empreendimentos, 70 (78,6%) tem na produção de maçãs sua principal atividade econômica, a qual fornece renda para a manutenção da propriedade (Figura 1), o que demonstra a importância da pomicultura como garantia de sobrevivência e permanência destas famílias no meio rural.
Acredita-se que os maiores benefícios da presença de pequenas propriedades familiares na estrutura produtiva se retratam do ponto de vista social, garantindo a essas famílias os meios de produção e a possibilidade de manter-se na propriedade, evitando a saída para o meio urbano.
Para a permanência das famílias na propriedade rural, muitos fatores são necessários, mas o componente renda é fundamental. Nesse aspecto o cultivo da fruta em pequenas propriedades pode permitir uma renda maior por área produzida, se comparado ao cultivo de outras culturas, como os grãos, devido à grande capacidade produtiva destes. Segundo Neto (2009), há grande importância socioeconômica das pequenas propriedades rurais em relação a geração de renda e empregos no meio rural, já que essas propriedades são responsáveis por cerca de 53,5% das receitas geradas com a produção agropecuária brasileira.
A cultura da maçã por ser perene, necessita de tratos culturais ao longo de todo ano. Algumas fases do seu ciclo são mais críticas, demandando maior necessidade de mão de obra, o que acarreta no aumento do número de pessoas envolvidas com a atividade (EMPASC, 1986). Neste sentido, pode se considerar que as fases de poda e condução das plantas, raleio de frutos e colheita, são fases do cultivo onde a demanda de mão de obra é intensificada. Nestas fases de cultivo da maçã a população envolvida direta e/ou indiretamente com tais atividades aumenta substancialmente em até 40%, gerando emprego e renda a estas pessoas (LACERDA; LACERDA; ASSIS, 2004).
A fase de poda e condução de plantas é um estágio que exige mão-de-obra especializada sendo uma fase bastante complexa (LACERDA; LACERDA; ASSIS, 2004). Assim, esta é uma fase que mesmo temporariamente oportuniza empregos no campo e mantém a permanência das pessoas no meio rural.
A fase de brotação, que tem início com o raleio de frutos, apesar de ser uma atividade menos complexa do que a anterior deve ser executada num curto espaço de tempo para não interferir fisiologicamente na produção do ano seguinte necessita de maior mão-de-obra. Além disso, o período de colheita é outra fase do cultivo que demanda serviço, pois quando o fruto atinge o ponto ideal de colheita, o processo de colheita deve ocorrer imediatamente para garantir longevidade na fase de armazenamento (EMPASC, 1986),
Nesses períodos, a maçã pode gerar até três empregos por hectare, entre vagas fixas e provisórias (PÉREZ, 2012). Na região de São Joaquim o cultivo de maçãs é responsável pela geração direta de 15 mil empregos e mais 35 mil empregos de forma indireta, garantindo a permanência da população nesta região e no meio rural (DIEESE, 2016).
No município de Urupema, há predomínio do cultivo de maçã em propriedades com área de até 3 ha de pomar, consideradas bem pequenas (Figura 1).  Nessas propriedades, o manejo da fruta se dá basicamente pela mão-de-obra familiar, e nas fases mais críticas de manejo os pomicultores realizam troca de serviços com os agricultores vizinhos, formando-se um grupo de trabalho, onde os pomicultores permutam o uso da mão-de-obra e reduzem o desembolso financeiro para a produção da fruta.
Ainda neste município, cerca de 30% dos pomares tem área entre 3,1 a 10,0 ha (Figura 1), que também são considerados propriedades pequenas dentro da composição estadual. Nestas, o uso de mão-de-obra contratada é representativa, principalmente nas fases mais críticas de cultivo, tais como, poda, raleio e colheita. Assim, não é possível o uso somente da mão-de-obra familiar, pelo volume de tratos culturais necessários para uma perfeita produção. Deste modo, há geração de emprego e renda para famílias que vivem nos arredores e para os jovens que vivem naquele local, garantindo sua permanência naquele local.

