Wagner de Paulo Santiago*
Monica Nascimento e Feitosa**
Guélmer Júnior Almeida de Faria***
UNIMONTES-MG-Brasil
monfeitosa@yahoo.com.br
Resumo: O presente artigo se propõe a apresentar os estudos dos pesquisadores: Chang (2004), Sen (2000), Myrdal (1960), incluídos aqui no grupo dos institucionalistas (humanistas sociais) e do grupo Cepalino: Prebisch (2000), Cardoso e Faletto (2000) acerca das causas e das consequências do subdesenvolvimento econômico das regiões periféricas. Assim, através de uma pesquisa descritiva e bibliográfica, opta-se por confrontar três grupos de autores, um com uma visão do desenvolvimento via institucionalizada, humanista social, cujas bases se fundam no Estado do Bem-Estar Social e nas capacidades humanas; e o grupo Cepalino com forte apelo à evolução do sistema produtivo e de acumulação de capital. Ao fazê-lo, alguns se apóiam em Marx; outros, em Adam Smith e, outros, em Keynes. Há um grupo ainda que transita entre um profundo desenvolvimento do senso da liberdade e do humanismo, enquanto outros o fazem de maneira descontraída, mas, ao mesmo tempo, de forma didático-científica, centrados em pesquisas relevantes. Ao final, elabora-se um quadro síntese onde se verifica que, apesar da seriedade e peso dos diversos pensadores, não foi possível demonstrar soluções para os bolsões de pobreza presentes nos países subdesenvolvidos, nem tornar menos tensa a vida dos cidadãos do Primeiro Mundo.
Palavras-chaves: Desenvolvimento econômico, subdesenvolvimento, centro-periferia.
EL DESARROLLO ECONÓMICO EN NACIONES SUBDESENVOLVIDAS EN LA VISIÓN DE LOS INSTITUCIONALISTAS, HUMANISTAS SOCIALES Y DE LOS CEPALINOS
Resumen: El presente artículo se propone presentar los estudios de los investigadores: Chang (2004), Sen (2000), Myrdal (1960), incluidos aquí en el grupo de los institucionalistas (humanistas sociales) y del grupo Cepalino: Prebisch (2000), Cardoso y, Faletto (2000) sobre las causas y las consecuencias del subdesarrollo económico de las regiones periféricas. Así, a través de una investigación descriptiva y bibliográfica, se opta por confrontar a tres grupos de autores, uno con una visión del desarrollo vía institucionalizada, humanista social, cuyas bases se fundan en el Estado del Bienestar Social y en las capacidades humanas; y el grupo Cepalino con fuerte llamamiento a la evolución del sistema productivo y de acumulación de capital. Al hacerlo, algunos se apoyan en Marx; otros, en Adam Smith y otros en Keynes. Hay un grupo que transita entre un profundo desarrollo del sentido de la libertad y del humanismo, mientras que otros lo hacen de manera relajada, pero al mismo tiempo, de forma didáctico-científica, centrados en investigaciones relevantes. Al final, se elabora un cuadro síntesis donde se verifica que, a pesar de la seriedad y peso de los diversos pensadores, no fue posible demostrar soluciones a los bolsones de pobreza presentes en los países subdesarrollados, ni hacer menos tensa la vida de los ciudadanos del Primer Mundo.
Palabras clave: Desarrollo económico, subdesarrollo, centro-periferia.
ECONOMIC DEVELOPMENT IN UNDERDEVELOPED NATIONS IN THE VIEW OF INSTITUTIONALISTS, SOCIAL HUMANISTS, AND CEPALINOS
ABSTRACT: The present article proposes to present the researchers' studies: Chang (2004), Sen (2000), Myrdal (1960), included here in the group of institutionalists (social humanists) and the Cepalino group: Prebisch (2000), Cardoso e Faletto (2000) on the causes and consequences of the economic underdevelopment of peripheral regions. Thus, through a descriptive and bibliographical research, one chooses to confront three groups of authors, one with a vision of the development via institutionalized, social humanist, whose bases are based on the State of Social Welfare and human capacities; and the Cepalino group with strong appeal to the evolution of the productive system and capital accumulation. In doing so, some rely on Marx; others in Adam Smith and others in Keynes. There is one group that transits between a deep development of the sense of freedom and humanism, while others do so in a relaxed way, but at the same time, in a didactic-scientific way, centered on relevant research. At the end, a summary table is drawn up showing that, despite the seriousness and weight of the various thinkers, it was not possible to demonstrate solutions to the pockets of poverty present in the underdeveloped countries, nor to lessen the lives of First World citizens.
