Revista: DELOS Desarrollo Local Sostenible ISSN: 1988-5245


LOGÍSTICA REVERSA EM PAUTA: UM TRABALHO BIBLIOMÉTRICO DE ESTUDOS BRASILEIROS

Autores e infomación del artículo

Andréa Machado Severo*

Doneide Kaufmann Grassi **

David Lorenzi Júnior ***

Roni Storti de Barros ****

UFSM, Brasil

andreasevero80@gmail.com


RESUMO
A preocupação com o meio ambiente vem ganhando prestígio e escala nas ONGs, dentro dos governos, nas mídias, nas empresas, nas igrejas e nas instituições de ensino. A logística reversa é atualmente utilizada por grandes e diversas instituições e se destaca como um importante modelo de atuação, frente a grande quantidade de materiais que são produzidos e descartados de maneira inadequada, causadores de grandes desequilíbrios ambientais. Partindo-se do princípio de que as organizações produtivas e de serviços possuem atividades que podem ser nocivas ao ambiente em que vivemos, podemos afirmar que a logística reversa e a sustentabilidade propõem um novo modelo de gestão de negócios, levando em consideração os impactos ambientais e sociais além das questões econômicas. Baseado nessa e em outras afirmações sobre o tema, surgiu a proposta de realização deste trabalho, que tem o objetivo de verificar o perfil das publicações existentes, na base de dados Spell – Scientific Periodicals Eletronic Library, relativas ao tema da logística reversa, no período de agosto de 2012 a agosto de 2017,no Brasil. A pesquisa caracteriza-se por ser de natureza quantitativa e de caráter descritivo. Trata-se, portanto, de um estudo bibliométrico que tem a proposta de delinear um panorama sobre os estudos acadêmicos realizados no tema da logística reversa. Dentre as contribuições que são elencadas no presente trabalho, destacamos o fato de evidenciar quais são os periódicos mais indicados para se selecionar quando há interesse de pesquisa por artigos que tratem da temática da Logística Reversa, ou ainda, para indicar aos pesquisadores em que periódicos submeter, para publicação, suas investigações sobre o tema aqui abordado.

PALAVRAS-CHAVE: Logística Reversa; Resíduos; Pós-consumo.
ABSTRACT
Concern for the environment is gaining prestige and scale in NGOs, within governments, in the media, in business, in churches and in educational institutions. Reverse logistics is currently used by large and diverse institutions and stands out as an important model of action, given the large amount of materials that are produced and discarded in an inadequate way, causing great environmental imbalances. Assuming that the productive and service organizations have activities that can be harmful to the environment in which we live, we can say that reverse logistics and sustainability propose a new business management model, taking into account the environmental and social beyond economic issues. Based on this and other statements on the subject, the proposal for the accomplishment of this work was presented, which aims to verify the profile of existing publications in the Spell - Scientific Periodicals Eletronic Library database, related to the theme of reverse logistics, in the period from August 2012 to August 2017, in Brazil. The research is characterized by being of a quantitative nature and descriptive character. It is, therefore, a bibliometric study that has the proposal to delineate a panorama about the academic studies realized in the theme of the reverse logistics. Among the contributions that are listed in the present work, we highlight the fact that the most appropriate journals to select when there is research interest in articles dealing with Reverse Logistics, or to indicate to the researchers when there are studies that are on this subject to submit to the publication.

KEYWORDS: Reverse Logistic; Waste; Post-consumption.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Andréa Machado Severo, Doneide Kaufmann Grassi, David Lorenzi Júnior y Roni Storti de Barros (2018): “Logística reversa em pauta: um trabalho bibliométrico de estudos brasileiros”, Revista DELOS Desarrollo Local Sostenible (octubre 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/delos/32/david-lorenzi2.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/delos32david-lorenzi2


1 INTRODUÇÃO

            A preocupação com o meio ambiente vem ganhando prestígio e escala nas ONGs, dentro dos governos, nas mídias, nas empresas, nas igrejas e nas instituições de ensino. No entanto, as ações concretas em favor da sustentabilidade acontecem em velocidade muito menor que a sensibilidade com os problemas ambientais.
A Constituição Federal Brasileira estabelece, em seu Capítulo VI, que

todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo às presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988, Art. 225).

