Revista: Atlante. Cuadernos de Educación y Desarrollo
ISSN: 1989-4155


PSICOLOGIA VIRTUAL: RESISTÊNCIA E POSSIBILIDADES

Autores e infomación del artículo

Daniela von Mühlen*

Universidade Luterana do Brasil

e-mail: danielavonm@gmail.com


Resumo
Tendo em vista as rápidas mudanças na área de tecnologias digitais aplicadas à educação, o presente trabalho tem como objetivo geral verificar as contribuições de tecnologias digitais no contexto atual da teoria e prática na formação do psicólogo. Para tanto foi realizada pesquisa bibliográfica com coleta de dados online relacionados com as temáticas de psicologia virtual, terapia online e TICs aplicadas ao ensino da Psicologia. Os resultados foram organizados em três capítulos teóricos: Formação do psicólogo x Tecnologias da educação; Ferramentas virtuais para atendimento psicológico; Terapia online. A análise dos dados de forma interpretativa possibilitou a apresentação destes levando em consideração a formação do psicólogo em nível de graduação e pode-se concluir, pela pouca quantia de material publicado de forma online sobre a temática proposta que, entre resistências e possibilidades do uso de tecnologias digitais no ensino da Psicologia existem uma série de debates e entraves que acabam prejudicando acadêmicos e profissionais recém formados, estamos vivenciando uma nova revolução industrial/tecnológica que exige do profissional competências e habilidades não desenvolvidas na universidade. A falta de acesso a estas tecnologias durante a graduação pode interferir diretamente na colocação deste profissional no mercado de trabalho.
Palavras-chave: TICs; psicologia virtual; terapia online; formação do psicólogo.

Resumen
En vista de los rápidos cambios en el área de las tecnologías digitales aplicadas a la educación, el presente trabajo tiene como objetivo verificar las contribuciones de las tecnologías digitales en el contexto actual de la teoría y la práctica en la formación de psicólogos. Para ello, se realizó una investigación bibliográfica con recopilación de datos en línea relacionada con los temas de psicología virtual, terapia en línea y TIC aplicadas a la enseñanza de la psicología. Los resultados se organizaron en tres capítulos teóricos: formación de psicólogos x tecnologías educativas; Herramientas virtuales para asistencia psicológica; Terapia en linea. El análisis de los datos de forma interpretativa hizo posible la presentación de estos teniendo en cuenta la formación del psicólogo a nivel de pregrado y se puede concluir, por la pequeña cantidad de material publicado en línea sobre el tema propuesto que, entre la resistencia y las posibilidades de uso En las tecnologías digitales en la enseñanza de la psicología hay una serie de debates y obstáculos que terminan perjudicando a académicos y profesionales recién graduados, estamos experimentando una nueva revolución industrial / tecnológica que requiere habilidades profesionales y habilidades no desarrolladas en la universidad. La falta de acceso a estas tecnologías durante la graduación puede interferir directamente con la colocación de este profesional en el mercado laboral.
Palabras clave: TIC; psicología virtual; terapia en línea; Psicólogo de formación.

Abstract

Given the rapid changes in the area of ​​digital technologies applied to education, the present work has the general objective to verify the contributions of digital technologies in the current context of theory and practice in the training of the psychologist. For this purpose, a bibliographical research was conducted with online data collection related to the topics of virtual psychology, online therapy and ICT applied to the teaching of Psychology. The results were organized in three theoretical chapters: Formation of the psychologist x Technologies of education; Virtual tools for psychological care; Online Therapy. The analysis of the data in an interpretive way made possible the presentation of these taking into consideration the formation of the psychologist at the undergraduate level and it can be concluded, due to the small amount of material published in an online way on the proposed theme that, between resistances and possibilities of the use of digital technologies in the teaching of Psychology there are a series of debates and obstacles that end up harming academics and newly trained professionals, we are experiencing a new industrial / technological revolution that demands of the professional skills and abilities not developed in the university. The lack of access to these technologies during graduation can directly interfere in the placement of this professional in the job market.

Keywords: ICTs; virtual psychology; online therapy; training of the psychologist.

Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Daniela von Mühlen (2020): “Psicologia virtual: resistência e possibilidades”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (marzo 2020). En línea:
https://www.eumed.net/rev/atlante/2020/03/psicologia-virtual.html
http://hdl.handle.net/20.500.11763/atlante2003psicologia-virtual




1. INTRODUÇÃO

O Conselho Federal de Psicologia rejeita a possibilidade de oferta do Curso de Psicologia na modalidade de Educação a Distância, nem mesmo de forma híbrida, mas tem resolução que viabiliza o atendimento online de psicólogos em consultórios virtuais. As matrizes curriculares dos Cursos de Psicologia não contemplam disciplinas voltadas ao uso de tecnologias digitais na prática da psicologia, mesmo assim existem várias pesquisas voltadas para a utilização de tecnologias como a Realidade Virtual e também aplicativos específicos ao tratamento psicológico.
            A pesquisa tem como objetivo geral verificar as contribuições de tecnologias digitais no contexto atual da teoria e prática na formação do psicólogo e tem como objetivos específicos, contextualizar o uso de ferramentas virtuais no atendimento psicológico; identificar as principais tecnologias utilizadas em terapia psicológica e apontar aspectos relevantes sobre as contribuições das tecnologias digitais para o trabalho do psicólogo desde sua formação.
            Este trabalho tem como motivação pessoal a preocupação com a resistência dos conselhos representativos da Psicologia em relação ao mundo digital atual, tanto no campo do ensino, quanto na prática clínica, comunitária, organizacional, hospitalar, escolar, etc. A pesquisa auxilia na desmistificação tanto da terapia virtual, como da utilização de ferramentais digitais em várias áreas de formação e atuação do psicólogo, contribuindo para a saúde mental da sociedade em geral, tendo assim sua relevância também para a Psicologia geral e acadêmica, bem como para o campo de pesquisa científica e pedagógica.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

            O assunto do momento é: tecnologias digitais aplicadas à educação, muito se fala, muito se estuda. Realmente existem diversas novidades e aplicabilidades de tecnologias no mundo da educação. A educação entrou na cibercultura com objetivo de não apenas inserir-se, mas fundir-se. Para muitos dos educadores modernos, a educação deve vir acompanhada de meios tecnológicos de aprendizagem.
Mas até pouco tempo atrás não era assim, o mundo muda cada vez mais rápido e nossas diretrizes educacionais, tão burocráticas, nem sempre conseguem acompanhar as mudanças. O ensino superior, os conselhos representantes de categorias profissionais e o mercado de trabalho não estão alinhados e parecem que vivem e trabalham em épocas diferentes.
Na área da Psicologia isso não é diferente, será abordada aqui a realidade da formação do psicólogo em tempos de cibercultura.
Foucault (2002, p.227) já dizia que “toda psicologia é uma pedagogia, toda decifração é uma terapêutica, não se pode saber sem transformar”. Psicologia e educação não devem ser separadas, uma depende da outra e ambas trabalham juntas sempre.

2.1 Formação do psicólogo x Tecnologias da educação

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) atualmente tem várias restrições quanto ao uso de tecnologias da informação e comunicação (TICs) na formação acadêmica do profissional psicólogo em nível de graduação.
Mesmo com pesquisas e incentivo do Ministério da Educação em relação a Educação a Distância (EaD) e outras modalidades de aprendizagem, o CFP se mantém rígido e contra a possibilidade de formação utilizando TICs. Scorsolini-Comin (2014, p. 451) traz, de forma geral, a legislação vigente em relação a educação a distância e semipresencial e suas possibilidades no ensino superior:

O Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, que estabeleceu as diretrizes para a oferta de cursos na modalidade a distância e a Portaria nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004, que autorizou as instituições de ensino superior a introduzirem na organização pedagógica e curricular de seus cursos superiores reconhecidos, a oferta de disciplinas na modalidade semipresencial, definida pela mesma portaria como quaisquer atividades didáticas, módulos ou unidades de ensino-aprendizagem centrados na autoaprendizagem e com a mediação de recursos didáticos organizados em diferentes suportes de informação que utilizem tecnologias de comunicação remota. (Scorsolini-Comin, 2014, p. 451)

