Anna Caroline Oliveira dos Santos *
Rodrigo Batista de Oliveira **
Universidade do Estado do Amazonas, Brasil
annaholiveira978@gamil.com.brRESUMO
Este artigo tem por objetivo retratar sobre a gastronomia do Município de Maués, suscitando questionamentos quanto ao fato de haver ou não um prato típico local que o associe como um fator que possa estar atrelado a um produto/atrativo turístico. O estudo baseou-se em pesquisa de campo, de sentido qualitativa, realizada há algumas pessoas inseridas neste meio, objetivando, principalmente, levantar as informações acerca do exposto, para assim subsidiar este estudo. Os resultados demonstram uma probabilidade em poder contribuir com a sociedade, uma vez que são notoriamente perceptíveis e excepcionalmente fundamentais para solucionar os problemas apresentados. Portanto, este trabalho é de fundamental importância, pois retrata sobre a cultura, os costumes e tradições de um povo que devem ser levadas em consideração quanto há uma culinária rica e própria da região, ressaltando que é isso que também identifica um povo, que apresenta a sua identidade.
Palavras-chave: Povo. Culinária. Identidade.
ABSTRACT
  This  article aims to portraying about  Maués’  gastronomy, raising questions whether or not there is a typical local dish that  associate it as a factor which may be tied a tourism product. The study based  on a field survey, of qualitative sense, performed there are some people  inserted in this, mainly objecting, raise the information when exposed, this support  this study. The results demonstrate a probability able to contribute for  society, since they are notoriously noticeable and exceptionally fundamental to solve the problems  diagnosed. . Therefore, this work is of fundamental importance, because it  portrays the culture, the customs and traditions of a people which must be  taken into account as well as a rich and proper cuisine of the region,  emphasizing that what also identifies a people, which shows your identity. 
  Keywords: People. Cookery. Identity. 
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: 
Anna Caroline Oliveira dos Santos y Rodrigo Batista de Oliveira  (2018): “A gastronomia como produto turístico em Maués: ¿Existe um prato típico de comida local?”, Revista Caribeña de Ciencias Sociales (febrero 2018). En línea:
 https://www.eumed.net/rev/caribe/2018/02/gastronomia-produto-turistico.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/caribe1802gastronomia-produto-turistico
O Turismo é  considerado um elemento importante no processo civilizatório e atualmente tem  sido considerado por muitos, como mais uma alternativa econômica nos espaços  territoriais e culturais. Para Santana (2009), o desenvolvimento de  qualquer forma de turismo em determinada área inevitavelmente afeta a vida das  populações residentes, além de alterar claramente o ambiente físico, assim a  atividade turística utiliza o meio ambiente como atrativo principal, o qual é muito  perceptível em Maués, cujas belezas naturais são notoriamente vistas.
   Porém,  observou-se que no município de Maués, mesmo com uma demanda significativa de  turistas que buscam principalmente as suas praias exóticas, ainda assim, a  gastronomia da cidade é considerada muito singular.  A gastronomia de Maués não é vista como um  produto turístico, haja vista que não possui um prato típico local, enfatizando  ainda mais a  vontade e o interesse em buscar conhecer mais sobre esta temática.
   Com base  nisso, esse trabalho versará sobre a culinária local, enfocando o município de  Maués, haja vista que embora seja uma cidade turística, há indícios que a mesma  não possui um prato típico local, colaborando para que a gastronomia local não  seja considerada como mais um atrativo/produto turístico.
   Pode-se  dizer que a história mundial da gastronomia inicia-se há 500 mil anos, quando o  homem passa a dominar o fogo, pois até então, sua alimentação baseava-se na  coleta de frutos e consumo de alimentos crus. Com essa nova habilidade em suas  mãos, as chamas de uma fogueira passam não somente a ser uma forma de segurança  contra ataques de predadores noturnos, mas também uma forma de mudar sua dieta  tornando assim a carne de caça mais palatável e com a cocção do alimento, o  homem não só passou a dar início ao desenvolvimento de seu paladar, mas também  começou a observar que alimentos cozidos eram mais digestivos e demoravam mais  para deteriorar, surgem então, as primeiras técnicas de conservação dos  alimentos (FREIXA & CHAVES, 2009).
