ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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1.7 – DIVISÃO TÉCNICA E PROFISSIONAL DO TRABALHO

Os progressos tecnológicos, resultantes do aparecimento de novos instrumentos de trabalho ou do aperfeiçoamento dos existentes e a elevação da habilidade do seu manejo, foram acompanhados dum acréscimo de produtividade e do avanço da divisão técnica e profissional do trabalho. O aumento da densidade ou do volume do trabalho obriga a um aumento da divisão do trabalho dentro das unidades produtivas, sejam elas oficinas, empresas ou entidades administrativas. A noção de divisão do trabalho designa o facto de os homens e os espaços económicos se especializarem cada qual num número limitado de actividades diferentes.

A divisão técnica do trabalho permite a especialização dos trabalhadores em determinadas actividades e a separação dos diferentes tipos de funções laborais dentro duma determinada unidade económica, de forma que aumente a sua eficácia pela acumulação de experiência e desenvolvimento da sua habilidade. O trabalho reparte-se em actividades complementares e entre indivíduos ou grupos especializados. As tarefas parciais visam compor um corpo único, contribuindo cada uma para o produto final. A divisão técnica predetermina as relações de intercâmbio de actividades entre os seus componentes e identifica a forma de apropriação dos recursos e das condições de produção.

A divisão profissional do trabalho deu origem a uma diversificação de necessidades e de funções que envolveram a multiplicação da actividade dos serviços e gerou uma série vastíssima de relações económico-sociais. Dentro de cada actividade profissional surgem divisões em sentido vertical ou horizontal, aparecendo profissões que podiam ir desde a obtenção das matérias-primas e combustíveis, passando por trabalhos intermédios, até aos artesãos que efectuavam as últimas operações e davam o produto por acabado.

Na agricultura, além da divisão entre a vida agro-pecuária, silvícola e as restantes formas de produção, são visíveis certos aspectos da divisão técnica do trabalho. É de admitir a existência de agricultores em tarefas complexas como a poda, a enxertia, a criação de gado, a produção de queijo ou a moagem. Ergueram-se profissões distintas e ramos de labor artesanal para fabrico de novos meios de produção, como o fabrico de moinhos ou o desempenho da actividade moageira. O envolvimento do uso do ferro aplicado nas enxadas e nos arados deu lugar à manufactura de alfaias agrícolas e à sua comercialização. Começa a empregar-se a energia animal no trabalho da terra e no transporte.

A diferenciação dos ramos de produção artesanal acentuou a divisão profissional de trabalho num certo número de sectores. Tal diferenciação assentava no progresso dos instrumentos de trabalho, o que implicava um avanço da habilidade e capacidade dos artesãos. O labor dos artífices vai-se salientando e autonomizando: actuando sobre matérias-primas, aperfeiçoando-as ou transformando-as para fabricar utensílios e outros bens; concorrendo para a satisfação das necessidades correntes da população; pondo à disposição do sistema produtivo os mais diversos instrumentos.

A instalação dum sistema mecânico motiva uma série de diversos processos graduais que são efectuados por uma cadeia de máquinas de espécie diversa, mas que se completam umas às outras. Aqui aparece a cooperação, através da divisão do trabalho, em conjunto com uma combinação de máquinas de trabalho parcelar.

As empresas organizam a repartição de tarefas entre os assalariados no quadro dum processo de produção que é imposta a indivíduos com diferentes graduações de funções. À divisão de trabalho horizontal, entre trabalhadores do mesmo nível hierárquico, opõe-se uma divisão em sentido vertical na qual alguns trabalhadores dispõem dum grau de iniciativa e poder muito desigual.

A existência de actividades especializadas só é possível numa sociedade estruturada, com capacidade para preparar as matérias-primas, a sua transformação em produtos acabados e a sua posterior distribuição. A especialização profissional desempenhou um papel importante na transformação das estruturas sociais: aumentou as oportunidades de sucesso económico e avanço social com o reconhecimento do valor individual mais depressa do que a posição social. Uma nova classe de técnicos altamente especializados acabou por se formar, gozando de salários mais avultados e dum prestígio social considerável.

Em áreas mais desenvolvidas, formam-se novos ramos de actividade e dentro de cada um ocorre uma certa elevação da especialização. A divisão da economia em sectores e em ramos de produção reflecte-se na divisão técnica e profissional do trabalho. Os produtores concentram-se em determinados ramos e classes de produção. Esta divisão acentuou-se com a formação de áreas profissionais separadas das actividades preexistentes ou devido ao aparecimento de novas profissões.