Andrieli de Fátima Paz Nunes*
Maria Julia Pegoraro Gai**
Ricardo Alberti***
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
andriieli.nunes@gmail.com
RESUMO 
Este  trabalho trata-se de um ensaio teórico que tem como objetivo discutir sobre os  aspectos culturais brasileiros que interferem no cooperativismo. Para isso, este ensaio está estruturado em quatro partes. A  primeira, abordará elucidações sobre o  cooperativismo, o funcionamento das cooperativas  e seus princípios fundamentais. A segunda, apresentará uma contextualização  sobre a cultura e os aspectos culturais  brasileiros. Em seguida, na terceira parte, aponta-se alguns elementos  que se destacam na análise, como responsáveis pelo desencadeamento dos entraves culturais para o cooperativismo no Brasil.  Por fim, serão realizadas as considerações finais deste estudo. 
Palavras Chaves: Cooperativismo, Princípios Cooperativistas, Cultura, Traços  Culturais Brasileiros, entraves culturais.
RESUMEN 
  Este trabajo se trata de un  ensayo teórico que tiene como objetivo discutir sobre los aspectos culturales  brasileños que interfieren en el cooperativismo. Para ello, este ensayo está  estructurado en cuatro partes. La primera, abordará elucidaciones sobre el  cooperativismo, el funcionamiento de las cooperativas y sus principios  fundamentales. La segunda, presentará una contextualización sobre la cultura y  los aspectos culturales brasileños. A continuación, en la tercera parte, se  apuntan algunos elementos que se destacan en el análisis, como responsables por  el desencadenamiento de los obstáculos culturales para el cooperativismo en  Brasil. Por último, se realizarán las consideraciones finales de este estudio.
  Palabras Clave: Cooperativismo, Principios Cooperativistas, Cultura, Trazos  Culturales Brasileños, obstáculos culturales.
ABSTRACT
This paper is a theoretical essay that aims to discuss Brazilian cultural aspects that interfere in cooperativism. For this, this essay is structured in four parts. The first will address elucidations about cooperativism, the functioning of cooperatives, and their fundamental principles. The second one will present a contextualization about Brazilian culture and cultural aspects. Then, in the third part, we point out some elements that stand out in the analysis, as responsible for the triggering of cultural barriers to cooperativism in Brazil. Finally, the final considerations of this study will be carried out.
Key Words: Cooperativism, Cooperative Principles, Culture, Brazilian Cultural Traits, Cultural Obstacles.
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: 
Andrieli de Fátima Paz Nunes, Maria Julia Pegoraro Gai y Ricardo Alberti  (2018): “Os traços da cultura brasileira que estão interferindo nos avanços do cooperativismo brasileiro”, Revista Caribeña de Ciencias Sociales (noviembre 2018). En línea:
 https://www.eumed.net/rev/caribe/2018/11/tracos-cultura-brasil.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/caribe1811tracos-cultura-brasil
1 INTRODUÇÃO
O  cooperativismo não é um movimento novo, a partir dos movimentos emancipatórios com  surgimento da classe trabalhadora em meados do século XIX. Segundo Pinho (1982)  e Singer (2002), o berço deste movimento foi na a Inglaterra e França,  influenciadas por ideias de socialistas como Owen, Mudie, Fourier, Saint-Simon  e Gide.
As  cooperativas, que segundo Veiga e Fonseca (2001) vêm se impondo como recurso  fundamental para a inclusão de pessoas no mercado de trabalho, são estruturas  bastante difundidas por vários setores da economia, com o intuito de  compartilhar os princípios fundamentais do cooperativismo. Embora não haja um  acordo universal estrito de seus conceitos e aplicações, o cooperativismo  criou bases para uma linguagem comum, centralizado internacionalmente pela  International Co-operative Alliance (ICA), que rege os princípios do  cooperativismo e fornece diretrizes para as organizações nacionais. A ICA é  uma associação não governamental independente criada em 1895 e, desde 1946,  tem uma cadeira no conselho da Organização das Nações Unidas (ONU).
A associação norte-americana National Council of Farmer Cooperatives  (2018) cita algumas razões pelas quais as cooperativas são formadas, como o acesso  a mercados competitivos, fortalecimento do poder de barganha, obtenção de  produtos e serviços em base competitiva, aproveitamento de novas oportunidades  de mercado, redução de custos e gestão de riscos e melhora nas oportunidades de  renda. No Brasil, assim como em outros países  latino-americanos, as leis cooperativistas foram criadas a partir da  incorporação do modelo europeu, ou seja, dos Pioneiros de Rochdale a partir das  orientações da Associação Cooperativista Internacional – ACI, com o objetivo de  desenvolver e modernizar o processo de produção agrícola no país. O  cooperativismo foi implementado a partir de um decreto em 1932 e transformado  em lei em 1971, de modo autoritário, com controle e intervenção do Estado e  voltado essencialmente para a exploração agrícola (PINHO,1966).
As cooperativas brasileiras, segundo Simioni  (2009), se apresentam em diferentes situações: algumas ainda buscando formas de  sobrevivência e adequação à realidade, outras ainda em situação econômica  privilegiada. Algumas destas causas estão relacionadas à falta de lealdade e  fidelidade à organização, à instabilidade econômica das últimas décadas e aos  decorrentes planos econômicos que se fizeram presentes por um longo período na  economia brasileira, às novas tecnologias e a falta de capacidade de adequação  às mudanças. 
Para Morgan e Hunt (1994), a base para a  construção e sustentação de um relacionamento de sucesso do cooperativismo, na  cultura do Brasil, é o comprometimento e a confiança entre as partes  envolvidas, no caso a cooperativa e seus associados. Machado Filho (2004) corrobora  neste sentido, e afirma que a sobrevivência do cooperativismo em um mundo cada  vez mais dinâmico está ligada a sua profissionalização, à transparência e à  praticidade. 
Mas se o brasileiro é tão solidário, como tanto  se costuma dizer, por que o cooperativismo aqui anda tão devagar? Porque,  segundo Lopes (2012), a cooperação, ao contrário do mito de que o brasileiro é  cooperativo, ainda não é uma característica relevante na cultura brasileira.  Enquanto isso, o cooperativismo está mais do que consolidado e não para de  crescer em outros países. 