            Para muitos profissionais ligados aos conselhos representativos de categorias, a EaD ou mesmo disciplinas semipresenciais não oferecem ao aluno as mesmas possibilidades de aprendizagem que a modalidade presencial e tradicional oferece. Muitas vezes isso pode ser um engano, visto já ser comprovada a eficiência dos meios tecnológicos na educação, mas principalmente do papel fundamental e inovador que o professor ocupa nesta modalidade, papel de mediador de conhecimentos e não apenas de transmitir seus conhecimentos aos alunos, o que ainda se vê muito em cursos presenciais.
Quanto ao papel do professor na EaD, Scorsolini-Comin (2014, p. 452) comenta sobre sua importância e sua real função, muitas vezes desconhecida pelos conselhos.
Sua função extrapola a consideração de um animador de aprendizagem, mas de problemáticas recentes, de questões ainda em formulação, de propostas que têm sido duramente criticadas pelo seu caráter considerado mercantilista e de distanciamento entre alunos e professores. (Scorsolini-Comin, 2014, p. 452)

            O que nos chama a atenção em relação a Psicologia, é que a nível de especialização, são inúmeros os cursos sendo ofertados na modalidade de EaD, cursos direcionados ao profissional psicólogo e que lhe confere título de especialista, após certificação do CFP.
Além disso, o CFP publicou em 2018 a Resolução número 11, de 11 de maio de 2018, onde regulamenta a prestação de serviços psicológicos realizados por meio de tecnologias da informação e da comunicação e revoga a Resolução CFP 11/2012 que tratava da delimitação do atendimento virtual apenas a orientações específicas em até 20 sessões. Um grande salto para a prática da psicologia. Se o CFP ainda está dividido e muitas vezes se mostra contraditório em suas resoluções e campanhas, como este assunto está sendo tratado nas universidades? Percebe-se que a prática profissional ainda está bem longe da teoria ensinada na graduação.
Faz-se necessário e urgente repensar a formação do psicólogo visando o desenvolvimento de habilidades científicas, teóricas e práticas, que lhe capacitem para atuar profissionalmente na identificação, intervenção e solução de problemas de relevância social para a realidade do terceiro milênio, ou seja, diminuir as fronteiras entre a universidade e o mercado de atuação e trabalho deste profissional.
Stoque (2016) fala sobre o uso de TICs atualmente nos cursos de graduação de Psicologia como sendo adotadas apenas para ilustrar e expor conteúdos em aulas expositivas, mas não parecem representar ou criar novos desafios didáticos.

Educar hoje é um processo mais complexo porque a sociedade demanda outro tipo de competências de todos os envolvidos no ato educacional, em especial professor e alunos. As TICs devem ser utilizadas a fim de provocar mudanças nos processos educacionais, desde que sejam articuladas com propostas didáticos-pedagógicas e seu efeito transformador será resultado de tais articulações. (STOQUE, 2016, p.92)

Atualmente, um grande número de recursos tecnológicos e midiáticos encontra-se a disposição da educação, mas muitos desses recursos ao invés de agregar qualidade ao processo de ensino e aprendizagem, acabam confundindo, desestimulando ou até mesmo dispersando a atenção dos alunos. Saber escolher, ou construir, um recurso tecnológico que venha ao encontro de uma boa educação passa a ser um desafio para todos os elementos envolvidos na educação de uma geração ávida por todo o tipo de tecnologia.
Segundo Mayer (2001, p. 187-198), em aplicações multimídias, normalmente, faz-se uso de recursos que utilizam mais de um canal de percepção ao mesmo tempo, como por exemplo, visão e audição, gerando sobrecarga cognitiva que pode levar a desorientação, e até mesmo, ao desestímulo do usuário. Algumas formas de carga cognitiva são consideradas úteis, enquanto outras desperdiçam recursos mentais.
Diante do volume de informações, dos recursos de interação, de animação, de sons e cores, os quais, muitas vezes, fazem parte das soluções usadas na educação, torna-se importante um conhecimento mais amplo sobre o processo cognitivo humano e de como ele pode ajudar a potencializar a aprendizagem.
A psicologia se envolve no estudo dos processos cognitivos humano, estuda e aplica técnicas, testes, avaliações, mas quando diz respeito a aplicação destes conhecimentos para a formação do psicólogo, muitas vezes parece um tema distante.
Sobre a formação do psicólogo, Stoque (2016, p.93) fala de desafios e necessidades urgentes.
Os psicólogos em formação precisam aprender a gerenciar este novo espaço e a integrá-lo de forma aberta, equilibrada e inovadora na formação. Cabe ao psicólogo aprender a gerenciar atividades mediadas pelas TICs, flexibilizando-se nos novos espaços e tempos para sua atuação. Neste sentido, destaca-se a importância de novos espaços formativos serem disponibilizados ao longo da graduação, viabilizando condições de ensino que permitam acesso e o desenvolvimento de competências que envolvam as TICs como ferramentas facilitadoras dos processos de ensinar e aprender.  (Stoque, 2016, p.93)