3.4 A importância da pequena propriedade no cultivo de maçã para o Movimento Econômico do Município de Urupema

O Movimento Econômico representa toda a geração de riquezas geradas por um município, estado ou país, somados os diferentes setores econômicos, tais como, agropecuária, comércio, indústria e serviços, (SECRETARIA DE ESTADO DA FAZENDA, 2016).
Para avaliação do Movimento Econômico do Município de Urupema utilizou-se dados referentes aos anos de 2012 à 2015, tendo assim uma série histórica atualizada. O movimento econômico anual para o município de Urupema desde 2012 até 2015 situou-se em torno de R$ 30.000.000,00 a pouco mais de R$ 35.000.000,00, com pouca variação anual (Figura 3).

Comparando os valores dos diferentes setores da agropecuária, serviços e indústria (Figura 4) percebe-se que a maior contribuição para o Movimento Econômico anual do município de Urupema advém do setor agropecuário com aproximadamente R$ 15.000.000,00. Já a contribuição da indústria é menos significativa, demonstrando o pequeno potencial industrial da região que figura em torno de R$ 8.000.000,00 (Figura 4).

A participação do setor agropecuário contribui com cerca de 40% no movimento econômico total, mostrando que este setor é o que mais contribui para a economia local. Neste setor, destaca-se o cultivo de maçã que contribui com cerca de 60% da produção agropecuária municipal (Figura 5).
A contribuição da comercialização da maçã para o movimento econômico do município de Urupema revela algumas oscilações. Apesar do montante gerado pelo movimento econômico estar em situação crescente nos últimos anos, a participação na venda da fruta tem oscilado bastante. Isto, provavelmente, ocasionado por queda nos preços decorrentes da variação da qualidade da fruta produzida, principalmente por danos de granizo, que depreciam comercialmente as frutas e aumenta o percentual destinado à indústria.
Um aspecto relacionado à ocorrência de granizo, é que este fenômeno geralmente acontece em pontos isolados, normalmente, não atingindo toda a área do município (MONTEIRO et al., 2001). Quando há grandes áreas de pomares concentradas, como acontece nos grandes empreendimentos, a área atingida é maior, ocasionando perdas significativas. Por outro lado, quando a cultura da maçã é produzida em pequenas propriedades, não há uma concentração muito grande de pomares numa mesma localidade, diminuindo as áreas atingidas e consequentemente os danos ocasionados (KLANOVICZ, 2013).
Um fator que tem relação direta do ponto de vista econômico no cultivo de maçã entre pequenas e grandes propriedades é o desembolso financeiro (LACERDA; LACERDA; ASSIS, 2004). Nas médias e grandes áreas produtoras todos os tratos culturais e demais serviços necessários desde a poda até o final da colheita são executados por mão-de-obra contratada, que mensalmente precisa ser remunerada. Na pequena propriedade, a grande maioria dos serviços são realizados pela família do proprietário, necessitando contratar alguma mão-de-obra auxiliar em fases muito específicas, como raleio e colheita, com um desembolso financeiro menor.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido a estrutura fundiária característica das propriedades rurais no município de Urupema, a maior parte dos pomicultores do município trabalham em propriedades de até 5 hectares e são responsáveis por produzir grande parte da maçã cultivada no município, cuja produção tem participação direta na economia local.
O cultivo de maçã nas pequenas propriedades é também responsável pela geração de emprego e renda, garantindo a permanência das famílias no campo e influenciando o processo de sucessão no meio rural, uma vez que esta atividade gera empregos diretos e indiretos principalmente em épocas mais críticas dos tratos culturais da maçã (poda, raleio, colheita) que tem maior demanda de mão-de-obra.
Com o desenvolvimento desta pesquisa foi possível denotar a importância social e econômica que as pequenas propriedades com cultivo de maçã representam no município de Urupema, SC, para a geração de renda e emprego, permanência das pessoas no meio rural e para o movimento econômico daquela região.  

5 REFERÊNCIAS

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*Engenheiro agrônomo da Prefeitura Municipal de Urupema, Especialista em Desenvolvimento Regional Sustentável pela Universidade do Planalto Catarinense – UNIPLAC, Lages-SC, Brasil.
**Bióloga, Doutora em Biologia Geral e Aplicada, Docente do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Saúde (PPGAS) pela Universidade do Planalto Catarinense – UNIPLAC, Lages-SC, Brasil.
*** Engenheira agrônoma, Doutora em Produção Vegetal, Docente do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Saúde (PPGAS) pela Universidade do Planalto Catarinense – UNIPLAC, Lages-SC, Brasil.

Recibido: 26/07/2018 Aceptado: 02/08/2018 Publicado: Agosto de 2018

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