Partindo-se do princípio de que as organizações produtivas e de serviços possuem atividades que podem ser nocivas ao ambiente em que vivemos, podemos afirmar que a logística reversa e a sustentabilidade propõem um novo modelo de gestão de negócios, levando em consideração os impactos ambientais e sociais além das questões econômicas. Dessa forma, a logística reversa comporta as operações relacionadas com a reutilização de produtos e materiais. Ou seja, são atividades de coleta, desmonte e processamento de produtos e/ou materiais e peças usadas, com o objetivo de assegurar uma recuperação sustentável ao meio ambiente (DAHER et al., 2004).
Com esse pressuposto, diz-se que os primórdios da logística reversa remontam ao século XIX, quando o biólogo e zoólogo alemão Ernest Haeckel, “utilizou o termo ecologia para referir-se à ciência das relações entre as espécies vivas e o ambiente em que vivem e interagem” (PEREIRA et al., 2016, p. 4). Como sabemos, nenhum organismo consegue viver sem interagir com outros seres e com o meio. Dessa forma, a ecologia é extremamente importante pois, conhecendo essas interações, podemos entender os impactos ambientais e os desequilíbrios causados às populações de todos os seres vivos em decorrência da ação humana.
            A importância de se pesquisar sobre esse instrumento de desenvolvimento econômico e social tão destacado é justificada pelo estudo realizado por Gazzoni (2014, p. 7), no qual ele comprovou que “independente de fatores individuais, os resultados mostraram que os servidores da UFSM possuem de uma maneira geral, um baixo nível de conhecimento sobre tópicos ligados à sustentabilidade na administração pública”. Para reforçar esse dado, Gazzoni (2014, p. 56) aponta que “do total da amostra, 71,8% dos respondentes afirmaram possuir pouco ou nenhum conhecimento sobre logística reversa”.
Tendo em vista as explanações acima, propõe-se a realização deste trabalho, que tem o objetivo de verificar o perfil das publicações existentes, na base de dados Spell – Scientific Periodicals Eletronic Library, relativas ao tema da logística reversa, no período de agosto de 2012 a agosto de 2017. Trata-se, portanto, de um estudo bibliométrico que tem a proposta de delinear um panorama sobre os estudos acadêmicos realizados no tema da logística reversa e que foram publicados na base de dados SPELL, nos últimos cinco anos, em nível de Brasil.
Este artigo está estruturado da seguinte forma: na primeira parte, apresentou-se o conceito de logística e, posteriormente, o de logística reversa. Na sequência, abordou-se o referencial teórico e, após, o método utilizado e procedimentos para coleta de dados e análise. Em seguida, os dados que configuram o tema foram elencados e, por fim, mostrou-se as considerações finais do trabalho com uma discussão, apontando algumas limitações e perspectivas futuras de pesquisas.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
            A preservação do meio ambiente, certamente, é um dos grandes desafios da atualidade. Para melhor entendimento e seguindo a definição da Conferência das Nações Unidas, realizada em 1972 em Estocolmo, meio ambiente é o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas.
Os riscos apresentados pelo descarte dos resíduos dos produtos consumidos pelas cidades, principalmente aquelas localizadas em países em desenvolvimento ou naquelas de países com alta taxa populacional, são grandes. Não existe compatibilidade entre desenvolvimento socioeconômico e consumo excessivo dos recursos naturais.
Conforme descreve Milaré (2011, p. 282),

A preocupação com o problema dos resíduos sólidos tornou-se tecnicamente complexa devido à urbanização acelerada com reflexo na ocupação e no uso do solo urbano; o aumento exponencial de embalagens; o descarte sempre maior de resíduos; o despreparo dos municípios para gerir essa problemática e, particularmente, a quase absoluta carência de educação ambiental.

