ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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3.4 – ENERGIA

A energia é a capacidade dos corpos para desenvolver força e servir de meio de trabalho. A energia desempenha um papel fundamental na produção, contribuindo para impulsionar o desenvolvimento económico nas diferentes épocas. No processo de produção são aproveitadas diversas fontes de energia, desde a própria força muscular do homem e dos animais domesticados até à força do vento, da água ou do fogo.

A energia proveniente do fogo teve consequências sociais e económicas importantes: a possibilidade de vida nas cavernas, a expansão das populações para zonas frias, o cozimento dos alimentos, a fundação do lar, a defesa perante animais predadores, a comunicação com outros homens, o aquecimento e a iluminação. A luz artificial obtida pelo homem era uma luz frouxa proveniente dos fogos e tochas. Em algumas regiões, o homem conseguiu recolher resina e utilizá-la para fazer archotes, que podem ser considerados como as lâmpadas mais antigas.

A força muscular do corpo humano era e é utilizada em toda a actividade produtiva, pois permite transportar pessoas e bens e mover instrumentos de trabalho. A força muscular do homem foi utilizada para puxar zorras ou andas para auxiliar a mover cargas, para puxar o arado, arrastar barcos ou manobrar os remos e assim deslocar-se nos rios ou no mar. Ainda hoje, alguns povos se servem da sua força para mover moinhos e prensas manuais e para pisar ou triturar substâncias sólidas com o pilão, usando o almofariz; a força humana, em vez da força animal, é ainda uma das principais fontes de energia para o cultivo dos campos.

Como meio de aumentar a sua capacidade muscular, o homem inventou a alavanca usada para deslocar pedras ou outras cargas. Este foi talvez o primeiro engenho inventado e com ele iniciou-se o uso da energia mecânica. O arco esteve na origem das armas de arremesso e foi o primeiro engenho propulsor na sequência da força humana do braço. O princípio de propulsão provocado por uma mola permitiu a acumulação da energia que se podia libertar quando necessária; teve grande aplicação na arte da guerra e, mais tarde, na medição do tempo e na relojoaria; a catapulta, foi usada como arma de arremesso capaz de lançar grandes bolas de pedra ou setas a grandes distâncias; no escorpião, a propulsão partia duma manivela ou duma alavanca accionadas pelo homem. A alavanca foi usada também em prensas de lagar do vinho ou do azeite. Nela se baseavam outros meios mecânicos como a cunha, o torno, a roldana e a roda com eixo.

O uso da força de tracção animal para poupar a energia humana não foi imediato, pois o homem continuou a usar, durante longo tempo, a sua própria força na agricultura quando puxava o arado. A utilização de conjuntos de animais de carga e de tracção contribuiu para um grande avanço, sobretudo nos trabalhos agrícolas e no transporte terrestre. A conjugação da força animal com as invenções da roda e do jugo revolucionaram a deslocação de pessoas e bens. A força animal contribuiu também para o estabelecimento da hegemonia militar dos grupos que dispunham de cavalos ou elefantes. Os povos do continente americano apenas puderam usar o lama como animal de transporte e montada, mas não se serviram dele como animal de tracção. Talvez por isso não conheceram a roda.

A energia hidráulica foi largamente utilizada para activar moinhos e noras. O aproveitamento das correntes fluviais e marítimas externas tornou possível a utilização da força hidráulica para mover moinhos, facilitando assim a dispersão de povoamentos e as trocas A azenha fazia um racional aproveitamento mecânico duma fonte de energia natural. A nora era um instrumento impulsionado por pás, por tambores rotativos ou ainda por cabrestantes, que através da elevação de água movida por animais tornou possível o cultivo de áreas agrícolas mais vastas.

A energia hidráulica teve uma grande importância no desenvolvimento da agricultura e da metalurgia, servindo para accionar os martelos das ferrarias e os foles. Com a invenção da serra hidráulica a riqueza florestal era dizimada para alimentar as grandes fornalhas das forjas metalúrgicas, no corte de pedra, lapidação de pedras preciosas e cunhagem mecânica de discos monetários. Uma descoberta notável foi o veio motriz que permitiu que o movimento contínuo fosse transformado num movimento alternado, controlando-se assim a pressão da água para dar energia a martelos, malhos e pilões.

