ESTUDO DO ÍNDICE DE EXCLUSÃO SOCIAL NO BRASIL: CASO TOCANTINS

ESTUDO DO ?NDICE DE EXCLUS?O SOCIAL NO BRASIL: CASO TOCANTINS

Yolanda Vieira de Abreu

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2.2 Keynes versus Neoclássicos exclusão social

É importante entender como se determina o salário numa economia capitalista para entender que o trabalhador desempregado torna-se um excluído social involuntariamente. Para isso, precisa-se voltar à concepção dos economistas neoclássicos em relação aos salários e à refutação dessa teoria por Keynes. As modernas teorias sobre a determinação dos salários foram criadas, em sua maior parte, em função das idéias desses economistas.

Para os neoclássicos (corrente de economistas, surgida no fim do século XIX, que adota os mesmos pressupostos dos economistas clássicos, e que teve como grandes expoentes Marshall, Pareto, Pigou e Wicksell, entre outros) os salários são determinados pela lei da oferta e da procura. A curva da demanda do trabalho é inversamente inclinada; a cada nível de salário mostra quanto os patrões se dispõem a pagar, considerando que o patrão é um agente perfeitamente racional, e, portanto, fará os cálculos de custo-benefício para cada nível de salário. Sendo assim, quanto maiores os salários, menos trabalhadores os patrões desejam contratar e vice-versa. A curva de oferta de trabalho, diretamente inclinada, mostra quantos trabalhadores se dispõem a trabalhar a cada nível de salário. No entanto, quanto maiores os salários, mais trabalhadores oferecerão sua força de trabalho, considerando que, para os neoclássicos, os trabalhadores agem de forma perfeitamente racional, isto é, para cada nível de salário eles irão comparar o “desprazer” (desutilidade marginal do trabalho) com o “prazer” (utilidade) do salário recebido. O equilíbrio do mercado ocorre no ponto em que as duas curvas se encontram, isto é, neste ponto os trabalhadores aceitam o salário e os demais “não querem” trabalhar por esse salário e se retiram do mercado. Nessa teoria sempre haverá pleno emprego (ausência de desemprego), de forma que o desemprego existente podem ser classificados dentro de duas categorias sendo a primeira denominada de “voluntário” e a segunda por mudança ou evolução da tecnologia existente ou outro motivo relacionado com a capacitação do empregado para desempenhar uma função. Sendo que dentro dos desempregados voluntários classificam aqueles trabalhadores que não querem trabalhar a preço de mercado, isto é, preferem não trabalhar do que receber o salário que lhe é oferecido no mercado ou estão mudando de emprego. (Abreu, (s/d)).

Dessa forma, uma característica fundamental do mercado de trabalho para os neoclássicos é que os salários são flexíveis, na medida em que vão se ajustando aos níveis de oferta e procura. O trabalhador é visto como alguém preguiçoso, que não gosta de trabalhar e somente o faz em troca de um salário que compense o seu esforço. (Abreu, (s/d)).

Keynes se opôs a essa teoria que, no seu entender, não expressava a realidade do capitalismo, que já estava em sua fase monopolista e tinha passado por uma de suas piores crises em 1929, conhecida como a Grande Depressão, da qual ele tirou muitas lições e teorias. (Abreu, (s/d)). As objeções de Keynes à teoria neoclássica eram: em primeiro lugar, a inflexibilidade dos salários, tanto para elevação como para queda; em segundo lugar, discordava dos neoclássicos em relação à força que os trabalhadores teriam para determinação dos salários. Na concepção de Keynes, os trabalhadores tinham pouca força e quem acabava determinando o salário era a demanda, isto é, os patrões pela sua força e capacidade de organização determinavam as regras. Nesse aspecto, observa-se que ele já tinha percebido que, na realidade, sempre havia mais oferta de mão-de-obra do que postos de trabalhos no mercado, o que delimitava o poder dos trabalhadores. Em terceiro e último lugar, Keynes não concordava com a idéia de que o pleno emprego era a situação normal e mais comum e que o desemprego existente era apenas voluntário, como colocavam os neoclássicos. Justamente o normal, no capitalismo, é a existência de um número razoável de desempregados que procuram emprego e não o encontram, portanto, não podem ser desempregados voluntários, mas sim “involuntários”, como denominava Keynes.

Também se opôs à idéia dos neoclássicos de que, em uma situação de crise, o desemprego involuntário poderia aparecer e seria rapidamente absorvido pela própria dinâmica do mercado. Nessa situação, segundo os neoclássicos, o próprio jogo do mercado faria com que os salários baixassem e todos ficariam empregados. Keynes mostrou ser falsa essa visão, pois na própria crise de 1929, o tempo passava e o desemprego aumentava, apesar do jogo do mercado. Nesse aspecto, a concepção dos neoclássicos dificilmente ocorre na realidade, pois dificilmente os trabalhadores já empregados irão aceitar uma queda no seu salário, para que todos fiquem empregados. Portanto, esse jogo flexível e simples da lei da oferta e da procura dos neoclássicos se torna irreal e prevalece o desemprego involuntário, característico das economias capitalistas.

Em 1929, Keynes observou que os trabalhadores desempregados estavam aceitando trabalhar por “um prato de comida” e, mesmo assim, não encontravam emprego; a fome e a miséria atingiram grande parte dos trabalhadores americanos e, por isso, afirmou que o Governo deveria entrar na economia criando emprego e renda. (Abreu, (s/d)).