   Para muitas pessoas a gastronomia está associada ao  simples fato de comer e satisfazer a sua necessidade biológica, mas para Luís  da Câmara Cascudo “comer é um ato orgânico que a inteligência tornou social”  (CASCUDO, 1883,p.44). Para Brillat-Savarin, que é  considerado por muitos o pai da ciência gastronômica, ele diz que “o prazer da  mesa pertence a todos os outros prazeres, e é sempre o último para nos consolar  da perda destes” (BRILLAT-SAVARIN, 1995: p.15), e ainda, segundo este autor,  os conhecimentos de gastronomia deviam ser  necessários para todos os indivíduos, porque assim, aumentariam a proporção de  prazer que lhes é destinado.
   A  gastronomia brasileira é reconhecida por ter excelentes temperos e aromas  utilizados em nossos pratos, resultado de nosso clima e solo favoráveis, sendo  que o Brasil possui uma rica culinária, uma vez que cada região possui suas  próprias características, com origens em marcas do passado e na geografia que  determinam sua comida típica, por vezes até exóticas para outras regiões. Para  Mascarenhas (2007) “a gastronomia deve ser analisada pela sua variedade, fruto  da heterogeneidade cultural em que a grande riqueza está na diversidade”.
   Sendo assim, ainda segundo Mascarenhas (2007):
   a culinária brasileira é o  maravilhoso resultado da fusão aculturada de hábitos alimentares do português  colonizador, do indígena e do escravo africano, através de pratos gostosos que  falam das raízes e que simbolizam a região, sofrendo constantes modificações de  cunho local, econômico, político e cultural. Tendo como base ingrediente como  abóboras, batata, aipim, inhame, cará, feijões de diferentes espécies, arroz,  carne de peixe, suínos e boi, farinha de mandioca, leite e ovos, e estes, com a  capacidade de misturar sabores do brasileiro com processos fáceis de cocção,  fizeram a nossa culinária rica e variada (MASCARENHAS 2007,p.45).
   No Amazonas, a culinária é muito eclética, mas é  elaborada à base de peixes, com destaque para o pirarucu e o tucunaré, a qual  foi diretamente influenciada pela cultura indígena. Geralmente, seus pratos são  acompanhados por pirão e temperados com pimenta, herança dos índios que não  conheciam o sal, e também incrementados por algumas frutas típicas da região,  como: o buriti, o cupuaçu, açaí, a graviola e outros.
   Em relação ao município de  Maués, a culinária é rica, possui uma variedade de pratos consumidos pelos  munícipes, bem como pelos visitantes, onde a culinária mauesense possui influência  indígena. Este tem  buscado e utilizado, como forma de colaborar com o desenvolvimento econômico  local, atrativos culturais e naturais que despertam nos visitantes o interesse  em conhecer a cidade, haja vista que a mesma possui um produto local, a qual  faz com que a cidade seja conhecida mundialmente, no caso o guaraná 1.  Porém, o município ainda não possui um prato típico que identifique ou associe  o guaraná como o carro chefe da gastronomia local.
A comida típica que representa uma tradição não necessariamente faz parte do dia a dia de seu povo, o importante é que ela desperta um sentimento de apropriação, que faz com que a comida vista a “roupagem” de seu país de origem (REINHARDT,2007, p.19).
Neste contexto, observou-se que a gastronomia não é  vista como um atrativo/produto turístico, haja vista que não possui um prato  típico que possa identificá-lo como tal e foi com esta perspectiva que este  estudo ganhou ênfase, uma vez que pretende entender um pouco mais sobre esta  problemática, bem como levantar possíveis soluções para tal.
   Com base nas afirmações citadas cima, este trabalho visa  investigar as potencialidades da gastronomia como produto turístico da cidade  de Maués, bem como averiguar se a gastronomia de Maués pode ser considerada  um produto turístico, além de apontar se existe um  prato típico local e retratar a importância da gastronomia local frente  ao setor turístico, buscando promover e propiciar tanto aos moradores locais,  bem como aos visitantes mais possibilidades de degustarem comidas diferentes,  proporcionando satisfação. 
