Revista: Atlante. Cuadernos de Educación y Desarrollo
ISSN: 1989-4155


ENSINO E APRENDIZAGEM: CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROJETO SALA DO EDUCADOR

Autores e infomación del artículo

Dagoberto Rosa de Jesus *

Universidade do Estado de Mato Grosso, Brasil.

dagoberto.jesus@pdl.ifmt.edu.br


Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar um panorama da implantação da Sala do Educador como política de formação continuada e em serviço no Estado de Mato Grosso. Objetiva ainda traçar apontamentos e reflexões sobre este projeto, destacando aspectos positivos e negativos. Ao nos debruçar sobre o estudo e a análise deste projeto e sua implantação temos como base a documentação produzida pela escola, pelo formador que acompanha a sala do professor, as impressões dos professores, coordenadores, formadores e gestores.  Como documentação entendemos o projeto escrito pela equipe da escola, as atas das reuniões, os relatórios de visitas, as listas de participação e os materiais utilizados nas formações.  As falas dos participantes aninhavam e nos dão um suporte reflexivo.  Paralelo a isso, podemos contar com os pareceres orientativos que norteiam o trabalho com a sala do educador. Verificamos que o projeto Sala do Educador caracteriza uma possibilidade real de formação continuada e em serviço para os profissionais da educação. O que se dá porque o projeto abrange todo o estado de Mato Grosso, atingindo a totalidade das escolas da rede estadual. Isso constitui, a nosso ver, um aspecto positivo, principalmente quando se considera as dimensões geográficas de Mato Grosso, que são continentais. Além disso, a proposta de formação continuada é bem sucedida em função de conseguir adesão da maioria dos profissionais da educação. Porém, esses mesmos fatores, que são positivos devido a serem abrangentes, engendram sua principal lacuna, qual seja: a abrangência gera um déficit de qualidade e o alto grau de adesão se dá por objetivos que muitas vezes não se relacionam ao processo de ensino e aprendizagem, ou a um desejo de melhoria da educação. Assim, o que era para constituir um processo de formação para autonomia se torna um mecanismo para manutenção do emprego do educador, um espaço de luta, de sobrevivência no mercado.     
 
Palavras-chave: Sala do Educador. Formação continuada. Qualidade do ensino.

Resumen: El presente artículo tiene como objetivo presentar un panorama de la implantación de la Sala del Educador como política de formación continuada y en servicio en el Estado de Mato Grosso. Objetivo aún trazar apuntes y reflexiones sobre este proyecto, destacando aspectos positivos y negativos. Al reflexionar sobre el estudio y el análisis de este proyecto y su implantación, tenemos como base la documentación producida por la escuela, por el formador que acompaña la sala del profesor, las impresiones de los profesores, coordinadores, formadores y gestores. Como documentación entendemos el proyecto escrito por el equipo de la escuela, las actas de las reuniones, los informes de visitas, las listas de participación y los materiales utilizados en las formaciones. Las palabras de los participantes anhelaban y nos dan un soporte reflexivo. Paralelo a eso, podemos contar con los pareceres orientativos que orientan el trabajo con la sala del educador. Verificamos que el proyecto Sala del Educador caracteriza una posibilidad real de formación continuada y en servicio para los profesionales de la educación. Lo que se da porque el proyecto abarca todo el estado de Mato Grosso, alcanzando la totalidad de las escuelas de la red estatal. Esto constituye, a nuestro parecer, un aspecto positivo, principalmente cuando se considera las dimensiones geográficas de Mato Grosso, que son continentales. Además, la propuesta de formación continuada es exitosa en función de lograr la adhesión de la mayoría de los profesionales de la educación. Sin embargo, estos mismos factores, que son positivos debido a que son amplios, engendran su principal laguna, es decir: el alcance genera un déficit de calidad y el alto grado de adhesión se da por objetivos que muchas veces no se relacionan al proceso de enseñanza y aprendizaje, o un deseo de mejora de la educación. Así, lo que era para constituir un proceso de formación para autonomía se convierte en un mecanismo para el mantenimiento del empleo del educador, un espacio de lucha, de supervivencia en el mercado.

Palabras clave: Sala del Educador. Formación continua. Calidad de la enseñanza.

