Revista: Caribeña de Ciencias Sociales
ISSN: 2254-7630


DISCURSOS DOS JOVENS DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS DE LAGES - SC ACERCA DA SEXUALIDADE

Autores e infomación del artículo

Marilva Pinho Moraes*

Carmen Lúcia Fornari Diez**

Universidade do Planalto Catarinense, Brasil

marilvapinho@yahoo.com.


RESUMO
O objeto desta pesquisa é a sexualidade no contexto das práticas sociais que a constituíram e possibilitaram discursos específicos dos jovens lageanos da instituição de educação não formal, no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos de Lages – SC, com ênfase nas Doenças Sexualmente Transmissíveis. A presente investigação buscou analisar os discursos, as percepções dos jovens sobre a sexualidade e as relações com as DST na Educação Não Formal – Irmandade Nossa Senhora das Graças  no Município de Lages – SC, sob o paradigma da genealogia de Michel Foucault. Ressaltamos que o pensamento de Foucault continua sendo atual basta observarmos na atualidade que continuamos a presenciar nos bas-fonds, o que Foucault denomina “incitação ao sexo”. A partir da realidade em que vivem os jovens nos seus discursos foi possível dar visibilidade ao que eles têm a dizer, e, estas falas se construíram em denúncias ao governo, ao poder e ao saber, permeados nos micros espaços, ao mesmo tempo em que se configuraram em crítica no que diz respeito à formulação de políticas sociais voltadas à juventude e ações que visem o cuidado da vida e a prevenção às DST/AIDS.

Palavras-Chave: Discurso, Jovem, Sexualidade; Doença Sexualmente Transmissível; Educação não formal.
ABSTRACT
The object of this research is sexuality in the context of the social practices that constituted it and made possible the specific discourses of young lageans of the institution of non formal education, in the Service of Coexistence and Strengthening of Links of Lages - SC, with emphasis on Sexually Transmitted Diseases. The present research sought to analyze the discourses, the perceptions of young people about sexuality and the relations with STDs in Non - Formal Education - Our Lady of Grace Brotherhood in the Municipality of Lages - SC, under Michel Foucault's genealogy paradigm. We emphasize that Foucault's thinking continues to be current and it is enough to observe today that we continue to be present in the bas-fonds, which Foucault calls "incitement to sex." From the reality in which the young people live in their speeches, it was possible to give visibility to what they have to say, and, these lines were built on denunciations of government, power and knowledge, permeated in microscope spaces, at the same time as have become critical in the formulation of social policies aimed at youth and actions aimed at the care of life and prevention of STD / AIDS.

Keywords: Discourse, Young, Sexuality; Sexually Transmitted Disease; Not-formal education.
RESUMEN
El objeto de esta investigación es la sexualidad en el contexto de las prácticas sociales que la constituyeron y posibilitaron discursos específicos de los jóvenes lageanos de la institución de educación no formal, en el Servicio de Convivencia y Fortalecimiento de Vínculos de Lages - SC, con énfasis en las Enfermedades Sexualmente Transmisibles. La presente investigación buscó analizar los discursos, las percepciones de los jóvenes sobre la sexualidad y las relaciones con las ETS en la Educación no Formal - Hermandad Nuestra Señora de las Gracias en el Municipio de Lages - SC, bajo el paradigma de la genealogía de Michel Foucault. Resaltamos que el pensamiento de Foucault sigue siendo actual basta observar en la actualidad que seguimos presenciando en los bas-fonds, lo que Foucault denomina "incitación al sexo". A partir de la realidad en que viven los jóvenes en sus discursos fue posible dar visibilidad a lo que ellos tienen que decir, y, estas palabras se construyeron en denuncias al gobierno, al poder y al saber, impregnados en los micros espacios, al mismo tiempo que se configuraron en crítica en lo que se refiere a la formulación de políticas sociales dirigidas a la juventud y acciones que visen el cuidado de la vida y la prevención a las ITS / SIDA.

Palabras Clave: Discurso, Joven, Sexualidad; Enfermedad Sexualmente Transmisible; Educación no formal.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Marilva Pinho Moraes y Carmen Lúcia Fornari Diez (2018): “Discursos dos jovens do serviço de convivência e fortalecimento de vínculos de Lages - SC acerca da sexualidade”, Revista Caribeña de Ciencias Sociales (junio 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/caribe/2018/06/jovens-servico-convivencia.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/caribe1806jovens-servico-convivencia