   Para o desenvolvimento  deste trabalho, foi feita uma pesquisa de sentido qualitativa, onde buscou-se  através de um questionário aplicado a 03 pessoas de áreas diferentes e que  estão concomitantemente atreladas ao turismo no município, ressaltar  especificidades que embasarão e nortearão este estudo.
   A pesquisa foi  realizada no município de Maués, com o proprietário de uma pousada, e por  conseguinte participou do 1º Concurso de comida gastronômica da cidade; um dono  de uma lanchonete, que também foi jurado no concurso, como também por turista.
   Este trabalho segue  estruturado apresentando a introdução, a qual fará uma abordagem do que vai ser  explorado na pesquisa, em seguida apresenta o referencial teórico que embasará  todo o trabalho e por conseguinte a análise dos dados, o qual foi explorado  usando do sistema empírico para evidenciar os fatos mencionados e por último,  apresenta suas considerações finais acerca do que foi abordado e explorado no  trabalho.
   Portanto, este trabalho além de contribuir  significativamente para o meio acadêmico, bem como para a sociedade em geral,  torna-se de extrema importância para a economia do município em questão, pois  se levado em consideração todas às questões suscitadas, pode-se perceber que a  gastronomia também é um dos fatores preponderantes do setor turístico e como  tal, possibilita o desenvolvimento local.
A alimentação e a cultura estão intimamente relacionadas, uma vez  que o gosto mesmo se apresentando como individual, está diretamente ligado às  condições culturais e sociais, pois alguns pratos colaboram para formar a ideia  da identidade nacional, como, por exemplo, a paella na Espanha, a massa na Itália,  o sushi no Japão, a guacamole no México e a feijoada no Brasil, e  em muitos casos, muitos desses lugares são visitados atraindo os visitantes segundo  a gastronomia que oferecem (FERNÁNDEZ-ARMESTO, 2001).
   Para alguns  autores, a gastronomia é parte fundamental da cultura, e através dela somos  capazes de conhecer as múltiplas culturas existentes no mundo. Schluster (2003,  p.11) destaca sobre isso, ao relatar que “a busca pelas raízes culinárias e a  forma de entender a cultura de um lugar por meio de sua gastronomia está  adquirindo importância cada vez maior”. Savarin (1995) concorda com a autora ao  discorrer que: 
   A gastronomia é um dos principais vínculos da sociedade; é  ela que amplia gradualmente aquele espírito de convivência que reúne a cada dia  as diversas condições, funde-as num único todo, anima a conversação e suaviza  os ângulos da desigualdade convencional ( Savarin 1995, p. 143 ). 
   Alguns  autores mostram a necessidade de um conhecimento maior sobre a temática, Cooper  (2001) enfatiza que: “a gastronomia é um componente importante da oferta de um  destino turístico, pois todos os turistas necessitam de se alimentar”. Com  isso, afirma-se que a gastronomia vem tomando lugar de destaque dentro do setor  turístico, uma vez que não apenas oferece alternativas de lazer e  entretenimento, como se beneficia do fluxo turístico que se cria em torno de  roteiros e destinos. 
   Relativamente à  problemática da pesquisa, pretende-se abordar o problema da gastronomia a partir  das seguintes categorias de análise: como cultura alimentar, como produto  turístico e como cultura local, as quais subsidiarão este estudo. 
  2.1 A  Gastronomia como cultura alimentar 
   A gastronomia é desenvolvida dentro de princípios  científicos e técnicos alicerçados em anos de descobertas e experiência que  visam equilibrar sabores e ingredientes, com finalidades não só de cunho  estético, mas também de harmonização dos diversos elementos que compõem as  necessidades nutricionais do individuo (LEITE, 2004).