No ranking dos países em que as cooperativas são  mais fortes, a Finlândia lidera, seguida de Holanda, Noruega, Suíça, Dinamarca,  Suécia, Singapura, Japão, Canadá, Coréia do Sul, Áustria, Nova Zelândia e  Austrália, países onde se observam os melhores índices econômicos, sociais e  ambientais. Neles há cooperativas até para produção de energia, sobretudo as  renováveis. Para Lopes (2012), “Infelizmente, o Brasil se situou como o de  menor cooperatividade (menos de 5% da população), superado pela Arábia Saudita  e pela Argentina. A razão se deve à falta de políticas públicas de  desenvolvimento do cooperativismo. O autor aponta ainda que “o Brasil é o  único, dentre as 20 maiores economias do planeta, que não substituiu sua lei de  cooperativas (datada de 1971) e cujo caráter é essencialmente burocrático. Por  esta razão esta discussão se justifica, pois visa entender quais componentes da  cultura brasileira estão interferindo nos avanços do cooperativismo.
Para Canclini (2011) a cultura faz parte de um conjunto de trocas  sociais ligadas ao processo de bens materiais e imateriais, desenvolvidas a partir  da produção, circulação e do consumo. O processo da cultura, dentro da economia  do país, resulta no desenvolvimento do mercado e consumo, promovendo a  circulação do capital em todos os setores da economia, como nas cooperativas,  por exemplo. Esta relação se estabelece com a finalidade de gerar renda,  crescimento e pertencimento da sociedade pela qual se faz parte (BRUNNER, 1992,  p.250).
Nas cooperativas há uma grande diversidade  cultural, devido seus associados possuírem culturas próprias e há ainda a  cultura da sociedade a qual tal organização está inserida, é o  conjunto desses  valores culturais  que   guiam  o  comportamento   dos associados  e  de   seus  dirigentes,  fazendo   com  que  eles   tenham  um  modo   particular de lidar  com a  organização em  questão. Quando o s  associados têm valores culturais comuns pode -se  dizer   que  há  identidade   entre  eles,  já   quando  possuem   idéias   ou objetivos  parecidos  diz-se   que  existe  identificação,  no   momento  em  que   integrantes da  organização  passam   a  ter  objetivos   e  valores  em   comum  a  cooperativa   adquiriu uma identidade, ou seja, uma cultura própria.
Tendo em vista os argumentos apresentados, este trabalho  trata-se de um ensaio teórico que tem como objetivo discutir sobre os aspectos  culturais brasileiros que interferem no cooperativismo. Para  isso, este ensaio está estruturado em quatro partes. A primeira, abordará elucidações sobre o cooperativismo, o funcionamento das cooperativas e seus  princípios fundamentais. A segunda, apresentará uma contextualização sobre a cultura e os aspectos culturais brasileiros. Em  seguida, na terceira parte, aponta-se alguns elementos que se destacam na  análise, como responsáveis pelo desencadeamento dos entraves culturais para o cooperativismo no Brasil. Por fim,  serão realizadas as considerações finais deste estudo. 
2 COOPERATIVISMO NO BRASIL
Praticar  ações com o mesmo objetivo, em conjunto com outras pessoas, a fim de alcançar  resultados comuns a todos, superando as dificuldades individuais significa  cooperar. O Cooperativismo teve sua origem no Egito com os faraós, que  trabalhavam de forma conjunta visando o bem comum (PINHO, 1982).
   O  Cooperativismo através de seus valores éticos consegue “manter a liberdade dos  associados e realizar a divisão de ganhos de forma equilibrada, com base no  conceito da ajuda mútua e cooperação, como uma forma de integração social e  responsabilidade socioambiental”. (MENEGÁRIO 2000, p.50). 
   As  primeiras manifestações concretas de cooperativismo surgiram ainda no século  XVIII. Em busca de melhores condições de vida e trabalho, influenciados por  alguns socialistas da época e por uma greve fracassada, alguns tecelões criaram  a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, definida como uma cooperativa de  consumo.
   O avanço tecnológico tem solicitado profissionalização da gestão para  enfrentar esta competição que a economia de mercado vem exigindo, devendo assim,  desenvolver estratégias de cooperação com tal intuito. O aumento das vantagens  competitivas exige das cooperativas estruturas organizacionais capacitadas para  atender tanto à demanda de seus associados como para se posicionarem  positivamente no mercado, tornando-se mais competitivas e fortes. Dessa forma,  conforme Galerani (2003),essas organizações se valorizam e melhoram suas  condições econômico-sociais. 
   O cooperativismo está espalhado pelo mundo em muitos países, de  diferentes culturas, reconhecido como solução socioeconômica eficaz, e, embora  o cooperativismo induza a uma percepção de pequeno negócio, as 20 maiores  cooperativas do mundo ultrapassam a casa dos US$ 8 bilhões em faturamento, com  destaque para Japão, Coreia e Holanda (INTERNATIONAL CO-OPERATIVE ALLIANCE,  2018).
   Nos Estados Unidos, as cooperativas têm um peso  enorme na economia. Mais da metade dos 2 milhões de fazendeiros  norte-americanos fazem parte de alguma das quase 3 mil cooperativas agrícolas,  que por sua vez dão emprego a mais de 250 mil pessoas. Existem ainda nos  Estados Unidos cooperativas que sequer existem no Brasil. As cooperativas de  creches, por exemplo, atendem os filhos de 50 mil famílias. Já as de habitação  passam de 6.400 e são responsáveis por 1,5 milhão de moradias.
   Lopes (2012) cita ainda que com 38% da população  francesa são integrantes de cooperativas. Na Itália, a porcentagem é  ligeiramente maior, onde existem 40% de cooperados na população. Na Índia, um  em quatro trabalhadores pertence a uma cooperativa, um número que ultrapassa a  da população brasileira e na América Latina, destacam-se o Uruguai e a Bolívia,  nos quais um terço das populações integra cooperativas.
