ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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4.9 - LUCROS

O uso lucrativo do dinheiro não é exclusivo duma sociedade capitalista. A compra de escravos era presumivelmente um emprego lucrativo, a sociedade mercantil acumulava lucros avultados com os seus negócios, tinha os seus agiotas e utilizava, embora de forma não preponderante, alguns indivíduos em regime de trabalho assalariado. Os mercadores ou os comerciantes obtêm o lucro pela diferença entre o preço de venda e o preço de compra das mercadorias, abatida dos seus próprios custos em meios de distribuição e de remuneração dos trabalhadores ao seu serviço. Por vezes, recolhem lucros como simples intermediários, aproveitam as dificuldades dos pequenos produtores, tiram vantagens da concorrência ou da diferença de preços entre os mercados. Os comerciantes aproveitam-se da posição desfavorável dos pequenos produtores como vendedores das suas mercadorias e como compradores de matérias-primas, utensílios e meios de trabalho.

Porém, o lucro é uma categoria económica basicamente aplicável ao capitalismo. O lucro constitui o meio impulsionador do processo de produção capitalista. Para a sua realização os capitalistas desembolsam capital não só para contratar força de trabalho mas também para adquirir meios de produção. Porém, na sua origem, o lucro não reside na totalidade do capital empregue mas apenas na parte variável investida, ou seja, na força de trabalho. A conversão da mais-valia em lucro ocorre no processo de realização da mercadoria, sob a forma de diferença entre o preço de venda e os custos de produção e distribuição. O lucro é uma forma transfigurada de mais-valia. O objectivo do capitalista é optimizar a taxa de lucro, definido como a relação entre o lucro realizado e o capital empregado, calculado aos preços de mercado dos objectos e dos instrumentos de trabalho mais os salários em dinheiro.

A taxa de lucro difere da taxa de mais-valia na medida em que estabelece uma relação entre a mais-valia e a totalidade do capital desembolsado, expressa em percentagem. A taxa de lucro caracteriza a eficiência da utilização do capital, ou seja, a rentabilidade da empresa. A sua grandeza depende essencialmente da mais-valia e da composição orgânica do capital. Com o desenvolvimento do capitalismo cresce a participação do capital constante na composição orgânica do capital, o que provoca uma tendência para a diminuição da taxa de lucro. Para contrariar esta tendência, o capitalismo utiliza várias medidas: aumento da exploração dos trabalhadores, com a diminuição dos salários reais; agravamento da exploração dos países dependentes ou colonizados; alteração da composição dos meios de produção, com a introdução de melhores técnicas, novas máquinas e instalações; aumento da velocidade de rotação do capital; ampliação do volume da produção, etc. Tais medidas reflectem-se, por vezes, no aparecimento de crises económicas de superprodução.