   Assim,  pode-se dizer que a cultura alimentar é representada através da “gastronomia”  que, segundo Caturegli (2011), a palavra vem do inglês gastronomy que é “a arte  de comer bem, o estudo, o conhecimento e a prática referente ao preparo e a  degustação de iguarias em geral”. Para Leite (2004):
   O acesso a diversos  sabores e tipos de comida geralmente se origina a partir de um costume  familiar, uma prática cultural ou um hábito social – a cultura alimentar (Leite,2004,p.19). 
   Autores  como Fagliari (2005) fala que a gastronomia é: 
   Conhecimento  racional de tudo que diz respeito ao homem quando se alimenta. [...] os  reconhecimentos relacionados à arte culinária ou ao prazer de apreciar  alimentos ( Fagliari 2005, p. 3).
   
   Savarin (1995,  p. 57) segue o mesmo raciocínio, pois relata que “a gastronomia é o  conhecimento fundamentado de tudo o que se refere ao homem, na medida em que  ele se alimenta”. Por sua vez, Lohmann e Neto (2008, p. 92), falam que “o termo  ‘gastronomia’ refere-se à arte ou a ciência da fina cozinha”.  De acordo com os relatos destes autores, a  gastronomia abrange o alimentar-se em toda a sua totalidade, a sua cultura, o  seu modo de preparo, os seus ingredientes, o local servido, o prazer em  saborear o alimento, enfim tudo relacionado à culinária e sua arte.
   Da-Matta  (1986, 1987) retrata que a comida não é apenas uma substância alimentar, mas é  também um modo, um estilo e um jeito de alimentar-se.
2.2 A  Gastronomia como Produto Turístico
   A  prática do turismo pode ser considerada uma atividade transformadora do espaço,  e para isso necessita da existência de uma organização dentro do setor, a fim  de promover e beneficiar os locais receptores por meio de sua produção e  prestação de serviço. Porém, para implantação desse novo modelo econômico no  município, é preciso compreender o funcionamento do sistema turístico para  viabilizá-lo na localidade, de forma que a cidade possa oferecer os serviços  com um nível de qualidade que possa atender as necessidades dos visitantes, de  acordo com França (2005).
   Partindo  deste contexto, observa-se e associa-se a importância de um produto turístico  no setor gastronômico. Para os autores Dias e Casar (2005, p. 183) discorrem  que “produtos turísticos são os bens e serviços oferecidos no mercado para  satisfazer às necessidades e os desejos das pessoas”, esse conceito engloba os  produtos na visão do marketing. Mas, especificando sobre o produto turístico,  eles explanam que: 
O produto turístico pode ser compreendido como uma série de produtos individualizados e que, ao se agruparem, tornam-se o produto turístico em si, do ponto de vista do consumidor. (DIAS; CASAR, 2005, p. 184).
Sobre o assunto França (2005, p. 33) reforça  dizendo que “o produto turístico corresponde ao conjunto de bens e serviços que  se oferece ao mercado [...] é formado por atrativos, facilidades e  acessibilidades”.  
   Então, se pegarmos  todos esses conceitos sobre o que é o produto turístico, e juntarmos,  formaremos um conceito que engloba todas as suas características, bem como suas  especificidades, logo, trataremos como um conjunto de bens e serviços, formados  por atrativos, facilidades e acessibilidade, que são comercializados, tendo  como intuito, satisfazer as necessidades dos turistas. Essa afirmação é uma interpretação  da declaração de Dias e Casar (2002, p. 65) que falam que:
A ideia de produto gerado por uma indústria está ligado ao conceito de que esse produto deve satisfazer as necessidades dos consumidores [...] o produto turístico pode ser considerado uma mercadoria e, como tal, é comercializado (DIAS E CASAR 2002, P. 65)
Em  se tratando da gastronomia como produto turístico, Barreto (1997) diz que: 
   A rede gastronômica (conjunto de restaurantes,  lanchonetes e similares com oferta alimentar) pode ser um equipamento turístico  ou um equipamento de apoio, dependendo de sua posição no núcleo. Se é a única  oferta alimentar do local, será um equipamento turístico. Se atende turistas  esporadicamente, será um equipamento de apoio [...] o tipo de usuário que definirá  se um equipamento é turístico ou não (BARRETO 1997, p. 39).