Este trabalho resultou de pesquisa realizada de dezembro de 2014 a janeiro de 2015, com jovens de camadas sociais despossuídas, atendidos no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos — SCFV da Irmandade Nossa Senhora das Graças acerca da sexualidade e a relação com as DST. Faremos um relato reflexivo por meio dos dados coletados através da aplicação de questionários com dezesseis jovens da Instituição supracitada.
Para fundamentar a análise dos dados nos embasamos nos teóricos: Foucault (2004, 2005, 2006), Araújo, (2000), Ariès (1981), Castro e Abramovay (2004), Dreyfus e Rabinow (1983),  Fischer (2001) , dentre outros.
O intuito que permeia esta reflexão consiste em desenvolver uma análise ao mesmo tempo refletir no que tange os discursos, sentimentos e percepções dos jovens sobre a sexualidade a e relação com as DST. A fundamentação para esta incursão se dá a partir da obra Microfísica do Poder de Michel Foucault (1979) e visitando as demais obras do mesmo autor.
A opção pela faixa etária dos jovens pesquisados está embasada no que preconiza o documento Diretos da População Jovem — Um marco para o desenvolvimento, do Fundo de População das Nações Unidas — UNFPA, portanto a faixa etária perpassa as fases da infância, adolescência e a juventude, (UNFPA, 2010, p.24).
Participaram da pesquisa 16 jovens da Irmandade Nossa Senhora das Graças na faixa etária de 12 a 15 anos, sendo que 8 jovens participam das atividades no período matutino e os demais 8 no vespertino, destes, 50% são do sexo feminino e 50% do sexo masculino. O critério de escolha da amostragem dos jovens foi pelo fato de ser um grupo de jovens que vive em situação de vulnerabilidade e risco pessoal no que tange a contaminação pelas Doenças Sexualmente Transmissíveis — DST.  Este grupo foi escolhido por ter o perfil do propósito da investigação, e, se adequar a os objetivos da pesquisa.
A aplicação dos questionários aconteceu na própria instituição, Irmandade Nossa Senhora das Graças, na cidade de Lages, com jovens que participam das atividades socioeducativas.
Apresentaremos os discursos dos jovens mesclando com análises da acerca da situação da juventude no contexto da sexualidade. A presente análise tem como base a perspectiva de discurso foucaultiana, encontramos em Fischer (2001), o que necessitamos para tal procedimento:
[...] para analisar os discursos, segundo a perspectiva de Foucault, precisamos antes de tudo recusar as explicações unívocas, as fáceis interpretações [...]. Para Michel Foucault, é preciso ficar (ou tentar ficar) simplesmente no nível de existência das palavras, das coisas ditas. (FISCHER, 2001, p. 198)

Os discursos apresentados nesta investigação, pelos jovens pesquisados, refletem a realidade, a qual é vivida pelos jovens no Brasil e no mundo. É relevante ressaltar que no Brasil no ano de 2004, instituiu-se a Política Nacional de Juventude, nessa política, percebemos que retoma os direitos já garantidos no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Federal 8.069/90, o direito a vida, a saúde, a moradia, a educação, dentre outros.
Apresentamos a seguir os discursos dos jovens no que diz respeito aos seus entendimentos acerca das expressões “juventude e sexualidade”. O intuito neste estudo é apresentar o que os jovens entendem, se eles percebem relações entre os jovens e a sexualidade.
“No que tange a questão referente ao o que os jovens pensam ou entende ao se deparar com as expressões ‘juventude e sexualidade”, da totalidade dos jovens participantes do presente estudo oitenta por cento respondeu e vinte não expressou sua opinião. Dentre as respostas, destacamos que a alusão à juventude está intimamente relacionada à “transformação”, e mudança tanto do corpo como da mente. Esses dados são unânimes nas respostas das jovens, já com relação aos jovens, mencionam que é uma fase, ou algo íntimo. Destacamos o conceito de sexualidade pela jovem JF14O quando diz “Sexualidade uma fase dos jovens em que experimentam novas fazes da vida – juventude um tempo em que passamos por mudanças corporal e mental”. Buscamos em Foucault o entendimento da acepção sobre sexualidade:

[...] A forma histórica do discurso e da prática, que Foucault denomina ‘sexualidade’, nasceu de uma separação do sexo e da aliança. A sexualidade é uma questão individual: ela diz respeito aos prazeres privados ocultos, aos excessos perigosos para o corpo, as fantasias secretas; passou a ser considerada como a própria essência do ser humano individual e o núcleo da identidade pessoal. (DREYFUS; RABINOW, 2010, p. 224)

Percebemos que um dos jovens cita a realidade da vida das meninas ao dizer “Juventude e sexualidade caminham lado a lado. Tanto é que meninas jovens perdem sua juventude por estarem grávidas”, (JM3C). Os dados no Brasil confirmam a situação da realidade mencionada pelo jovem neste estudo:
[...] O Brasil figura no Relatório Mundial sobre a População da ONU como um dos países que apresenta taxas acima da média mundial de gravidez na adolescência, que é de 50 nascimentos por mil mulheres. A taxa brasileira é maior do que a de alguns países pobres, como Sudão, Iraque e Índia. (CASTRO; ABRAMOVAY, 2004, p. 7)