KEY-WORDS: Economic development, underdevelopment, center-periphery. 
  JEL: O15  
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: 
Wagner de Paulo Santiago, Monica Nascimento e Feitosa y Guélmer Júnior Almeida de Faria  (2018): “O desenvolvimento econômico em nações subdesenvolvidas na visão dos institucionalistas, humanistas sociais e dos cepalinos”, Revista Contribuciones a la Economía  (abril-junio 2018). En línea:
 https://eumed.net/rev/ce/2018/2/desenvolvimento-economico.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/ce182desenvolvimento-economico
1. INTRODUÇÃO
A  pobreza dos países subdesenvolvidos tem preocupado economistas do mundo todo,  os quais buscam soluções para sua superação e a dos males que dela decorrem.
Desde  o Pós-Guerra, economistas de diversas nacionalidades, culturas e estilos de  vida têm tentado, sem sucesso, fazer com que as nações do Centro se  conscientizem a respeito das causas do atraso econômico das áreas que até o  Século XIX eram consideradas colônias ricas e, após a independência,  transformaram-se em países pobres (de periferia).
Segundo  Gumiero (2011), o período posterior ao fim da I Guerra Mundial e a crise de  1929 introduz (a partir da crítica ao modelo econômico liberal e o surgimento  das estratégias de desenvolvimento planificado e da alternativa keynesiana da  regulação econômica) um novo problema de investigação: o tema do atraso e da  condição de subdesenvolvimento.
Na  realidade, existe também a necessidade de conscientização da população  subdesenvolvida (objeto deste estudo), uma vez que a sua estagnação contribui,  e muito, para o agravamento do quadro.
Logo,  Gumiero (2011: 14) ressalta que:
A  teoria do subdesenvolvimento rompe com a interpretação colocada pela teoria  econômica clássica, sobre a questão do desenvolvimento econômico. A principal  crítica dos teóricos do subdesenvolvimento à teoria liberal foi a de que a  divisão internacional do trabalho e as trocas realizadas no mercado  internacional entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos favorecem o  primeiro grupo e estabelecem desigualdades econômicas.
Assim, esse trabalho tem como propósito de apresentar os estudos dos pesquisadores: Chang (2004), Myrdal (1960), incluídos aqui no grupo dos institucionalistas, Sen (2000) como humanista social e do grupo Cepalino: Prebisch (2000), Cardoso e Faletto (2000) a cerca das causas e das conseqüências do subdesenvolvimento econômico das regiões periféricas.
2. METODOLOGIA
   A  abordagem metodológica utilizada neste estudo levando em consideração o  critério de classificação de pesquisa proposto por Vergara (1998), quanto aos  fins e quanto aos meios, tem-se: 1) quanto aos fins:  trata-se de uma pesquisa descritiva (utilizando as teorias dos autores que  abordaram o subdesenvolvimento sob diferentes enfoques) e 2) quanto aos meios:  trata-se de pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo.
   Optamos por confrontar três grupos de autores, um com uma visão do  desenvolvimento via institucionalizada, outro como humanista social, cujas  bases se fundam no Estado do Bem-Estar Social e nas capacidades humanas. E o  grupo Cepalino com forte apelo à evolução do sistema produtivo e de acumulação  de capital. 