O autor citado acima,  fala sobre o produto turístico e classifica os equipamentos de alimentação como  um facilitador do produto turístico. Dando sequência, ele aborda diretamente a  rede gastronômica, explicando que ela pode ser tanto equipamento turístico,  como de apoio ao turismo, e conclui ressaltando que essa definição é feita pelo  tipo de público deste equipamento, se ele for frequentado por turistas, ele é  considerado equipamento turístico, o qual nos leva a refletir sobre a visão da  própria gastronomia dentro do município de Maués, com a sua cultura e  atratividade.
   2.3 A Cultura do povo  mauesense.
   Maués,  conhecida como a terra do guaraná, é uma das poucas cidades do Amazonas que  recebeu o nome de uma nação indígena, isso se deu ao número expressivo de  índios da etnia Sateré-Mawé que habitavam a área. Na língua tupi, Mau,  significa inteligente e ueu significa ave da família dos papagaios, daí a  palavra tem significado por papagaios falantes, o qual retrata um povo muito  inteligente e aguerrido, e Sateré, significa “lagarta de fogo’’ e é referência  ao clã mais importante dentre os que compõem esta sociedade, o que indica  tradicionalmente a linha sucessória dos chefes político.
   A  herança mais significativa desses indígenas para o município de Maués foi a  “descoberta” do guaraná e os conhecimentos adquiridos ao longo do tempo a  partir de seu cultivo. 
   Com  base nisso, pode-se afirmar que a cultura deste povo está diretamente associada  ao guaraná, a qual é refletida através de suas crenças, costumes e tradições.  Um dos ápices mais atrativos concernentes à cultura do município esta refletida  na festa em que se comemora a colheita do guaraná, pois é através desta, que se  podem observar as inúmeras manifestações culturais que são expressas no  município.
   A  festa do guaraná, a qual se comemora a colheita do fruto, é uma das principais  manifestações da cultura local, pois nela ocorre a escolha da rainha do  guaraná, que é considerada a jovem mais bela do município, sendo nomeada a  descendente nata da Uniawsap 2,  índia mais bela da tribo Sateré-Mawé, o qual segundo o mito do guaraná, esta jovem  ao ver o seu filho morto, arranca-lhe os seus olhos, e deste nasce o guaraná.
   Nesta  festa, as tradicionais apresentações, estão envoltas da lenda do guaraná e do  mito do guaraná, os quais diferem-se por algumas especificidades. Todavia,  ambas apresentam em seu teor a magnitude da representação deste fruto para a  formação cultural do povo local, bem como designa a sua identidade.
 
3.1 Área da Pesquisa
   O município de Maués localiza-se  na Latitude 3° 22’ 54” Sul e Longitude 57° 42’ 55” Oeste, estendendo-se por uma  área 39.991,067 km² e com População Estimada de 62.212 habitantes (IBGE, 2016).
3.2 Tipo de Pesquisa 
   Segundo Fonseca (2008,  p.86), a metodologia é a definição dos procedimentos técnicos, das modalidades  de atividade, dos métodos que serão utilizados na pesquisa. A metodologia  depende do tipo de pesquisa e dos objetos propostos. O desenvolvimento deste  trabalho, cuja temática foi a “A gastronomia  como produto turístico em Maués: Existe um prato típico de comida local?”, se  deu através de uma pesquisa qualitativa que segundo Silva (2000, p.20) “ é uma  relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vinculo  indissociável entre o mundo objetivo e subjetividade do sujeito que não pode  ser traduzido em números”. 
3.3 Universo da Pesquisa 
   Foram realizadas entrevistas com um empresário do ramo turístico local, o  qual é dono de uma tradicional lanchonete, um dono de pousada e um turista,  além de contar com algumas informações repassadas pela Secretaria Municipal de  Cultura e Turismo. As entrevistas foram feitas em diversos locais, tais como:  residência, na Secretaria de Cultura e Turismo, em uma lanchonete e na Praia da  Ponta da Maresia.