Os próprios jovens pesquisados fazem suas análises ao abordar a perda da juventude em virtude de uma gravidez precoce.  Castro e Abramovay ratificam com dados do Brasil, ao apresentar o índice supracitado no 1º. Congresso da Associação Latino Americana de População, em Caxambu, Minas Gerais, Brasil, no  ano de 2014  no qual os jovens brasileiros, portanto, lageanos integram essa população de indivíduos.
Quanto às indagações referentes às explicações dos jovens no que diz respeito às Doenças Sexualmente Transmissíveis — DST e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida — AIDS, noventa por cento responde e dez por cento deixa de responder. Ressaltamos uma jovem que fala de seu entendimento sobre a situação da juventude, a jovem ela afirma, “penso que os jovens estão mais vulneráveis as doenças por seu jeito de aventureiro. Os jovens não medem as consequências e estão mais vulnerável a pegar este tipo de doença” JF16Q. Percebe-se que o próprio jovem  observa os demais jovens, e, tece suas considerações sobre os comportamentos, como vimos na jovem acima ao dizer “não medem as consequências”, estão sujeitos, ou seja, em situação de vulnerabilidade em meio às situações de risco a sua integridade, como as companhias, locais que frequenta o que ingere as ações que pratica.  Encontramos na Revista “Juventude e Comportamento DST AIDS” um conceito para uma melhor compreensão do termo vulnerabilidade: [...] conjunto de fatores biológicos, epidemiológicos, sociais e culturais que determinam a ampliação ou a redução do risco e da proteção de uma pessoa ou de uma população em relação a uma determinada doença, condição ou dano, (JUVENTUDE COMPORTAMENTO E DST AIDS 2012, p. 37).
Um dado que merece destaque é a temática da prevenção dos jovens em relação as DST/AIDS, que surge em três depoimentos, a jovem JF9I “Não se prevenir na juventude não usar camisinha transmite o HPV e AIDS etc.”, a JF14O “Tantos jovens e adultos tem uma relação sexual, mas o mais indicado é usar a prevenção como camisinha”, o JM6F “não usar camisinha e sair beijando qualquer um por aí pode ser um caso de DST”.  Na pesquisa realizada pelo Grupo Caixa Seguros, com jovens aponta que “[...] 24% dos jovens brasileiros ainda acreditam que o vírus da AIDS pode ser transmitido pela saliva”, (JUVENTUDE COMPORTAMENTO E DST AIDS, 2012, p.19).
Chama nossa atenção o fato de dois pesquisados JM3C e JM5E ao elucidarem sobre os jovens que morrem cedo em razão da não prevenção no momento do sexo, bem como os que sabem que possuem AIDS, mesmo assim, não se cuidam. Um jovem faz menção à cidade de Lages, onde mora, ao dizer “Penso que Juventude e AIDS têm tudo a ver e em Lages, milhares de pessoas com estão essa doença.” JF13N. O jovem ao responder a questão tem consciência dos inúmeros casos. Nesse processo de busca de dados, visitamos a vigilância Epidemiológica do Município de Lages, setor DST/AIDS, em conversa com uma das enfermeiras responsáveis pela notificação dos casos de DST/AIDS em jovens, assim relatou: “[...] em Lages cresceu muito os casos de HIV/AIDS em jovens, eles dizem que a AIDS  não mata mais, eles podem tomar coquetel, com esse comportamento além do HIV veio à tona muitas DST que estavam controladas, como: crista de galo e a sífilis então está em primeiro lugar”.
Nos discursos, onde os jovens expressam suas cosmovisões há a contribuição de noventa por cento, e dez por cento deixa de responder. Destacamos a JF9I, ao dizer que a prevenção de “antigamente”, foi uma das causas que evitava a gravidez precoce, sua opinião deixa transparecer que “Isto não é legal. minha opinião é que os jovens se prevenissem como antigamente o mundo não teria meninas de 12 e 13 anos gravidas porque não se cuidaram”JF9I. É perceptível, nessa posição, a memória de um tempo passado, a novidade é que esta postura seja de uma jovem da atualidade.
Um aspecto que merece destaque, quanto esse tema, diz respeito às questões cruciais quanto ao cuidado da vida da juventude, o respeito, a prevenção, a relação sexual segura, do uso da camisinha, apresentamos três opiniões que ilustram esses cuidados, JM3C “Durante o sexo tem que estar seguro usando prevenções como camisinhas e outras coisas”, o jovem JM1A fala “que a juventude tem que se prevenir com a camisinha por isso temos muitos casos de gravidez e doenças” e o jovem JM6F adverte “não sair beijando qualquer pessoa e usar camisinha nas relações sexuais”. 
Os jovens apresentam suas aprendizagens traduzidas nos saberes adquiridos, nesta indagação cem por cento responderam. Faz-se necessário mencionamos a JF9I, ao descrever o seu aprendizado o qual está relacionado ao “se cuidar”, como sendo relevante para não gerar filhos cedo, fala ainda, da necessidade de tomar “injeção e anticoncepcional”, se refere ao cuidado com seu corpo para não contrair DST/AIDS, ao lembrar que é preciso usar camisinha, assim como concluir os estudos.
A referência quanto à conclusão dos primeiro dos estudos, para depois namorar, notamos uma resposta, dentre os oito jovens, enquanto que no grupo das jovens, apenas duas jovens mencionam a relevância de primeiro, estudar, “O estudo é o principal, e que o sexo na juventude de hoje e os professores falaram, que não e fazer filho agora é primeiro terminar os estudos”, JM7G.
Um dado nos chama a atenção, cinquenta por cento dos pesquisados citam a Irmandade Nossa Senhora das Graças como sendo um dos locais em que aprenderam sobre cuidados do corpo, DST e AIDS, um jovem cita que aprendeu sobre DST na escola com a professora, um fala que seu aprendizado foi em casa com “o pai e mãe”, (JM3C), os demais jovens não mencionam os locais que aprenderam.
A jovem JF11L, fala sobre o tem em sua vida enquanto saber adquirido “Eu aprendi que não pode andar por aí ficando e beijando todo mundo, que sempre elas não vão querer mais de um beijo vão querer algo mais, tipo sexo!”. Percebe-se nesta fala que a jovem aprendeu o domínio dos seus desejos, a este comportamento Foucault denominou de “temperança” que é ‘[...] dominar os desejos e prazeres’,‘ exercer poder sobre eles’, (FOUCAULT, 2006, p. 66).
A abordagem do tema disciplina na Irmandade Nossa Senhora das Graças, noventa por cento dos jovens pesquisados contribuíram com suas respostas e dez por cento optaram por não responder. O jovem JM7G fala da relevância da disciplina “[...] a disciplina é muito importante, para a nossa vida, tem disciplina na irmandade é muito boa”.  Percebemos no texto do jovem a disciplina na instituição de ensino não formal, como “muito boa”, não apenas para o convívio na instituição, mas para a vida cotidiana.
Faz-se necessário considerar que a JF10J, ao falar da disciplina na Irmandade explicita, “[...] tem regras e a disciplina é bom e ter respeito, comportamento e várias outras coisas”. Ressaltamos que os jovens pesquisados ao falar da disciplina, fazem alusão as positividades da disciplina perceberam isso na fala da JF13N “[...] Na irmandade tem que ter disciplina ter educação ser um exemplo não fazer as coisas erradas não mexer com os outros”.
Diante dos discursos observamos que há jovens resistentes à disciplina, ao percebermos em três respostas que a disciplina deixa a desejar, ou seja, os jovens deixam de seguir as normas, a disciplina da Instituição. Para Foucault, a disciplina é entendida como tática de disciplinarização dos corpos a partir da disposição dos indivíduos num determinado espaço. Para que se estabeleça a disciplina é necessária à aplicação de uma diversidade de técnicas. Conforme a aborda Foucault:

[...] A disciplina às vezes exige a cerca, a especificação de um local heterogêneo a todos os outros e fechado em si mesmo. Local protegido da monotonia disciplinar. [...] Cada indivíduo no seu lugar; e em cada lugar, um indivíduo. Evitar as distribuições por grupos; decompor as implantações coletivas; analisar as pluralidades confusas, maciças ou fugidias. [...]. Importa estabelecer as presenças e as ausências, saber onde e como encontrar os indivíduos, instaurar as comunicações úteis, interromper as outras, poder a cada instante vigiar o comportamento de cada um, apreciá-lo, sancioná-lo, medir as qualidades ou os méritos. Procedimento, portanto, para conhecer, dominar e utilizar. A disciplina organiza um espaço [...]. (FOUCAULT, 2004, p.121)

Para Foucault a disciplina sobre os indivíduos serve para exercer o domínio, manter a organização e, sobretudo controlar os corpos. Ressaltamos que o jovem JM4D afirma “que alguns têm que ser chamados à atenção’. Este jovem demonstra que a disciplina é necessária para se ter o controle do grupo e do indivíduo.
O tema do poder na Irmandade Nossa Senhora das Graças, aparece em noventa e cinco por cento dos pesquisados e cinco por cento não responderam. Falam que existe poder na Irmandade, a qual se configura no espaço educativo não formal. Destacamos a respostas o jovem JM4D “Sim aqui tem poder, as cozinheiras as mulheres da limpeza cada um no seu ambiente de trabalho”, ao dizer que poder não está apenas nas mãos da direção e da coordenação, mas existe em todos os ambientes da Irmandade.
Um jovem pesquisado atribui o poder a alguém que possui poder de mando, ao dizer que “eu acho que na Irmandade ninguém tem poder uns são iguais aos outros”, JM8H. Para esse jovem o poder na relação de igualdade não existe poder, portanto na Irmandade não há relações de poder.
Na pesquisa ficou evidente que setenta por cento dos pesquisados dizem que os professores têm poder na instituição. Ao serem indagados no que tange à forma de como o poder é exercido, relatam ainda o aspecto positivo do poder, como ilustra o depoimento da JF13N “Tem sim coordenação direção os professores de forma bem legal não é de briga e gritos”.
Na presente investigação no tocante ao poder, o controle da vida dos jovens, setenta por cento responderam que quem exerce o poder e o controle sobre eles são o pai e a mãe, trinta por cento relacionaram o poder às suas famílias, ou seja, pessoas além da família. Uma jovem fala que além dos pais em casa, dos educadores na Irmandade, menciona que manda em sua vida é um ser divino, JF16Q “Quem manda em mim em casa é meu Pai e na Irmandade os professores. E acima de tudo o meu criador Deus”. Percebemos que a jovem relaciona o poder de mandar em sua vida a um ser superior, a qual denomina Deus. Portanto, sente o poder onde quer que vá ao fazer referência a dimensão transcendental. 
No que concerne ao controle, ao vigiar seus corpos, destacamos os depoimentos das jovens JF15P “Sim minha mãe e meu pai, tipo não deixam sair de noite sozinha, não deixam  chegar tarde em casa etc...”. E da JF11L “Minha mãe, tipo se eu saio, tenho horário para voltar”.
Nesta pesquisa, buscamos compreender se existem relações de poder onde os jovens participam cotidianamente, e, como isso acontece em suas vidas. Como os participantes da pesquisa frequentam uma instituição de educação não formal, cinquenta por cento do grupo, cita a instituição — Irmandade. 
Cinquenta por cento dizem que percebem relações de poder na escola. A maioria, não explicitou nas respostas, como se dá essas relações, como é exercida, ou como sentem em suas vidas. Uma jovem, apenas, faz referência ao uso do poder pela autoridade, JF16Q “Algumas pessoas que tem certa autoridade, acabam mostrando isso nas atitudes que tomam sem pensar às vezes”. Na obra “Vigiar e Punir” encontramos formas de manifestação da autoridade, como estratégia, o que podemos analisar enquanto o poder que é exercido nas micro relações, conforme afirma Foucault:
[...] o poder [...] não seja concebido como uma propriedade, mas como uma estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos a uma ‘apropriação’, mas a disposições, a manobras, a táticas, a técnicas, a funcionamentos; que se desvende nele antes uma rede de relações sempre tensas, sempre em atividade. (FOUCAULT, 2004, p. 24)

Um dado que merece ser ressaltado, quarenta por cento dos jovens dizem que o poder está em muitos lugares, citam a escola, Irmandade, mercado, padaria, lojas, skate, as ruas, neste caso, também não explanam como percebem, apenas dizem que o poder está por toda parte, a JF13N, ilustra isso ao dizer “Sim todo tipo de lugar tem esse poder, por exemplo: Irmandade, mercado, padaria, lojas, minha casa e nas outras casas.” O poder é visto pela jovem como algo que perpassa por vários lugares e espaços como o supracitado. O poder entendido por Foucault, “[...] não existe” (1979, p. 248), ou seja, não está situado num lugar, não está localizado na sede do governo, da igreja, ou nas mãos de alguma autoridade ilustre, mas está inserido numa rede, “num feixe de relações” onde sua manifestação possui dinamicidade: O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado como uma riqueza ou um bem. O poder funciona e se exerce em rede. (FOUCAULT, 1979, p. 183)