   No  Brasil, como em tantos outros países, o cooperativismo também chegou em meio a  grandes transformações. Mesmo antes de o cooperativismo ser oficializado como  doutrina, os índios que aqui habitavam, já viviam o espírito da cooperação e  ajuda mútua. Juntos, os povos indígenas tinham mais facilidade para buscar a  subsistência e fazer suas construções. Conforme Singer (2002) foi através dos  imigrantes europeus, que inicialmente se mantinham no modelo de cooperativas  agropecuárias no campo e de cooperativas de consumo na cidade no campo que  surgiu a ideia de cooperativismo. 
   O  cooperativismo no Brasil, conforme registros tive início em 1889 na cidade de  Ouro Preto, então capital do estado de Minas Gerais. Posteriormente o  cooperativismo chegou a outros estados como São Paulo, Pernambuco e Rio Grande  do Sul. Esse movimento teve intensa participação de imigrantes europeus,  sobretudo italianos e alemães (OCB, 2018).
   No Rio  Grande do Sul, em 1902 , foram criadas muitas cooperativas, tendo o padre  suíço, Theodor Amstad, como principal incentivador da iniciativa  cooperativista. Na pequena localidade de Linha Imperial, Município de Nova  Petrópolis, Rio Grande do Sul, surgiu à primeira cooperativa de crédito da  América Latina, a Sociedade Cooperativa Caixa de Economia e Empréstimos de Nova  Petrópolis (SEBRAE, 2018).
   Segundo  Veiga e Fonseca (2001) na cidade de Santa Maria (RS) em 1913, foi fundada a  Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea (COOPFER). A mesma se  desenvolveu muito até a década de 1960 e foi pioneira em várias iniciativas de  caráter social, chagando a ser a maior cooperativa de consumo da América do  Sul.
   Com a  criação de muitas cooperativas, houve a necessidade de representação e  regulamentação das mesmas. Com este intuito em 1969 surgiu a Organização das  Cooperativas Brasileiras (OCB), um órgão que sistematizou as cooperativas. Alguns  anos depois, foi criada a Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971 que disciplinou  a criação de cooperativas, porém restringia a liberdade dos cooperados,  interferindo na criação, funcionamento e fiscalização do empreendimento  cooperativo (BRASIL, 1971).
   Ainda segundo  a OCB (2018), esta limitação foi superada apenas em 1988 pela Constituição, que  proibiu a intervenção do Estado nas associações, dando início à autogestão do  cooperativismo. Um outro fato que contribui muito para o desenvolvimento das  Cooperativas Brasileiras. Em 1995, o então presidente da OCB, Roberto  Rodrigues, foi eleito o primeiro latino a presidência da Aliança Cooperativista  Internacional (ACI).
   Já em 1998  com a finalidade de ser responsável pelo ensino, formação, profissional,  organização e promoção social dos trabalhadores, associados e funcionários das  cooperativas brasileiras nasceu o Serviço Nacional Aprendizagem do  Cooperativismo (Sescoop).
   Conforme  dados da OCERGS (2018), divulgado através da revista Expressão do  Cooperativismo Gaúcho, no Brasil, 51,6 milhões de pessoas são beneficiadas  direta ou indiretamente pelo cooperativismo e 372 mil empregos são gerados  exclusivamente pelas cooperativas. Já no Rio Grande do Sul, são 2,8 milhões de associados, distribuídos em 426  cooperativas. Ainda é apontado neste balanço que houve um faturamento recorde de R$ 43 bilhões das cooperativas  do RS, com incremento de 4,3% em relação ao período anterior. 
2.1 O FUNCIONAMENTO DAS COOPERATIVAS
Uma  cooperativa compreende uma sociedade de, no mínimo, vinte pessoas físicas, com  o objetivo de se dedicar a atividades sociais e econômicas, livremente e em  benefícios de todos (CRÚZIO, 2006).
   Segundo  Bialoskorski (1997), a missão fundamental das cooperativas é servir de  intermediárias entre o mercado e as economias dos cooperados, para promover o  seu incremento. Cita ainda, que o cooperativismo depara-se com o desafio de  como tornar as cooperativas organizadas e preparadas para atenderem às demandas  sociais em sua área de atuação e, ao mesmo tempo, desenvolverem-se em  conformidade com o cenário de um mercado altamente competitivo. 
   Neste  mesmo sentido, para Ferreira (1986, p. 472), cooperativa “é uma sociedade ou empresa  constituída por membros de determinado grupo econômico ou social, e que  objetiva desempenhar, em benefício comum, determinada atividade econômica”.
A constituição de uma cooperativa dá-se a partir do momento que os associados, por meio de interesses comuns e almejando atingir determinados fins, unem-se para gerir democraticamente seu empreendimento, assumindo todos os benefícios e perdas advindas das atividades da cooperativa. É por meio dessa união de interesses que pessoas das mais diversas camadas sociais procuram, sob o olhar dos princípios de solidariedade e igualdade, concretizar desejos, dificilmente realizados individualmente. (SILVA et al, 2005, p.137).
            De acordo  com as necessidades dos associados que a integram as cooperativas atuam em diversos  seguimentos, também podendo ser chamados de tipos de cooperativas, ramos ou  campos de ação.
   O princípio  de identidade é o elemento que as distingue das demais sociedades: os usuários  de seus serviços são os proprietários do empreendimento, ou seja, os associados  de uma cooperativa caracterizam-se por sua dupla natureza, pois são  simultaneamente os donos e usuários do empreendimento (VALADARES, 2003). 
   Ainda neste  pensamento, Valadares (2003) defende que os cooperados são donos por serem os  cotistas, os tomadores de decisão (através das assembleias) e participarem dos  resultados. Usuários por utilizarem os serviços prestados pela cooperativa. 
   Em  um âmbito geral, as cooperativas aparecem como organizações que pregam pela  segurança e garantias para seus associados e operam com um conjunto de regras  justas, o que, portanto, as fazem ser reconhecidas por oferecerem incrementos  de renda aos cooperados.
   No país  existem hoje 13 ramos cooperativistas: agropecuário (onde se inclui também a  pesca), consumo, crédito, educacional, especial, habitacional, infraestrutura,  mineração, produção, saúde, trabalho, transporte, turismo e lazer (CRÚZIO, 2006).