Muito mais do que mudanças curriculares e aperfeiçoamento de didáticas, existe a necessidade de uma mudança na postura do professor de Psicologia, muitas vezes ainda relutante ao uso e benefícios das TICs na educação. Com certeza nem tudo que é tecnologicamente viável é pertinente em termos educacionais, mas ampliar essas discussões se faz necessário para o contínuo aprimoramento dos cursos de psicologia e formação de psicólogos.
A seguir, vamos verificar algumas ferramentas virtuais já disponíveis e utilizadas pelo psicólogo formado e também algumas técnicas ligadas a tecnologia que, aos poucos, vão sendo adotadas pelas universidades para inserir o aluno no mundo digital, no qual ele irá atuar.

2.2 Ferramentas virtuais para atendimento psicológico

Apesar das comprovadas vantagens do uso da tecnologia na educação, o uso das TICs na formação de psicoterapeutas ainda é muito escasso na literatura brasileira.
Durante estágios em psicologia, os acadêmicos são acompanhados pelos professores através de supervisão, ou seja, encontros sistemáticos são realizados para relatos das atividades de estágio e orientações são feitas por parte do professor, normalmente as supervisões são feitas em grupo para intensificar debates e aprendizagens coletivas.
Em algumas universidades já é oferecida aos acadêmicos a opção de supervisão individual ou grupal via videoconferência. Segundo Stoque (2016), esta prática vem se mostrando muito eficaz, utilizando a desinibição dos supervisionandos como vantagem, salienta também as vantagens da utilização de portfólios eletrônicos com anotações sobre os casos atendidos pelo aluno, questões relevantes e trechos da sessão gravada em vídeo ou áudio para envio ao seu supervisor, que poderá encaminhar o portfólio com comentários e sugestões para todo o grupo de supervisão.
Outras práticas de uso de tecnologias utilizadas em supervisão são as supervisões ao vivo onde o estagiário poderá utilizar ponto eletrônico para ouvir em tempo real orientações de seu supervisor que estará acompanhando o atendimento a pacientes em uma sala de espelhos, por exemplo.
A realidade virtual também vem sendo empregada na formação de psicoteraputas, técnica esta útil para capacitar terapeutas no atendimento a pacientes de alto risco.
Os ambientes virtuais oferecem uma oportunidade para criar pistas e estímulos realistas capazes de envolver os formandos preservando o nível de segurança e fiabilidade na resposta do “paciente”. Também apresenta o uso de personagens virtuais para a criação de pacientes (...) autores destacam as vantagens desta tecnologia para o treinamento de habilidades como entrevista, diagnóstico diferencial e comunicação terapêutica. (STOQUE, 2016, p. 95)