            O crescimento do volume dos resíduos sólidos urbanos no Brasil é maior que o crescimento populacional. Conforme dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), em 2016 foram gerados 78,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. (Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, 2016, p. 14).
Tendo em vista este problema ambiental, muitas vezes conflitante, entre desenvolvimento tecnológico e meio ambiente, surgiram diversas legislações brasileira, com o intuito de regular o desenvolvimento econômico e tecnológico e garantir a preservação do meio ambiente. É o caso da Lei Federal Nº 12.305/2010 – Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) –, sancionada em agosto de 2010 -, que dispõe sobre os princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis (2010, art. 1º). Já em dezembro de 2010, o Decreto Nº 7.404, regulamenta a Lei nº 12.305, criando o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa.
Na Política Nacional dos Resíduos Sólidos, em seu artigo 30, instituiu-se a responsabilidade compartilhada entre os atores envolvidos no processo de geração dos resíduos sólidos. Os responsáveis abrangem fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e consumidores. Na citada legislação, salienta-se ainda, o Artigo 33, em que lista os produtos que devem ter retorno após o uso pelo consumidor: agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista e, por último produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Nessa situação é que a logística reversa se materializa, acentuando a responsabilidade compartilhada.  
Um dos principais pontos de inovação da referida legislação, bem como a inserção do conceito de responsabilidade compartilhada, reconhecendo a necessidade de participação de todos os elos da cadeia, é o incentivo ao desenvolvimento de cooperativas ou de outros tipos de associação de catadores como forma de uma ação socioambiental, com destaque, ainda, para o conceito da logística reversa.

2.1 LOGÍSTICA

A logística surgiu quando, na década de 1960, nos Estados Unidos, emergiu uma nova visão gerencial pois estava se alterando a percepção anteriormente dominante acerca da área de transporte. Percebia-se que a tarefa de entregar o produto na quantidade certa, no local certo, na hora certa, incluía mais do que o transporte em si. A integração da gestão dos estoques, do armazenamento, das compras, da produção, da comunicação e da informação seria necessária para abastecer corretamente, ao mínimo custo possível.
No meio acadêmico, entre autores e também entre os profissionais da área, há quem considere que a logística é um subconjunto da gestão da cadeia de suprimentos (GRANT, 2013). A maior possibilidade de comercializar produtos e serviços com regiões geograficamente distantes, advindas com a globalização, ao mesmo tempo em que aumentou a concorrência, o número de fornecedores e de clientes, aumentou a complexidade das transações e os custos operacionais, conforme afirma Fleury et al. (2000), e fez surgir a necessidade de uma maior organização em termos de distribuição e relacionamento com fornecedores e clientes. Como forma de suprir essa necessidade a logística aumenta sua importância, e as empresas sua adoção.
Outro conceito de logística diz respeito ao conjunto de todas as atividades de movimentação e armazenagem necessárias, de modo a facilitar o fluxo de produtos do ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, como também dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, obtendo níveis de serviço adequados aos clientes, a um custo razoável. Conforme a contextualização, Donato (2008, p. 17) afirma que “as operações logísticas na atualidade são conduzidas por um regime onde as pressões ambientais (...) são fatores determinantes nas decisões do negócio”. Juntamente a essa questão, para Ballou (2010) novas oportunidades para os especialistas em logística surgem à medida que (1) há uma maior conscientização dos consumidores em relação ao desperdício; (2) a geração de resíduos sólidos aumenta significativamente e (3) a matéria-prima virgem está mais cara e menos abundante.
Esses fatores destacados demonstram que há grandes oportunidades à logística associadas com as questões ambientais e, segundo Donato (2008), a parte da logística que se preocupa com os aspectos e impactos ambientais causados por essa atividade denomina-se logística verde ou ecologística. Quanto às empresas, elas buscam implementar a gestão de cadeia de suprimentos verde em resposta a pressões dos consumidores, das leis e das regulamentações governamentais e para melhorar sua imagem e desempenho ambiental.

2.2 LOGÍSTICA REVERSA

                O conceito de logística reversa é datado dos anos 70, onde surgiram definições como canais reversos ou fluxos reversos, principalmente relativos à reciclagem. No Brasil, o termo relacionado as empresas surgiu na década de 90 e estava atrelado a logística através das matérias-primas, componentes e suprimentos que representavam custos significativos e que deveriam ser administrados de forma adequada, quando do seu retorno de pós-venda ou pós-consumo (LAGARINHOS; TENÓRIO, 2013).
Muitos autores são responsáveis pela construção e evolução do conceito de logística reversa. E, “a partir da década de 1980, o tema ‘logística reversa’ passa a ser explorado de forma mais intensa tanto no ambiente acadêmico como nos meios empresarial e público” (PEREIRA et al., 2016, p. 2). Na concepção de Rogers e Tibben-Lembke (1999), o conceito de logística reversa é a mais abrangente pois refere-se aos processos envolvidos nos fluxos reversos de materiais e informações com o objetivo de recapturar o valor ou à destinação final.