Os moinhos foram dos primeiros instrumentos construídos pelo homem que adquiriram a particularidade de serviram como autênticos “servo-mecanismos”. Tornaram-se numa verdadeira máquina industrial. Foi uma inovação que se difundiu por outras regiões através das deslocações dos artesãos, monges, mercadores e, mais tarde, pelos navegadores para outros continentes. Apesar da sua utilidade, as rodas hidráulicas tinham algumas limitações, pois necessitavam duma corrente ou queda de água constante. Os chineses usaram o sistema de biela-manivela que transforma um movimento de vaivém em movimento circular.

Os moinhos serviram para moer cereais, esmagar e misturar outras substâncias. As suas aplicações estenderam-se a diversos tipos de produção como serração, pisoagem de têxteis, torção de fio da seda, esmagamento de trapos para produção de papel, curtumes, mineração, fundição, etc. Os moinhos de marés não eram tão rendíveis como os fluviais, pois estavam dependentes da subida e da descida da água do mar. Além disso destinavam-se apenas a moer os cereais ou pisoar o pano. Os moinhos de panificação eram importantíssimos instrumentos através dos quais se reduziam os grãos de cereal a farinha. Num moinho pisão um só homem fazia o trabalho de quarenta trabalhadores têxteis. Tal mecanização trouxe um aumento de produtividade na produção de tecidos com o consequente crescimento de exportação. Trouxe também outros efeitos, pois foi acompanhada do empobrecimento e a emigração dos trabalhadores que viviam da pisoagem manual ou pedestre.

A energia eólica foi utilizada nas primeiras embarcações à vela para navegação fluvial e depois na navegação marítima comercial. Mas as correntes atmosféricas permitiram também o aproveitamento de força do vento utilizada após a invenção dos moinhos a vento. Estes moinhos serviam para retirar a água, foram muito úteis na bombagem de água e na irrigação nas zonas onde a água não era suficiente para as necessidades produtivas. A maior parte destes moinhos eram máquinas simples viradas para os ventos dominantes e convinham sobretudo nas regiões onde a força do vento era relativamente regular. O seu aparecimento exigiu o uso de novos materiais, especialmente os fortes panos de que se fabricavam as velas, daí decorrendo relações entre os moageiros e os artífices do sector têxtil. Desempenharam um papel importante na economia para fazer subir a água ou para tarefas menores que não exigiam uma força motriz constante. Os moleiros que operavam com os moinhos, os construtores e os vários tipos de ferreiros que os mantinham e reparavam, acabaram por adquirir um conhecimento empírico de mecânica aplicada e estabelecer relações económicas inevitáveis.

Os moinhos eram considerados como um investimento do Estado, da aristocracia, da burguesia ou de instituições concelhias. Eram cobrados tributos ou impostos aos camponeses que necessitavam de moer as sementes das respectivas produções ou aos artesãos para pisoar os tecidos. O pagamento deste ónus limitou a sua difusão e obrigou alguns produtores a continuar a moer manualmente. Os detentores destes engenhos que usufruíam duma importante fonte de rendimento com os moinhos, procuravam também deter e gerir a água dos rios através da construção de represas.

As primeiras experiências utilizando o vapor como recurso de energia foram feitas por cientistas que se interessavam pela física experimental. Nos primeiros anos do século XVIII, a descoberta duma máquina a vapor destinada a bombear água veio revelar a possibilidade de utilização de fontes de energia alternativas aos músculos humanos. Pela primeira vez a energia do vapor era aprisionada. A máquina a vapor constituiu o ponto de partida para a transformação dos métodos de produção. A Inglaterra foi a principal beneficiada com esta mudança, o que lhe permitiu assistir então ao impulso da sua economia.