Abstract: This article aims to present a panorama of the implementation of the Educator 's Room as a policy of continuing education and in service in the State of Mato Grosso. It also aims to draw up notes and reflections on this project, highlighting positive and negative aspects. By focusing on the study and analysis of this project and its implementation we have as basis the documentation produced by the school, the trainer accompanying the teacher's room, the impressions of the teachers, coordinators, trainers and managers. As documentation we understand the project written by the school staff, meeting minutes, visit reports, participation lists and materials used in the training. The speeches of the participants nestled and gave us reflective support. Parallel to this, we can count on the guiding opinions that guide the work with the educator's room. We verified that the Educator Room project characterizes a real possibility of continuing education and in service for education professionals. This is because the project covers the entire state of Mato Grosso, reaching all schools in the state network. This is, in our opinion, a positive aspect, especially when one considers the geographical dimensions of Mato Grosso, which are continental. In addition, the proposal for continuing education is successful in terms of achieving adherence of the majority of education professionals. However, these same factors, which are positive because they are comprehensive, generate their main gap, idly: comprehensiveness generates a quality deficit and the high degree of adherence is due to objectives that are often not related to the teaching process and learning, or a desire for better education. Thus, what was to constitute a process of formation for autonomy becomes a mechanism to maintain the employment of the educator, a space of struggle, of survival in the market.

Keywords: Educator's Room. Continuing education. Quality of teaching.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato:

Dagoberto Rosa de Jesus (2018): “Ensino e aprendizagem: considerações sobre o projeto sala do educador”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (junio 2018). En línea:
https://www.eumed.net/rev/atlante/2018/06/projeto-sala-educador.html
//hdl.handle.net/20.500.11763/atlante1806projeto-sala-educador


1 Introdução.

Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar.
Guimarães Rosa

Muito falamos sobre formação de professores e quase sempre atribuímos parte do fracasso escolar a essa formação, ou a essa má formação. Ora atribuindo a culpa as faculdades e universidades, ora a falta de uma política de formação continua desse profissional. O consenso nos parece residir no descontentamento geral com o processo formativo do professor.
A formação continuada e em serviço como instrumento de melhoria da qualidade da educação e do corpo docente foi e é uma solicitação recorrente no discurso de profissionais e demais pessoas que pensam, estudam e trabalham com educação, não só no Brasil, mas em todo mundo. O Projeto Sala do Educador é esse espaço, que vem sendo construído pela política de educação do Estado de Mato Grosso através de sua secretaria de educação, e principalmente do CEFAPRO, que é o Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica do Estado de Mato Grosso. Como o mestre Paulo Freire já dizia que “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem é que se pode melhorar a próxima prática.” (1998, p. 22) Partindo dessa premissa buscamos nesse trabalho fazer algumas reflexões sobre a implantação do Sala do Educador, seus acertos e equívocos.
Para alguns pensadores de educação essa formação não pode e nem deve se encerrar na colação de grau ou na formatura de graduação, ideia da qual compartilhamos. O professor. Como diria o mestre Paulo Freire(1998), deve ser um profissional em constante formação, um eterno aprendiz, posto não haver docência sem discência. E cabe ao professor, ou educador, este processo continuo de reflexão acerca da relação com a prática e a teoria, nas palavras de Freire, “(...) quem forma se forma e reforma ao formar, e quem é formado forma-se e forma ao ser formado” (1975. p. 25). Neste sentido, tem sempre uma ligação entre o ato de aprender e o ato de ensinar. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (1996, p.25).
Como sabemos, esse continuar estudando pode acontecer de várias formas e maneiras, através de cursos de pós graduações estrito e lato-senso feito de maneira formal, sistêmica ligadas a uma dada instituição, de maneira informal direcionada pelo próprio docente que tem em seu arbítrio o norte de suas leituras e estudos (e ai pensa-se em cursos esparsos ou demais estudos individuais que atendam ao desejo ou necessidade do docente), regra geral podemos pensar esses tipos de formação na carreira docente. No primeiro caso, há momentos estanques para os estudos; especialização, mestrado e doutorado e quase sempre esse caminho afasta o docente do ensino básico e o leva para o ensino acadêmico, e aqui não pesa nenhum juízo, mais sim uma constatação, o segundo caso atende mais aos docentes que lecionam no ensino básico.
Cabe observar o crescente número de profissionais desse segundo grupo que chegam a fazer cursos de especialização e alguns ao mestrado, porem na medida em que traçam esse caminho tendem sair do ensino fundamental, e não cabe aqui apresentar as motivações que vão desde salários a condições de trabalho e de reconhecimento profissional. O presente trabalho traça considerações sobre outro tipo de formação do profissional da educação. A formação continua, ou a formação continuada, cujo principal adjetivo é não ser estanque. Contrário a isso, estar sempre acontecendo, buscando atender a demanda e a necessidade do docente.
A busca e a implantação dessa formação continua tem no CEFAPRO – Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica do Estado de Mato Grosso - o seu lugar. A implantação desse órgão no Estado de Mato Grosso tem por objetivo pensar ações de implantação formação continuada para os professores e profissionais da educação que atuam no Estado de Mato Grosso, em suas redes públicas de ensino fundamental e médio.
O trabalho do CEFAPRO e das Escolas, por meio do Projeto Sala do Educador, consiste em centrar esforços na melhoria do ensino e da aprendizagem em toda Educação Básica.  Esse trabalho já vem sendo realizado em Mato Grosso há mais de dez anos, desde 2003. Nos últimos anos atingiu um percentual próximo a cem por cento de adesão das unidades escolares da rede estadual do Estado de Mato Grosso.
Nesse contexto o projeto mais importante, que é objeto principal deste trabalho, é o Projeto Sala do Educador, que busca uma formação continuada e em serviço. Isto colocado como uma política de Estado, com suas benesses e ônus, comum a uma política de governo. O que buscamos aqui é fazer uma reflexão acerca deste modelo de formação e capacitação docente.

