ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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2.6 – PRODUTIVIDADE DO TRABALHO

A produtividade é a relação entre o resultado útil dum processo produtivo e a utilização dos factores de produção, ou seja, a quantidade de produto por unidade de factor produtivo, geralmente o factor trabalho. Pode-se determinar a produtividade à escala dum espaço determinado, dum ramo de actividade, duma unidade de produção, produtor directo, oficina ou empresa, dum só trabalhador ou dum conjunto de trabalhadores.

Com a mudança das forças produtivas, modifica-se a produtividade. Os níveis de crescimento da produtividade dependem de muitos factores: umas terras são naturalmente mais férteis que outras; alguns trabalhadores são mais fortes, mais habilidosos ou possuem mais conhecimentos que outros; a tecnologia pode ter uma aplicação prática mais ou menos eficiente; o uso de inovações pode constituir uma boa contribuição; a organização das unidades de produção; o aumento da fertilidade do solo com uma preparação adequada, etc. A criação de novos utensílios e outros meios de maior rendimento, ou seja o progresso técnico, aumenta a produtividade. Por exemplo, a produtividade aumentou com o começo da produção de instrumentos de trabalho em ferro, quando o homem conseguiu aproveitar a energia hidráulica ou adquiriu a aptidão necessária para usar a máquina.

O homem colocado face ao esforço físico e mental que lhe é exigido pela actividade laboral, procura minorar o seu esforço para obter um dado resultado, isto é, procura elevar a produtividade dentro dos limites que lhe são impostos pelas condições sociais em que labora. A eficácia do trabalho constituiu uma necessidade objectiva do desenvolvimento económico da sociedade. O nível da produtividade do trabalho é um índice importantíssimo do carácter progressivo do modo de produção dum dado regime social. O acréscimo da produtividade permite obter uma fracção crescente de bens que se exprime não apenas num sentido absoluto, mas também em relação ao número de indivíduos empenhados na produção.

O tempo, ao tornar-se unidade de medida do trabalho, adquiriu uma grande relevância, transformando-se num factor essencial da produção: para o camponês o tempo, embora ligado ao círculo da natureza, dependia também dos métodos de cultivo e de colheita; para o artesão a determinação do tempo era necessária ao bom funcionamento da sua oficina; para o mercador, o tempo representava a capacidade de acelerar a movimentação do dinheiro. O aparecimento dos relógios mecânicos foi o resultado normal e fonte de progresso no domínio da determinação do tempo. Em períodos longos é visível a elevação geral da produtividade do trabalho, isto é a diminuição do tempo absorvido na produção da maior parte dos bens e serviços, o que traduz a tendência para uma redução do valor das mercadorias. O aumento da produtividade do trabalho na agricultura e no artesanato teve como consequência o crescimento do sobreproduto.

A produtividade do trabalho depende também do aperfeiçoamento e ajustamento das ferramentas. Quando as diversas operações dum processo de trabalho estão desligadas umas das outras torna-se necessária a transformação das ferramentas para adquirem formas fixas particulares para cada aplicação. São criadas as condições materiais para o aparecimento das primeiras máquinas, que representam a junção de ferramentas.

O grau de produtividade da máquina não depende da diferença entre o seu valor próprio e o valor da ferramenta por ela substituída, mas sim pela diferença entre o valor que ela acrescenta ao produto e o valor que o trabalhador acrescentaria ao objecto de trabalho com a sua ferramenta. A produtividade da máquina mede-se, portanto, pelo grau em que ela substitui força de trabalho humana.

O progresso da tecnologia e, ao mesmo tempo, o avanço da produtividade tornou o trabalho servil e o trabalho escravo cada vez menos rendível e portanto antieconómico para as classes dominantes. O acréscimo da produtividade conduziu a um processo tendencial de adaptação dos laços de dependência no domínio da actividade produtiva. Verificou-se um movimento que conduziria ao aligeirar das relações de subordinação da servidão e da escravidão e à sua passagem a uma situação mais atenuada e, posteriormente, a uma situação de aparente liberdade individual.

Com a produtividade o custo social da produção diminui. Há portanto um ganho para a sociedade no seu conjunto. A repartição destes ganhos beneficia essencialmente as classes exploradoras. Pode, porém, trazer algum benefício aos consumidores através duma redução de preços ou, indirectamente, aos próprios trabalhadores através das condições de remuneração ou diminuição do tempo de trabalho.

O índice de produtividade exprime-se pela quantidade de tempo gasto na criação duma unidade de produto, ou pela quantidade de produtos criados numa unidade de tempo, geralmente baseada no factor trabalho. Para medir a propriedade combinada de todos os factores são necessários termos de valor. Elevar a produtividade significa reduzir o tempo socialmente necessário para produzir uma unidade de mercadoria e consequentemente rebaixar o seu valor. Os progressos da produtividade do trabalho viram-se então contra o trabalhador, o que tende e reduzir o seu interesse pelos melhoramentos técnicos e organizativos.

O sistema de produção abrange fenómenos que resultam dos limites impostos pela produtividade, em especial pela produtividade agrícola, em face duma tendência de diversificação das relações sociais que nem sempre pode vencer esses limites. Além do crescimento das necessidades da aristocracia e das camadas mais ricas da burguesia, há que considerar a ampliação de grupos populacionais, separados da produção agrícola, dedicados a outros mesteres, como o artesanato, os transportes, o comércio ou os serviços. Na actividade mercantil, o acréscimo da produtividade do trabalho permite obter uma fracção crescente de bens não só em sentido absoluto como também no seu crescimento relativo ao número de indivíduos empenhados na produção. O desenvolvimento da produtividade do trabalho social representa então uma poderosa alavanca da acumulação de capital.