   Assim, o  que diferencia e identifica uma cooperativa das demais sociedades é a sua  identidade organizacional fundamentada nos princípios cooperativistas  postulados pela ACI e colocados em práticas em sua gestão.
2.2 PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS
Os  princípios cooperativistas são as mais importantes regras de conduta a serem  seguidas pelos cooperados e pelas cooperativas. A aderência e a compreensão dos  princípios são fatores muito importantes para o sucesso do negócio cooperativo  quanto às questões gerenciais, que também estão presentes nos outros tipos de  organizações. 
   As  cooperativas possuem sete princípios. São eles: adesão voluntária e livre,  gestão democrática pelos membros, participação econômica dos membros, autonomia  e independência, educação, formação e informação, intercooperação, interesse  pela comunidade (ACI, 2018). 
   A  Figura 1 apresenta a evolução dos princípios cooperativistas propostos pela  Aliança Cooperativa Internacional (ACI), apresentando os princípios originais  de Rochdale e as revisões realizadas nos anos de 1937, 1966 e 1995.
Podemos  observar que alguns princípios são excluídos e outros se mantém durante todo o  período, ou seja, o cooperativismo se atualizou, sem perder sua essência.  Conforme estudo de Cançado e Gontijo (2009), a atualização dos princípios  cooperativistas se deu para que fosse possível acompanhar a realidade que  estava sendo vivida em determinada época. Segundo os autores, em 1937, o  Congresso de Paris, aconteceu entre guerras. Já em 1966, o de Viena, na Guerra  Fria. E em 1995, o de Manchester, após a queda do muro de Berlim. Abaixo será  descrito características dos sete princípios fundamentais do cooperativismo.
   O  princípio da adesão livre e voluntária defende  que as cooperativas são organizações voluntárias, abertas a qualquer pessoa  apta a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como membro,  sem discriminação de classe, religião, política e gênero. De acordo com Crúzio  (2006), a existência de objetivos é importante para a adesão, visto que não faz  sentido a entrada de um novo cooperado que não possua os mesmos propósitos da  cooperativa. 
   Já o princípio da gestão democrática pelos  associados, fala que as cooperativas são organizações  democráticas, controladas pelos seus membros, que participam ativamente na  formulação de suas políticas e na tomada de decisões (ACI, 2018). Ou seja,  todas as ações da organização estão nas mãos dos associados e a cada sócio cabe  o direito de um voto. É por meio deste princípio que é possível identificar a  maior diferença entre uma cooperativa e uma empresa convencional.
   O princípio da Participação econômica dos associados diz que para  ingressar em uma cooperativa, o cooperado tem que integralizar um número mínimo  de quotas-partes, previsto em estatuto. Segundo Valadares, 2003, p.21 “este  princípio está relacionado com a participação econômica dos membros, os quais  contribuem equitativamente para o capital das suas cooperativas e o controlam  democraticamente. Parte desse capital é normalmente propriedade comum da  cooperativa”. Esse princípio tem como finalidade o impedimento de se usar as  quotas-parte para fins impróprios. Deve-se ser respeitado a equivalência nas  operações do associado. Ademais, não é justo que o cooperado que tiver  investido mais dinheiro na cooperativa tenha maior poder de voto, pois  contrapõem a democracia que deve ter uma cooperativa. 
   Já o princípio da autonomia e independência cita que as  cooperativas são organizações autônomas, controladas pelos seus associados e de  ajuda mútua. O princípio de autonomia e independência, segundo Machado Filho (2004),  está diretamente relacionado com a gestão democrática, pois possibilita que a  participação do associado nas decisões não seja direcionada por entidades  externas à cooperativa. Neste sentido, o cooperativismo aconselha as  cooperativas para se desenvolverem deforma independente aos governos, porém  respeitando os órgãos regulamentadores. Sendo assim, as cooperativas devem  tomar suas próprias decisões, seguindo seu próprio caminho, com o mínimo de  interferência externa.
   O princípio da educação, formação e informação é de grande  relevância, pois está atrelado com a educação dos cooperados em relação ao  cooperativismo. Este estímulo é fundamental, pois os cooperados precisam estar  orientados e preparados para tomar as decisões  corretas e assim garantir o sucesso do empreendimento. É a principal ferramenta  para o sucesso de uma organização cooperativista quando bem orientados os  cooperados. Além disso, este princípio se faz necessário para que os associados  entendam o que realmente é uma cooperativa como empreendimento e como eles  podem tirar proveito disso, ajudando os demais cooperados e a sociedade em  geral (CANÇADO, 2007). 
   Outro princípio é o da intercooperação que representa  a união entre as cooperativas na busca de melhores qualidades nos serviços  prestados e no desenvolvimento dos empreendimentos cooperativistas. Neste mesmo  sentido, Valadares (2003) defende que as cooperativas servem de forma mais  eficaz aos seus associados e dão mais força ao movimento cooperativo com  trabalho em conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e  internacionais.
   E o último princípio cooperativista é o interesse pela comunidade. De  acordo com a ACI (2018) as cooperativas trabalham pelo desenvolvimento  sustentável de suas comunidades, através de políticas aprovadas por seus  membros. Este princípio, necessita de um forte comprometimento da cooperativa  com o meio em que está inserida. A prática da cooperação e de outras condutas  compatíveis com um desenvolvimento sustentável são ações que uma cooperativa  deve estimular em benefício de toda a comunidade. 
2.3 CULTURA E ASPECTOS CULTURAIS BRASILEIROS
As  cooperativas juntamente com seus associados pertencem a uma dotada de  características culturais. A cultura é constituída pelo conjunto dos saberes,  fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, idéias, valores,  mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz em cada indivíduo,  controla a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social  (MORIN, 2002, p. 56). Através da cultura, um grupo de pessoas na sociedade,  pode formar um grupo de valores específicos e criar sua cultura própria. É o  caso que acontece no Brasil, com esta grande diversidade cultural.
   Para  Geertz (1989), a cultura não deve ser vista como um complexo de comportamentos  concretos, mas, um mecanismo de controle, planos, receitas, regras e instruções  para governar o comportamento. O autor defende que a antropologia busca  interpretações, o que no caso para o estudo da cultura é uma forma de  analisá-la sem atribuir julgamentos ou preconceitos.
