ARAUJO, José Júlio César do Nascimento*
Instituto Federal do Acre, Brasil
amadeus13julio@gmail.com
Resumo 
Discute a precarização do trabalho e da formação nos Institutos  Federais (IFs) sob o prisma do mundo do trabalho. A pesquisa aponta cinco  elementos deste processo de precarização do trabalho nos IFs após sua  institucionalização em 2008. Destaca-se  o fetiche da nova carreira nos IFs, a  verticalização do trabalho, a intensificação e o aumento da densidade laboral e  as mudanças na carga horária docente. Conclui-se que a reestruturação da Rede de Escolas Técnicas Federais no  Brasil em 2008, construiu um novo formato de trabalho que associado à  hibridização institucional (oferta de vários níveis de ensino em única  instituição), à fragmentação da carreira do  professor de Educação Básica Técnica e Tecnológica (EBTT), à  verticalização como uma prática administrativo-gerencial que leva à intensificação do trabalho docente que tem como síntese a  precarização da formação de professores.
Palavras –  Chaves: Precarização; Verticalização; Intensificação;  Carreira EBTT; Hibridização institucional  
It discusses the precariousness of work and training in the Federal Institutes (FIs) under the prism of the world of work. The research pointed out five elements of this process of precarious work in the FIs after its institutionalization in 2008. It highlights the fetish of the new career in the FIs, the verticalization of work, the intensification and the increase of the work density and the changes in the teaching timetable. It is concluded that the restructuring of the Network of Federal Technical Schools in Brazil in 2008, built a new working format that associated with institutional hybridization (offering various levels of education in single institution), the fragmentation of the career of the teacher of Basic Technical Education and Technology (EBTT), to verticalization as an administrative-managerial practice that leads to the intensification of teaching work that has as a synthesis the precariousness of teacher training.
Keywords: Precarisation; Verticalization; Intensification; Career EBTT; Institutional Hybridization
Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: 
ARAUJO, José Júlio César do Nascimento (2018): “A precarização do trabalho nos institutos federais de educação no Brasil”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (noviembre 2018). En línea: 
https://www.eumed.net/rev/atlante/2018/11/institutos-educacao-brasil.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/atlante1811institutos-educacao-brasil
A  intensificação do trabalho, como dimensão da precarização, configura-se como a  diminuição dos tempos mortos 1 de tal forma que o trabalho se torne cada vez mais denso, diminuindo sua  porosidade, seja entre os tempos intervalares seja entre carga de trabalho que  o docente precisa enfrentar para satisfazer suas necessidades básicas. Druck  (2011) elaborou uma tipologia da precarização do trabalho a partir da  classificação das problemáticas advindas das mutações do mundo do trabalho.  Para a autora, a precarização social do trabalho dá-se: pela vulnerabilidade  das formas de inserção e desigualdades sociais; pela intensificação do trabalho  e terceirização; pela insegurança e saúde no trabalho; na perda das identidades  individual e coletiva; pela fragilização da organização dos trabalhadores e pelo  descarte do Direito do Trabalho. Por isso, partimos desta totalidade mais  avançada - a precarização do trabalho docente, envolta em outros fenômenos com  tentáculos que perpassam todo o processo formativo, a formação do formador, dos  alunos e, também, a organização do trabalho nos Institutos Federais. Nossa  intenção é mostrar como esta categoria, a precarização do trabalho, está presente na realidade do fazer pedagógico  destas instituições, por práticas que, no limite da análise, intensificam o  trabalho. 
   Por ser a precarização é uma categoria polissêmica, neste trabalho o  conceito de precarização está associada à hibridização  institucional, à fragmentação da carreira do  professor de Educação Básica Técnica e Tecnológica (EBTT), à  verticalização como uma prática administrativo-gerencial que leva à intensificação do trabalho docente que tem como síntese a  precarização da formação de professores neste espaço nosso objeto de estudo2 .
  2.  METODOLOGIA 
   O método que fundamenta este trabalho é o  Materialismo histórico, na exploração das contradições do processo de  reformulação das instituições federais de educação profissional no Brasil, no  ano de 2008, que teve impactos diretos sobre o Trabalho nestas  instituições.  A utilização do  materialismo na mediação da relação entre: as condições de trabalho nos IFs,  sua expansão como política pública, pressupôs, como ponto de partida, as  contradições presentes na tal qual se apresenta. Os procedimentos  metodológicos, para alcançar os objetivos da pesquisa(vide nota 4), consistiram  na pesquisa bibliográfica, de campo (entrevista e aplicação de enquete sobre as  condições de trabalho) e pesquisa documental, analisados a partir da concepção  da pesquisa qualitativa. 
