ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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5.5 – INFLAÇÃO

A emissão da moeda simbólica pode ultrapassar a quantidade de dinheiro que seria exigida de acordo com as leis imanentes da circulação de mercadorias, produzindo-se a sua desvalorização e o aumento, na mesma proporção, do nível geral de preços. Com o processo de substituição do dinheiro real por símbolos, nasce a possibilidade formal e abstracta de inflação, o que provoca a desvalorização do papel-moeda em comparação com o material monetário, ouro ou prata.

A inflação é a emissão excessiva de moeda e papel-moeda em relação às necessidades de circulação de mercadorias. O excesso de dinheiro circulante ocorre sobretudo quando surge o pressuposto dum défice, não podendo o Estado cobrir os seus gastos sem recorrer a uma emissão suplementar de moeda. O mais corrente é o fenómeno se dever às consequências das crises económicas e à guerra, com a desenfreada corrida aos armamentos.

A influência da inflação sobre a economia do país é desfavorável, pois a inflação dá origem a um crescimento rápido, incessante e extremamente desigual dos preços das mercadorias. Em consequência destas modificações surgem grandes diferenças de rentabilidade nos diferentes ramos de actividade, estimulando o desenvolvimento de alguns e provocando uma grande descida de produção doutros. Este fenómeno acentua a desproporção e a anarquia na esfera produtiva e distributiva.

O aumento prolongado da inflação cria interdependências em todas as áreas da economia dum ou mais países. Manifesta-se de forma mais rápida num país do que noutros, acabando por prejudicar a posição desse país em relação aos concorrentes estrangeiros. As exportações tendem a diminuir enquanto as importações tendem a aumentar.

A inflação provoca um desequilíbrio económico e uma série de reacções em cadeia sobre os preços, sobre o comportamento das camadas e classes afectadas pela quebra da moeda e sobre a própria repartição da moeda disponível entre o entesouramento e o seu uso nos pagamentos. Em geral, a inflação prejudica os pequenos produtores de mercadorias e aproveita apenas a alguns elementos da população, sobretudo a classe dos comerciantes que podem repercutir os seus efeitos nos preços. No interior de cada país reduz o poder de compra de determinados rendimentos, agravando o grau de exploração do trabalho assalariado.

A inflação dá origem a um crescimento rápido, incessante e extremamente desigual dos preços das mercadorias, motivando uma situação favorável à especulação. A desconfiança no dinheiro desvalorizado provoca o afã de os seus possuidores se desfazerem rapidamente dele, trocando-o por bens duradouros, isto é, por valores reais. Ao mesmo tempo os negociantes procuram reter as mercadorias que possuem nos seus armazéns esperançados na contínua subida dos preços. Como efeito destas reacções, por vezes contraditórias, acentua-se ainda mais a falta de correspondência entre a quantidade de papel-moeda em circulação e a quantidade necessária para atender à circulação de mercadorias. Perturbam-se as relações de crédito. A concessão de empréstimos torna-se desvantajosa, pois os credores podem receber dinheiro desvalorizado quando do reembolso.

A desvalorização é uma redução oficial do conteúdo em ouro da moeda nacional ou a redução da sua cotação oficial em relação às moedas estrangeiras. Recorre-se à desvalorização para estabilizar a circulação do dinheiro em período de inflação. É uma consequência da perda de valor da moeda, da diminuição da sua capacidade aquisitiva.

Com o modo de produção capitalista criam-se as condições objectivas que impulsionam o fenómeno da desvalorização permanente do equivalente geral. Comparando a forma característica do modo de produção mercantil M-D-M’ com a forma de circulação de capital D-M-D’, constata-se que ambas se decompõem em operações de compra e venda, nelas participando mercadorias e dinheiro. Porém, estas operações distinguem-se por uma alteração essencial de conteúdo e pela disposição dos elementos que nelas intervêm. Na primeira, são formas de existência e movimento de mercadorias e, na segunda, são formas de valor-capital, valor que se expande no seu processo de circulação, traduzindo o aparecimento duma nova relação social de produção. A circulação do dinheiro passa a ser impulsionada pela circulação do capital, traduzindo a existência de relações monetárias capitalistas e já não simples relações mercantis. Deste modo a inflação contribui para que o capital se concentre, se centralize e acumule.