Após a década de 70, o setor elétrico brasileiro entra em declínio, tendo como principais motivos o endividamento externo do setor , a recessão e a estagnação da demanda, a utilização de suas empresas, desde o início da década, pelo governo federal para atingir metas econômicas e políticas de seus planos de governos. O modelo de monopólio estatal, para esse setor, exauriu-se por todos esses motivos apresentados anteriormente e o governo, por pressões interna e externa ao setor, decide pela reestruturação e a privatização das empresas.
A nova legislação para o setor permitiu a introdução do produtor independente e do autoprodutor em maior escala, os quais entrarão em competição direta com as empresas já existentes, tendo como objetivos uma melhor alocação dos recursos, sua expansão e a concorrência por meio da qualidade, confiabilidade e melhor preço para o consumidor. A princípio, somente os grandes consumidores de energia terão liberdade de escolha quanto ao fornecedor, mas, no futuro, este privilégio também será estendido ao consumidor cativo.
O Estado, depois do inicio das privatizações das empresas do setor, criou a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), órgão responsável pela regulamentação e fiscalização, desverticalizando as atividades do setor, em geração, transmissão e distribuição, inclusive a comercialização. Esse órgão deve também implantar, na geração e na comercialização, um mercado concorrencial e desenvolver o regulamentado para distribuição e transmissão.
Após a abertura do setor, uma análise das condições e limitações da concorrência é fundamental para conhecer o grau de concentração desse mercado e seu possível comportamento.
O grau de abertura do mercado e da concorrência pode ser analisado tendo como base a interdependência entre as diversas atividades de geração, transmissão e distribuição e o grau de liberdade dos produtores independentes e autoprodutores.
O setor de eletricidade tem algumas características próprias, pois produz uma mercadoria que não pode ser armazenada, a baixo custo e em grande escala, tem de ser consumida no momento em que é gerada. Esse é um fato que interliga, diretamente, a geração, transmissão e a distribuição de energia elétrica, sendo fundamentais a eficiência e a confiabilidade na qualidade e na coordenação do sistema elétrico. Ainda permanecem características monopolísticas na transmissão e distribuição, ficando somente a geração e a comercialização com possibilidades de livre concorrência.
Neste estudo além da parte técnica, existe a preocupação de compreender quais os fatos políticos e sociais que levaram à reestruturação do setor a passar do sistema de monopólio público para o de “mercado”. Serão, então, discutidas quais as mudanças que foram necessárias para que a transição fosse efetuada e quais os mecanismos desenvolvidos para incentivar a concorrência até o presente momento.
Portanto, este trabalho teve como objetivos específicos:
a) Avaliar e analisar o modelo anterior a 1993 para o setor elétrico, suas experiências, examinando material bibliográfico sobre o tema.
b) Estudar os motivos que levaram reestruturação do setor elétrico brasileiro, começando com o esclarecimento da crise financeira dos anos setenta e dos fatores políticos nacionais e internacionais que a provocaram.
c) Identificar os mecanismos que estão sendo utilizados para a implantação da livre concorrência, ou que poderiam ser utilizados para tal finalidade e seus possíveis entraves.
d) Sugerir como poderia ser melhorada a competitividade dentro do setor elétrico.
A metodologia usada para realizar este trabalho está baseada inteiramente na coleta, análise, tabulação, descrição e interpretação de dados bibliográficos, de palestras e outros sobre o mercado do setor elétrico brasileiro.
Como fonte de dados , lançou-se mão dos seguintes meios:
Estudo da bibliografia disponível no Brasil e em outros países, sobre o assunto em estudo.
Contatos com instituições de pesquisa, instituições financeiras ou de classe, como por exemplo o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), Bolsa de Mercadoria e de Futuros (BM&F), Fundação do Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP) e outras, para obtenção de dados estatísticos.
Análise de artigos de periódicos da área, tanto em jornais como em revistas.
Com base nos dados coletados, foi realizada uma análise sobre os motivos que levaram o setor elétrico à introdução da concorrência. Para o estudo das opções de reestruturação para setor, foram utilizadas as opções institucionais para a provisão de infra-estrutura, desenvolvida pelo BANCO MUNDIAL, através de seu Relatório Sobre o Desenvolvimento Mundial - 1994 - “Infra-estrutura para o desenvolvimento”, publicado pela Fundação Getúlio Vargas. Para o estudo sobre os níveis de competição possíveis e de escolha dos agentes do setor de eletricidade, foram utilizados os modelos desenvolvidos por HUNT e SHUTTLEWORTH, no livro “Competition and choice in eletricity”, 1996.
Para o estudo do desenvolvimento da estrutura de monopólio e de mercado, foram utilizados os conceitos principais dos seguintes autores: BAUMOL (1982);
BJORK (1971); HILFERDING (1985); HIRSCHMAN (1973); HOBSON (1985); LABINI (1984); STEINDL (1983).
Com relação ao papel do Estado, deu-se ênfase a visão do Banco Mundial, por ser hegemônica no momento.
A partir dessas fontes, da análise, comparação, cruzamento de dados, foi possível coletar informações que possibilitaram preparar um diagnóstico da situação da reestruturação do setor elétrico brasileiro, mostrando suas perspectivas e questões a serem analisadas e os limites do seu novo modelo concorrencial.