Recursos de multimídia também são exemplos de tecnologias que podem ser utilizadas tanto em sala de aula nos cursos de psicologia, como em projetos e/ou atividades práticas realizadas por acadêmicos, elas podem afetar positivamente em vários aspectos do processo de aprendizagem. Lopes (2019, p.1-8) traz o uso de recursos multimídia para testar e desenvolver habilidades sociais em crianças conseguindo verificar resultados positivos tanto no desenvolvimento de habilidades sociais avaliadas pelos pais e pelos próprios alunos, como uma melhora no rendimento escolar avaliado pelos professores das crianças envolvidas em sua pesquisa. Os autores citam também a utilização de realidade virtual no desenvolvimento de habilidades sociais de indivíduos com transtorno do espectro autista e com esquizofrenia e os resultados também são comprovadamente positivos, pois aumentam a motivação, encorajam o envolvimento ativo na aprendizagem e proporciona a experiência de controle da situação pelo participante.
Estes e outros tantos exemplos de utilização da tecnologia e dos recursos de multimídia reforçam e incentivam a utilização das mesmas no processo de ensino-aprendizagem tanto dos acadêmicos de psicologia, quanto para a utilização em suas práticas. Se os psicoterapeutas em formação não tiverem acesso a estas tecnologias durante seu curso de formação, como poderão aplicar técnicas modernas e avançadas depois de formados?
Também podemos registrar aqui a possibilidade de utilização de aplicativos desenvolvidos especificamente para a área de psicologia como, por exemplo o Cognitus DBT Self-Help, aplicativo para psicólogos que desejam aprender mais sobre Psicoterapia Dialética Comportamental ou o DSM Reference, aplicativo para psicólogos que precisam consultar regularmente o DSM, ou ainda o ODK Collect, aplicativo para psicólogos que precisam de ajuda na confecção de questionários de diagnóstico e acompanhamento. Estes e outros aplicativos podem ser utilizados durante a formação do psicólogo e também em sua prática, assim como podem ser utilizados outros tantos direcionados para o uso de pacientes com transtornos específicos como ansiedade e pânico (ACT INSTITUTE, 2018).
As opções de uso de tecnologias na educação e psicologia são inúmeras, mas, sem sombra de dúvidas, o que mais está em pauta atualmente é a psicoterapia online, aprovada pelo CFP recentemente. A seguir vamos falar sobre as possibilidades que se abrem com a psicoterapia mediada por tecnologias de informação e comunicação, também em como este assunto está sendo tratado nas universidades durante a formação de psicoterapeutas.

2.3 Terapia online

            Desde 2012, o CFP aprovou uma resolução que autorizava aos psicólogos realizar atendimento online. Estes atendimentos eram bastante regrados e restritos a orientação psicológica em, no máximo, 20 sessões. Stoque (2016, p.92) destaca que “delineamentos que discutem as relações do uso das TICs em seus aspectos éticos, impactos na subjetividade e nas relações sociais, com enfoque nas consequências de sua utilização como ferramenta nos processos de psicoterapia” vem sendo realizados e em 2018 foi aprovada a nova resolução ampliando o alcance do trabalho do psicólogo com as TICs.
A nova resolução abrange psicoterapia mediada por TICs sem delimitar número de sessões, também normatiza o uso, conforme código de ética do psicólogo, dos testes psicológicos, processos de seleção, orientação vocacional, supervisão, entre outros. Todos estes benefícios podem e deveriam ser utilizados também por acadêmicos do curso de psicologia durante seu processo de formação, visto que a área de atuação vem se expandindo e a temática da terapia online, talvez por ser tão nova, ainda não está presente nos currículos e diretrizes dos cursos de psicologia.
Novamente nos deparamos com as práticas profissionais e solicitações do mercado de trabalho a frente das discussões e curricularização destas práticas no meio acadêmico. Muitas vezes os professores se afastam do mercado de trabalho para se dedicar a vida acadêmica e quando surgem assuntos relacionados a práticas recentes e modernas, não apresentam a expertise ou experiência para tratar destes assuntos no meio acadêmico.
Para que tenhamos um efetivo uso e correta aplicação das TICs na formação do psicólogo, temos que contar com professores antenados e que acompanhem as rápidas mudanças do mundo atual.
Ainda escutamos professores com receio de que as tecnologias irão substituir tais profissionais, está claro que quem pensa assim não se inteirou das práticas didático-pedagógicas estudadas, pesquisadas e desenvolvidas para atuação do professor no meio digital e os benefícios destas tecnologias na formação do psicólogo.
A terapia online traz várias possibilidades de promoção de saúde mental à sociedade, e aprender as técnicas utilizadas nesta modalidade de psicoterapia é essencial ao acadêmico de hoje, no entanto vemos poucos grupos de trabalho preocupados com o estudo desta modalidade, o que me parece ser uma resistência inútil e ultrapassada.