   As representações não se desenvolvem de maneira isolada, mas  se estabelecem ao longo da comunicação e cooperação, ganhando forma e vida  próprias. Cavedon (2014) ressalta que a definição de cultura organizacional  passa por níveis de valores compartilhados pelas pessoas, níveis de  pressupostos que estão no inconsciente de todos e níveis de artefatos, que são  as “coisas” percebidas. 
   Cultura diz respeito a incorporações de valores, normas e crenças, que  neste trabalho é compreendida como um processo dinâmico, que pode ser  aprendido, transmitido e modificado, tal qual é concebido por Schein (2001).  Nesta perspectiva, a expressão cultura da cooperação diz respeito a maneira de  posicionar-se frente ao mundo, refletindo um modo de ver, compreender, sentir,  agir e reagir, compartilhado por um grupo de pessoas.
   A definição de Cavedon (2000, p. 29), para  cultura organizacional é:
A rede de significações que circulam dentro e fora do espaço organizacional, sendo simultaneamente ambíguas, contraditórias, complementares, díspares e análogas implicando ressemantizações que revelam a homogeneidade e a heterogeneidade organizacionais.
Considerando estas considerações, pode-se observar que o país  apresenta alguns traços ou  características que influenciam a sua  integração, a prática social, seus conflitos e a reprodução cultural de seus  indivíduos, bem como influenciam decisivamente a cultura organizacional. Esses  traços são definidos por vários autores, dentre os quais, Silva (2003) e  Freitas (1997), quais sejam: hierarquia, personalismo, patrimonialismo,  formalismo, jeitinho, estrangeirismo e aventureiro. Serão apresentadas, de  forma sintética, os traços culturais  e  suas características.
   De acordo com Freitas (1997) o traço da hierarquia  é um aspecto um tanto quanto antigo, que veio sendo disseminado desde a época  da colonização do Brasil pela família patriarcal. A hierarquia está totalmente  relacionada com o poder, isto é, no âmbito organizacional a hierarquia seria a  forma de mostrar quem dentro da organização que detém mais ou menos poder, ao  distanciamento nas relações entre diferentes grupos sociais e passividade e  aceitação dos grupos inferiores, sendo assim fica evidente dentro da empresa a  quem se deve obedecer.
   O “Personalismo” para Freitas (1997) está relacionado com as relações  que os brasileiros criam relações estas que influenciam no modo destes se  portarem perante a sociedade, além disso, essas relações que são criadas  influenciam e muito na vida dentro da organização, uma vez que se torna muito  mais fácil a ascensão de um indivíduo dentro de uma organização a partir da  rede de contatos que este mantém. O povo brasileiro é visto como um povo de  relações afetivas acolhedoras, uma vez que essa forma de se relacionar faz  parte da cultura do país.
   Aliado à hierarquia, o patrimonialismo está associado à distribuição  desigual de poder e riqueza e  representa  a apropriação privada dos recursos do Estado, a impunidade das elites e o abandono  dos setores mais pobres. Segundo Silva (2003), esta apropriação pode ocorrer através  de funcionários públicos, por meio de fiscalização e propinas, através de  funcionários públicos, pelo setor privado com licitações e contratos  superfaturados e por parte dos políticos.
   O formalismo é um traço cultural muito comum no  Brasil, especialmente, quando se trata  do cumprimento das leis. O formalismo expõe  uma maneira tácita de aceitar regras e normas, mas com uma prática distorcida,  ou seja, cria-se à prática do faz de conta, expressa simbolicamente pelo ditado  “é para inglês ver”. Segundo Silva (2003), o formalismo é uma discrepância  entre a conduta e as normas prescritas.
   DaMatta  (1987) descreve algumas condutas que são  peculiares ao brasileiro como o jeitinho e a malandragem. O “jeitinho” de ser  do brasileiro é um meio utilizado nas nossas relações cotidianas, com o  objetivo de descumprir a lei e obter vantagem. O “jeitinho” quando levado  ao extremo se torna a “malandragem”. A  malandragem seria a arte de sobreviver nas situações mais difíceis, através do  talento pessoal e das leis. Além disso, dá sustentação para imoralidades e a  falta de ética, como se fossem normais ou esperadas de um brasileiro.
   Já o estrangeirismo, para Freitas (1997) é um traço  característico da crença no poder de outras pessoas que estão distantes da  realidade vivida pelo grupo para resolver seus problemas. Vale ressaltar que o  estrangeiro não é, necessariamente, alguém que ou figuras que são do exterior.  O termo se refere ao modelo da metrópole em relação ao interior, ao sul em  relação ao norte e assim por diante.
   O  “Aventureiro” por sua vez pode ser descrito como aquele indivíduo que  estabelece projetos e se importa apenas em atingir seu objetivo, visando sempre  esse alcance em curto prazo, que seria a forma de se obter o que quer mais  rapidamente. Para o “aventureiro” vale muito mais colher o fruto do que plantar  a árvore (FREITAS, 1997). 
2.4 INTERFERÊNCIAS CULTURAIS BRASILEIRAS NO COOPERATIVISMO
O comportamento  de um grupo de pessoas, ou por um indivíduo é orientada tanto pelos valores  culturais quanto pela ideologia. Ideologia é um conjunto de crenças e idéias  organizadas que induz um indivíduo ou um grupo à ação (PEREIRA et al, 2013).  Pode-se dizer que a cultura está relacionada à prática, ao hábito, enquanto a  ideologia está relacionada às crenças, às idéias. Assim, a doutrina  cooperativista está relacionada com os princípios cooperativistas e a cultura  cooperativa com os vínculos simbólicos e as práticas estabelecidos entre os  associados. Quando os associados apresentam valores culturais comuns, diz-se  que têm identidade entre eles. Quando os associados apontam mesmo ideal de vida  ou idéias semelhantes, se diz que há identificação entre eles.