3. RESULTADOS
A reestruturação da  institucionalidade e da carreira da Rede, fundamentada nas Leis  n.11.892/08; 12.772/12 e 12.863/13 criaram  além de uma nova instituição, uma nova ‘carreira de professor’ que é flexível e  intensificada em sua gênese. A  nova carreira de 2008 nominou este profissional como professor de ensino  básico, técnico e tecnológico (EBTT).   Além disso, a lei n. 11.784/08 trouxe diversas mudanças e rupturas, prevendo como atribuições da Carreira do professor de EBTT:
   Art. 111. São atribuições gerais dos cargos que  integram o Plano de Carreira e Cargos de Magistério do Ensino Básico, Técnico e  Tecnológico, sem prejuízo das atribuições específicas e observados os  requisitos de qualificação e competências definidos nas respectivas  especificações:
   I - as relacionadas ao ensino, à pesquisa e à  extensão, no âmbito, predominantemente, das Instituições Federais de Ensino; e 
   II - as inerentes ao exercício de direção,  assessoramento, chefia, coordenação e assistência na própria instituição, além  de outras previstas na legislação vigente.
   § 1º Os titulares de cargos de provimento efetivo do  Plano de Carreira e Cargos de Magistério do Ensino Básico, Técnico e  Tecnológico, desde que atendam aos requisitos de titulação estabelecidos para  ingresso nos cargos da Carreira do Magistério Superior, poderão, por prazo não  superior a 2 (dois) anos consecutivos, ter exercício provisório e atuar no  ensino superior nas Instituições de Ensino Superior vinculadas ao Ministério da  Educação (BRASIL, 2008b).
   Com a edição do Decreto n. 6.095/2007 que propunha a transformação do  modelo de instituição de educação profissional e, posteriormente, com as  Chamadas Públicas n. 01/2007 e n. 2/2007 que reorganizaram a Rede sob um único  modelo, todas as instituições transformadas e criadas tinham o compromisso de  ofertar cursos superiores em tecnologia, engenharias e licenciaturas. 
   Porém,  como a Lei 11.784/2008 previa  apenas que o professor atuasse temporariamente no ensino superior, a saída mais  fácil, depois da edição da Lei n. 11.892/08  (BRASIL, 2008b), foi transformar a carreira dando a possibilidade a estes  profissionais ministrarem aulas tanto na Educação Básica quanto no Ensino  Superior. Comentando este processo, Brito e Caldas (2016) destacam que:
   Com a criação dos IFs veio também sua expansão e nessa  nova configuração todos seus câmpus deveriam ofertar cursos superiores em  licenciaturas plenas e/ou tecnologia. Isso acarretou uma demanda de  contratações de profissionais do magistério e administrativos que gerou  problemas, como a criação da nova carreira do magistério do EBTT, tendo em  vista que a existente não supriria tais necessidades, pois teriam de contratar  novos professores de ensino médio técnico para ministrar aulas nos cursos  profissionalizantes, ou seja, professores de 1º e 2º graus e também outros  professores da carreira de magistério superior para ministrar aulas em nível de  graduação para os cursos licenciaturas, tecnólogos e pós-graduações lato e stricto sensu (p.88). 
   A política do Governo  Federal e do Ministério da Educação caminhou para promover, ‘a toque de caixa’,  o processo de reorganização da Rede de Educação Profissional a fim de que essa  atuasse de maneira integrada com outras políticas de desenvolvimento e com  atuação regionalizada em todo território nacional. O rito estabelecido no  decreto para esta transformação foi: a) celebração de acordo entre Instituições  Federais de Educação Profissional e Tecnológica, que formalizou a agregação  voluntária de CEFET, Escolas Técnicas Federais, Escolas Agrotécnicas Federais e  Escolas Técnicas vinculadas às Universidades Federais, localizados em um mesmo  Estado; b) elaboração um Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI; c)  aprovação da proposta nos órgãos superiores de gestão de cada uma das  instituições envolvidas.