3.4. Orientações sobre sexualidade/doenças sexualmente transmissíveis/ Aids aos jovens do SCFV
No contexto, ainda, do roteiro sobre as indagações feitas aos jovens participantes da pesquisa, buscamos compreender, especificamente quais as orientações que os jovens recebem, por parte de quem, e quais seus posicionamentos diante do que acessam, ouvem, apreendem.
Trataremos das esferas, da família, da igreja, da INSG, dos amigos, da mídia e das redes sociais e da saúde. Nesses âmbitos, buscaremos compreender quais os discursos que jovens percebem nos espaços de convivência no dia-a-dia, e que influenciam nas suas tomadas de decisões em suas vidas, seus comportamentos, seus cuidados ou não de suas vidas, e, sobretudo em seus discursos, estes por sua vez influenciarão outros jovens com quais estabelece relações.
As contribuições dos jovens serão organizadas e analisadas, neste texto, com a seguinte estrutura, analisaremos em cada esfera, quem são os orientadores, quais são as orientações, e o que os jovens têm a dizer a respeito das recomendações que lhes são oferecidas.
Consideramos relevante iniciar pelo âmbito familiar, perpassar pelo âmbito educacional, religioso, o espaço educativo não formal — INSG, o círculo de amigos, outros lugares por onde os jovens frequentam, nas mídias, nas redes sociais, e nos espaços da saúde, por ser este que cuida da saúde do corpo dos jovens.
No que tange as orientações advindas da família, destacamos que das dezesseis respostas, setenta por cento dos jovens, relatam que são orientados pela figura da mãe, em segundo lugar, vinte por cento aparece às imagens do pai e da mãe como sendo os orientadores, os demais, dez por cento, não citam quem orienta. Surge uma resposta onde a JF16Q se refere a outros membros familiares, além da família “meu pai, meu tio Padrinho. Não seria pra qualquer um porque estava dando confiança para estranhos” e a jovem JF14O, não diz, ou optou por não mencionar quem faz as recomendações, mas trás o seu teor, “[...] pra eu me comportar direito ter bons modos e parar de ficar na rua se fresqueando”.
Dos jovens participantes da pesquisa, vinte e cinco por cento não responderam, e estes são do sexo masculino. As demais respostas setenta e cinco por cento versaram a respeito do aspecto positivo do que aprendem no campo educacional. No geral os jovens dizem que são ótimas, são boas, interessantes, importantes, boas, que ensinam a se prevenir contra a AIDS.
Uma jovem considera o teor das orientações, interessantes e engraçadas, desta forma ela se expressa JF14O “interessante, engraçada e interessante”. A jovem JF16Q apresenta em sua resposta elementos relacionadas ao poder e saber, a dar sua opinião sobre o saber do professor “Como ele é um professor e estudou deve saber o que ele esta falando. Temos que seguir sua orientação porque ele sabe quais são as consequências”.
Outra jovem fala da importância do cuidado corporal, expressa sua opinião da seguinte forma: “[...] penso que está certo e nos faz refletir sobre isso, cuidar o máximo possível do nosso corpo e acho importante e certo”. JF13N. Na expressão da jovem acima ao falar que o professor possui saber, portanto, exerce poder e saber sobre os corpos, ele tem autoridade para orientar, para Foucault, os corpos humanos são compreendidos como:
[...] ‘corpo político’ como conjunto de elementos materiais e das técnicas que servem de armas, de reforço, de vias de comunicação e de pontos de apoio para as relações de poder e de saber que investem os corpos humanos e os submetem fazendo deles objetos de saber. (FOUCAULT, 2004, p. 27)

Com relação às recomendações por parte da igreja em quarenta por cento citam do pastor, vinte por cento dos jovens mencionam o padre, na sequencia, dez por cento a catequista, os demais trinta por cento relataram não frequentar a igreja, não recebem orientação por parte do âmbito religioso.
No que se refere às temáticas sobre sexualidade ensinadas no âmbito da igreja, dos jovens pesquisados cinquenta por cento não responderam e os demais jovens na sua totalidade mencionaram que na catequese tem orientação sobre sexualidade, corpo, higiene, más companhias, fazer “certo”, o respeito uns aos outros. A jovem JF16Q menciona o corpo como algo livre das impurezas, sagrado, “Ele fala que nosso corpo e um templo e que devemos manter ele puro, para que Deus possa habitar”.
Percebemos nesse discurso, proveniente de um espaço social cristão, onde a palavra “puro” está relacionada ao corpo, neste caso está relacionada ao celibato, termo utilizado a quem não iniciou a atividade sexual. Estes elementos são refletidos por Foucault no capítulo intitulado “Não ao sexo rei”, em Microfísica do Poder, no que diz respeito à confissão, ao fazer um minucioso exame da consciência dos indivíduos, a grande relevância ao que está relacionado à carne, isso não foi somente uma forma de proibição do sexo, até mesmo uma forma de mantê-lo o distante do nível da consciência, desse modo, conforme Foucault:
[...] foi uma forma de colocar a sexualidade no centro da existência e de ligar a salvação ao domínio de seus movimentos obscuros. O sexo foi aquilo que, nas sociedades cristãs, era preciso examinar, vigiar, confessar, transformar em discurso. (FOUCAULT, 1979, p. 230)