De maneira sintetizada apresentam-se as definições dos processos mencionados acima:
Processo logístico direto: é o processo de planejar, implementar e controlar as atividades de transporte e armazenagem de mercadorias, incluindo os serviços e informações relacionadas, de modo eficiente e eficaz, do ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender às necessidades dos clientes. Processo logístico reverso: enfoca o movimento e o gerenciamento de produtos e bens depois da venda e depois da entrega ao cliente. Inclui o retorno de produtos para reparo e/ou crédito. Segundo Stock (1998) complementando essa definição, a logística reversa, sob

uma perspectiva de logística de negócios, refere-se ao papel da logística no retorno de produtos, redução na fonte, reciclagem, substituição de materiais, reuso de materiais, disposição de resíduos, reforma, reparação e remanufatura (STOCK, 1998, p. 20).  

A logística reversa pode ser compreendida como o processo contrário ao da logística convencional. Esse procedimento nasce principalmente no momento em que se evidencia um aumento da população, atrelado ao aumento significativo do consumo e, por consequência, a industrialização através do uso de embalagens descartáveis desencadearam uma preocupação com a destinação correta destes resíduos após o consumo. E é neste sentido que as organizações devem se utilizar da logística reversa como forma de minimizar os impactos causados à natureza, e como consequência podem ainda obter redução dos custos na fabricação de novos produtos.
Para Leite (2009), a logística reversa pode ser definida como a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes ao retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio de canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, de prestação de serviços, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, dentre outros.
A logística reversa se divide em duas áreas: pós-venda e pós-consumo. A logística de pós-venda se caracteriza por ser a área específica de atuação em que realiza o planejamento, operação e o controle do fluxo físico e das informações logísticas correspondentes aos bens de pós-venda, cujo objetivo estratégico é agregar valor aos produtos que são retirados do mercado por erros de produção e processamento (THODE FILHO et al., 2015, p. 533). Em contraste a essa definição, logística reversa de pós-consumo refere-se ao retorno aos canais de produção dos produtos que encerram sua vida útil ou que são descartados pela sociedade e, ainda, os resíduos industriais, sejam produtos duráveis ou descartáveis (LEITE, 2009).
No Brasil, no ano de 2010, após vinte anos de tramitação, foi promulgada a Lei nº 12.305/2010 denominada Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS -, em que define logística reversa como

O instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo de vida ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010, p. 2).

                Para atender a essa legislação, o grande desafio para empresas, associações e órgãos públicos é a construção de sistemas de logística reversa pós-consumo eficiente. E, mais especificamente, para atender o artigo 33 da citada legislação,  pois são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, todos os atores envolvidos no processo de geração dos resíduos de: I) agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; II) pilhas e baterias; III) pneus; IV) óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; V) lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio de luz mista; e VI) produtos eletroeletrônicos e seus componentes (BRASIL, 2010).