CONSIDERAÇÕES SOBRE FORMAÇÃO CONTINUADA

Nascida com o nome de Sala do Professor em 2003, a Sala do Educador, num primeiro momento era dedicada apenas a formação continuada do corpo docente, com o passar do tempo associado ao interesse dos demais membros da escola esta formação foi se estendendo aos demais funcionários, o pessoal de apoio. Assim sobre a denominação de educadores, a sala passa a legitimar a presença dos demais profissionais da educação nos momentos de formação.
A sistematização e organização deste trabalho nas escolas foi realizado pelos CEFAPROs e puderam ter ao longo do desenvolvimento deste projetos os pareceres orientativos da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso, o primeiro documento deste é datado de 2003. Neste documento fica claro o interesse em fortalecer a escola enquanto espaço de formação dos professores a fim de desenvolver suas potencialidades e qualificar o desempenho no trabalho, por meio da organização de grupos de estudos construindo um comprometimento coletivo com o processo de ensino e aprendizagem.
Um dos objetivos do Projeto Sala do Educador é oportunizar ao professor e ao profissional da educação um momento de estudo sobre a sua prática em seu local de trabalho, ou seja, em sua unidade escolar.  Assim no início do ano letivo os professores e demais profissionais da educação pensam e elaboram um projeto e um programa de estudo com cerca de oitenta horas, esse estudo deve atender as demandas dessa determinada unidade escolar, assim garante-se um estudo contextualizado que busque sanar problemas e questões pertinentes aquela escola específica.  

Na convergência da formação coletiva o primeiro foco do ‘Sala de Educador’ é o de mobilizar todos os profissionais da escola a refletir as suas práticas, trocar experiências e promover debates, realizando momentos processuais formativos coletivos dos sujeitos envolvidos no processo educacional, de modo que todos conheçam, vivam, critiquem e assumam o seu papel no contexto escolar. (MATO GROSSO, 2011, p. 6)