   Freitas  (1997) exibe as diferenças entre identificação e identidade. Por um lado, as  organizações procuram se mostrar como modelo ou fonte de identificação para  aqueles que desejam se ingressar nela. Identificação, nesta situação, representa  reconhecer alguém ou algo e se reconhecer em algo ou em alguém. Por outro lado,  quando seus membros passam a expressar sentimentos de unidade,  de autonomia, a partilhar valores, de  pertencimento, e de confiança, pode-se alegar que a organização conseguiu criar  uma cultura própria, ou em outras palavras, uma identidade.
   De  acordo com a Organização das Cooperativas do Brasil (2018), cooperativa é uma  organização de pessoas que se baseia em valores de ajuda mútua e  responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade. Seus  objetivos econômicos e sociais são comuns a todos. Os aspectos legais e  doutrinários são distintivos de outras sociedades. Embora mantenham uma  organização empresarial, as cooperativas operam, perante o mercado, com seus  cooperados (VALLE, 2011), que, por sua vez, se beneficiam individualmente do  efeito coletivo da associação.
   Pereira  et al. (2013) pontua sete traços que são considerados típicos dos brasileiros e  estão presentes nas organizações: hierarquia, patrimonialismo, formalismo, jeitinho,  personalismo, estrangeirismo e espírito aventureiro. Já as cooperativas possuem  sete princípios fundamentais:  adesão  voluntária e livre, gestão democrática pelos membros, participação econômica  dos membros, autonomia e independência, educação, formação e informação,  intercooperação, interesse pela comunidade (STEFANO, ZAMPIER &  GRZESZCZESZYN, 2006).
   Tais  narrativas tanto dos traços da cultura brasileira, quanto dos princípios do  cooperativismo,  vão ao encontro de  DaMatta (1987), que entende que o universo cultural brasileiro, deve  estabelecer contato com todas as culturas. Desta forma, conforme o quadro 1, apresenta-se  uma comparação entre os princípios fundamentais do cooperativismo e os valores  da cultura brasileira.
Através do quadro é possível verificar uma contraposição particular das  cooperativas, pois cada princípio cooperativista está vinculado aos valores da  cultura brasileira. Ao analisar estas contradições a seguir, espera-se  compreender porque o cooperativismo não está de fato, inserido na sociedade  brasileira. 
   O personalismo e a hierarquia se apresentam nas cooperativas à medida  que há uma centralização do poder dos grupos dirigentes, as mesmas pessoas  ocupando os cargos dos conselhos durante anos, mudando apenas de função. Além  disso, muitas vezes as cooperativas são formadas por indivíduos de culturas e economicamente  diferentes, o que acaba formando pequenos grupos informais, onde cada grupo vai  tentar defender seus interesses. Uma situação típica da cultura hierárquica e  do patrimonialismo, uma vez que se manifesta a privatização do bem público da  cooperativa por lideranças ou por pequenos grupos.
   Para Pereira et al (2013) este traço da cultura do país se confronta de  imediato ao princípio controle democrático pelos sócios. Segundo Singer (2002),  o maior inimigo da autogestão é o desinteresse e passividade dos seus membros  diante do esforço adicional que a gestão democrática demanda. Este autor  ressalta que isto acontece pelo fato dos trabalhadores em geral não estarem  acostumados e nem preparados para a gestão do empreendimento. Outras vezes, o  crescimento do empreendimento com aumento do número de pessoas envolvidas, o  aumento de sua complexidade, e a exigência de agilidade referente ao processo  decisório, dificultam o processo de autogestão. Uma solução para este problema,  seria a Governança Cooperativa, que torna a organização mais profissional e  está fundamentada nos valores da transparência, democracia e  autonomia. Rech (2011) chama a atenção para a necessidade de que cargos da  diretoria sejam ocupados por profissionais que dominem os mecanismos de gestão,  de desenvolvimento de negócios, saibam administrar conflitos e estimulem a  participação dos associados.
   Quanto o princípio da adesão livre e voluntária e autonomia e independência,  que estão atrelados ao valor cultural do formalismo, seria uma estratégia da  sociedade, através do excesso de leis e normas existentes, para deixar os  processos mais lentos. Esse traço da cultura acaba por reforçar também o traço do  “jeitinho” e da “malandragem” uma vez que todo esse formalismo com normas e  regras dificulta a implementação de mudanças dentro de uma organização e  estimular a estes traços pode ser visto como uma forma de burla todas essas  leis e normas. Cabe enfatizar que algumas cooperativas se recusam a aceitar  novos associados, infringindo o princípio citado acima, que diz que as  cooperativas, desde que o novo associado aceite o estatuto social, devem  aceitar qualquer pessoa apta a utilizar os seus serviços e assumir as  responsabilidades como membro, sem discriminação de classe, religião, política  e gênero. 
   Além disso, usualmente, as cooperativas copiam regimentos  e modelos de outrosnestatutos no ato de sua  constituição e, mesmo depois de aprovados, funcionam apenas como peça  figurativa obrigatória, constituindo em um formalismo, pois os associados nem  sequer sabem o que significa. Neste caso, o formalismo se faz presente nas  regras estabelecidas pelo estatuto da cooperativa como traço característico da  cultura brasileira (PEREIRA et. al, 2013).
   Ao  encontro do princípio cooperativista da educação,  formação e informação está o traço cultural “jeitinho brasileiro”. Neste caso particularmente, seria deixar de lado o  processo de educação cooperativista, onde o cooperado não recebem as  informações básicas sobre a instituição que estão sendo inseridos, como  conscientizá-lo a respeito do que representa uma cooperativa, os princípios que  orientam sua atuação, a sua importância dentro da cooperativa, a importância de  participar de forma reflexiva nas assembleias, enfim, de desenvolver o  verdadeiro espírito cooperativista.