   Este movimento da  criação da institucionalidade impactou diretamente a carreira. Pois, se criou  uma carreira nova no magistério brasileiro. Porém, sem igualar esta carreira  com a mais relevante no magistério nacional -   a do magistério do ensino superior. Além disso, o governo mudou a regra  em dezembro de 2012, com a edição da Lei n. 12.772/12, criando duas carreiras e  uma regra para quem entrasse antes e depois de 1º março de 2013.
   Portanto, há duas  carreiras no magistério federal brasileiro. Mesmo que o professor de EBTT tenha  que trabalhar com o ensino superior sua carreira não corresponde ao de  professor de Magistério de Ensino Superior, pois, a Lei n. 11892/08 equiparou  os IFs às Universidades Federais, mas não equiparou a carreira dos  profissionais que atuam nestas instituições. Em 2013, a lei 12.863 estabeleceu  as classes da carreira EBTT como:
   Art. 1. § 3o  A Carreira de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico é composta das  seguintes classes, observado o Anexo I:
   I - D I;
   II - D II;
   III - D III;
   IV - D IV; e
   V - Titular. (BRASIL,  2013a).
   Em comparação com a  carreira anterior foi suprimida a classe D-V e a classe D-IV que tinham apenas  um nível, passaram a ter quatro níveis. Assim, parece haver uma uniformização  da estrutura das Carreiras do Magistério Superior e de EBTT, com a diminuição  de níveis. Porém, não existe, via de regra, uma unificação das carreiras. 
   Como contradição, o  governo estabeleceu o Reconhecimento de Saberes e Competências (RSC) como  característica apenas da carreira de professor de EBTT. O RSC é uma espécie de  ‘prêmio de consolação’ para os professores de EBTT.  Sem ter a titulação exigida para acender a  classe, o professor faz jus à Retribuição por Titulação (RT) ao comprovar  atividades de ensino, pesquisa e extensão, mas por outro lado só faz progressão  entre as classes com o tempo de trabalho, pois não possui ainda o título  exigido para tal fim. Ao estabelecer o RSC 3 apenas para os professores EBTT, o governo também sinaliza uma cisão entre as  carreiras, pois os professores do magistério superior mesmo cumprindo os mesmos  requisitos só recebem a RT após conseguir a titulação exigida.  
   Por outro lado, o  professor do Magistério Superior não está submetido à verticalização de suas  atividades laborais, fato que é intrínseco à carreira de professor de EBTT e  que impacta diretamente o trabalho deste docente. O elemento novo da carreira é  a atuação verticalizada do docente. A verticalização pressupõe, como já  referimos, que a instituição deve desenvolver níveis, etapas e modalidades  diferentes e, com isto, o professor deve também atuar em níveis, etapas e  modalidades distintas.
   Porém, este fato leva o professor de EBTT a  trabalhar de maneira vertical diversos níveis de ensino, o que intensifica o  trabalho docente e precariza o fazer deste profissional, como discutiremos na próxima seção. 
As  funções do professor de EBTT estão definidas na lei de criação dos IFs (Lei n.  11.892/08), no artigo 6º. Nesta se estabelece que:
   Art. 6º Os Institutos Federais têm por finalidades e características: I -  ofertar educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e  modalidades, formando e qualificando cidadãos com vistas na atuação  profissional nos diversos setores da economia, com ênfase no desenvolvimento socioeconômico  local, regional e nacional; II - desenvolver a educação profissional e  tecnológica como processo educativo e investigativo de geração e adaptação de  soluções técnicas e tecnológicas às demandas sociais e peculiaridades  regionais; III - promover a integração e  a verticalização da educação básica à educação profissional e educação superior,  otimizando a infraestrutura física, os quadros de pessoal e os recursos de  gestão (BRASIL, 2008a, grifo nosso).
   A verticalização 4,  embora esteja citada apenas uma vez na lei que cria os Institutos Federais,  passa ser entendida como inovação pedagógica capaz de gerar novos processos de  ensino aprendizagem. Pois, segundo o discurso oficial, “a transversalidade e a  verticalização constituem aspectos que contribuem para a singularidade do  desenho curricular nas ofertas educativas dessas instituições” (PACHECO, 2011,  p. 20).  Por conseguinte, verticalizar  pressupõe:
   [...] que a  instituição deve desenvolver o ensino em todos os níveis e modalidades, ou  seja, ministrar educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente  na forma de curso integrado, para os concluintes do ensino fundamental e para  jovens e adultos, e ministrar cursos em nível de educação superior de  tecnologia e licenciaturas, bem como, bacharelado e engenharia, e ainda, cursos  de pós-graduação lato e stricto sensu (RIGHES, et al, 2014, p. 2540).