3 MÉTODO

No que se refere ao tipo de pesquisa, esse estudo classifica-se como descritivo, pois visou descrever as características de determinada população (GIL, 2010, p. 27). Salienta-se, ainda, que a pesquisa descritiva destina-se a observar, registrar e analisar os fenômenos ou sistemas técnicos. Complementando acerca da abordagem, predominou neste artigo a análise quantitativa dada a característica dos dados e pela forma como estes foram utilizados e apresentados (gráficos e números). Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, caracterizando-se por “ser um tipo específico de produção científica: é feita com base em textos, como livros, artigos científicos, ensaios críticos, dicionários, enciclopédias, jornais, revistas, resenhas, resumos” (MARCONI & LAKATOS, 2017, p. 33).
Para aperfeiçoar este trabalho, foi utilizado o método de pesquisa bibliométrico, pois permite realizar o mapeamento da produtividade científica de periódicos e representação da informação. O estudo objetivou analisar artigos de periódicos contidos na base SPELL, compreendendo a expressão logística reversa, no espaço temporal de agosto de 2012 a agosto de 2017.
A base SPELL é um sistema de indexação, pesquisa e disponibilização gratuita da produção científica (SPELL, 2017). O sistema referido pertence à Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Anpad). Para a realização desse estudo, ao acessar o Sistema, foi realizada a seguinte sequência de passos: no campo denominado ‘Pesquisa Avançada’, existente na base de dados mencionada, foi inserida a expressão logística reversa, após selecionou-se o campo ‘Resumo’; seguindo a disponibilidade do portal, a próxima palavra inserida foi cadeia e, ainda, pós-consumo, tendo como artículo a palavra “ou”. Quanto ao ‘Tipo de Documento’, selecionou-se Artigo, Resenha e Resumo de Teses ou Dissertações; em relação à Área de Conhecimento’, definiu-se os campos Administração e Administração Pública. Assim, com esses critérios de busca, foram identificados 34 artigos que foram selecionados como unidades de análise deste estudo, para demonstrar qual assunto foi mais citado, ou ainda, verificar qual foi o produto pós-consumo mais citado ao longo dos cinco anos.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Neste momento, apresentam-se os resultados encontrados a partir da pesquisa realizada, buscando atingir o objetivo principal, que norteia a realização deste trabalho. Os resultados serão descritos seguindo os aspectos especificados no método de trabalho. 
A contagem bibliométrica foi feita numa planilha eletrônica Excel e Word.  Na planilha eletrônica Excel foram transportados dados de cada um dos 34 artigos: título, número de autores, autores, ano de publicação, periódico, palavras-chaves de cada artigo, objetivo, teoria, amostra-casos, amostra-período, amostra país, técnicas de análise, software, variáveis significativas, modelo, principais resultados e conclusão. A sintetização dos artigos em uma planilha Excel permitiu contagens diversas, tais como: qual foi o ano mais produtivo em relação aos demais, quantos artigos foram produzidos em cada ano, quais foram os temas centrais desenvolvidos em cada ano, por quais autores, quais foram as palavras-chave mais empregadas (Wordle.net), as metodologias mais utilizadas e os periódicos que mais publicaram.
Os filtros na planilha Excel permitiram observar os aspectos principais oriundos das palavras-chave dos 34 artigos. As palavras foram emergindo e sendo transportadas para o processador de texto Microsoft Word. Esses textos foram submetidos ao software Wordle.net no qual foi gerada a nuvem de palavras, cuja figura se apresenta abaixo:

A utilidade do software Wordle.net aplicada a este estudo foi diversificar a forma de apresentação de resultados, proporcionando uma rápida visualização e contextualização do tema central, por intermédio do tamanho das palavras destacadas. Nesta verificação, as palavras que mais se destacaram, por observação visual foram: logística, reversa, sustentabilidade, reciclagem, sustentável, desenvolvimento, gestão, construção, catadores e civil. O termo Logística Reversa foi utilizado 25 vezes, Reciclagem 12 vezes e Sustentabilidade foi encontrado 11 vezes, nas palavras-chaves dos 34 textos analisados. De outra maneira, as demais palavras-chaves utilizadas pelos autores, se apresentaram de tamanho relativamente igual, ou seja, houve uma diversidade grande de palavras-chaves utilizadas nos artigos analisados.
Prosseguindo o estudo, a partir dos dados tabulados no programa Excel foram elaborados gráficos para a análise e discussão dos resultados. No levantamento para verificar o número total de autores, foram encontrados 94 diferentes pesquisadores que publicaram trabalhos no período, na temática. Na Tabela 1, foram listados os autores que publicaram mais de um trabalho, ou seja, se verifica os autores que mais publicaram.
Ainda é possível afirmar que, nos anos de 2013 e de 2016, ocorreu a maior incidência de publicações de autores que publicaram mais de um trabalho. Já em número de publicações, por autor, verificou-se que o maior número de publicações, do mesmo autor, foi de três trabalhos, no período analisado.

Em relação ao Gráfico 1, que trata dos 34 artigos analisados, pode-se afirmar que o ano que apresentou o maior número de publicações na temática pesquisada, foi o de 2013, com nove títulos. Já em 2012, encontramos o menor número de trabalhos publicados, apenas dois. Além disso, se ressalta que, juntos, os anos de 2013 e 2014 somam 50% do total dos artigos publicados no período analisado.