   Nesse  sentido, percebe-se a troca de ideias entre o centro e a periferia permitindo  um debate mais intenso sobre o subdesenvolvimento. As teses elaboradas pelos  Cepalinos era um olhar de dentro, uma visão nova da realidade e também um campo  de resistência.  Em certa medida, propõe  novas bases teóricas para pensar as condições de pobreza nos países marginalizados  pela divisão internacional do trabalho e pelas trocas desiguais com os países  desenvolvidos. Os pensadores humanistas sociais pensam o desenvolvimento para  além do crescimento econômico e dos seus indicadores quantitativos. Destacam  que é preciso intensificar as ações de valorização dos seres humanos através de  um sistema de proteção ao cidadão. Em que a pessoa humana é o sujeito central  do desenvolvimento, exigindo que os Estados se disponham a cooperar uns com os  outros para garantir o desenvolvimento.
3. O desenvolvimento econômico  na visão de Ja-Hoon Chang 1
   O  Professor Ja-Hoon Chang é especialista em Comércio Exterior  e defende a ideia que todo o país que chegou ao topo destrói ou desestimula  ideias, conceitos, procedimentos e legislação que possibilitem aos países  pobres a atingirem o mesmo estágio por eles alcançado.
   Tomando  emprestada a expressão “chutando a escada”2  ele advoga que os países pobres não devem seguir receituário prescrito pelos  organismos internacionais: Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco  Interamericano de Desenvolvimento (BID) controlados pelos países ricos caso desejem  chegar ao “estrelato do sistema capitalista”.
   Ja-Hoon  Chang após examinar o procedimento de países como Grã-Bretanha, Estados Unidos,  Alemanha, França, Suécia, Suíça, Bélgica, Holanda, Japão e os Tigres Asiáticos afirma  que todos eles foram protecionistas e que o Estado cumpriu a tarefa de dar-lhes  sustentabilidade através de investimentos, legislações, ações bélicas e  incentivos quando for o caso.
   Aliás,  o protecionismo estatal que Ja-Hoon Chang acha que gerou o enriquecimento de  países, que hoje reputamos avançados, é o mesmo prescrito nas teorias de  Furtado, Prebisch, Myrdall e outros. Daí o valor que reputamos a tais  economistas.
   Mas  isto não foi tudo. Se assim o fosse os paises da América Latina teriam decolado  para o desenvolvimento. As tarifas latino americanas até a primeira guerra  foram altas propiciando elevadas fontes de receitas aos Estados poucos  parcimoniosos. O Produto Interno Bruto (PIB) per capta da América Latina era  comparada ao dos Estados Unidos em 1.700 e as taxas de crescimento, desde 1.880,  mantiveram-se comparável.
   No  Brasil não podemos esquecer que os 15 anos de governo protecionista de Vargas  (e também de Perón na Argentina) fizeram mais pelo desenvolvimento do país que as  longas décadas de “laissez-faire”  praticadas pela elite agrária entre o final do século XIX a 1.930. Neste  período o que vemos constantemente é a socialização das perdas, gastos fúteis e  malbarateamento do Estado na gestão do erário.
   Também  não nos é permitido esquecer que o modelo seguido pelos Tigres Asiáticos –  Japão, Coréia do Sul e Taiwan – pequenas ilhas –, é irreproduzível em países de  dimensões continentais como o Brasil e a Índia, pois as disparidades regionais  são também “continentais” comparadas aos asiáticos bem-sucedidos.
   Simplesmente  “desobedecer” aos grandes não é o caminho. A escada para o sucesso algum outro  instrumento deve ter sido adicionado pelos países adiantados cuja eficácia os  subdesenvolvidos não perceberam ou não usaram na dose certa. E mais: as  condições que favorecem o protecionismo existente hoje em dia são iguais as de  três séculos atrás?
   Em  favor da teoria de Ja-Hoon Chang não podemos esquecer que os países  desenvolvidos nunca experimentaram o que hoje sugerem aos países em  desenvolvimento e que, talvez, suas políticas não se mostrariam tão rentáveis,  economicamente, hoje em dia. 