   Assim, a verticalização é uma  atualização desta concepção, pois, está inserida na concepção da  institucionalidade dos IFs, à medida que se instrumentaliza uma instituição  para desenvolver ensino em todos os níveis e etapas. Porém, este fato leva  ao professor de EBTT trabalhar diversos níveis e etapas de ensino, o que  intensifica o trabalho docente e precariza o “fazer” deste profissional. 
   Este  processo é ao mesmo tempo uma estratégia administrativo-gerencial e uma  estratégia pedagógica (FLORO, 2014). No que se refere à estratégia  administrativo-gerencial, está pautada em aumento da produtividade do professor  e da própria instituição, pois:
   [...]  o ponto de partida da criação dos IFs foi o aproveitamento da infraestrutura  física das escolas profissionais da Rede Federal, que foram cooptadas a assinar  um termo de adesão a Lei 11.892 abdicando da sua antiga configuração jurídica e  pedagógica em prol das diretrizes da nova (FLORO, 2014, p. 3075)
   Como estratégia  administrativo-gerencial a reestruturação da institucionalidade criou uma  grande rede pública de ensino federal técnico e superior (cursos de tecnologia,  bacharelado e licenciatura) ancorado no pressuposto da verticalização. Para RIGHES et al, (2014, p. 2540), os  fundamentos da verticalização: 
   Compreendem a  estágios distintos de formação, integrados e comunicativos, que envolvem o  trabalho, o conhecimento universalizado e a inovação tecnológica. Trata-se de  um contexto amplo, onde alunos, professores e pesquisadores formam o conjunto  de formadores do conhecimento. A eles atribui-se a responsabilidade de  desempenhar a transformação técnica do trabalho e da produção. Além disso, como  produtos das experiências de verticalização, as parcerias podem remeter a um  entendimento sobre a compreensão da educação, da ciência e da tecnologia, assim  como do trabalho e da produção, constituindo processos interdependentes na  construção do desenvolvimento social (RIGHES et al, 2014, p. 2540).
   Essa suposta originalidade da  verticalização como processo administrativo-gerencial estaria no cerne da  reestruturação da Rede e da institucionalidade. Porém, a oferta educativa para  diversos níveis, etapas e modalidades numa mesma instituição pauta-se pela  intenção clara de aproveitamento da estrutura física e humana destas  instituições na tentativa de fazer mais com menos. Por isso, a verticalização  não se limita somente as propostas formativas ou a estruturação dos cursos, “vai muito além  abraçando os mais variados aspectos da dinâmica institucional, principalmente  na precarização das condições de trabalho” (BERTUANI, 2013, p.05).
   De acordo com a Lei n. 11.892/08 e o  discurso goveridntal, a verticalização do ensino é considerada um processo  respaldado nas novas concepções da educação tecnológica no país e vai além dos  limites dos níveis de formação. Assim: 
   [...] a verticalização, por seu turno, extrapola a  simples oferta simultânea de cursos em diferentes níveis sem a preocupação de organizar  os conteúdos curriculares de forma a permitir um diálogo rico e diverso entre  as formações. [...] Como princípio de organização dos componentes curriculares,  a verticalização implica o reconhecimento de fluxos que permitam a construção  de itinerários de formação entre os diferentes cursos da educação profissional  e tecnológica: qualificação profissional, técnica, graduação e pós-graduação  tecnológica (PACHECO, 2011, p. 24).
   Ressalta-se que os IFs  em sua gênese nascem como instituições híbridas pelas transformações impostas  pela institucionalidade, como já nos referimos, pois se espera que ocorra a  oferta de cursos e vagas otimizando a estrutura física, de pessoal e curricular  existentes. 
   Esta otimização do  quadro de pessoal provoca uma atividade docente flexível, intensificada e  precarizada em sua gênese. Primeiro porque se acentua o trabalho docente ao  submeter o professor a trabalhar com níveis e etapas distintas. Por outro lado,  mesmo o professor exerce funções diferentes na carreira, pois executa a função  de magistério de ensino superior, concomitante com as atribuições da carreira  de professor de educação básica. Esse processo provoca a intensificação do  trabalho docente, como discutiremos na seção a seguir.
