ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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3.7 – CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS

Entende-se por conhecimento a actividade pela qual o homem toma consciência da realidade do meio envolvente e procura compreendê-lo e explicá-lo. O conhecimento pressupõe uma acção de assimilação através de conceitos e operações intelectuais e a sua compartimentação em áreas que se especializam de acordo com o seu objecto de análise. O conhecimento é empírico quando baseado no saber adquirido pela experiência, como reflexo dos objectos no processo de contacto directo do homem com eles. O conhecimento científico é um conhecimento acumulado, obtido pelo saber e trabalho humano, que representa uma força produtiva indirecta e assume a característica de força produtiva directa quando, e só quando, materializada como meio de produção.

A actividade prática possibilitou o desenvolvimento do pensamento. A ciência, sendo uma forma de actividade prática, possui certas características próprias. Ciências como a mecânica, a óptica, a geometria, a química e tantas outras, deveram e continuam a dever o seu avanço às necessidades práticas do homem e antes de mais nada às exigências da produção. É possível apontar não poucos exemplos de elaborações científicas e técnicas que só encontraram aplicação prática muito tempo depois de formuladas, pelo facto de as condições sociais não o permitirem. Por exemplo, mesmo depois de os moinhos serem conhecidos, os regimes baseados no escravismo não aplicavam a energia hidráulica.

Numerosos ramos do conhecimento científico estão ligados às necessidades técnicas e económicas e às possibilidades de desenvolvimento resultantes do nível histórico atingido em cada época e região. A produção mecanizada precisa da ciência e converte numa necessidade técnica a aplicação consciente das ciências naturais. A ciência transforma-se assim numa força produtiva directa. Esta transformação significa várias coisas:

1. Que os meios de trabalho e os processos tecnológicos passam a resultar da materialização do conhecimento científico;

2. Que sem a ciência é impossível não só criar uma nova técnica como manter o funcionamento da já existente;

3. Que os conhecimentos científicos se tornam numa componente indispensável da experiência e da formação técnica dos trabalhadores que participam no processo produtivo;

4. Que a própria direcção da produção e dos processos tecnológicos a introduzir constituem um efeito da aplicação prática da ciência.

As grandes esferas de influência cultural, que se formaram através do globo, foram baseadas essencialmente em factores económicos conduzidos pelas migrações ou pela expansão do comércio de longa distância.

Na agricultura, ainda quando o conhecimento da ciência genética estava muito distante, os conhecimentos empíricos permitiram que os camponeses aprendessem a criar cavalos maiores, melhores vacas leiteiras e carneiros com lã mais comprida. Teve também grande impacto a descoberta dos meios para medir o tempo para fins agrícolas, dos métodos de previsão climática e a utilização de calendários. Os conhecimentos botânicos adquiridos, relacionados com a produção agrícola, foram de grande importância para a alimentação, a medicina, a criação de artefactos e a construção de canoas e abrigos.

Com o desenvolvimento do artesanato os conhecimentos científicos aplicaram-se em escala cada vez maior, alargando-se os limites da produção social. Foram utilizadas grandes invenções como a bússola, a imprensa, a pólvora ou o relógio automático. Muitas destas invenções foram realizadas a nível de artesanato e o seu emprego praticado em novas aplicações.

A actividade metalúrgica constituiu um factor importante para o alargamento dos conhecimentos das populações quanto à natureza e as propriedades dos novos materiais, assim como quanto aos processos físicos, químicos e tecnológicos a eles associados.

A actividade de construção contribuiu para desenvolver os conhecimentos numéricos e aritméticos e o estabelecimento dum sistema de medidas que permitiam o cálculo de áreas e volumes. Sem matemática não era possível construir palácios e templos, planear, construir e manter grandes cidades, calcular a quantidade de tijolos a utilizar na construção dum edifício ou avaliar a mão-de-obra necessária para a execução dum trabalho.

Na actividade administrativa os textos matemáticos estão intimamente ligados a problemas práticos como: medições de campos para o assento fiscal em função da superfície das propriedades, elaboração de tabelas, cálculos de débitos e créditos, assentos contabilísticos.

A navegação marítima não seria possível sem um certo conhecimento astronómico. A sua importância era tal que chegou a ser considerada, na China, como uma ciência oficial que incumbia ao Estado.

A escrita e a numeração foram duas grandes invenções que não podem ser atribuídas a uma única fonte ou região. A necessidade de definir o valor dos produtos teve grande influência na expansão da escrita simbólica e na contagem numérica. A numeração decimal surgiu na Índia no século VI e expandiu-se três séculos depois por todo o mundo islâmico.