No que tange aos posicionamentos dos jovens perante a o que o espaço religioso ensina o que nos chama atenção é o fato de sessenta por cento dos entrevistados não responderem. Os trinta por cento que expressaram suas opiniões utilizaram as palavras “nada” JM8H, “legal” JM5E, “ótimas”JM2B, “ter uma religião”JM4D, estes termos foram utilizados pelos jovens do sexo masculino, nas respostas das jovens, expressam suas opiniões com mais palavras, como vemos na fala da jovem JF11L “[...] que o catequista não está falando só por falar e sim para orientar”. A jovem percebe a relevância das informações, sua opinião é de aprovação.
Com relação às informações acerca a sexualidade DST/AIDS na Irmandade Nossa Senhora das Graças, noventa por cento dos jovens responderam que os orientadores sobre sexualidade são os professores e educadores. Dez por cento não emitiu resposta.
No que diz respeito ao teor das informações destinadas aos jovens, na INSG, noventa por cento dos jovens participantes da investigação mencionam a sexualidade, a prevenção contra as DST com o uso da camisinha, higiene do corpo, para que o jovem se cuide. A JF11L explicita sobre o que aprende “Cuidar melhor do meu corpo, porque não sabemos o perigo das doenças sexualmente transmissíveis”.
No texto aparece o cuidado com o corpo, Foucault aborda em nome de que foi implementado esse cuidado “[...] Em nome deste medo foi instaurado sobre o corpo [...] através das famílias, [...] um controle, uma vigilância, uma objetivação da sexualidade com uma perseguição dos corpos”, (FOUCAULT, 1979, p.146).
Uma jovem diz que é preciso “cuidar mais do corpo ter bons modos por que eu não sou mais criança.” Os dez por cento deixaram de responder. Para setenta e cinco por cento dos jovens do sexo masculino, as orientações são “ótimas”, “muito boas”, Vinte por cento não considera “nada”. Já as jovens, noventa por cento, relataram as orientações são boas para “se prevenir”, é legal, importante, “ótimo conselho’. A jovem fala que usará na sua vida o que aprendeu JF12M ao” [...] Dizer que vou usar essas orientações pode ser até no meu serviço”. Aponta um aprendizado para uma futura atividade profissional. A JF16Q ao dizer “Eles estão certos por terem mais tempo de vida”. Nota-se o respeito ao tempo biológico — anos de vida dos educadores da INSG. Dez por cento não emite resposta.
Com relação aos amigos, cinquenta por cento dos pesquisados se referem aos “amigos”, e, “amigos mais velhos”, os demais cinquenta por cento atribuem a ninguém dos amigos, outros a colegas e um a um primo.  Quanto às opiniões dos jovens acerca das orientações advindas do grupo de amigos, oitenta por cento não responderam e os vinte por cento falaram que é divertido e que os amigos querem o nosso bem.  No grupo das jovens noventa por cento falam que consideram importantes, os ensinamentos das amigas estão mais ligadas nas coisas. A JF9I, ao se referir a sua prima, a qual a orienta a respeito da prevenção sobre as DST, diz: “Eu sei que ela está certa e vou seguir os seus conselhos”.  Os dez por cento deixaram de emitir seus posicionamentos. Na indagação sobre quem e quais os lugares diferentes dos já indagados, na presente pesquisa, noventa por cento disseram que recebem orientações acerca da sexualidade dos tios, tia, vó, vizinhos. Os dez por cento não emitiram respostas.
Quanto aos conteúdos dos saberes apreendidos pelos jovens, setenta e cinco por cento disseram, gravidez precoce, autoproteção, se precaver das companhias que não vale nada, cuidados e o cultivo dos bons modos. Os vinte e cinco por cento dos participantes deixaram de responder a indagação.
A jovem JF140 responde a questão fazendo uma ligação aos bons costumes, conforme se auto define “porque eu já sou uma moça grande e bonita, só falta os bons modos”.  Dentre os jovens pesquisados, setenta e cinco por cento emitiram suas considerações sobre o que aprendem, disseram que é bom, quem os orienta só quer o bem, citam os estudos como relevante. Ressaltamos a fala de uma jovem, neta, ao fazer alusão ao que sua vó lhe diz “[...] Agradeço sei que ela está certa, não quer que eu tenha o destino dela, quer que eu estude pra ser alguém”, JF9I. Um percentual de vinte e cinco por cento dos jovens deixaram de responder a questão.
Com relação às informações acerca da sexualidade, DST/AIDS indagamos os jovens se recebem alguma informação na mídia, de qual veículo da comunicação recebem? Da totalidade dos pesquisados, setenta e cinco por cento responderam, o jornal, a revista, os filmes, as novelas, hino gospel, músicas que cantam na INSG. Os demais vinte e cinco por cento não responderam.
Referente ao conteúdo alusivo a sexualidade apresentado na mídia, noventa por cento respondeu que os assuntos se referem ao sexo com camisinha, vários cuidados, o do corpo, da vida e da saúde, citam que a fase da adolescência é complicada, e como se prevenir das doenças. Um jovem JF10J fala “O jornal fala tudo pra nós, temos que se ligar e cuidar do nosso corpo.” Um relato apresenta o que Foucault chama de incitação ao sexo, ao perceber a fala da JF11l “Eles orientam a praticar sexo e outras coisas”. Por fim os dez por cento optaram por não responder a questão. Por fim os dez por cento optaram por não responder a questão.
Quanto às posturas dos jovens frente às orientações transmitidas pela mídia, estes dizem que são ótimas boas para viver, às vezes boa, mais ou menos, dentre as respostas dos jovens, estas falas são provenientes de cinquenta por cento total de oito participantes, os outros cinquenta por cento optaram por não emitir seus pontos de vista. No grupo das jovens noventa e cinco por cento expressaram suas opiniões. Dizem que é bom para o futuro, é legal para aprender mais, ter cuidado com o corpo. Ressaltamos a JF16Q “As mulheres sofrem mais por terem que carregar um bebê no ventre”. Falam da situação da jovem que engravida, enquanto mulher “carrega” não apenas o bebê e sim as demais consequências. Os outros cinco por cento não apresentam suas considerações.
