ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

ANTECEDENTES DO CAPITALISMO

Carlos Gomes

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4.3– COMUNICAÇÕES FLUVIAIS

Os primeiros meios de transporte fluvial assentavam em árvores flutuantes, em barcos de junco ou papiro, na piroga escavada num tronco de árvore, na jangada conseguida através de pranchas devidamente amarradas ou em embarcações em pele. Põe vezes, as madeiras deslocavam-se directamente nos rios sem utilizarem uma embarcação, aproveitando a força das correntes. A canoa foi um meio fundamental do transporte fluvial.

Com o decorrer do tempo, surgiram outras embarcações de vários tipos: barcos pequenos movidos a remos feitos de pele, vime, madeira e até cerâmica, que serviam para o transporte de bens e pequenos grupos de pessoas. As cargas mais pesadas exigiam barcos com velas e varas de condução.

Os transportes fluviais revestiam-se duma grande importância económica. Em muito casos, conseguiam ultrapassar as dificuldades do trânsito terrestre, aproveitando vias entre o litoral e o interior ou mantendo o simples tráfego de passagem entre as margens. A navegabilidade dos rios, o aproveitamento dos lagos e a construção de canais facilitou a comunicação entre os povos, a expansão do comércio entre as diversas regiões e alargou os horizontes das comunidades nas suas relações sociais, culturais e políticas.

A simples passagem entre as margens desempenhava uma tal importância económica que a maioria das embarcações empregadas nesta ocupação encontrava-se sob o domínio da classe senhorial proporcionando-lhe um apreciável rendimento, reservando ao barqueiro apenas cerca de um terço do apuro arrecadado. Os direitos de portagem agravavam-se a tal ponto que certos cursos de água eram abandonados pelos mercadores. As barcaças, puxadas por homens ou animais, constituíam o meio de transporte menos caro. A profissão de barqueiro exigia uma certa especialização que assentava sobretudo no conhecimento perfeito do rio ou lago frequentado.

Muitas das embarcações de transporte fluvial à distância eram do mesmo tipo das que serviam para a navegação costeira marítima. Esta actividade estava ligada estreitamente ao comércio dos artigos transportados, emergindo daí relações económicas entre a aristocracia local e os mercadores. Algumas das embarcações que sulcavam os rios e os canais serviam também de estabelecimentos comerciais. Eram um dos principais meios de distribuição de mercadorias entre as zonas rurais e centros urbanos, embora muito custoso. As vilas eram abastecidas com alimentos e os artesãos rurais podiam deslocar e vender as suas mercadorias. Os barcos transportavam cereais, carvão, madeira, tijolos ou telhas, peixe ou animais.

O crescimento do feixe navegável foi acompanhado de numerosos aperfeiçoamentos. Foram ampliadas as vias de água que permitiam a cruzamento de barcos, construídos diques de protecção, criadas passagens desniveladas com o auxílio de planos inclinados em madeira revestida de argila humedecida, processo este substituído mais tarde pelas comportas.

Nos rios navegáveis, o acesso mais fácil à ligação com o interior permitiu a intensificação do transporte dos recurso naturais para os portos marítimos ou para os locais onde de procedia à sua transformação. A sua navegabilidade facilitou a expansão do comércio. Os cursos fluviais mais importantes dispunham de estuários mais largos e profundos e eram percorridos pelas embarcações ao longo de grandes extensões. Grandes progressos foram realizados para conter as inundações, para desviar os cursos de água e dragar os fundos. A via fluvial era preferida devido ao menor custo dos transportes.

O rio Nilo, com os seus canais, tornou-se a melhor via de comunicação da região e o meio mais frequente para a deslocação de pessoas e bens. A sua navegabilidade tornou possível o transporte regular de matérias-primas, de bens pesados, como a pedra, dos produtos resultantes da cobrança dos tributos para celeiros e armazéns e, mais tarde, das mercadorias.

Na China, um amplo esquema de aproveitamento dos meios fluviais consistiu na abertura de canais entre os maiores rios que, além de servirem a agricultura, serviam igualmente o transporte fluvial da seda e dos cereais destinados aos celeiros e armazéns do Estado. Os canais desempenharam um papel de importância vital na troca económica entre as distantes regiões. Inicialmente seguiam a configuração dos terrenos, mas no século XV foi construído um sistema de comportas. No século XVII, o célebre Grande Canal foi aprofundado e alargado. Era utilizado para transportar os impostos, pagos em cereais, colectados pelo governo e tornou-se a principal rota para trocas comerciais e culturais entre o Norte e o Sul. Trouxe um progresso sem precedentes às grandes cidades que se situavam ao longo do seu curso. No rio Changjiang chegavam a navegar navios com capacidade para 500 toneladas. Era a principal artéria para o tráfego interno.

Na Europa ocidental a circulação fluvial era menos importante do que na Europa central e oriental, onde os cursos de água eram mais extensos e de caudal mais lento. O rio Danúbio, entre outros, constituiu uma rota natural para o comércio e o estabelecimento de contactos entre as regiões circundantes.

Na África Ocidental os principais cursos de água tornaram-se vias naturais das trocas comerciais com um tráfego intenso no transporte de mercadorias por meio de canoas movidas a remos.