A intensificação é um  processo histórico ligado à organização produtiva e ao metabolismo do capital  (MÉSZÁROS, 2011), e por outro lado, leva a um processo que tem efeitos  biológicos e biopsíquico, pois atua diretamente sobre a saúde do trabalhador e,  ao mesmo tempo em que torna o trabalho alienado, tende a reduzir a capacidade  deste trabalhador de controlar a qualidade do produto e do processo de trabalho  por ele produzido. Outro aspecto da intensificação é que ela “pode afetar a  identidade do trabalhador manifesto em sentimento de desgosto ou fracasso  pessoal com risco para desencadear adoecimento” (PINA; STOTZ, 2014, p.152).
   Marx (2014, p. 409)  compreende este fenômeno por meio de cinco “metáforas” que se auto-completam  para explicar o fenômeno da intensidade laboral: gasto aumentado de trabalho em  um mesmo espaço de tempo, elevada tensão da força de trabalho, preenchimento  dos intervalos dos dias de trabalho, condensação e densidade laboral. Partindo  deste pressuposto Dal Rosso (2008, p. 21) compreende que:
   Há  intensidade quando se verifica maior gasto de energias do trabalhador no  exercício de suas atividades cotidianas. Quando se trata de um trabalho físico,  os resultados aparecem em medidas [...] quando o trabalho não é físico, mas do  tipo intelectual, como no caso do pesquisador ou emocional como ocorre com o  educador ou a enfermeira, os resultados podem ser encontrados na melhoria da  qualidade mais do que na quantidade de pessoas atendidas.
   Para a compreensão  deste fenômeno que ora analisamos, “a precarização do trabalho docente nos  Institutos Federais”, partiremos da compreensão de que a intensificação do  trabalho docente é um dos elementos desta precarização. Explicitamente, o  conceito que adotamos, com base em Cardoso (2013, p. 11), é que a intensidade  “significa o esforço físico, psíquico e mental dos trabalhadores para darem  conta das exigências do posto, durante o tempo de trabalho”.
   O ‘remédio’ adotado nos IFs foi a verticalização do  trabalho. Essa suposta originalidade, advinda da verticalização, se  concretiza na intensificação e precarização do trabalho dos professores e dos  técnicos. A verticalização, dessa forma, produz este agigantamento do trabalho  docente uma vez que ele deve atuar, por prerrogativa da carreira, em níveis e  modalidades diferentes.
   Por este  motivo, na próxima subseção discutiremos o aumento dessa carga laboral advinda  da verticalização e do modelo híbrido de instituição e de carreira docente.
 Nos Institutos Federais a carreira de EBTT e  sua atuação verticalizada impõem uma densidade laboral extremamente acentuada  se comparada ao exercício da profissão seja por professores da educação básica  ou do ensino superior em instituições públicas. 
   Além da atuação que  exige maior preparação didática e múltiplos planejamentos, há os fatores de  ordem psíquica que obrigam o professor, no intervalo que se desloca de uma sala  para a outra, reorganizar cognitivamente sua transposição didática, sua  linguagem e movimentar neurologicamente todas as suas capacidades mentais para  atender o nível de ensino que irá atuar no mesmo período letivo. Mourão et.al (2014, p.2)  destaca que é: 
   [...] assim a nova  estratégia socializante para formar um novo trabalhador apto a responder às  demandas da acumulação capitalista. Constitui-se um processo em que o capital  entra em novas esferas como a educacional. Ao adentrar nesses espaços há a  ampliação do processo de acumulação, ao mesmo tempo a dinâmica das relações  capital-trabalho modifica-se, sendo que o (s) modelo (s) de competência é (são)  a (as) nova (as) estratégia (as) gerencial (ais) que vem (vêm) subsidiar esse  novo processo. 
   O professor é convidado a assumir outras funções no  seu processo de trabalho como, por exemplo, gerenciar sua formação, criar  estratégias constantes para dar conta de sua atividade educativa e para  corrigir disparidades de formação dos educandos criadas pelo próprio sistema,  participar das formações constantes em períodos diversos ao seu trabalho,  responsabilizar-se que pelo sucesso da instituição e dos discentes. 