   Um  bom exemplo da ineficácia seriam as instituições irrelevantes, caras e  prejudiciais conforme o estágio econômico em que se encontram o país, que os  ricos criaram para os pobres obedecerem e que não havia antes. Cada país deve  selecionar as instituições que se fazem necessárias ao seu estágio e  especificidade sociais, políticas e culturais. 
   A  teoria de Ja-Hoon Chang é institucionalista o que leva a atribuir duas funções  ao Estado: administração e empreendorismo. Ser o construtor de instituições,  pois o soerguimento de uma nova estrutura requer o envolvimento do Estado, pois  apenas ele pode legalizar os direitos de propriedades e as novas relações de  poder. Administração é ser o garantidor dos direitos e o mais importante agente  das mudanças que se farão necessários. O mercado, tão importante para os  neoclássicos, perderia a liderança, pois o capitalismo como sistema  sócio-econômico é constituído de muitas instituições. Os neoclássicos não  concedem nenhuma relevância à perspectiva histórica.
   O  nacionalismo segundo Chang é um dado imprescindível ao desenvolvimento. Nenhum  país se desenvolve ou continua desenvolvido sem expressar o sentimento de  nação. O sentimento nacionalista significa o conjunto de atitudes que o governo  e o cidadão devem assumir quando o objetivo é defender o capital e o trabalho  do país em um mundo em que empresas e países competem por novos mercados  agressivamente e sem ética.
   Isto  parece não ter ocorrido com as populações da América Latina: tanto a cúpula  milionária se voltou para “American way  of live3 ”  como a massa desprovida de educação de qualidade. Ambos querem ganhar aqui e  investir/desfrutar e esbanjar lá.
4. O desenvolvimento econômico  na visão Gunnar Myrdal 4
   A  teoria de Myrdal foi muito difundida e do círculo vicioso do atraso econômico e  da pobreza explicado através da sua experiência com os negros norte-americanos.
   Para  ele, somente o Estado pode interromper a causação circular e acumulativa e que  sua ausência ou insuficiência acarreta a causação circular, ou seja, a pobreza  ou as dificuldades tendem a mudar de local e se concentrarem quando a situação  problema se apresenta.
   Myrdal  se aproxima de Keynes quando explicita a necessidade de intervenção estatal e  se distancia da teoria clássica quando nega a eficácia do “laissez-faire” e todas as suas ideias. Como Keynes, Myrdal admite o  desemprego voluntário e a impossibilidade de equilíbrio tão presente nos países  subdesenvolvidos.
   Através  do seu trabalho: Teoria Econômica e Regiões  Subdesenvolvidas chegamos a três conclusões: 
   1º)  Sem políticas públicas constantes e ativas a desigualdade tende a crescer nos  países e entre os países;
   2º)  O grande alicerce do crescimento econômico é uma maior igualdade na  distribuição da renda;
   3º)  A intervenção do Estado é vital no começo do desenvolvimento dos países  subdesenvolvidos, pois desencadeia um ciclo cumulativo de crescimento.
   Myrdal  que é uma referência para a economia institucionalista é considerado fora de  moda pelos teóricos que defendem o “laissez-faire”,  mercado e outros índices econômicos.
   Myrdal  (1960) validou sua teoria da “Causação Circular e Acumulativa” de um estudo  realizado acerca do problema do negro nos Estados Unidos que pode assim ser  sintetizado: o baixo padrão de vida dos negros é mantido pela discriminação dos  brancos enquanto por outro lado a pobreza, a ignorância, as más condições de  habitação, as deficiências sanitárias, a sujeira, o mau cheiro, a indisciplina,  a instabilidade e a criminalidade dos negros estimulam e alimentam a antipatia  dos brancos. Aqui aparece o processo acumulativo em descensão.
   Porém,  se tudo que os brancos repudiam no negro desaparecer, mediante a intervenção do  Estado, teria um processo acumulativo em ascensão e também a supressão dos  fatores negativos.
   Através  da causação circular acumulativa conclui-se que uma mudança será reforçada por  outra, o que nos leva a concluir que o equilíbrio é instável que levará a  intervenção política planejada para torná-lo estável mantendo sob controle o  nível da atividade econômica, o nível de emprego e da qualidade de educação.
