ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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5.1 – RAÍZES DO SISTEMA CAPITALISTA

Alguns sociólogos fazem remontar a origem do capitalismo ao estabelecimento na China, no século VIII, de fábricas de chá e à organização de trabalhos de bordados ao domicílio. Encontram-se, nos séculos XIV e XV manifestações de emergência de capitalismo comercial e de formação de empresas em Itália, nas cidades de Florença, Veneza e Génova, e nos Países-Baixos, em Anvers, Bruges e Amsterdão. Porém, estas actividades são minoritárias

Sobre os alicerces estabelecidos entre os séculos XII a XV, o sistema económico conhecido por capitalismo começou a desenvolver-se na Europa Ocidental. Porém, é na segunda metade do século XVI e início do século XVII, quando o capital começou a penetrar na produção em escala considerável, seja na forma duma relação bem ajustada com os trabalhadores assalariados, seja na forma menos desenvolvida da subordinação dos artesãos domésticos. O capitalismo como sistema de produção teve de se defrontar: por um lado, com os donos dos meios de produção e do dinheiro e, por outro, com os trabalhadores livres que tinham de vender a sua própria força de trabalho.

O crescimento do capitalismo serviu para desenvolver o seu próprio mercado, tanto pelos lucros que proporcionava, como pelo emprego que incentivava. A tendência para destruir a auto-suficiência de unidades económicas mais antigas, como a aldeia senhorial, o feudo ou a tribo, conduziu uma parte da população à órbita da troca sistemática de mercadorias e à venda da sua força de trabalho.

São diversas as vias para a formação do capitalismo. Onde a propriedade feudal e a servidão da gleba foram abatidas pela revolução burguesa ou enfraqueceram e desagregaram-se, o capitalismo emergiu principalmente da polarização económica dos pequenos produtores. A classe capitalista constitui-se a partir dos camponeses ricos, artesãos e mercadores. Onde a propriedade senhorial se manteve inalterada, o papel principal foi desempenhado pelo capital que participava da produção e que se transformou lentamente e com alguma resistência em capital industrial.

Na cena económica, uma combinação de circunstâncias excepcionalmente favoráveis proporcionou o despontar da sociedade capitalista. Uma fase de transformação técnica, que rapidamente influenciou o aumento da produtividade do trabalho, foi acompanhada por profundas alterações nas fileiras do proletariado e por uma série de acontecimentos no campo do investimento e do mercado dos bens de consumo.

Uma racionalização económica é praticada no sistema capitalista, consistindo na avaliação precisa dos meios mais eficazes para explorar as diversas fontes de riqueza. A produção ampliada de mercadorias e sua circulação desenvolvida constituem os pressupostos históricos do nascimento de capitalismo. Os principais factores que, no século XVI, deram origem ao desabrochar do capital comercial foram os aumentos de preços, o aumento da procura, a urbanização, a formação duma economia mundial e as exigências financeiras das tesourarias dos Estados. Contribuiu para a formação do capitalismo, numa fase decisiva, a transferência do capital comercial para a organização de produção, isto é, a sua transformação em capital industrial.

O mercado mundial trouxe novos produtos como objectos de comércio e abriu as portas à formação do capital. O comércio próspero em breve seria mobilizado por grandes sociedades por acções então constituídas. A actividade comercial oceânica lançou os fundamentos do progresso económico dos povos da Europa Ocidental. O comércio colonial permitiu o escoamento dos seus produtos manufacturados em troca de matérias-primas, favoreceu os transportes marítimos e a acumulação de capitais que viriam a ser posteriormente investidos na actividade industrial.

O crescimento do capitalismo produziu-se apesar dos numerosos obstáculos, graças também à protecção dos governos. Se bem que este desenvolvimento envolva também a agricultura e a indústria, os seus efeitos fizeram-se notar sobretudo no comércio e nas finanças.

A constituição de modernos estados unificados, ocorrida por volta dos séculos XV e XVI, gerou um amplo movimento em que os soberanos e a burguesia se apoiaram mutuamente, pois tratava-se de abolir as últimas regalias da nobreza e o poderio dos templos e das cidades corporativas, com a agricultura e a indústria ainda dominadas por produtores autónomos. A maior parte dos historiadores do capitalismo consideram o século XVI como início da produção dominada pelo capital, isto é, como início do modo de produção capitalista, sob a influência de vários factores.

Na Europa, foram dados passos decisivos em direcção ao aparecimento do sistema capitalista. Surgem relações de produção totalmente novas em algumas áreas agrícolas, na indústria de alguns países e nos métodos de exploração dos recursos das colónias. O comércio externo tornou-se o instrumento de desenvolvimento económico interno. O contributo da afluência de matérias-primas, como o algodão, de mão-de-obra e de capitais estão na base duma intensa actividade económica que transforma a estrutura do comércio interno e aumenta a sua importância. O estímulo da actividade comercial provoca o desabrochar do capitalismo financeiro. O comércio e a banca organizam-se sob a forma de sociedades por acções que acumulam importantes capitais. A Inglaterra e a Holanda foram os países que retiraram maiores benefícios em detrimento dos países mediterrâneos, o que provocou uma alteração no equilíbrio económico.