   Segundo Guerreiro Ramos (1983) o ‘jeitinho’ seria forma de  fraudar as contradições e dificuldades do formalismo. Para Schneider  (2003), a capacitação e a  educação  constante dos associados, destacam-se como cruciais para a sobrevivência das  cooperativas, podendo transformar o comportamento dos cooperados, de um perfil  do associado desinformado, desinteressado, não participativo, individualista em  um verdadeiro agente de cooperação, bem informado, solidário, motivado e  participativo
   As cooperativas, conforme Pereira et. al (2013),  muitas vezes não colocam em prática o  princípio da preocupação com a comunidade, visto que algumas vezes priorizam  investir em outros lugares, do que na comunidade onde estão inseridas.  Muitas ignoram o conhecimento dos seus  funcionários e cooperados, e preferem usar   modelos e ideias vindos de fora. Este modo de pensar, é típico do  estrangeirismo, ou seja, desvalorizar os valores da cultura local  e preferir adotar medidas vindas de outros  lufares. Este traço pode gerar comodismos,  levar a desqualificação da identidade e cultura  local, tornando os indivíduos mais espectadores do que ativos em situações  inovações e de transformações. O estrangeirismo é outro traço da cultura  brasileira que corresponde ao comportamento social que tem como orientação o  valor de fixação pelo estrangeiro, no sentido de desvalorizar a cultura  nacional  e menosprezar os próprios  valores. Este traço é muito conhecido popularmente pelo ditado “santo de casa  não faz milagres”. (PEREIRA et. al, 2013).
   Outro ponto a ressaltar é que as  cooperativas são organizações autônomas, controladas pelos seus associados e de  ajuda mútua. Em contrapartida a este princípio cooperativista da participação  econômica dos sócios está o traço cultural patrimonialismo. O patrimonialismo  está   ligado  a hierarquia,  a   centralização  de poder e  a   desigualdade  quanto  a   distribuição   dos recursos. Nas  cooperativas, não há essa desigualdade de poder, riqueza ou privilégios, pois  independente do capital integralizado na cooperativa todos os associados tem  direito a apenas um voto nas assembleias. Ainda neste aspecto, vale lembrar que  o associado é dono e usuário da cooperativa e muitas vezes há uma dificuldade  de separação entre sua propriedade e o controle da cooperativa. Para Vilela, Carvalho Neto e Lopes (2008) quando  esta separação não é devidamente realizada, compromete-se o seu dinamismo  econômico.
   Quanto ao princípio da intercooperação, são poucas as cooperativas que realizam parcerias entre elas.  Conforme Pereira et.  al (2013), não há uma troca de experiências, informações,  ou até mesmo vendas e/ou compra de forma simultânea, obtendo assim, maior  economia no envio dos produtos. Muitas cooperativas preferem desfrutar de  contratos firmados com retorno imediato, do que se unirem para tentar mudar  alguma situação atual que, se alterada no futuro, poderá trazer um grande retorno.  Essa é uma característica cultural típica do traço cultural aventureiro, em que  o planejamento e as ações de cooperação não são colocados em prática, preferindo-se  a aventura de conquistar mercado sem planejamento ou de “colher o fruto sem  plantar a árvore”.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este ensaio  teórico visou discutir sobre os aspectos culturais brasileiros que  interferem no cooperativismo. Pode-se  perceber que os  desafios que se impõem o desenvolvimento das cooperativas são muitos. Embora considerando  o cooperativismo como uma forma alternativa de organização do trabalho, em uma  perspectiva inclusiva, Lima (2002) ressalta que as cooperativas podem ser tanto  um instrumento de emancipação dos trabalhadores, quanto um recurso que pode ser  utilizado de forma inadequada e distorcido.
   As  culturas, conforme Morgan (2006), nas organizações, funcionam de forma  dinâmica, viva e estão em constante movimento e transformação através dos  sujeitos que  estão presentes nos  sistemas. Para Motta e Caldas (2009) tais sujeitos são responsáveis pela  interação do meio social, o qual, por sua vez, influencia a cultura e, dessa  forma, os aspectos simbólicos que são gerados dentro das organizações.
   De  maneira geral, pode-se observar que o campo em questão vem sendo transformado,  e aos poucos vem ganhando espaço. Pode-se observar que a prática cooperativista  é uma realidade e não uma utopia, visto alguns países com economias fortes  neste segmento. Deveríamos entrar com mais profundidade neste aspecto e buscar,  porque não, políticas públicas para o avanço do cooperativismo.
   Ao  comparar os traços culturais brasileiros citados por Freitas (1997), com os  princípios cooperativistas, podemos observar algumas fragilidades que poderiam estar interferindo nos avanços do  cooperativismo, como a falta  profissionalização da gestão, com práticas de governanças cooperativas  eficazes; baixa participação dos associados na assembleias; pouca informação e  conhecimento sobre o cooperativismo dos indivíduos; falta de capital de giro  para investir em novas tecnologias.  Além  disso, os princípios cooperativistas sinalizam traços culturais típicos da  sociedade moderna, tais como liberdade, igualdade de direitos, equidade e  tantos outros valores. 
   Para pesquisas futuras, recomenda-se a reflexão  crítica do papel do associado na cooperativa e o papel das cooperativas para a  sociedade de forma global, regional e local, tendo em vista as particularidades  de cada região.
REFERÊNCIAS
ALIANÇA INTERNACIONAL COOPERATIVA (ACI) – Disponível em: http://www.ocb.org.br/aci. Acesso em 10 ago. 2018.
BIALOSKORSKI, S. N. Cooperativas: economia, crescimento e estrutura de capital. 1997. 257 f. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1997.
BRASIL. Lei do Cooperativismo nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971.
BRUNNER, J. J. America Latina Cultura y Modernidad. 2ª ed. México, DF: Editorial Grijalbo, 1992.
CANÇADO, A. C. Autogestão em cooperativas populares: os desafios na pratica. Salvador: IES, 2007.
CANÇADO, A. C; GONTIJO, M. C. H. Princípios cooperativistas: origem, evolução e influências na legislação brasileira. Incubação de cooperativas populares: metodologia dos indicadores de desempenho. 2 Ed. Palmas: Futura, 2009.
CANCLINI, N. G. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 4ª ed. São Paulo: USP, 2011.
CAVEDON, N. R. Administração de toga: desvendando a cultura organizacional da UFRGS e da UNISINOS. 2000. Tese (Programa de Pós-Graduação em Administração) – Escola de Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000.
_______________. As representações sociais circulantes no período de margem do ritual de passagem: o caso dos peritos criminais em estágio probatório. Revista de Administração Mackenzie, v. 15, n. 2, p. 66-96, mar./abr. 2014.