Busca-se assim uma estratégia de desenvolvimento do Plano de Formação da/na unidade escolar que objetiva fortalecer a escola como lócus de formação continuada. Na mesma proporção que promove o fortalecimento do Projeto Político Pedagógico da escola a partir de proposições sistematizadas,  planejamento, reflexão e busca de conhecimento a partir de ações que visem a melhoria do fazer pedagógico dos professores. Desejo comum a todos profissionais da educação que buscam a melhoria do ensino.
No que tange a certificação, é importante na medida em que, a participação do profissional na Sala do Educador é considerada no processo de atribuição de aulas no início de cada ano. Assim participar dos estudos da Sala do Educador pode ser um fator determinante para que o professor ou profissional da educação tenha prioridade na escolha do seu local de trabalho, isso porque ao participar desse estudo ele acrescenta pontos no processo de atribuição de classes e salas de aula. No caso dos professores contratados participarem do Projeto Sala do Educador pode ser um fator determinante para que ele consiga trabalhar na rede Estadual de Ensino Fundamental.  
Esse instrumento de motivação, a certificação, acaba por garantir a participação significativa dos profissionais nesse momento de estudo.  Garantimos assim uma baliza quantitativa, todas as escolas da Rede Estadual de Cuiabá - Mato Grosso, participam do Projeto Sala de Professor e têm nesse espaço um momento de reunião de seus professores. Em contrapartida nem todos os professores de uma dada escola fazem a Sala do Educador nessa escola, isso pelo fato já conhecido, que muitos de nossos professores trabalham em mais de uma unidade ou rede de ensino. Essa situação muitas vezes o impossibilita de fazer os estudos durante a Sala do Educador. Cabe observa que os professores podem contar de esse momento de estudo como parte da carga horária de trabalho, isso garante um maior aproveitamento desse momento, posto também que os estudos buscam ser voltados para a prática docente.
O Projeto Sala do Educador se constitui assim um espaço de apoio e de estudo que pode instrumentalizar o profissional da educação para que ele tenha uma prática melhor em sua sala de aula, que tenham como norte a sua realidade. Alguns fatores podem colaborar para essa efetivação, ou não. Na posição de formador do CEFAPRO podemos apontar alguns fatores que possibilitam essa efetivação dos objetivos da Sala do Educador.
Na medida em que, a política educacional do Estado aponta para a realização deste projeto, estimulando e dando suporte para que as escolas e os professores para que participem, o sucesso ou insucesso, pensando sobre o aspecto qualitativo, da Sala do Educador está intimamente ligado ao fato da equipe gestora e da comunidade escolar se engajar efetivamente no projeto e não entende-lo de maneira pro-forme.  
Os estudos da Sala do Educador devem partir do trabalho coletivo para possibilitar aos professores estudar e refletir sobre e na prática, sua trabalho docente. Assim buscam um maior aprofundando dos conhecimentos teórico-metodológicos que contribuam para a elaboração de intervenções problematizadoras adequadas ao atendimento e à diversidade existente na sala de aula.  Garante-se assim um processo reflexivo, ou seja um constante movimento, que envolve aspectos sócio-histórico-culturais, dentro do contexto escolar. Nessa senda, o projeto que atende a determinada escola, na maioria das vezes, não atende a realidade de outra, pois, cada escola é única.  Cada Sala do Educador deve atender as especificidades de cada escola e cada corpo docente.
Assistimos a alguns exemplos de insucessos e sucessos na sala do educador. Em linhas gerais escolas que utilizam esse espaço como um espaço de estudo e de reflexão, em que se discuti a escola, o alunos, e a práxis do profissional de forma reflexiva e propositiva e outras unidades que percebem os estudos como forma de cumprir uma agenda da Secretaria de Educação ou de ganhar pontos no processo de atribuição de aulas.
Porém, vale ressaltar a importância de se ter espaços de formação continuada e em serviço na política educacional, nesse sentido o estado do Mato Grosso mostra-se moderno ao implantar e manter um Centro de Formação de Professores. Hoje contamos com CEFAPRO não só na capital mais em diversas cidades pólos dentro do Estado e se pensarmos, que a exemplo do Brasil, Mato Grosso também tem um território muito grande, a interiorização desses centros é fundamental para se pensar de forma quantitativa uma política de educação que se pretende qualitativa. Como nos diz o estudioso português Antonio Nóvoa;

A troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando. (1997, p.26)

Nesse mesmo caminho e orientação, o Projeto Sala do Educador busca e possibilita essa interação, por ser um trabalho em serviço os próprios docentes é que fazem o papel, ou melhor, intercalam entre os seus pares a mediação dos estudos. Essa característica do projeto promove não só a valorização dos professores, assim com uma maior interação entre os educadores.
Ao nos debruçar sobre o estudo e a análise deste projeto e sua implantação temos como base a documentação produzida pela escola, pelo formador que acompanha a sala do professor, as impressões dos professores, coordenadores, formadores e gestores.  Como documentação entendemos o projeto escrito pela equipe da escola, as atas das reuniões, os relatórios de visitas, as listas de participação e os materiais utilizados nas formações.  As falas dos participantes aninhavam e nos dão um suporte reflexivo.  Paralelo a isso, podemos contar com os pareceres orientativos que norteiam o trabalho com a sala do educador. De forma geral os pareceres apontam no sentido de fortalecer a escola enquanto espaço de formação dos professores a fim de desenvolver suas potencialidades e qualificar o desempenho no trabalho, por meio da organização de grupos de estudos construindo um comprometimento coletivo com o processo de ensino e aprendizagem. Essa ideia é bem precisa no parecer de 2003, o primeiro de uma série.
No parecer de 2013 encontramos objetivos muito próximos dos anos anteriores, fortalecer a escola como lócus de formação continuada, com a organização de grupos de estudo e esforço coletivo, aprimorando as ações pedagógicas (Mato Grosso, 2013). Entre este período, 2003 a 2013, nos parece, a mudança mais significativa foi na transição do nome de Sala do Professor para Sala do Educador.
Desde sua implantação o Projeto Sala do Educador é marcado pelo protagonismo do professor, por uma ação de um coletivo de educadores que tem um papel mais ativo na sua própria formação continuada. Essa foi, e é, uma marca forte na sala do educador.