No que diz respeito às redes sociais, nosso intuito buscou compreender se os jovens acessam as redes sociais, já que é notário a maioria possuir aparelho de celular com acesso à internet, ou em casa possuem a internet via telefone fixo. Quarenta por cento respondeu que possui e acessa o Face book e WhatsApp, vinte por cento citou o Twitter e os demais quarenta por cento não responderam a questão.
Ao indagarmos os jovens a respeito dos conteúdos veiculados nas redes sociais, dos oito jovens do sexo masculino notamos que sessenta por cento não responderam, os demais quarenta por cento, trinta por cento falam dos aspectos positivos e dos negativos os demais dez por cento. Quanto à pesquisa com as jovens noventa por cento fazem alusão aos aspectos negativos, e dez por cento não responderam. A jovem JF15P fala “Eles colocam coisas sobre  sexo, como vídeos”, outra jovem continua a mencionar a negatividade das redes sociais “[...] não tenho, mas eu já ouvi falar que tem rede social que fala muita coisa ruim e colocam fotos de coisas que são besteiras e fotos de gente pelada” JF13N nessas afirmações, conforme  Foucault, percebemos nitidamente nas redes sociais a ‘colocação do sexo em discurso’. (FOUCAULT, 2005, p.16)
Quanto ao posicionamento dos jovens no que diz respeito às redes sociais trinta por cento não responderam, outros trinta por cento falaram dos aspectos negativos que veiculam nas redes, um jovem diz “Não gosto dessa coisa, nem assisto” JF9I.  Os jovens atribuem às redes sociais o ensino, “coisas erradas”, e não trás nada de bom isso é perceptível na contribuição da JF13N “[...] Que eu não tenho redes sociais, mas quem tem, passa [...] de uns para os outros”. Uma jovem fala que: “é a pior coisa, porque colocam coisas sobre sexo, fotos, vídeos, etc...”. Os demais quarenta por cento se referem que as redes são “mais ou menos” e, ainda um jovem fala que é bom, ao se referir aos amigos mesmo estando longe, podem se comunicar e “falar para eles cuidarem do corpo [...]” JM5E. Diante dos discursos dos entrevistados nas repostas acima, percebe-se as relações de poder nas redes sociais de forma clara, que se encontra na superfície, especificamente por meio da “incitação ao sexo”, (FOUCAULT, 2005, p. 17).     
Da totalidade dos pesquisados, cinquenta por cento expuseram que a pessoa de quem recebem informações acerca da sexualidade, das DST/AIDS na área da saúde é o médico, em segundo lugar, ou seja, vinte cinco por cento aparece afigura das enfermeiras e os demais vinte e cinco por cento citam as agente de saúde, postinho e um jovem diz que ninguém lhe orienta sobre cuidados.
Os conteúdos, na área da saúde os jovens expõem sobre a prática do sexo com segurança, sexo só com camisinha, ajuda na conscientização e cuidado com o corpo. Consideram segura a informação do médico, isto é exemplificado na resposta da jovem JF12M “Que é melhor receber dicas dos médicos”. Nesse discurso é notável nos jovens a confiança na figura do medico, pois consultam, falam da sua intimidade, e receberem as informações de quem detém o poder de curar, medicar, orientar sobre o cuidado do seu corpo. Esse profissional é um dos “policiais do sexo” na concepção de Foucault, “[...] Esta ideia de que a miséria sexual vem da repressão, esta ideia de que, para ser feliz, é preciso liberar nossas sexualidades, é no fundo a ideia dos sexólogos, dos médicos e dos policiais do sexo”, (FOUCAULT, 1979, p. 232).
Concernente ao que os jovens pensam, quais são os seus discursos sobre as orientações que lhes são oferecidas na área da saúde, percebemos que do total dos pesquisados vinte e cinco por cento não responderam, e setenta e cinco por cento consideram positivas as recomendações dos profissionais da saúde.
No que diz respeito e a sexualidade dos jovens, podemos observar esse aspecto no que expressa a jovem JF9I “[...] faço a vacina, eu gosto de ir ao postinho fazer vacina do HPV fiz 2 e em 2019 vou fazer a 3ª ”. Ressaltamos duas contribuições, uma representa o grupo do sexo masculino e outra o grupo das jovens do sexo feminino, ambos versam sobre a prevenção, o jovem JM3C diz que as informações “[...] são boas para sabermos como nos prevenir” e a jovem JF15P fala sobre o cuidado do corpo “[...]. Eles ensinam a cuidar da saúde para que não passemos doença e também para que não peguemos nenhuma doença”. Percebe-se aqui a relação entre os discursos acima mencionados e o biopoder, este visa o corpo disciplinado, assim como,  controlar as populações, para Araújo, [...] o poder gere apropria vida, a sexualidade sendo seu alvo e resultado, (ARAÚJO, 2000, p.163).  
Enfim, podemos dizer que nossas expectativas quanto à pesquisa foram superadas, pelo envolvimento dos participantes — jovens e responsáveis legais, pela diversidade de discursos e cosmovisões que dispusemos à análise, e pelo fato de que cada pesquisa é única, tem seu percurso próprio, não é possível seguir um esquema pronto e acabado, “linear”, conforme Foucault  afirma que cada processo no tempo específico de execução, terá sua característica particular. 