3. METODOLOGIA

            A presente pesquisa tem a abordagem qualitativa e segue os procedimentos de pesquisa bibliográfica com objetivo exploratório, pois proporciona maior familiaridade com o problema pesquisado, buscando torná-lo mais explícito.
A escolha pela abordagem de pesquisa qualitativa se deu por responder a questões muito particulares. “A abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações médias e estatísticas" (MINAYO, 2002, p. 22).
Os procedimentos da pesquisa bibliográfica foram feitos a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios eletrônicos. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002; MAZUIM, 2015).
A coleta de dados ocorreu por meio de pesquisas bibliográfica disponíveis na internet. Os artigos utilizados como fonte foram selecionados a partir de consulta das palavras “Psicologia Virtual”, “Terapia Online” e “TICs aplicadas ao ensino da Psicologia” no site de buscas “Google Acadêmico” sendo escolhidos aqueles de maior relevância e que poderiam contribuir e atender aos objetivos desta pesquisa.
Os dados coletados foram referência para construção deste artigo, buscando estabelecer uma conexão entre teoria e prática e construir um texto crítico desde o referencial teórico até as considerações finais.
A técnica para análise dos dados identificada como apropriada para o trabalho foi a interpretativa com base nas fontes pesquisadas e selecionadas. O paradigma interpretativo exige esforços específicos do pesquisador, incluindo as questões que ele propõe ao trabalho e as interpretações que ele traz como relevantes (DENZIN, 2006).
Por fim, é feita a análise e discussão dos resultados da pesquisa, bem como as considerações finais, apresentando também perspectivas futuras e mencionando possibilidades de aprofundamento na temática do assunto.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O tema sobre o uso de tecnologias digitais na formação e atuação do profissional de psicologia é vasto e polêmico. De acordo com as pesquisas bibliográficas realizadas, pode-se verificar que, ao mesmo tempo em que se produz muito material relacionado a prática do psicólogo no mundo virtual, em relação a tecnologias na formação acadêmica deste profissional temos pouco material relacionado.
Durante a coleta de dados, foram encontrados vários artigos relacionados ao tema psicologia virtual e terapia online, bem como artigos relacionados ao uso de tecnologias digitais na prática do profissional psicólogo e somente dois trabalhos realizados envolvendo a temática de formação do psicólogo e utilização das TICs durante o processo de formação.
Como o objetivo deste trabalhado foi verificar as contribuições de tecnologias digitais no contexto atual da teoria e prática na formação do psicólogo e objetivos específicos, contextualizar o uso de ferramentas virtuais no atendimento psicológico; identificar as principais tecnologias utilizadas em terapia psicológica e apontar aspectos relevantes sobre as contribuições das tecnologias digitais para o trabalho do psicólogo desde sua formação, mesmo com pouco subsídio teórico, conseguimos alcançar os objetivos pretendidos trazendo para análise a atual situação da temática proposta.
A análise dos dados de forma interpretativa mostra o quão afastado estão as práticas pedagógicas no ensino de psicologia, em nível de graduação, com a realidade da atuação deste profissional e das possibilidades de ampliação de aprendizado e atuação quando se familiarizando com as tecnologias já existentes e ainda a serem estudadas e implementadas.
Claro que não podemos generalizar, visto que a pesquisa foi realizada entre material publicado e acessível de forma online no Brasil nos últimos anos e não diretamente em Universidades que tem entre seu portfólio de cursos o Curso de Graduação em Psicologia. Talvez as práticas pedagógicas e inserção de tecnologias na formação do psicólogo estejam sendo realizadas, aos poucos, mas ainda não geraram impacto suficiente para publicação de material relacionado.
Relacionando o material pesquisado com a prática pessoal vivida tanto durante a formação, quanto na inserção no mercado de trabalho da Psicologia, tem-se o resultado aqui exposto de forma crítica e com objetivo maior de agregar conhecimento e provocar novos debates e ações na área de tecnologia digitais aplicadas à formação do psicólogo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se perceber que o tema e o “cenário” aqui estudados estão em constante modificação. O uso de tecnologias digitais avança rapidamente tanto na vida pessoal, quanto na profissional, a cultura digital vem crescendo e tomando espaço.
Na educação não poderia ser diferente, muitas pesquisas vem sendo realizadas, aplicativos, jogos e materiais didáticos interativos sendo desenvolvidos, distribuídos e utilizados. Apesar de toda esta mobilização em torno do assunto, ainda temos muita resistência por parte dos “não nativos digitais”, a geração que estudou e aprendeu de forma analógica e que ainda comanda os campos de trabalho e lidera grupos e instituições, tanto educacionais, quanto em diversos outros ramos.
O fato de estarmos em uma era dinâmica e digital, mas com a maior parte da força de trabalho intelectual vinda de uma geração que aprendeu analogicamente, influencia diretamente na dinâmica da inserção e efetivo uso de tecnologias na educação. O curioso é que o mercado de trabalho se mostra bem mais “antenado” e disposto a aplicar as modificações e esta mesma geração analógica tem acesso e “aproveita” os benefícios destas tecnologias, ou seja, usa as tecnologias diariamente para proveito próprio, mas tem resistência em utilizar para mediar a aprendizagem.
Mudanças rápidas, pesquisas morosas, burocracia entre outros aspectos também contribuem para não termos ainda no Brasil uma educação formal sendo oferecida com o uso efetivo de tecnologias no ensino presencial e a discriminação da EAD em áreas acadêmicas percebida pela resistência de professores e profissionais da educação formal presencial.
O ensino informal e a cultura estão anos luz a frente na utilização da informática, mas já se percebe nos últimos anos uma crescente disseminação de ideias aplicadas e embasadas em pesquisas sérias que dão apoio a utilização das tecnologias na educação. O avanço do ensino híbrido e da EAD é prova disso.
Nos cursos de Psicologia também se deve incentivar este debate e integrar teoria e prática desde o início do curso. Todo o plano político-pedagógico do curso pode e deve ser pensado com objetivo de inserir os alunos em áreas e ambientes realmente próximos a realidade vivida por ele e também seus futuros pacientes. O mundo digital, a cibercultura veio para ficar e trouxe rapidez e inúmeras possibilidades de conexão, acesso a informação, pesquisa e desenvolvimento também na Psicologia. O alcance virtual não tem limites, e dentro da ética profissional devem ser incluídas as tecnologias na aprendizagem como forma de incentivo e estímulo para a busca de conhecimento de forma contextualizada, integrada, ágil, moderna, dinâmica e eficaz.
Portanto, entre resistências e possibilidades do uso de tecnologias digitais no ensino da Psicologia existem uma série de debates e entraves que acabam prejudicando acadêmicos e profissionais recém formados, estamos vivenciando uma nova revolução industrial/tecnológica que exige do profissional competências e habilidades não desenvolvidas na universidade. A falta de acesso a estas tecnologias durante a graduação pode interferir diretamente na colocação deste profissional no mercado de trabalho.
Enfim, o assunto está longe de ser encerrado, pelo contrário é apenas o início da aproximação da Psicologia com as tecnologias.