  3.4 Instrumento de Coleta de Dados
   A entrevista foi desenvolvida através de  perguntas abertas, bem como, utilização de questionários, tendo como principal  objetivo levantar e suscitar questões pertinentes à temática abordada com fins  de subsidiar esta pesquisa.
             3.5 Tratamento dos dados
   Os dados coletados  foram analisados a partir de gráficos, bem como as próprias respostas dos entrevistados  levantadas após a aplicação de um questionário, o que possibilitou uma visão  mais detalhada do objeto de estudo. 
4.1  A Gastronomia no Município De Maués
   O município  de Maués, localizado na região do Médio Amazonas, a 356 km de Manaus, é um  lugar que se destaca por suas paisagens com características singulares e que se  diferem das paisagens encontradas em outras localidades do Estado do Amazonas.  É conhecida também, pelos seus mitos e lendas, das quais, a mais famosa narra à  história de um casal jovem e apaixonado, de tribos rivais, que tiveram um  filho, porém este filho morreu e a índia mãe enterrou um de seus olhos, de onde  brotou o guaraná, foi cultivado por muitos anos pelos indígenas que habitavam  esta área, mas não se sabe ao certo se este fruto já era da região ou se foi  trazido de outras regiões, porém, acredita-se que este fruto já fazia parte  desta floresta, haja vista que os índios foram os pioneiros, é conhecido  mundialmente como a terra do guaraná.
   Hoje, o guaraná é considerado  o principal produto econômico do município, sendo considerado um atrativo  turístico e cultural da cidade, uma vez que possui a Festa do Guaraná que  celebra a colheita do fruto, a qual é realizada no mês de Novembro e esta, por  sua vez já está inserida no calendário de festas oficiais do Estado do  Amazonas, ressaltando as belas belezas naturais do local, bem como retrata em  sua festa os costumes, tradições e legados do povo Sateré-Mawé 3.  Em  relação ao turismo, este tem demandado um expressivo aumento na região, o qual  Trigo (2001, p.36) define turismo como “qualquer deslocamento que uma pessoa  faz fora de sua residência por um prazo superior a vinte quatro horas, desde  que, naturalmente, não seja para trabalho prolongado nem se trate de emigração”.
   O turismo é uma  atividade que vem crescendo nos últimos anos, tornando-se um dos maiores  segmentos em termos econômicos do mundo, e com tantas pessoas se deslocando, o  turismo é uma oportunidade de renda para muitas pessoas.  Para Faria e Carneiro (2001, apud Líbano e  Pereira 2006), a relação do turismo na busca pelo local dá-se, principalmente,  por meio da paisagem, transformada em produto a ser consumido, e com isso o  turismo nesta região ocorre, principalmente, por causa da paisagem atípica da região  amazônica.
   Em relação à gastronomia do município, este ainda  não possui um prato que o torne típico do mesmo, porém em sua maioria é  relacionado diretamente com pratos feitos à base de peixe.
   No ramo alimentício temos também uma variedade enorme de produtos feitos  à base de guaraná, dentre eles, destacam-se: o turbinado (bebida energética); o  licor de guaraná; o bolo, o pudim, o iogurte, o sorvete e o biscoito de  guaraná; trufas com recheio de guaraná, bem como o tradicional guaraná ralado,  o qual é muito consumido, o qual tornou-se o produto chefe do local. Porém,  infelizmente ainda não possuímos nenhum relato de termos um prato típico do  município que tivesse o guaraná como alimento principal do prato.
   Contudo, no mês de Maio, foi realizado 1º Concurso Gastronômico de  comida local no município de Maués, que tinha como finalidade, eleger um prato  típico do município, e este por sua vez tinha o objetivo um prato que tivesse o  guaraná, produto símbolo da cidade. O Guaraná podia estar presente ou na entrada,  ou no prato principal ou na sobremesa.
   Segundo relatos de um dos participantes L.D.A (2017), o concurso foi  muito tranquilo e proveitoso, pois mostrou uma diversidade de combinações de  pratos, que resultaram em uma explosão de sabores amazônicos.