CRÚZIO, H. O. Como organizar e administrar uma cooperativa: uma alternativa para o desemprego. Rio de Janeiro. 2004.
DAMATTA, R. A casa & a rua. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 3. ed. Curitiba: Positivo, 1986.
FREITAS, A. B. Traços brasileiros para uma análise organizacional. Cultura organizacional e cultura brasileira. São Paulo: Atlas, 1997.
GALERANI, J. Formação, estruturação e implementação de aliança estratégicaentre empresas cooperativas. RAE eletrônica, v. 2, n. 1, jan./jun. 2003.
GEERTZ, C. A interpretações das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
INTERNATIONAL CO-OPERATIVE ALLIANCE. 2018. Disponível em: <http://www.ica.coop>. Acesso em: 25 maio 2018.
LIMA, Jacob Carlos. As artimanhas da flexibilização: o trabalho terceirizado em cooperativas de produção. São Paulo: Terceira Margem, 2002.
LOPES, J. A. V. Cooperativismo Contemporâneo: caminho para a sustentabilidade. Editora Confebras, 2012.
MACHADO FILHO, C. A. Gestão estratégica em cooperativas agroindustriais. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 11, n. 2, p. 61-69, abr./jun. 2004.
MENEGÁRIO, A. H. Emprego de indicadores sócio-econômicos na avaliação financeira de cooperativas agropecuárias. 2000,50 p. Dissertação (Mestrado em Economia Agrícola) – Escola Superior de Agricultura “Luz de Queiroz”, Universidade de São Paulo. Piracicaba. 2000.
MORGAN, G. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 2006.
MORGAN, R. M. e HUNT, S. D. The commitment – trust theory of relationships marketing. Journal of Marketing, jul. 1994.
MORIN, E. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2002.
MOTTA, F. C. P.; CALDAS, M. P. Cultura organizacional e cultura brasileira. São Paulo: Atlas, 2009.
NATIONAL COUNCIL OF FARMER COOPERATIVES. NOCCO, B. W.; STULZ, R. M. Enterprise risk management: theory and practice. Journal of Applied Corporate Finance, v. 18, n. 4, p. 8-20, 2006. Disponível em: <http://www.ncfc. org/about-ncfc/about-co-ops>. Acesso em: 10 ago. 2018.
OCB - ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS. Números por ramos. Disponível em: <http://www.ocb.org.br/site/ramos/index.asp>. Acesso em 03 ago. 2018.
OCERGS. Números do Cooperativismo no Brasil e no Mundo. Disponível em: <http://geracaocooperacao.com.br/numero-do-cooperativismo-no-brasil-e-no-mundo/>. Acesso em: 08 ago. 2018.
PEREIRA, J. R.; CANÇADO, A.C.; RODRIGUES, F. O.; SILVA, E. S. Cultura organizacional e cultura brasileira: compreendendo as fragilidades do cooperativismo Brasileiro. NAU - A Revista Eletrônica da Residência Social, v. 4, p. 61-81, 2013.
PINHO, D. B. O pensamento cooperativo e o cooperativismo brasileiro. Manual de Cooperativismo, v.1, ed. 334.São Paulo. CNPq, 1982.
PINHO, D. O que é cooperativismo. São Paulo: Buriti, 1966.
RAMOS, G. Administração e contexto brasileiro: esboço de uma teoria geral da administração. 2ª ed. Rio de Janeiro: FGV. 1983.
RECH, D. Cooperativismo e Associativismo. Brasília: Instituto Novas Fronteiras da Cooperação, 2011.
SCHEIN, E.H Guia de sobrevivência da cultura corporativa.. Rio de Janeiro: José Olympio, 2001.
SEBRAE. Série Empreendimentos Coletivos- Cooperativa Financeira. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/bis/serie-empreendimentoscoletivos-cooperativa-financeira,5c9d7e0805b1a410VgnVCM1000003b74010aRCRD>. Acesso em 21 jul. 2018.
SILVA, E. A.; PEREIRA, J. R.; BOTELHO, M. I. V. A Organização Cooperativa e seus Princípios Democráticos. Organizações Rurais e Agroindustriais, Lavras, v.7, n. 2, p. 135-147, 2005.
SILVA, W. R. Teoria das Organizações Cooperativas: organizações e contexto cultural brasileiro. Viçosa, UFV, 2003.
SIMIONI, F. J. Lealdade e oportunismo nas cooperativas: desafios e mudanças na gestão. Rev. Econ. Sociol. Rural, vol.47, n.3, p. 739-765, 2009.
SINGER, P. Introdução à economia solidária. São Paulo: Perseu Abramo, 2002.
STEFANO, S.R. ZAMPIER, M. A.; GRZESZCZESZYN, G. Cooperativas: características, gestão e relevância sócio-econômica para o Brasil. In: Seminários em Administração – SEMEAD 9, 2006, São Paulo. Anais... São Paulo: [s.n.], 2006.
VALADARES, J. H. Estrutura e estratégia institucional: formação de campo organizacional e isomorfismo no cooperativismo de crédito rural de Minas Gerais. 2003. 96f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade) Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFRRJ, Rio de Janeiro, 2003.
VALLE, G. H. M. Panorama constitucional da tributação das sociedades cooperativas: um estudo sobre o artigo 146, caput, inciso III, alínea “C”, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 2011. Dissertação (Mestrado em Direito Empresarial)–Faculdade de Direito Milton Campos, Nova Lima, 2011.
VEIGA, S. M.; FONSECA, I. Cooperativismo: uma revolução pacífica em ação. Rio de Janeiro: DP&A / Fase, 2001.
VILELA, J. R. de P. X.; CARVALHO NETO, A.; LOPES, H. E. G. Dirigente de empresas privadas e de cooperativas: quem é mais autoritário? uma visão do poder nas organizações baseada na escala “F” de adorno. In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAI, 5., 2008, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: ANPAD, 2008.
*Mestranda em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria. Formada em Gestão de Cooperativas pela Universidade Federal de Santa Maria e em Administração pela Faculdade Integrada de Santa Maria. Email: andriieli.nunes@gmail.com