Foi muito gratificante compreender alguns fragmentos do pensamento de Foucault, ressalto alguns aspectos: estabelecer a denúncia, fazer a crítica, não julgar, às interpretações cabe a cada um conforme seu ponto de vista, cada um tem sua particularidade, um único conceito não serva para generalizações, uma interpretação não cabe a todos, poderia continuar, mas considero suficiente esta breve ilustração. Aos poucos senti uma grande afinidade com o teórico, e, isso possibilitou momentos de intenso aprendizado, ao acessar seu conhecimento, suas teorizações, ao estar em sua companhia por meio dos seus textos, esta postura diante do tema e dos teóricos, na produção de uma dissertação é imprescindível.  A dedicação à pesquisa, as inúmeras horas, dias e a administração de todas as questões que são inerentes ao processo de investigação acadêmica, nos proporcionou um imenso aprendizado. O que aprendemos também diz respeito à desmistificação diante da produção de uma dissertação, de pensamentos como: é difícil, impossível, errado — às vezes, se faz necessários ajustes ao que necessita ser arrumado — quando há disciplina, dedicação, a busca incessante de referências, bibliográficas e outros materiais, alguns disponíveis, sobretudo, foco na meta que se quer atingir é possível, sim, escrever, produzir saberes.
Os resultados que efetivamos ao realizar esta investigação se constituem na compreensão de que os jovens relacionam os temas juventude, sexualidade e DST/AIDS, ao observar, a seguir, a apresentação da síntese dos discursos explicitados, os quais versaram acerca da relevância do cuidado com o corpo; de praticar sexo com seguro; de usar preservativo para assim evitar as doenças; em recebem orientações a respeito dos cuidados com seu corpo; que o poder sobre seus corpos é exercido pelas figuras do pai e da mãe, alguns citam parentes como tia, tia, prima, avó alguns jovens atribuem a Deus; no SCFV, na INSG, recebem orientações de cuidado com o corpo, consideram legal, “boas para a vida”. Em relação ao poder e a disciplina mencionam que o poder está em muitos lugares, na rua, no “skate”, no mercado, na escola em casa; consideram que a disciplina é legal, é necessário obedecer e que alguns jovens precisam de disciplina. Demonstram confiança nas orientações que recebem da área da saúde, com destaque ao profissional liberal, médico; no que tange ao corpo, uma jovem fala do cuidado que deve ter para que Deus possa habitar num corpo puro. 
Ao concluir este estudo onde as reflexões pautaram-se em apresentar os discursos dos jovens lageanos do SCFV de Lages, de um espaço de educação não formal sobre sexualidade e a sua relação com as DST/AIDS, percebemos ao estudar a concepção de sexualidade em Foucault, que os jovens estabelecem relações entre a sexualidade e as DST, bem como, o fato de que Foucault continua sendo atual, basta observarmos na atualidade que continuamos a presenciar nos bas-fonds, o que Foucault denomina “incitação ao sexo”, percebemos na mídia, em espaços de exposição de publicidade, em toda parte da cidade uma espécie de campanha maciça — presente também nas novelas, revistas, letras de músicas, internet, corpo de mulheres jovens ao lado de grandes marcas de automóveis —neste contexto, é notório as relações de poder e saber que se discimina em rede e assim se concretiza a governamentalidade — a arte de governar e controlar a população por meio de estratégias, técnicas como incitar, neste caso, os jovens ao sexo.
Finalmente, consideramos a partir da realidade onde vivem os jovens nos seus discursos, que foi possível dar visibilidade ao que os jovens têm a dizer, e estas falas se construíram em denúncias dos jovens ao governo, ao poder e ao saber permeados nos micros espaços, ao mesmo tempo em que se configuraram em crítica no que diz respeito à formulação de políticas sociais voltadas à juventude e ações que visem o cuidado da vida, a prevenção às DST/AIDS. Assim como é mister compreender os discursos dos jovens, em especial no que tange a sexualidade à luz do pensamento de Foucault, a perspectiva genealógica,  às relações de poder presentes em todos os micros espaços sociais, em especial no que diz respeito à História da Sexualidade e suas múltiplas dimensões no percurso histórico da educação.
Referências
ARAÚJO, Inês Lacerda. Foucault e a crítica do sujeito. Curitiba: UFPR, 2000.
Ariès, P. História social da criança e da família. Trad. Dora Flaksman. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981.
Castro, M. G. Abramovay, M.; SILVA, L. B. da. Juventudes e Sexualidade. Brasília: UNESCO, Mec Coordenação Nacional de DST/AIDS, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Instituto Airton Senna, 2004.
Dreyfus, H. L., & Rabinow, P. (2010). Michel Foucault, uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica (V. P. Carrero, Trad.) (Coleção Campo Teórico). Rio de Janeiro: Forense Universitária. (Original publicado em 1983)
Fischer. M. B. Rosa. Foucault e a análise do discurso em educação. Cadernos de Pesquisa, n. 114, npo. 1ve9m7-b2r2o3/, 2 n0o0v1embro/ 2001.
Foucault, Michel. Microfísica do Poder. Org. e Trad. Roberto Machado. 1 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.
Foucault, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel Ramalhete. 29. Ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
Foucault, Michel. História da sexualidade 1: a vontade de saber. 16 Ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2005.
Foucault, Michel. História da sexualidade 2: o uso dos prazeres. 11 Ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2006.   
UNVPA- Fundo de População das Nações Unidas. UFPA — Direitos da População Jovem – Um marco para o desenvolvimento. 2ª. Ed. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro, 2010.
Superintendência de Comunicação Corporativa da Caixa Seguros. REVISTA Juventude Comportamento e DST AIDS, 2012.

*Mestre em Educação pela Universidade do Planalto Catarinense  UNIPLAC.
** Doutora em Educação e Pesquisadora do PPGE da UNIPLAC

Recibido: 21/05/2018 Aceptado: 07/06/2018 Publicado: Junio de 2018


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