   Este é um comportamento  gerencial próprio dos sistemas de produção flexível, que exige do trabalho  responsabilidade total para com a empresa, mesmo que isso significa  consequências nocivas ao trabalhador. Destaca Cimbalista (2008, p.3):
   [...]  no sistema de produção flexível, surge um trabalhador do qual são exigidas  maiores habilidades, como polivalência, multifuncionalidade, mas também ser  apaziguador de conflitos, tomador de decisões rápidas e precisas, como demanda o  espírito desse processo produtivo. Estes seres humanos quase perfeitos precisam  trabalhar em grupo com maestria, tirando vantagem dos possíveis erros,  maximizando resultados, fazendo crescer a produção e a competitividade da  empresa. O conhecimento fornecido e desejado para a consecução dos métodos e  técnicas do sistema de produção flexível pasteurizou as atitudes e o  comportamento do trabalhador: ou este segue o prescrito ou é excluído  (CIMBALISTA, 2008, p. 3).
   Além destas  problemáticas que, também, são provocadas pelo processo de verticalização, como  se discutiu anteriormente, e pelo modelo híbrido de instituição que provoca um  aumento considerável da densidade laboral, a organização da carga horária  docente e da hora/aula são elementos intensificadores e precarizantes do  trabalho docente como discutiremos a seguir.
Historicamente, a carga horária docente do professor da Rede Federal de ensino tem sido normatizada pela legislação federal por meio de leis, decretos e portarias. Isto demonstra uma fragilização da carreira (PRADO, 2013). No quadro 2, é possível verificar que sempre houve uma preocupação com a carga horária docente em instituições federais:
Essas mudanças  constantes na carga horária docente em instituições federais evidenciam o  parcelamento do trabalho e sua fragmentação que escamoteia a objetivação pelo  próprio trabalhador da intensidade do seu labor. Uma prática típica da  organização científica do trabalho, pois a produtividade aumenta em detrimento  da qualidade, das contradições de trabalho. Nesse sentido:
   A  transformação da jornada em mensais ou semanais facilita reformatar as durações  diárias. A distribuição do tempo são variáveis entre trabalho real e tempo  livre. Duas horas de trabalho pela manhã, três pela tarde, duas a noite são  situações muito presente no trabalho docente (DALL ROSSO, 2008, p., 76) 
   Essa divisão do  trabalho em horas dedicadas ao ensino, à extensão e à pesquisa nas instituições  federais de ensino oculta, determinadas vezes, a acentuação da atividade  laborativa. Marx no capítulo oitavo do Capital nos diz que a jornada de trabalho não é grandeza constante, mas é  variável. “Pois, uma de suas partes é determinada pelo tempo de trabalho  necessário à reprodução da força de trabalho do próprio trabalhador, mas sua  magnitude total varia com a duração do trabalho excedente” (MARX, 2014, p.  270). 
   O que permite  questionar como uma carga horária é definida para um trabalho complexo que  envolve atividades de preparação e pesquisa antes de sua realização, durante  sua execução e a posteriori na  correção, avaliação e reconstrução do ensinado? 
   Voltando-nos à realidade de trabalho dos institutos  federais, a última portaria que regulamenta a carga horária docente estabelece  que até 50% da carga horária deve ser ocupada com as atividades de ensino,  sendo destinado às duas outras atribuições do cargo (pesquisa e extensão) o  restante da carga horária prevista para a carreira. Reza o art. 12 da Portaria  n. 17, de 11 de maio de 2016:
   Art.  12. O regulamento das instituições deverá prever, na composição da carga  horária de aulas de que trata o inciso I do Art. 4º: I- no mínimo, 10 horas e,  no máximo, 20 horas semanais para os docentes em regime de tempo integral, e;  II- no mínimo, 8 horas e, no máximo, 12 horas semanais para os docentes em  regime de tempo parcial (BRASIL, 2016) 
   Mostrando que, como  Marx (2014, p. 270) afirmou, “a jornada de trabalho é, portanto determinável,  mas, considerada em si mesma, é indeterminada” Isso ocorre porque o  capitalista, continua Marx (2014),
   [...]  compra a força de trabalho pelo seu valor diário. Seu valor de uso lhe pertence  durante a jornada de trabalho. Obtém, portanto o direito de fazer o trabalhador  trabalhar para ele durante um dia de trabalho. Mas o que é um dia de trabalho?  Será menor que um dia natural da vida. Menor quanto? O capitalista tem seu  próprio ponto de vista sobre essa extrema fronteira necessária da jornada de  trabalho. Como capitalista apenas personifica o capital. Sua alma é a alma do  capital. Mas o capital tem seu próprio impulso vital, o impulso de  valorizar-se, de criar mais valia, de absorver com sua parte constante, com os  meios de produção, a maior quantidade possível de trabalho excedente. O capital  é trabalho morto que como um vampiro se reanima sugando o trabalho vivo e  quanto mais o suga mais forte se torna. O tempo em que o trabalhador trabalha é  o tempo durante o qual o capitalista consome a força de trabalho que comprou  (p. 271).