  “nossa, participar deste primeiro concurso foi sem  dúvida um enorme prazer, pois através dele pude ver que o guaraná se bem  explorado ele faz combinações de sabores surpreendentes. O que mais me chamou  atenção foi ao fato das inovações, uma vez que tinham pratos já conhecidos, e  que nunca se assimilou com o guaraná. Gostei bastante do jaraqui frito com  vinagrete e molho de pimenta a base de licor de guaraná, gostei também da sopa  de carne ao molho de guaraná, e eu especificamente apresentei uma macarronada  ao molho pesto, tendo como um do ingredientes o guaraná. Quantos as sobremesas,  estas foram bastante variadas, indo deste trufas de guaraná, até mousses de  guaraná.” L.D.A (2017).
   Neste contexto, os pratos ofertados foram surpreendentes, e de certa  forma demonstraram que o município podia sim, apresentar e instituir um prato  típico local, usando a fruta símbolo da terra, como um produto/atrativo  turístico, uma vez que a cidade já é conhecida como a terra do guaraná.
   Para tanto, é feita uma ressalva quanto a este contexto, pois o  município em si, já possui vários produtos feitos à base do guaraná, e para tal  são comumente encontrados nas lojas da cidade, contribuindo assim com o  desenvolvimento econômico local.
   Para S.P (2017), conhecido como o barão do guaraná, estas diversidades  de produtos oriundos do guaraná estão cada vez mais ganhando espaço na  sociedade, e tem se mostrado um ramo a ser bastante explorado pela população  local. O barão do guaraná ganhou essa denominação por estar à frente de tudo de  que envolve o guaraná, levando ao conhecimento de suas propriedades,  estimulantes, energéticas e segundo o próprio da longevidade para o mundo  conhecer.
  “Faz muitos anos que cheguei a Maués, e  sinceramente me encantei de tal forma que não consigo mais me imaginar em outro  lugar. Vim do sul do país, onde o clima é completamente diferente, e mesmo com  as dificuldades para me adaptar a um clima imensuravelmente quente, ainda  assim, não troco este paraíso. Quando conheci o guaraná, fiquei fascinado, é  como uma história de amor, porque você se apaixona, e a cada dia é como se você  amasse ainda mais aquilo. É assim que sinto em relação ao guaraná, e com essa  identificação com o fruto, busquei estudá-lo, a experimentar em receitas  diferentes, a fazer mistura de sabores, bem como comecei a trabalhar como um  intermediador da venda de alguns produtos do guaraná. No inicio comecei  trabalhando com o bastão do guaraná, depois com o guaraná em pó, depois com  mix( mistura feita de bebidas energéticas), até chegar ao famoso turbinado, o  qual este produto me levou a conhecer vários lugares em diferentes países,  viajei por muitos lugares levando e apresentando o turbinado. Participei de  feiras, congressos, fóruns, seminários e em todos esses lugares o turbinado foi  ficando conhecido, até eu começar a ser chamado de barão de guaraná. Depois  comecei a trabalhar na preparação de outros produtos como a cachaça de guaraná,  o molho de pimenta até chegar ao licor de guaraná, que também está mundialmente  conhecido. Eu me sinto realizado, pois hoje tenho uma franquia no sul, e esta é  muito aceita, e a cada dia que passa sinto-me que a busca que pulsava em meu  peito cessou, pois encontrei enfim meu grande amor”. (S.P ,2017).
   Em seguida perguntou-se a uns turistas sobre quais os motivos que o  atraiam para a cidade, e estes responderam que, conforme o gráfico abaixo: 
Para os turistas Maués,  possui sua exuberância sim, a qual atrai a maioria dos turistas pelas belas  praias, pelas suas paisagens naturais, por oferecer alguns cardápios  diversificados, mas nada diferente de outros lugares do Estado, nada que a  torne única a ponto de atrai-los.