   Infelizmente  os países subdesenvolvidos não se esforçaram para a integração nacional como os  países desenvolvidos e Myrdal afirma que o Estado deve intervir em alguns  setores de forma eficiente já que a iniciativa privada não o faz.
   Assim  conforme ocorrer o desenvolvimento o Estado reduzirá sua atuação no setor em  ascendência e se concentrará em outro carente. O importante é aumentar a  capacidade produtiva do país principalmente nos transportes, energia,  construção de usinas, de equipamentos leves e pesados sem esquecer a  agricultura, a saúde, a educação, a segurança e a capacitação profissional.
   Deve  ainda, o Estado, ser austero, tributar os ganhos de forma que a poupança do  governo possa ser reinvestida. Esta austeridade fiscal afetará ricos e pobres,  mas a longo prazo trará um nível de bem-estar satisfatório aos menos  favorecidos graças aos investimentos do governo em seguridade social, educação,  saúde, segurança e pesquisas.
   Não  se pode esquecer que todo investimento do Estado deverá gerar empregos formais  em vez de concentrar renda nas pequenas faixas mais ricas e, portanto, poderosa  da população.
   Myrdal  estimula o estudo da causação circular em todos os fatores relevantes do  sistema social quer sejam econômicos ou não econômicos, pois neles podem  residir a causa do desemprego e subdesemprego que assolam os países  subdesenvolvidos.
   Gunnar  Myrdal (1898-19987) Ministro do Comércio da Suécia e assessor econômico das  Nações Unidas é juntamente com Amartya Sen, autor da teoria que melhor explica  as causas que agitam o mercado, a pobreza, o subdesenvolvimento e a necessidade  do Estado entrar em ação. A mudança mais significativa nas políticas estatais  dos países subdesenvolvidos é a conscientização da necessidade de uma política  nacional de desenvolvimento econômico. Sua teoria data de 1956, no entanto  mantêm-se atual.
5. Do desenvolvimento econômico ao desenvolvimento social na visão de Amartya Sen 5
Para  o autor, nascido na Índia, Estado de Bengala, a visão de desenvolvimento nada  tem a ver com avanços tecnológicos, modernização, crescimento do PIB, da renda per  capta e produtividade. Cifras e médias não definem o desenvolvimento de um  país. 
   O  desenvolvimento deve ser visto como expansão das liberdades reais que as  pessoas possuem, determinadas pela saúde, educação e direitos civis.
   Pobreza  é uma complexidade que varia segundo fatores biológicos, sociais, culturais e  geográficos. Viver abaixo da renda mínima de 2 a 3 dólares por dia, não significa  que alguém é pobre conforme a região da terra em que ele se encontre. Pobre,  para Amartya Sen é não ter o rendimento necessário para se prover diante da  comunidade em que se vive e nela desenvolver atividades que variam do acesso à  terra, à água, à saúde, à educação, justiça, crédito, apoio familiar e grupal,  lazer e até respeito pelo sexo feminino e pela idade.
   Para  Sen (2000: 54):
   A  eficácia da liberdade como instrumento reside no fato de que diferentes tipos  de liberdade apresentam inter-relação entre si, e um tipo de liberdade pode  contribuir imensamente para promover liberdades de outros tipos. Portanto, dos  dois papéis estão ligados por relações empíricas, que associam um tipo de  liberdade a outros. 
Por  estas ideias influenciou na elaboração do Relatório do Desenvolvimento Humano  da Organização das Nações Unidas.   Sen  (2000) nos mostra pela abordagem das capacidades que o desenvolvimento de um  país está essencialmente ligado às oportunidades que ele oferece à população de  fazer escolhas e exercer sua cidadania. E isso inclui não apenas a garantia dos  direitos sociais básicos, como alimentação, saúde e educação, mas também as  liberdades associadas com a educação, a participação política, a proibição da  censura, entre outras. Consistindo na liberdade de efetivar tipos diversos de  funcioidntos.