   Assim, pouco importa ao  capitalista se o trabalhador tem mais trabalho para executar o trabalho  contratado.  A ele interessa o sucesso, a  garantia da produção, o maior proveito possível do trabalho. 
   Esse processo de  planejamento diminui o tempo de descanso do professor levando-o à exaustão de  sua capacidade criadora. Sem tempo para reflexão sobre o seu trabalho ou formas  de aprimorá-lo, o trabalho do professor torna-se estranhado e alienado (MARX,  2014). 
   Em  nosso entendimento, as múltiplas competências que este professor deve  desenvolver nestes tempos de intenso trabalho e de trabalho tão diversificado nos  Institutos Federais levam o trabalho docente ao agigantamento e permitem o  transbordamento da práxis educativa. De tal forma, que o professor já não  possui o domínio sobre o trabalho que executa, pois não lhe são permitidos os  ritmos que seu trabalho necessita para a transposição didática, a aplicação e a  verificação da aprendizagem.
   4. CONCLUSÃO 
   A  intensificação do trabalho docente, no caso estudado, pode condicionar o  educador a mecanizar/automatizar suas práticas, alienando-o do mero ato de  ensinar como ação despreocupada do fazer, exigência mercadológica de um sistema  desprovido de sentimentos e sujeito a produzir conhecimento descartáveis.
   Portanto, essa  polivalência exigida pela verticalização é um componente a mais de  intensificação à medida que exige do professor: esforço mental maior;  conhecimento de processos diversos; adaptabilidade de sua prática à diversidade  de turmas em que atua; trabalho emotivo diversificado; intensificação de sua  lógica de atuação, atenção e   controle;  maior tempo de  preparação das aulas e de conteúdos para abordar em sala de aula.  Assim, a porosidade de trabalho, o tempo de  reflexão sobre o trabalho, o tempo de não-trabalho são engolidos pelas  atribuições de preparação do trabalho.
   Conclui-se que a reestruturação da Rede de Escolas Técnicas Federais no  Brasil em 2008, construiu um novo formato de trabalho que associado à hibridização  institucional (oferta de vários níveis de ensino em única instituição), à fragmentação da carreira do professor de Educação Básica Técnica e  Tecnológica (EBTT), à verticalização como uma prática  administrativo-gerencial que leva à  intensificação do trabalho docente que tem como síntese a precarização da  formação de professores.
REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS
   BERTUANI,  Adeylson L.C. A verticalização do ensino nos IFET´s na perspectiva da  Acumulação Flexível de Capitais. SINASEFE,  Brasília, 13 jun. 2013. Disponível em: <www.sinasefe.org.br/v3/index.php?option=com_docman&task=doc...gid>.  Acesso em: 18 abr. 2017.
   BRASIL.  Chamada Pública MEC/SETEC n.º 001/2007. Chamada  pública de propostas para apoio ao Plano de Expansão da Rede Federal de  Educação Tecnológica – Fase II. MEC, 2007d. Disponível em:   <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/chamada_publica_assinatura2304.pdf>.  Disponível em: 15 ago. 2015.
   _______. Chamada  Pública MEC/SETEC n.º 002/2007.  Chamada  pública de propostas para apoio ao Plano de Expansão da Rede Federal de  Educação Tecnológica – Fase II. MEC, 2007e. Disponível em:<  http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/chamada_publica_pdf>. Acesso em: 15  ago. 2015.
   _______. Decreto n.  6.094, de 24 de abril de 2007. Dispõe sobre a implementação do Plano de  Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Federal, em regime de  colaboração com municípios, Distrito Federal e estados, e a participação das  famílias e da comunidade. Disponível em:  <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 10 maio  2015.
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