O programa de formação continuada “Sala de Professor” da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) está em fase de implantação nas escolas. Treze instituições de ensino estaduais de Cuiabá e Várzea Grande aderiram ao programa, que pretende envolver cerca de 500 profissionais da educação.
(...)
O diferencial do “Sala de Professor”, na opinião do líder da equipe responsável por sua implantação, José Romildo Magalhães, é que ele será desenvolvido pelos próprios professores e terá os outros programas como ferramentas para subsidiar a formação continuada nos grupos de estudo das escolas. 1

Nos pareceres orientativos temos isso colocado de forma muito clara. Na convergência da formação coletiva o primeiro foco do ‘Sala de Educador’ é o de mobilizar todos os profissionais da escola a refletir as suas práticas, trocar experiências e promover debates, realizando momentos processuais formativos coletivos dos sujeitos envolvidos no processo educacional, de modo que todos conheçam, vivam, critiquem e assumam o seu papel no contexto escolar. (MATO GROSSO, 2011, p. 6).
A implantação desta proposta na rede Estadual foi se fortalecendo de forma gradativa, com o apoio e a assistência dos CEFAPROS se consolidou não só como política do Estado, mas como uma ação que de fato ocorre em todas as escolas e conta com a adesão da maioria dos educadores. Podemos então afirmar que no Estado de Mato Grosso há uma politica de educação continuada presente em toda a rede de ensino, em todas as escolas. Este programa vem se desenvolvendo desde sua implantação no início dos anos 2000. 
Um dos fatores que certamente garante este sucesso é a certeza de que a certificação da sala do educador gera uma pontuação ao final do ano que pode garantir ao professor pontos que podem auxiliar na atribuição de aulas. Participar ou não da sala do educador muitas vezes determina se este educador vai conseguir emprego ou não.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar e valorar a importância de uma formação continuada para educadores é uma ideia que sempre habita e habitou os corações e mentes de todos que vivem e refletem a educação. Nesta senda convergem a maioria dos discursos acerca de uma política de educação. O desejo de proporcionar ao educador uma formação continuada, que ele esteja sempre estudando e se aperfeiçoando no seu fazer é o sonho de qualquer gestor de educação.
Realizar este feito atribuindo aos próprios educadores este trabalho é um sonho de qualquer gestor. Atrelado a isso, conseguir a adesão dos educadores a este processo com baixíssimo, ou quase nenhum ônus, é de certa forma o que consegue a política estadual de ensino no Estado de Mato Grosso com o Projeto Sala do Educador.
Num espaço em que o próprio educador, juntamente com os seus pares, tem um tempo para repensar, refletir e problematizar a sua pratica, em raríssimos casos ocorre uma educação que se instrumentaliza como pratica de liberdade. A adesão do educador ao fazer a sala do educador é facultativa, porém dado sua importância para participação no processo de atribuição de aulas o educador que optar por não fazer a sala do educador corre sérios riscos de não conseguir emprego. Ironicamente um espaço criado sobre a égide do pensamentos freirianos em que se pensa a educação como instrumento libertário, acaba por criar um espaço de controle em que impera o vigiar e punir.
Neste cenário o trabalho coletivo dos educadores também pode criar um espaço em que vislumbre uma formação como pratica de liberdade, certamente este modelo contempla esta possibilidade. Em linhas gerais observamos que o educador, que quase sempre tem uma ou duas cargas horarias em seu trabalho, vê na sala do educador mais uma atividade que ele tem que desempenhar, está de forma não remunerada. Seu principal benefício: garantir que no próximo ano a este educador poder continuar trabalhando.
Recuperando a fala do Jagunço Riobaldo, que utilizamos como epigrafe deste trabalho, não basta querer o bem de um jeito incerto. Não basta querer simplesmente ofertar formação continuada e em serviço ao educador, é preciso pensar estes profissionais de forma mais ampla, holística. Para que seja efetiva qualquer ação vale considerar o contexto e as condições de trabalho e de atuação deste profissionais. A não observância destes aspectos pode gerar mais obrigatoriedades para uma classe que já se encontra sobrecarregada de atividades.

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______. Programa de formação continuada Sala de Professor. SUFP/SEDUC/MT. Cuiabá, 2003.

*Professor de Literatura e Língua Portuguesa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso, doutorando em Literatura pela Universidade do Estado de Mato Grosso. dagoberto.jesus@pdl.ifmt.edu.br
1 DIÁRIO DE CUIABÁ. Educadores conhecem programa "Sala de Professor" da Seduc. Disponível: <http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=153276> Acesso em: 06/12/2017.

Recibido: 26/05/2018 Aceptado: 01/06/2018 Publicado: Junio de 2018

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