   Assim  sendo, só há desenvolvimento quando os benefícios do crescimento servem à  ampliação das escolhas e das oportunidades do indivíduo, possibilitando uma  vida longa, saudável, com acesso a recursos necessários para um nível de  existência digno da geração atual e futura. Diverge das outras teorias  tradicionais por considerar o desenvolvimento como expansão das liberdades,  para Sen (2000) as liberdades tem cinco níveis conforme exposto a seguir. 
   Liberdades  instrumentais que incluem: a) oportunidades econômicas; b) liberdades políticas;  c) serviços sociais; d) garantia de transparência e e) segurança protetora.
   A  liberdade é o núcleo do desenvolvimento porque faz a avaliação dos  alargamentos, dos horizontes pessoais e também porque é ela que indica a  eficácia do desenvolvimento das pessoas.
   Ter  rendimentos altos e liberdade de viver bem, e por muito tempo, diverge de país  para país no pensamento do autor.
   Assim  os afro-americanos ricos dos Estados Unidos embora tenham uma renda invejável  vivem menos que povos considerados pobres como: Chineses, Indianos e Africanos.
   A  falta de liberdade conduz a privações que podem ser de alimentos, nutrição  adequada, cuidados de saúde, de água potável e saneamento, de educação  eficiente, de emprego rentável, de segurança econômica e social e de direitos  cívicos e políticos.
   Assim  o desenvolvimento econômico está ligado aos direitos democráticos e liberdades  e um ajuda o outro. Dessa forma, a fome, epidemias e calamidades são evitadas  ou contornadas quando de origem natural.
   Olhar  o desenvolvimento como uma integração do crescimento das liberdades concretas,  unidas entre si, permite a avaliação simultânea de várias instituições  diferentes que inclua o mercado, governo, partidos, ONG’s, sistema de educação,  saúde comunicação, planejamento familiar, cuidados infantis, conservação do  meio-ambiente e da cultura. Desta forma liberdade não é apenas o fim principal,  mas também o meio principal do desenvolvimento. Concatenando com um enfoque  multidimensional característico da terceira geração dos pensadores sobre  desenvolvimento.
   É  como privação das potencialidades básicas é que a pobreza deve ser encarada,  embora reconheça que rendimentos insuficientes levam a uma vivência  empobrecida. Mas a simples redução da pobreza de rendimentos não pode ser o  objetivo de uma política contra a pobreza, porque o ser humano normal  sentir-se-á humilhado por lhe faltar o trabalho, a ocupação produtiva. 
   Quanto  à discriminação feminina Sen a considera negadora da liberdade e realça seu  papel na redução da mortalidade infantil e controle populacional. Não haverá  desenvolvimento, como liberdade, se a economia política de uma nação não  valorizar e reconhecer o trabalho e a participação feminina. É ampliando mais  liberdade para as mulheres e não menos, que se consegue estabilizar o  crescimento populacional de um país pobre e seus altos índices de mortalidade,  fome e analfabetismo.
   De  acordo com Sen mesmo os países ricos lutam com o tema do desenvolvimento. Nos  Estados Unidos são os déficits, a necessidade de manter empregos, evitando  crescimento inflacionário e a falta de segurança médica. Na Europa a falta de  emprego e a manutenção das benesses sociais. Na Índia o analfabetismo. No  sudeste da Ásia o sistema financeiro e a exploração excessiva do trabalho  humano e infantil.
6.  O desenvolvimento econômico na visão do grupo cepalino: Fernando Henrique  Cardoso, Enzo Faletto6  e  Raúl Prebisch 7
   Para  se falar das ideias econômicas de Prebisch, Cardoso e Faletto é interessante falar  da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), órgão das Nações Unidas com  sede em Santiago do Chile. A CEPAL é uma comissão que reúne grandes nomes do  pensamento desenvolvimentista latino-americano. Seus pressupostos embasavam-se  na industrialização como o principal caminho para superação do  subdesenvolvimento dos países da América Latina. 
