ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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2.6 – OURO E PRATA

Os primeiros indivíduos dedicados à extracção de minérios acabaram por encontrar outros metais, que vieram a conhecer ao utilizar métodos similares aos usados na extracção do cobre. O ouro podia ser retirado das camadas rochosas ou do leito dos rios e apresentava-se sob a forma de pequenas pepitas de metal relativamente puro. Bastava triturar o mineral aurífero e separar as partículas de ouro ou proceder à simples lavagem da areia aurífera contida no leito dos rios. Este último método foi o mais antigo utilizado para reter o ouro. A técnica de lavagem aperfeiçoou-se com a utilização da pressão hidráulica para pulverizar a areia ou aglomerar a poeira de ouro por meio de mercúrio, depois eliminado por filtragem ou destilação. O ouro não necessitava de fusão, pois a sua maleabilidade permitia que um simples batimento bastasse para obter a forma desejada.

É praticamente certo que uma parte da prata inicialmente encontrada era na realidade electrum, ou seja, uma mistura em proporções variáveis de prata com ouro e cobre. A maior parte da prata era, porém, extraída da galena argentífera por meio de fusão. Os fundidores obtinham assim dois metais em vez de um. Um ponto de viragem importante para o desenvolvimento das minas de prata foi a descoberta dum método de separação da prata do chumbo. A descoberta de minas de mercúrio tornou possível o processo de produção de prata pela amalgamação, que substituiu o processo de fusão.

Estes dois metais, pelas suas características de beleza, brilho inalterável e fácil maleabilidade, desencadearam o interesse das classes dominantes pela aquisição dos objectos decorativos e de adorno, representativos de símbolos de estatuto, de prestígio, de poder político ou religioso. A possibilidade de amoedação passou a constituir um meio prático e fácil de acumulação de riqueza.

A arte de ourivesaria sofreu um incremento notável. O ouro era utilizado na decoração de mobiliário, e até de edifícios, na decoração de vestuário, recipientes ou armas, no fabrico de objectos de adorno. A prata servia para o fabrico dos mais variados objectos ornamentais; era também utilizada em folhas marteladas ou em incrustações para ornamentar jóias e móveis. O electrum era utilizado para o fabrico de joalharia, mobiliário, estátuas e outros objectos.

Os ourives passaram a constituir um grupo à parte. A sua posição social destacou-se ainda mais como reflexo da utilização do ouro e da prata no fabrico de moeda. A amoedação fazia-se em duas operações que cabiam a dois tipos distintos de artífices: os que fundiam os metais para obter a liga e moldar as barras metálicas e os moedeiros que transformavam as barras e lâminas em moedas. Os próprios lingotes de prata estampilhados eram aceites pelos comerciantes como uma moeda regular.

A adopção, em algumas regiões, de impostos pagáveis em prata aumentou a procura deste metal e activou a preferência dos mercadores como meio disponível em compras no exterior.

Com a descoberta das minas de prata em Potosi, no Peru, no século XVI, a indústria mineira passou a assumir uma importância crescente e os centros urbanos organizados em redor das minas tornaram-se centros de comércio.

Na Europa, no século XV, prevalecia a ideia de que não há outra riqueza que não seja o ouro, devendo-se acumular o mais possível reservas de ouro. Este metal precioso era então recebido sobretudo de África, por intermédio dos muçulmanos do Magreb, e servia para a compra de especiarias na Ásia. A descoberta de grandes depósitos de ouro no Brasil permitiu abastecer a Europa com carregamentos tais que no século XVIII a quantidade deste metal que circulava na Europa duplicou. Fenómeno semelhante se passaria com a prata. Estes metais foram objecto dum comércio muito intenso.