REFERÊNCIAS

Act Institute. Conheça 8 tipos de aplicativos para psicólogos (e inspirados na área). Disponível em: <http://actinstitute.org/blog/conheca-8-aplicativos-para-psicologos-e-inspirados-pela-area/>. Acesso em: 07 de novembro de 2018.

Denzin, N. K.; Lincoln, Y. S. (2006) O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Porto Alegre: Artmed.

Fonseca, J. J. S. (2002) Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC. Apostila.

Foucault, M. (2010) A Psicologia de 1850 a 1950. In Ditos e Escritos I. Problematizações do Sujeito: Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise (pp. 133-151). Rio de Janeiro: Forense Universitária.

Lopes, D. C.; Prette, Z. A. P. D.; Prette, A. D. Recursos Multimídia no Ensino de Habilidades Sociais a Criança de Baixo Rendimento Acadêmico. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79722013000300004&script=sci_abstract&tlng=es>. Acesso em: 21 de março de 2019.

Mayer, R. E.; Heiser, J.; Lonn, S. (2001) Cognitive constraints and multimedia learning: when presenting more material results in less understanding; Journal of Education Psychology, V.93, N.1, 187-198.

Mazuim, C. H. R, et al. (2014/2015) Trabalhos universitários - projetos multidisciplinares. Cachoeira do Sul, RS: Agência Texto Certo.

Minayo, Maria Cecília de Souza. (2002) Pesquisa Social. Petrópolis: Vozes.

Scorsolini-Comin, Fabio. (2014) Psicologia da educação e as tecnologias digitais de informação e comunicação. Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 18, Número 3, Setembro/Dezembro de 2014: 447-455. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-85572014000300447&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 10 de abril de 2019.

Stoque, F. M. V. (et al).(2016) Tecnologias da informação e comunicação e formação do psicólogo clínico. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas. 2016, 12 (2), pp. 91-99. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872016000200005>. Acesso em: 04 de abril de 2019.

*Tecnologias Digitais Aplicadas a Educação Universidade Luterana do Brasil Professora Orientadora Fabiana Lorenzi

Recibido: 28/01/2020 Aceptado: 06/03/2020 Publicado: Marzo de 2020

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