            Quanto aos periódicos que se destacaram na quantidade de publicações, conforme o Gráfico 2, percebeu-se que foi a Revista Gestão Ambiental e Sustentabilidade com 8 artigos publicados sobre o tema, representando 23% do total. As Revistas REUNIR – Revista de Administração, Contabilidade e Sustentabilidade, Revista RACE-UNOESC e Revista de Gestão Social e Ambiental, publicaram 3 artigos cada uma, revelando um percentual de 9% enquanto que, a Revista Organizações em Contexto e Revista Eletrônica Gestão & Sociedade publicaram, cada uma, 2 artigos. O percentual de 38% correspondeu a 13 periódicos sendo que cada um fez somente a publicação de 1 artigo.

Para avaliar do percentual de artigos publicados por revista, foi elaborado o Gráfico 3. A Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade apresentou 23% das publicações levantadas, demonstrando ser uma ótima alternativa de periódico para se procurar por artigos sobre a temática da Logística Reversa ou para os autores que tiverem materiais inéditos sobre o assunto, para submeter à publicação. Em relação aos 13 periódicos que apresentaram um artigo cada, entendemos ser positivo também para verificar a existência de disponibilidade e interesse na temática estudada, por parte das revistas não especializadas.

Percebe-se de forma bem nítida, que o autor Paulo Roberto Leite (2009) foi o pesquisador mais citado, entre os 34 artigos analisados. Após, o mesmo autor também é bastante referenciado, em suas obras dos anos de 2003 e 2005.

            Quanto aos métodos mais utilizados pelos autores dos artigos estudados, o que prevaleceu foi a análise de conteúdo, citada em 11 artigos. Outra forma de coleta dos dados, entre as mais mencionadas, foi a entrevista semiestruturada. E, ainda, a triangulação entre os entrevistados e demais instrumentos de coleta foi uma forma de estudo mais evidenciada pelos autores dos artigos estudados.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Este artigo teve como proposta delinear um panorama sobre os estudos acadêmicos realizados no tema da logística reversa e que foram publicados na base de dados SPELL, nos últimos cinco anos, no Brasil. As maiores contribuições desse estudo são: evidenciar quais são os periódicos mais indicados para se procurar, quando há interesse de pesquisa em artigos que tratem da temática da Logística Reversa, ou ainda, quando há estudos que versem sobre esse assunto, para submeter à publicação; apresentar a evidência de que existem revistas não especializadas no tema e que publicam trabalhos que tratam da temática estudada; demonstrar que ainda existe interesse em publicar trabalhos com essa temática, pois no ano de 2017 já foram publicados cinco trabalhos, considerando-se, somente, as publicações até o mês de agosto. Verificou-se ainda, que o número de trabalhos já publicados nessa base de dados é considerável, mas ainda pode ser explorado em virtude da diversidade e especificidade de setores e produtos envolvidos.
Como sugestão para trabalhos futuros, recomendamos desenvolver estudos que, baseados no o Artigo 33 da Lei nº 12.305/2010, tenham o objetivo de detectar se houve alguma publicação, relacionada aos produtos que são elencados nos incisos desse artigo: agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista e, por último produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Outra sugestão de pesquisa com a mesma temática poderá ser relacionada à implementação da logística reversa em organizações públicas e, mais especificamente, em instituições de ensino públicas. Finalizando, sugere-se ainda, a possibilidade de uma análise comparativa com trabalhos publicados em periódicos internacionais, bem como um diagnóstico nos bancos de dissertações e teses brasileiras.

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*Mestranda do Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Gestão de Organizações Públicas da UFSM. E-mail: andreasevero80@gmail.com;
**Mestranda do Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Gestão de Organizações Públicas da UFSM. E-mail: doneidekg@gmail.com;
***Professor Adjunto do Departamento de Ciências Administrativas da UFSM, professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão de Organizações Públicas da UFSM e Doutor em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul. E-mail: davilorenzi@yahoo.com.br
**** Administrador e Mestre em Gestão de Organizações Públicas/UFSM. E-mail: ronistt@gmail.com

Recibido: Agosto2018 Aceptado: Agosto2018 Publicado: Octubre de 2018


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