   Um  de seus mais notáveis trabalhos de autoria do economista argentino Raul  Prebisch que defende o abandono do que seria a divisão do trabalho internacional  na América Latina sendo vista como a “periferia” da economia mundial, ou seja,  apenas como “produtora de matérias-primas para os grandes centros industriais”,  e indicava-se o caminho da industrialização como forma de substituir as  importações pelo aumento do mercado interno.
   Desde  o começo a CEPAL foi uma instituição que não apenas analisou decisões para  incentivar o desenvolvimento da América Latina, mas que se preocupou em formar  o espírito público sobre a realidade e pobreza na América Latina.
   Tal  fala é corroborada por Prebisch (2000: 68), “Como nenhuma outra instituição, a  CEPAL encontra-se preparada para identificar e analisar as complexidades das  economias e sociedades latino-americanas nessa virada de milênio. ” 
   Assim  a CEPAL, através de Prebisch e depois Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto,  sugeriram que o atraso regional se devia as desigualdades de intercâmbio entre  um centro e (países industrializados) e a periferia (produtora e exportadora de comodites).
   Raúl  Prebisch e Celso Furtado 8 propuseram então, que a América Latina deveria se industrializar a partir da criação  de indústrias capazes de substituir alguns produtos importados e pelo aumento  do mercado interno. Um dos episódios da história nos diz que as enxadas dos  trabalhadores rurais até a época do governo Juscelino Kubitschek eram importadas  e existiam apenas três marcas. Eles achavam que neste caso caberia ao Estado um  papel ativo e não uma postura à “laissez-faire”.
   Enquanto  Furtado e Prebisch chamavam a atenção do primeiro mundo com sua teoria do  subdesenvolvimento, Cardoso e Falleto (2000) lançam a Teoria do “Capitalismo  Associado-Dependente” que é uma complementação dos estudos feita por eles, ou  seja, já que os países latino-americanos não têm uma burguesia nacional forte  só lhes resta associarem com o sistema dominante e aproveitar as frestas que o  sistema capitalista internacional permite seja desenvolvido na região.
   Para  Cardoso (2000: 518):
   Não  é exagerado afirmar que é necessário todo um esforço novo de análise a fim de redefinir  o sentido e as funções que as classes sociais têm no contexto estrutural da  situação de subdesenvolvimento e as alianças que elas estabelecem para  sustentar uma estrutura de poder e gerar a dinâmica social e econômica. 
Segundo  Cardoso e Falleto (2000) a colaboração já vinha ocorrendo desde os anos 50  quando as multinacionais começaram a investir nas indústrias latino-americanas,  desmentindo assim que o imperialismo se opunha a industrialização dos  subdesenvolvidos.
   Cardoso  e Faletto (2000) monta uma análise integrada do desenvolvimento colocando como  problemática o controle e a decisão do sistema econômico, ou seja, nas disputas  em torno da produção e distribuição do excedente econômico. 
   Assim,  a ideia principal consiste em afirmar que as raízes do subdesenvolvimento estão  na ponte entre dependência externa e exploração interna, e não sobre uma  suposta falta de capital, tecnologia ou valores modernos. Essa discussão deu-se  através das contribuições do pensamento estruturalista conduzido por Prebisch,  Cardoso, Falleto, Furtado e outros.
   A  CEPAL apresentou ao longo do tempo:
A  CEPAL não foi imune às críticas capitalistas quando a esquerda viu nas teorias  de Furtado, Prebisch e Cardoso a salvação para a estagnação Latino-Americana  enquanto a direita temia um fortalecimento do estatismo e do esquerdismo.
   Atualmente  a CEPAL não é um centro de excelência onde os problemas econômicos dos  americanos pobres são analisados. Nisto foi substituída por excelentes  universidades e pesquisadores capazes de substituir e superar o órgão em  questão. Contudo a CEPAL continua exímia no que se dedica: fazer análises  comparativas do que ocorre na região e do que funciona e do que não funciona na  América Latina e no Caribe. Nisso ela supera as universidades, pois não se  restringe em nível nacional.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
   Tal  como os historiadores, os economistas buscam, a partir de novos enfoques,  encontrar explicações lógicas, coerentes e comprováveis das causas da riqueza e  pobreza dos países.