   Para o dono de uma  pousada L.D.A (2017), o setor hoteleiro tem sido muito  favorecido com as vindas de turistas para o município, mas, ressalta que a  maioria sempre pergunta se a cidade possui um prato que seja considerado a cara  da cidade, e que sempre tem que dar as mesmas informações:
  “Nós ainda não temos, mas  possuímos uma variedade de pratos que podemos preparar para vocês, desde pratos  mais simples, até aos mais exóticos.” L.D.A (2017).
   Para o dono de uma lanchonete tradicionalmente com produtos feitos de  guaraná, este ressalta que a busca é incessante, e que os turistas estão sempre  querendo associar a cidade a um paladar, mesmo que este seja de forma muito  singular.
  “gente, o que aparece aqui de turista procurando um  prato típico do município não é pouco não. Todas as vezes que os mesmos vêm até  a lanchonete, estes falam o quanto gostariam de voltar a Maués e poder comer um  prato que seja digno de um lugar maravilhoso como este. Eu sempre costumo falar  para eles que nós possuímos uma variedade que produtos feitos à base de  guaraná, e que eles podem dizer que a cidade tem sim, mas que ainda não sabe.” S.P (2017).
   Buscou-se também informações dentro da Secretaria Municipal de Cultura e  Turismo, a qual a secretária nos informou de forma muito sucinta e objetiva  sobre o exposto:
  Ainda não possuímos um prato típico do município,  mas estamos a caminho dessa nova etapa. Estamos promovendo cursos de culinária  regional, também já realizamos o 1º Concurso Gastronômico do município que  levou o 1 º classificado a apresentar o seu prato em uma feira gastronômica na  capital do Estado. ( Secretária Municipal de Cultura e Turismo,2017). 
   Baseado nas informações colhidas nas  entrevistas, somos levados a crer que o município de Maués ainda não possui um  prato típico local que seja considerado pelos turistas como um produto  turístico que venha despertar interesse em trazê-los para a cidade, mas que de  alguma forma, mesmo que de forma indireta, o guaraná como produto símbolo da  cidade, atrai uma certa curiosidade em experimentar iguarias feitas a base do  mesmo, e isso acaba ajudando.
Este artigo teve como objetivo retratar sobre  se há ou não um prato típico local que faça o município atrair os turistas para  o lugar, com isso o turismo se bem planejado pode trazer benefícios para a  sociedade local, gerando renda para os atores envolvidos diretamente na  atividade e proporcionando melhorias na infraestrutura da cidade, resultando na  melhoria da qualidade de vida dos munícipes.
   Ressalta-se também a importância  em oportunizar mais pessoas e capacitá-las para trabalharem com afinco para  combinar sabores amazônicos utilizando o produto principal da cidade que é o  guaraná, a fim de promover pratos diversificados e assim quem sabe consiga  classificar um prato que associe ao município.
   Precisa-se também que  seja promovido mais concursos para que assim as receitas possam ser exploradas  e abertas ao público, com o objetivo de massificar e dividir informações que  venham a contribuir para que o município de Maués possa ter um prato típico  local que faça com que se torne um produto turístico.
   É preciso também que se  faça mais investimentos para cursos de qualificação e capacitação nesta área, a  fim de contribuir para a sociedade possa aprender mais sobre a culinária local  e assim poder contribuir com o conhecimento que já possuem.
   Portanto, em vista de  tudo que foi mencionado acima somos levados a crer que o município de Maués  ainda não possui um prato típico local que identifique a cidade, tornando-se  consequentemente como mais um produto turístico capaz de atrair turistas para a  região, e que isso precisa ser urgentemente mudado. E quanto ao guaraná, este  por sua vez precisa ser mais explorado e somente assim será mais conhecido, o  qual permitirá que esta culinária local possa ser de fato reconhecida como tal. 
7. REFERÊNCIAS
CASCUDO, Luiz da Câmara. História da alimentação no Brasil. Belo Horizonte:Itatiaia; São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 1983.
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*Aluno (a) do curso de Tecnologia de Gestão em Turismo, na Universidade do Estado do Amazonas. E-mail: annaholiveira978@gamil.com.br