   Ao  fazê-lo alguns se apoiaram em Marx; outros, em Adam Smith e, outros, em Keynes. Há um grupo  ainda que transita entre um profundo desenvolvimento do senso da liberdade e do  humanismo enquanto outros o fazem de maneira descontraída, mas, ao mesmo tempo,  de forma didático-científica, centrados em pesquisas relevantes.
   Os  autores são favoráveis a intervenção do Estado no processo de desenvolvimento  econômico, em maior ou menor grau.   Contudo não atribuem, unicamente, à presença do Estado as razões do  sucesso.
   Dois  autores se destacam sobremaneira no tocante a explicação dada à origem da  riqueza: primeiro, Ja-Hoon Chang que a partir de uma perspectiva histórica  aponta as práticas dos economistas clássicos e as instituições pelos seus  países geradas como causadora da pobreza e segundo, Amartya Sen que  ultrapassando as curvas, índices, tabelas e cálculos matemáticos chegou ao  Homem que é realmente para ele o que tem valor: a liberdade.
   Myrdal,  tão admirado pela juventude dos anos 60, ao lado de Presbisch e Furtado,  demonstra sua preocupação com o homem e a pobreza desde a época em que a Suécia  implantava o “Estado-providência”, mas não abandonou a noção de mercado nem a  necessidade de um Estado forte.
   Apesar  da seriedade e peso dos diversos pensadores, todavia não foi possível eliminar  os quistos de pobreza presentes nos paises subdesenvolvidos, nem tornar menos  tensa a vida dos cidadãos do primeiro mundo. Isto porque até hoje nenhuma  receita se tornou eficaz.
   Alguma  lacuna foi omitida ou pulada por quem deu a receita ou por quem a implantou na  prática.
   Ricos  e pobres continuam a se opor, discutindo preços, subsídios e tarifas das comodites produzidas em seus  territórios. Ricos e pobres continuam a se acusarem sobre o tratamento  dispensado ao meio ambiente, ao lixo atômico e ao trabalho infantil, escravo e  clandestino.
   Todavia  a pobreza existe e o atual adensamento das populações periféricas em paises do  centro demonstra a importância e o tamanho do problema.
   Assim,  da clivagem9  dos  elementos constitutivos da questão espera-se a solução para o desnível gritante  entre pobres e ricos.
   Considera-se que na última metade deste século, o desenvolvimento é um  conceito em construção e também temos a consciência de que o desenvolvimento  não se restringe a aspectos técnicos ou econômicos, mas, sobretudo, implica  numa transformação da sociedade. Abaixo segue um quadro síntese do cenário  analítico proposto neste estudo Quadro  01.
8.  BIBLIOGRAFIA 
   CARDOSO, F. H., FALETTO, E. (2000). Dependência e  desenvolvimento na América Latina. In: Ricardo Bielschowsky (org.) Cinqüenta anos de pensamento na CEPAL,  vol. 2, CEPAL/COFECON, São Paulo: Record, p. 497-519. 
   CHANG, HA-JOON. (2004). Chutando a escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva  histórica. UNESP: São Paulo, 2004.
   GUMIERO,  R. F. (2011). Diálogo das teses do subdesenvolvimento de Rostow, Nurkse e Myrdal com a  teoria do desenvolvimento de Celso Furtado. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) Universidade Federal de São  Carlos, São Carlos-SP.
   MYRDAL, G. (1960). Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas.  2. ed. Saga: Rio de Janeiro.
   PREBISCH,  R. (2000). O desenvolvimento econômico  da América Latina e alguns de seus problemas principais. In: Ricardo Bielschowsky  (org.) Cinqüenta anos de pensamento na  CEPAL, vol. 1, CEPAL/COFECON, São Paulo: Record, p. 69-136.
   SEN, A. (2000). Desenvolvimento como liberdade. São  Paulo: Companhia das Letras.
   VERGARA, S. C. (1998). Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas.